quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tipos manjados da grande imprensa paulistana – parte 2


Kelly Cristina, 42 anos, editora de Geral, bipolar, insegura. Acha que todo mundo pensa que ela só chegou à chefia pela amizade de muitos anos com o diretor de redação. Para garantir respeito à hierarquia, adota linha dura com os repórteres. Em alguns momentos, abusa de seu poder; em outros, é dócil e maternal. Estressada, desce vários andares 15 vezes por dia para fumar. Às vezes, trabalha com sapatos de modelos diferentes em cada pé.

Augusto, 24 anos, foca viciado no jogo War, sonha ser correspondente internacional. Para começar vale qualquer parte do mundo, como Caracas, mas se for em Paris melhor. Adora viajar, estudar idiomas e geopolítica internacional. Quer cobrir guerra, entrevistar algum líder político. Hoje, faz matérias sobre agricultura. Está de saco cheio de safras e entressafras, mas sabe que é só uma fase. Adora invadir o Alaska por Vladivostok.

Seu Antoninho, 60 e muitos anos, repórter policial há quatro décadas. Estável, não pode ser demitido. Chega e vai embora sempre nos mesmos horários. Raramente escreve uma matéria. O único com cadeira cativa, onde pendura seu velho paletó de tergal da Ducal; no assento, uma almofada para aliviar as hemorróidas. Homem quieto, é tido pelos jovens como uma entidade espiritual. Costuma tirar um cochilo na redação.

Talita, 23 anos, repórter de Variedades, recém-chegada de Votuporanga. Não admite ter sotaque do interior. Detesta o apelido de Cabocla e a fama de boa moça. Faz planos para despirocar. Vai a todas as festas esfumaçadas em casa de jornalista. Está louca para tomar um porre de vodka Orloff. Se julga supermoderna. Sonha morar sozinha num apê no centrão. Hoje, ainda vive com uma tia viúva, dois cães e três gatos.

Gustavo, 39 anos, redator de Economia, bonitão e maior pegador da redação. Metrossexual, depila o peito e adora cremes faciais. É discreto e bom de papo. Marca encontros no café pelo MSN. Prefere as mulheres que dão na primeira noite. Não se envolve afetivamente com ninguém. Solteirão, mora com a mãe, que nunca foi vista pelos amigos. Para alguns, a velha está empalhada. Outros dizem que ela é a senhora Bates, do filme Psicose.

Luís Otávio, 46 anos, editor-assistente de Esportes, homem sério e educado. Usa óculos, se veste bem e faz a barba todos os dias. Cabelo aparadíssimo. Trabalha após o fechamento. Não fala palavrões. Nem mesmo um “merda” de vez em quando. Casamento estável. Ama a mulher, que também trabalha no jornal. Não suporta cigarro. Bebe socialmente. Não vai a happy hours. É muito certinho. Nem parece jornalista.


Leia também: “Tipos manjados da grande imprensa paulistana – parte 1

9 comentários:

Mariana Serafini disse...

o Luiz Otávio não é jornalista!
hsushushsushsu

adoro a utopia do querido foca Augusto!


beijos, Duda

Leliane Petrocelli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leliane Petrocelli disse...

Duda, adoro lero que vc escreve. Super me identifiquei com a Talita, até porque sou de Votuporanga, amo aquela cidade e todo jornalista de interior é bairrista...rs!
Mas tenho 24 anos, moro em Rio Preto num apto não tão no centro, com mais duas jornalistas e dois cachorros. Na casa dos meus pais tem mais dois e cães e dois gatos...rs!
Comecei no rádio, pulei pra TV, me apaixonei pelo impresso, mas hj vivo de assessoria de imprensa...afinal, as redações estão cada dia mais infernais! Grande bjooo

Laís Fernanda Borges disse...

O Luiz Otávio simplesmente não existe hehehe

Adorei o foca sonhador......um dia já sonhei ser correspondente, mas não necessariamente de guerra, porque gosto muito do meu pescoço, da minha vida...

Já fui meio maluquinha, mas isso antes de ser jornalista...na facul não podia mais pq tinha que me virar entre apostilas, livros e mamadeiras...enqt a galera ia pro boteco eu tinha q ir pra casa.....Só que não tenho sotaque do interior,nasci e sempre vivi na capital do meu estado, apesar de me apontarem tanto sotaque que nem ligo mais...

Eu tive e ainda tenho um pouquinho do Augusto e da Talita :)

A Viajante disse...

Após superar meu medo de filmes de terror/ suspense, recentemente assisti Psicose e de fato, a sra. Bates ainda vive e é mãe de um psicopata jornalista quarentão!!!!

Talita Cruz disse...

Putz, acho que tomar porre de vodka orloff é sina de Talita hein Duda...haha. Bjsss

Fabi M. disse...

Adorei! Muito, muito bom! Dava um seriado bacan ein? Com essas personagens.

Duda Rangel disse...

Meninas, a fauna humana jornalística é realmente rica. A gente sempre acaba se identificando com alguém. Fabi, vou pensar na idéia do seriado.
E viva Votuporanga, terra de grandes jornalistas! Beijos.

Anônimo disse...

kkkkk Adorei!!