sexta-feira, 30 de abril de 2010
Confissões de uma repórter
No rosto assimétrico, uma barba recortada por falhas. Nos cabelos sem brilho, um enrosco de fios rebeldes. Ele nem é tão bonito. Usa pochete na cintura. Mas ao seu lado sinto um negócio diferente. O conheci há quatro meses, três semanas, dois dias e 11 horas, numa passeata de professores em greve. Encontros casuais, sempre nas pautas. Descobri o seu nome por colegas. O nome e a redação onde trabalha. Um portal de internet. Assim como eu. Um sinal? Na prisão de um traficante, perguntei a ele as horas. No incêndio de uma favela, lhe pedi uma caneta emprestada. Na inauguração de um viaduto, tropecei em cabos de microfone e esbarrei em seu braço. Nosso contato mais íntimo e selvagem em todo esse tempo! Às vezes, acho que ele não nota a minha presença. Nem dá atenção para mim. Mas ao seu lado sinto um negócio diferente. Quando o vejo, meu dia fica musical. Esqueço as neuras da redação. Meu editor parece menos ranzinza. Sonho acordada nas coletivas de imprensa. Quando não o encontro, me contento com a leitura de suas matérias. Nada brilhante. Tem sérias dificuldades com regência verbal. Apanha feio das regras de crase. Nem é um grande repórter. Mas ao seu lado... Bem, vocês já sabem. O problema é que, ultimamente, ele só tem aparecido na tela do meu computador. Há três semanas, dois dias e nove horas. As coberturas já não são mais as mesmas. Tenho saudade do seu jeito desleixado, de seu olhar desatento. Sentir aquele negócio diferente me faz uma falta danada.
Aiiii... Como o amor entre jornalistas é lindo! S2!
ResponderExcluirJá passei por isso e já passei pra frente. Nada de relacionamentos com coleguinhas. Hoje vivo muito feliz com um arquiteto.
ResponderExcluirPor que até amor entre jornalista é complicado? Seria "a cruz" da profissão, ou somente pessoas complicadas escolhem o jornalismo?
ResponderExcluirPor isso eu digo: prefiram aqueles médicos que anunciam no caderno de saúde do que esses jornalistinhas de portais eletrônicos. Eles não servem pra nada! auahauahuaah
ResponderExcluirBitterSweet: creio que quem escolhe o jornalismo é porque não é lá muito normal hehehe :). não seria coerente esperar que o amor de gente dessa natureza fosse simples..........
ResponderExcluirJornalistas casam-se com jornalistas por já conhecerem a rotina de trabalho um do outro e pela falta de tempo de encontrar alguém que não seja da profissão. Tolerar um salário de fome e os plantões até tarde é uma grande prova de amor, embora a vida ao lado de um empresário bem-sucedido deva ser bem mais confortável!
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