Começava a chover no calvário.
- Chefe, chefe, conversei com um ótimo advogado e conseguimos um habeas-corpus. Sua sentença está suspensa!
Era Pedro, assessor de imprensa de Jesus.
- A notícia já corre por todos os cantos.
Jesus arregalou os olhos. Não era esse o final que havia planejado. Mas como lei é lei, os soldados, também contrariados, tiveram que descer Jesus. O bandido mau sorriu com sarcasmo: “Neste país, só os pobres morrem na cruz.”
De volta à sua casa, Jesus teve os ferimentos tratados por sua mãe e por Maria Madalena, sua mulher, carinhosamente chamada por ele de Madá. Madá, que há pouquíssimo tempo já se considerava uma viúva, agora refazia os planos. Voltou a sonhar com uma casa no campo, cheia de crianças e ovelhas.
Jesus não entendia por que seu assessor de imprensa armou toda aquela estratégia para conseguir um habeas-corpus.
- Me responde, pelo amor do meu Pai: o que a gente combinou?
- Mas chefe...
- Não tem “mas chefe”. Era só escrever o release sobre a minha crucificação e a ressurreição no terceiro dia e disparar para a mídia. Só isso. É tão difícil para um assessor seguir o briefing?
O primeiro jantar de sua liberdade foi em família, coisa simples, nada da ostentação da santa ceia. Jesus era só desolação.
- Não comeu nada, filho. Assim você vai ficar fraco.
- Mãe, eu deveria morrer para salvar este povo. Agora, tudo será diferente. Como eu fico com a opinião pública?
Jesus caminhava pelas ruas sob olhares desconfiados. Os discípulos, sempre muito próximos, se afastaram. Não conseguia mais fazer milagres. Os leprosos continuavam leprosos. Os cegos jamais veriam o verde dos campos. Jesus começou a beber. Os cabelos e a barba foram crescendo cada vez mais.
- Meu filho, você está precisando arrumar um emprego.
Jesus tornou-se depressivo e passou a se entupir de Prozac.
Sem causar mais furor, Jesus foi esquecido. Seu assessor de imprensa, que ainda não havia sido perdoado, caiu fora por falta de pagamento. O processo de execução foi arquivado. Jesus estava condenado a jamais morrer na cruz. Ele pouco saía de casa e, numa destas raras vezes, foi comprar pão – já não conseguia multiplicá-los – e nunca mais voltou.
Madá chorou. Esqueceu a casa no campo, as crianças, as ovelhas.
GENIAL!
ResponderExcluirNunca tive duvida que pedro foi o primeiro rp da história. MB
ResponderExcluirDuda, voce já fez coisa muito melhor. Mexer com Jesus, para quê?
ResponderExcluirBlasfêmia
ResponderExcluirAnônimo, não leve a coisa tão a sério. Este é um blog de humor. E, se tem sacanagem aqui, é contra o pobre do assessor de imprensa. Abraço do Duda :)
ResponderExcluirNAUM MECHÃO COM JESUS KKKK
ResponderExcluirPutz, quem é (são) esse(s) anônimo(s)??? Pra que tumultuar??? Tsc tsc tsc, não entendo. Duda, você acha mesmo que um pobre assessor de imprensa é capaz de mudar a história?? Nos meus anos de assessoria (que, se Deus quiser, terminam agora), nunca tive esse poder todo não. Quanto ao texto, mais uma vez é muito bom, parabéns!
ResponderExcluirAssessor de imprensa arrumando um habeas corpus?
ResponderExcluirIsso está parecendo mais adaptação de piada de advogado... ehehehe
Fabuloso...
ResponderExcluiro texto é ótimo...
PARABÉNS!!!
Cansei de dizer que esse blog me diverte. Invariavelmente, me diverte! Parar o que estou fazendo para lê-lo é sempre uma atitude sensata!
ResponderExcluirAmém.
ResponderExcluirRebelc, mudar a história é só com os exageros do humor mesmo!
ResponderExcluirObrigado a todos pelas mensagens.
Abração.
Pobre assessor de imprensa... hauahauhauahauha
ResponderExcluirTexto genial!
antes eu gostava de ler muito seu blog mas este post foi deprimente, acho que tudo deve ser feito na dose certa. Você estrapolou neste! dá pra fazer humor sem perder o respeito é a ética principalmente espero que seje democrático e publique meu post.
ResponderExcluirSem dúvida, Duda, eu entendi o humor sim. Então, acho que no meu caso, muitas vezes eu é que fui para na cruz (ou nas fogueiras), pior. pelos erros dos outros. Mas é assim mesmo, a corda sempre arrebenta no lado mais fraco. Nos meus anos assessoria de imprensa, posso dizer uma coisa, o pobre do "sessor" é mais vítima que vilão.
ResponderExcluirDavid, fica registrado teu protesto.
ResponderExcluirClarissa e Rebelc, assessor sofre muito mesmo.
Abraços.
Duda, não esqueça do Tiririca rsrsrs.....
ResponderExcluirAi Duda...........
ResponderExcluirHAHAHAHHAHAHAHAH SENSACIONAL DUDA!!!
ResponderExcluirEsse foi o melhor post de todos.
Valeu, Fran. Beijos.
ResponderExcluirSen-sa-cio-nal! Ótimo texto. Você é fera, Duda!
ResponderExcluirBrigadão, Ricardo. Abraço.
ResponderExcluirPost muito bom. Mesmo um pouco mais sombrio que o de costume, mas ótimo como sempre. Abraços!
ResponderExcluirDuda
ResponderExcluirSe a vida do jornalista é f..., a do assessor de imprensa é pior ainda. Poder ele não tem, absolutamente. Normalmente perde o posto para algum metido qualquer. E nestes casos, nem Jesus salva. Na redação ainda compete com jornalistas. A única coisa boa do assessor, é que, se ele, como eu, passou pela redação primeiro, sabe o que o outro lado quer. Mas cá entre nós, já vivi em assessorias onde o último a saber era o assessor. E te digo, jornalista é jornalista, ou chornalista, como me chamavam na cidade onde eu trabalhava. Tudo farinha do mesmo saco.