quarta-feira, 9 de junho de 2010

Jornalistas em extinção

No mundo selvagem da imprensa, algumas espécies de jornalistas, ameaçadas de extinção, lutam pela sobrevivência. Fica aqui uma ótima sugestão de pauta para o Globo Repórter, que adora falar de animais exóticos.

Jornalista-que-lê-muito – É uma espécie cada vez mais rara nas redações brasileiras. Uma subespécie muito famosa é o jornalista-da-mão-escura, conhecido por ter as mãos sujas pela tinta do papel dos jornais. Costuma devorar periódicos impressos e é atraído pela boa literatura. Sua principal característica é estar sempre bem informado e ter uma vasta cultura geral. O jornalista-que-lê-muito tem como maior predador o jornalista-alienado-do-iPod-dourado, espécie cujas atividades intelectuais principais são ouvir música e dedicar-se a joguinhos virtuais como Mafia Wars ou FarmVille. Pesquisadores têm dificuldade de encontrar o jornalista-que-lê-muito, que passou a viver isolado e escondido. A espécie é socialmente discriminada, uma vez que ainda não criou uma conta no Twitter, nem um perfil no Facebook.

Jornalista-de-vida-desregrada – Conhecida por seus hábitos boêmios noturnos, regados a álcool, cigarro e porções de calabresa, esta espécie tem perdido espaço para um novo grupo de jornalistas preocupados em levar uma vida mais saudável. A nova geração, careta pra cacete, caga de medo desse papinho chato de colesterol ruim, bom, colesterol mais ou menos, triglicérides e o escambau. Os bares de quinta categoria, hábitat natural do jornalista-de-vida-desregrada – cuja subespécie mais famosa é o jornalista-com-barriga-de-grávida, cultivada por muito chope –, estão cada vez mais vazios. A espécie em ascensão, o jornalista-natureba-do-rabo-malhado, costuma freqüentar restaurantes irritantemente limpos e sem gordura trans. Com a iminente extinção do jornalista-de-vida-desregrada, há também o risco de serem dizimadas as filosofias de botequim e as maledicências em geral.

Jornalista-que-vive-na-rua – Está cada vez mais difícil ver esta espécie de jornalista, que antigamente era livre para sair pela cidade em busca de notícia, solta por aí. Hoje, vive presa nas redações. Estes jornalistas apuram matérias por telefone, fazem entrevistas por e-mail e têm no Google a principal fonte de pesquisa para suas matérias. Alguns jornalistas da nova geração já nascem em cativeiro e têm pouca chance de sobrevivência quando vão para as ruas sozinhos. São os chamados jornalistas-da-bunda-quadrada, que passam grande parte do dia sentados numa cadeira. Analistas do comportamento comprovaram, após estudos, que o jornalista-que-vive-na-rua tem paixão pela pauta inesperada, por coisas vivas, dinâmicas, enquanto o jornalista-da-bunda-quadrada adora – mas como adora – um release.

24 comentários:

  1. incrível. e estamos aqui, com a barriga de grávida esperando o 2012.

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  2. ...
    Perfeito, Duda.
    Já percebo isso na universidade.
    Meu abraço.
    ...

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  3. pow...devo ser uma jornalista de transição: possuo contas em redes sociais,vivo grudada com o meu notebook e meu mp4, mas para mim livros ainda possuem um encanto único. estou cuidando mais de mim, mas esse papo de comer só alface, arroz integral e frango grelhado o tempo inteiro não cola :/ e para mim o bom mesmo é ir pra rua. eu me sinto enjaulada o tempo todo na redação :(

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  4. Nossa, muito bem sacado! Principalmente o tópico do "jornalista-que-vive-rua". Já vi coleguinhas se degladiarem por um release de abertura de vestiba da Fatec... É o fim dos tempos, rsrsrs

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  5. Eu tenho Facebook e jogo todos os joguinhos idiotas. Mas leio livro em inglês arcaico. Não tenho pança de grávida pq...oras...sou mulher! Não vou carregar o peso dos comentários maldosos "é menino ou menina?!" antes do tempo. E tenho a bunda semi-oval, pois graças aos céus sou obrigada a levantar constantemente para fechar páginas de PDF na tela dos outros.

    Será que sou o futuro perdido da nação e dos jornalistas?

    Cacete, me deu até medo agora.

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  6. Qual desses você é ou foi Duda? haha

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. DUDA...
    ...não te conheço...mas já te amo!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Como foi bom ler isso e me enquadrar na raça em extinção tentando se manter viva através de algumas novidades...mas SÓ ALGUMAS....rsrsrs!
    E como disse @manubarem >>> esperando 2012!!!!!!!!
    Muuuito bom!!!!!!!!!

    Valéria Borges
    Jornalista
    (-que-lê-muito-de-vida-desregrada-e-que-amaria-voltar-a-viver-na-rua)

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. demolidor, bem sacado e coberto de razão...apesar de eu ser uma espécie em extinção idem repliquei esse vosso post no facebook que vc odeia... e falarei a respeito no meu roxo blog tb...adorei...abs

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  11. Obrigado a todos pelas manifestações, meus amigos jornalistas das mais variadas espécies!
    Eu, particularmente, sou um caso curioso. Como espécie jornalista-que-lê-muito, também tento me adaptar ao mundo novo para sobreviver. Ricardo, eu engatinho no Facebook. Agora, como exemplar da espécie jornalista-workaholic-do-corno-inevitável, não corro o risco de extinção. Esta espécie jamais acabará.
    Beijos e abraços a todos.

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  12. Bom texto cara! Infelizmente, é isso mesmo...

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  13. baita observação que fizeste!
    inevitável não se encaixar nesses estereótipos.
    mesmo que nos não tão elogiosos.

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  14. Acho que sou uma espécie híbrida. Mas ainda prefiro meter o pé na lama, pautas inesperadas e filosofias de boteco.
    Este blog deveria integrar o currículo acadêmico.
    Abraços!

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  15. Adérito, Márcia e Cristine, bacana a participação de vocês! Voltem sempre. Abraços.

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  16. Inacreditável ver que a antiga essÊncia não está mais presente na maioria dos novatos...Vejo nos colegas da faculdade, que os eletrônicos foram substituindo os livros, pesquisa é só no google, não gostam de sair pra aumentar fontes, informações e enfins. tem vergonha de falar em público...
    Acho que a gente simplesmente nasce com isso...Com a paixão de sentir o cheiro da tinta fresca no papel,ir naquele barzinho fuleiro e tomar aquela cerveja bem gelada e sair de lá cheirando cigarro, suor, bebida e fritura...É,somos poucos os que nascem jornalistas.

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  17. Oi, Ingra. Gostei da parte em que você fala de sair do barzinho cheirando a cigarro, suor, bebida e fritura. Valeu pelo comentário. Beijão.

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  18. Sou definitivamente uma Jornalista-de-vida-desregrada. E atualmente trabalho como repórter em um Portal de saúde.

    Ah, a ironia.

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  19. Não tenho pança de grávida, mas adoro um pé-sujo com porção de calabresa acebolada, cerveja gelada e um cigarrinho pra rebater. O palito entre os dentes eu dispenso, pq é coisa de homem hahaha Tb não consigo dormir antes das 2h da madruga, pois é à noite e de madrugada que produzo melhor hehehe Sou da espécie jornalista-que-vive-na-rua, mas de tanto me submeter às pressões do chefe mal amado (e mal comido), me revoltei qdo minha bunda tava ficando quadrada e veio o resultado: agora virei fóssil!!

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  20. HAHAHA! Acho que sou uma espécie de Jornalista-de-vida-desregrada com uma mutação muito rara. Essa mutação faz com que o jornalista dessa espécie adore os botecos, a boêmia e as filosofias de bar, como já são característicos de sua espécie. Entretanto, apresentam anomalias como não comerem nenhum tipo de carne e detestarem comidas gordurosas. Isso faz com que o Jornalista-de-vida-desregrada desse perfil não desenvolva as característica da espécie Barriga-de-grávida.

    Ótimo texto Duda, você é muito massa. Para quem está começando, como eu, essa brincadeira toda aqui é também um grande aprendizado.

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  21. Oh, não! Essa vida desregrada de jornalista não pode acabar! Há tempos que as melhores pautas surgem entre filosofadas e devaneios dentro de botecos malditos e bares bem sujos.
    É como disse @manubarem , estamos esperando, com barriga de grávida, chegar 2012 para fazer a cobertura do fim do mundo, ora essa!

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  22. Qdo crescer quero ser um terço do q vc é...rs!!
    ótimo texto como sempre!

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  23. Oi, Ellen, valeu pela mensagem.
    Alexander, que venha o fim do mundo.
    Ana Paula, se você tiver um terço dos meus problemas fica melhor...rs. Brigadão pelo carinho.

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