quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Fiscais

Há quem acredite que o jornalista, por ter a cabeça mais aberta, trata algumas questões com naturalidade. Bobagem. A homossexualidade, por exemplo, ainda é um tema tabu. Na mesa do bar, quando não estão falando da matéria do dia, filosofando ou reclamando do salário, muitos jornalistas costumam discutir a orientação sexual dos colegas. Dos que não estão presentes, claro.

Raphael: E aquele jornalista novo de música, hein? Bichona total.

Daniela: Ai, Rapha, nada a ver! Só porque ele é do Caderno de Cultura?

Raphael: Dani, é óbvio que ele é viado. Não é tão exagerado quanto o cara lá que cobre teatro, mas é viado. Vocês não viram as roupas justinhas? E aquele All Star vermelho?

Bruno: Peraí, eu também uso roupa justa e não sou gay!

Luís: Ah, Bruno, você eu também não sei, não... (risos)

Raphael: Gente, não é só a roupa. Vocês não leram o texto dele sobre a Lady Gaga? Numa parte lá, o cara usou a palavra “divina”. É ou não é viado?

Daniela: Me disseram que ele é sensível. Só isso. É tão raro ver homem sensível hoje que todo mundo já pensa que é gay.

(O garçom chega com a porção de batata frita)

Luís: Preciso contar uma coisa pra vocês: dia desses lá no café, eu ouvi um papo dele com aquela amiga dele do Roteiro Cultural, a esquisita, sabem?

Raphael: E aí, Luís? Aproveita e passa o sal.

Luís: (passando o sal) Ele dizia à esquisita que estava “amando horrores” a biografia do Ricky Martin. Na boa, isso depõe muito contra o cara.

Bruno: Porra, depõe mesmo, Luís. Se ele não é gay, já foi em alguma encarnação passada.

(Risos gerais)

Daniela: Agora, gente, sem maldade, aquela amiga dele do Roteiro Cultural cola um velcro forte, hein? Putz, meu, certeza!

São raros os jornalistas que não comentam a sexualidade alheia. Lembro-me de um editor que, toda vez que era perguntado sobre a chance de fulano ou sicrano ser gay, tinha uma resposta pronta. E cruel. “Eu que vou saber? Não sou fiscal de cu”.

12 comentários:

  1. "Fiscal de cu" é ótima! Hahaha... realmente, no nosso meio jornalístico tem de tudo, mentes abertas e outras "fechadas" mesmo! E a maledicência e especulação sobre a vida alheia sempre tem lugar! =P Post legal. Gostei da inclusão do diálogo.

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  2. Eu que vou saber? Não sou fiscal de cu”


    AHAHAA. genial!

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  3. O Robson é o namorado do zé? sabia...

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  4. quem dera acontecesse isso no meio jornalístico...uma vez, quando fui contratar um estagiário, meu chefe falou q era pra eu escolher outro porque "aquele lá" praecia que era gay e ia pegar mal pra área.... lamentável...

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  5. Gostei da resposta do editor... kkkkkkkkkkkkkkkkkkk e eu que vou saber é? rs

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  6. Vou adotar a resposta do editor pra minha vida! Galera que se aproiveita do meu gaydar pra sair paquerando pelos cantos... Agora já sei o que dizer! Rá!

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  7. Esse lance de homosexualismo tá tão disseminado, que já tem estudioso reclassificando como terceiro sexo o sexo masculino.
    Mas o que dizer de um mundo onde o Cat chupa, o judeu, o Tadeu, o Amadeu, o Cond´eu, o pessoal de Avanhandava e a turma de Quixadá?

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  8. "(O garçom chega com a porção de batata frita)"

    HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA....

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  9. Jornalista gosta duma maledicência. E como gosta! Abraços.

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  10. Oh, o que mais se enxerga numa redação de jornal é gay. Loucura do jornalista que demonstrar-se um homofóbico!

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