sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Efêmera

Repórter de jornal diário passa horas apurando uma matéria, entrevista Deus e o capeta, toma esporro do chefe, escreve, revisa, corrige aqui e acolá. E a matéria acaba rapidinho na vala comum. Resiste apenas 24 horas. Envelhecimento precoce. Morte súbita. Dá até pena. Só quem escreveu a mantém viva. Saboreia a cria até enjoar. Sonha mostrar pros netos. Do resto do mundo só ganha desprezo. Repugnância. A matéria de ontem está condenada a enrolar peixe e banana na feira. A ser fuzilada pela merda dos passarinhos. Pelo mijo dos cães.

20 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Cheguei até seu blog ontem, 03, mas acho que ele vai fazer arte dos sites acessados diariamente entre uma matéria e outra. Parabéns, muito criativo, divertido e sincero.

    Abraços Mariana Negrini

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  3. "Saboreia a cria até enjoar " rsrsrsrs adorei isso , leio e releio até cansar mesmo !!!!
    http://koisasdekali.blogspot.com

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  4. É a mais pura verdade, mas dá um prazer imenso. Lembro-me de quase todas que fiz nestes 30 anos de carreira e são todas como filhos que um dia eu pus no mundo.
    Parabens pelo blog!

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  5. Dá mesmo muita pena pensar que a maioria das coisas que escrevemos nem mesmo são lidas. Na maioria das vezes o leitor bate o olho e pula para a próxima....
    Eu guardo minhas matérias em pastas de plástico, salvo os links, coleciono.

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  6. Ainda partilhando da "nobre" experiência de ser estagiário, concordo plenamente. O cuidado, a admiração, geralmente, cabe apenas a quem escreve, a quem vivenciou e sabe como foi construir a suada narrativa. Salvo raras excessões.

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  7. Cara, como vc realmente sabe das coisas! A gente se identifica demais com o que vc escreve. Recebo suas postagens no e-mail e não consigo resistir ao impulso de dar aquela passadinha aqui, mesmo com a correria do dia a dia, tentando entrevistar Deus e o capeta :D

    Saudações da votuporaguense que vive em São José do Rio Preto.

    Bjos!

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  8. Duda,
    na internet não se enrola peixe e banana. Servimos de alimentos para os vírus e vermes. hahahahahahahah
    Sophia Camargo
    sua fã
    http://noticias.r7.com/blogs/sophia-camargo/

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  9. Senti isso uma vez. Aqui em casa tinha uma tartaruga e o forro da "casa" dela era jornal. Um dia colocaram de uma matéria minha assinada e a desgracenta resolveu fazer cocõ justo no meu nome. Pensei: "Será que escrevo tanta merda assim?"

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  10. Uma vez a tartaruga que tínhamos aqui fez cocô justamente em cima do meu nome, pois o jornal era o tapete da casa dela. Era uma matéria assinada. Pensei: "Será que escrevo tanta merda assim?"

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  11. Pior ainda é pegar carona com alguém e se deparar com seu trabalho sobre o tapete. As pessoas pisam no que você fez com tanto esforço.Abraços. Mari Negrini

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  12. quem é do impresso, sabe.
    carregamos nossos esqueletos e troféus dentro de pastas e gavetas.
    é um delírio constante poder revisitar o que já povoou nossa mente.

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  13. Um jornal ontem serviu para limpar resíduo de gasolina do carro de uma amiga...deu vontade de parar tudo e ao menos ler as notícias do caderno, mas ela não deixou, estava com pressa! Eita mundo efêmero, mundo líquido, de coisas provisórias...bj

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  14. Pode parecer desperdício, mas matéria de jornal diário é descartável mesmo. Sempre foi assim. Só resta aos autores proteger suas crias. Qual o jornalista que nunca fez isso?
    Obrigado por todos os comentários. E pelas mensagens tão meigas sobre o blog. Voltem sempre. Abraços.

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  15. Duda, tem mais uma coisa. Outro dia entrevistei uma mulher e ela me disse que o jornal para o qual escrevo faz bem para o intestino dela (usou exatamente essas palavras). É que todo dia de manhã ela lê o jornal no banheiro.
    Só rindo, pra não chorar, né?
    Paula

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  16. Meu caro, pobre dos repórteres de TV, então. Aos jornais, restam os anais. Vítor Rocha

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  17. Paula, eu desconhecia este poder terapêutico do jornal. Ótimo remédio para prisão de ventre. Depois nos diga o nome do teu jornal.
    É, Vítor, pobre de quem não pode recorrer aos anais.
    Abraços.

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  18. E a gente ainda tem que aguentar a turma da tv dizer: 'Jornal de hoje, notícia de ontem'.

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