quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Sobre o tempo


Tem o tempo em que a gente se descobre jornalista e cada jornalista tem um tempo diferente pra isso.

Tem o tempo em que a gente tem todo o tempo do mundo e vive o jornalismo com uma intensidade maluca como se o tempo fosse se esgotar em pouco tempo. Tem o tempo bom de redação que não volta nunca mais que a gente cantarola cheio de nostalgia lembrando o Thaíde na mesa de um bar.

Tem o tempo de ir até lá só pra tomar um café rapidinho, beleza? Pra acordar, pra respirar, e já voltar pro texto. Porque o tempo pro deadline é sempre curto.

Tem o tempo em que a gente é estudante de jornalismo, tempo das vacas magras, ou vacas anoréxicas, como se diz nos tempos de hoje. Apesar de tanto tempo ruim, um tempo bom.

Além da falta de tempo, tem também a sobra de tempo, que é o tempo em que a gente fica sem emprego.

Tem o tempo lento – o tempo quase sempre apressado às vezes resolve ser lento –, que é o tempo do plantão de domingo que a gente precisa matar de algum jeito.

E tem o tempo de dar um tempo.

O blog Desilusões perdidas vai dar um tempo. Volta logo, eu prometo.

Meu obrigado a quem acompanhou os posts por mais um ano, o quinto de vida do blog. Aos que compraram o livro “A vida de jornalista como ela é”. A quem ainda não comprou, é só clicar aqui. Obrigado a cada pessoa cujo caminho eu cruzei em tantos encontros universitários este ano, de Norte a Sul do Brasil, literalmente. Em 2014, tem mais.

E pra gente não perder mais tempo, me despeço aqui.

Um puta ano novo pra todos vocês.

Duda.

PS: Assim como a venda do livro, as atualizações das redes sociais não tiram férias. Acompanhe a página do blog no Facebook aqui e siga pelo Twitter aqui. Valeu.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O horóscopo dos jornalistas para 2014


Trabalho – Um ano com eleições gerais, Copa do Mundo no Brasil e Big Brother 14 tem tudo para ser muito agitado para os jornalistas. Para deixar o cenário astral mais complexo, Plutão entra em conjunção com as redações enxutas, indicando um período muito propício à perda de folgas e a longas jornadas de fechamento de cadernos especiais. Mas nada que um café bem forte em conjunção com um energético não resolva.

Finanças – Apesar de 2014 ser um ano que terá o azul como cor predominante, isso não significa que a conta bancária dos jornalistas sairá do vermelho. A previsão de um ano financeiramente delicado é a mesma de 2013 e de todos os anos anteriores desde Gutenberg. Em 2014, serão necessários muitos esforços, frilas e até mesmo uma tripla jornada de trabalho. Nenhum mistério esotérico.

Amor – No início do ano, Júpiter caminha pelos relacionamentos dos jornalistas. O que isso significa? Não faço a menor ideia. A Lua revela, por meio de sua assessoria de imprensa, que a influência astrológica do Juju, aplicativo que avalia o desempenho amoroso dos jornalistas, torna 2014 fértil para muitas DRs. Para os encalhados, pessoas exóticas devem entrar em suas vidas. E elas não são jornalistas. Jornalistas são pessoas estranhas mesmo.

Horóscopo chinês – O ano de 2014 será regido pelo Cavalo, o que favorece ações concretas, como tomar vergonha na cara, atualizar o currículo e buscar um trabalho decente. É também um ano propício para se levar muitos coices, principalmente de chefes e entrevistados. Alguns astrólogos acreditam que, como os jornalistas passam grande parte da vida pastando, para eles todo ano é ano do Cavalo.

Saúde – Os longos períodos sem comer em quadratura com os dias em que se almoça porcaria na padaria às cinco da tarde indicam que, em 2014, os jornalistas terão uma saúde mais fragilizada, o que requer atenção. Os momentos mais críticos ocorrem no primeiro semestre. E no segundo semestre também. Os astros aconselham a adoção de uma dieta mais balanceada ou, pelo menos, doses extras de Omeprazol.

Sexo – Com o safado de Vênus retrógrado nos primeiros seis meses do ano, a vida sexual dos jornalistas também será morna no período. Mas, depois disso, vai rolar uma putaria astral só. O ápice da sacanagem jornalística acontece nas eleições, por razões já conhecidas. A chegada de Urano ao centro do signo de Áries não significa porra nenhuma, mas eu achei legal botar isso no texto.

Família – A ranzinzice do pai em desconjunção com a impaciência da mãe em desarmonia com a birra dos irmãos em desalinhamento com a TPM da cunhada em desequilíbrio com a encheção de saco do tio desempregado sugere que a vida familiar em 2014 vai ser foda. Mas como jornalista vive trabalhando e não tem tempo para a família, o ano promete ser maravilhoso.


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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Imprensa Retrô 2013


A velha imprensa ficou perdidinha com os protestos de junho. Chamou manifestante de vândalo, depois elogiou a polícia, depois mudou o discurso total. Vinagre na mão de jornalista virou arma e deu cadeia. Bala de borracha doeu no olho e na alma. Os ninjas mostraram do asfalto o que a Globo tentou mostrar do helicóptero. As redes sociais pautaram a imprensa. E tudo isso reforçou a questão: qual o futuro do jornalismo? A audiência em queda do Jornal Nacional passou a ser exibida em HD. Bento 16 sacaneou a Ilze, ao renunciar bem nas férias da setorista papal. O El País chegou ao País. A Abril “descontinuou” várias revistas, como a Bravo!. Empresas de comunicação “descontinuaram” o emprego de jornalistas em todo o Brasil. Os bravos do Diário do Pará cruzaram os braços por mais dignidade. O pessoal da EBC também parou. Jornalista faz greve, sim. Pimenta Neves – que medo – passou a andar solto por aí. A Vejinha precisou provar que o Rei do Camarote não era pegadinha do Mallandro. O Fantástico trocou uma Renata por outra. A imprensa começou o ano babando ovo pro Eike e acabou o ano jogando ovo no Eike. O Globo, com meio século de atraso, admitiu que o apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro. Marcelo Rezende coçou o saco ao vivo no Cidade Alerta. A Poeta, com pressa de ver a novela, se levantou da bancada antes da hora. O Tralli chamou o Cheirão de Chorão, ops!, chamou o Chorão de Cheirão. E o Lobão virou colunista da Veja, o que torna o debate sobre o futuro do jornalismo ainda mais urgente, porque o bagulho ficou ainda mais foda.


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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Jornalista é jornalista até quando está fazendo outras coisas


Carla é repórter de Economia e taróloga nas horas vagas

Querida, a carta que você tirou tá com um viés de alta esta semana. O arcano, então, super-recomendado pelo mercado. Você tava me contando que seu marido saiu de casa, mas já dá pra notar uma reversão dessa sua volatilidade emocional e um cenário mais otimista. Numa projeção de curto prazo, eu digo que este homem volta. Seu déficit sexual vai acabar.

Márcio é repórter esportivo e corretor imobiliário

Este apartamento, meu amigo, é show de bola. E a vista da sacada? Uma pintura. Coisa mais linda. Chega a lembrar aquele gol do Neymar contra o Flamengo na Vila. Sabe qual eu tô falando? Vou te dizer uma coisa: é assinar o contrato e correr para o abraço.

Catarina é colunista social e coordenadora informal de Comunicação do Villagio Città, condomínio onde mora

Sabe o seu Antônio do 64? Vou te contar em primeira mão: é corno.

Bruno é repórter policial e toca Raul de quinta a domingo num barzinho xexelento

♫ Prefiro ser
Esse repórter ambulante
Eu prefiro ter
Uma rotina emocionante
Do que ter aquela velha pauta chata
Apurada via Google. ♫

Beatriz é moça do tempo na TV e atendente voluntária do Centro de Valorização da Vida

Por que se matar? Escuta: a vida é assim, sujeita a tempestades. Você só precisa entender a sua existência neste mundo como uma imagem de satélite. Amanhã é outra imagem, outro dia, um dia ensolarado, sem nuvens. Você só está passando por um período de instabilidade.

Gabriela é editora de Política e faz sexo sempre que arruma um tempinho

Amor, solta logo esse texto, ou melhor, solta logo o meu sutiã.


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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

10 coisas que os namorados de jornalista deveriam saber


Como os jornalistas vivem intensamente o trabalho, pode até parecer que eles amam mais a profissão do que amam seus parceiros. Em alguns casos, muitos casos, isso é verdade, mas também não chega a ser assim muuuito mais.

O jeito meio reclamão dos jornalistas é uma questão cultural, histórica, antropológica, metafísica. E um pouco de charme.

O jeito meio chato é chatice mesmo.

Numa briga ou DR, não tente entender por que eles insistem em perguntar o que, quem, quando, onde, como e por quê.

Não é por mal que eles riem dos erros de português da pessoa amada.

É normal eles passarem a madrugada em frente a um computador.

É normal eles serem um pouco anormais.

Levar um bloquinho de anotações para o jantar de aniversário de namoro é apenas precaução. É que a notícia não marca hora.

Acredite: a Patrícia Poeta também tem crises existenciais e o William Bonner também brocha.

Apesar de tudo, é comum as pessoas sentirem orgulho de namorar um jornalista. Confessa, vai.


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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ser assessor de imprensa é...


Ter uma cara de pau elevada à enésima potência.

Festejar a notinha do colunista famosão como se fosse um furo de reportagem.

Viver explicando pro povo de redação que assessor também é jornalista.

Viver explicando pro povo de relações públicas que jornalista também é assessor.

Saber vender seu peixe. Quer levar, não, freguesia? Pauta fresquinha.

Ouvir do assessorado desinteressante o pedido de uma entrevista pro Jô, e pensar “tô fodido”.

Ralar como qualquer jornalista, mas levar fama de vida boa.

Montar sua própria agência acreditando que vai, enfim, ficar rico.

Buscar o difícil equilíbrio entre o interesse do assessorado e o do repórter.

Buscar o difícil equilíbrio entre o ego do assessorado e o do repórter.

Responder 20 perguntas por e-mail pra ontem, por favor, e não esquece uma foto em alta resolução, tipo 300 dpi, pode ser?

Lidar com assessorado que não tem a menor noção de como funciona a imprensa.

Apagar incêndios quando o assessorado faz alguma merda.

Ser criativo para produzir press kits maneiros por um custo baixo.

Organizar coletiva e rezar pra tudo que é santo pra não chover.

Ir a almoços chatérrimos de “fortalecimento de relações”.

Planejar, pensar pautas originais, ter bons contatos na imprensa, texto bom. Mais alguma coisa?

Usar expressões chiques, como “ativo de imagem”.

Distribuir presentinhos e não ser o Papai Noel.

Explicar o tempo todo aos leigos o que um assessor de imprensa faz. E ter a certeza de que ninguém vai entender.


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terça-feira, 26 de novembro de 2013

10 coisas que todo jornalista deveria fazer antes de morrer


Uma entrevista perigosa: com um traficante, um psicopata, um motorista bêbado na blitz da Lei Seca ou com o Dado Dolabella.

Sair à rua com uma pauta nas mãos e voltar à redação com uma matéria totalmente diferente.

Passar uma semana inteirinha sem usar o Google.

Fazer uma cobertura internacional, na China, Londres ou sobre os muambeiros em Ciudad del Este.

Participar de uma greve na redação.

Dormir na rua como mendigo ou ser stripper por uma noite, para descrever com mais realismo as suas histórias. Só não vá levar muito a sério a ideia de ser stripper, ok?

Mandar o patrão à merda e dar início a uma emocionante carreira de free lancer.

Chorar pra valer ao cobrir uma tragédia.

Pagar todas as contas do mês sem atraso, ao menos uma vez na vida.

Negociar com o chefe uns dias a mais de folga, para poder fazer um filho. Ou plantar uma árvore. Ou escrever um livro.


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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Se o povo de Amor à Vida fosse jornalista (versão atualizada)


Félix – é o picareta que só se dá mal, dono da frase “Será que eu botei cartucho remanufaturado na impressora do Gutenberg?”.

Valdirene – é a foca que passa a ser adestrada de acordo com os mais refinados manuais de redação e estilo do jornalismo.

Guto, Patrícia, Michel e Silvia – moderninhos, frequentam redações de swing, onde trocam de parceiros para escrever matérias a quatro mãos.

Linda – é a repórter que, ao deixar o mundinho da redação onde vivia presa, descobre que as matérias na rua são bem mais legais.

Paulinha – é a jovem dividida entre um trampo descolado em mídias sociais e um empreguinho careta de redatora de economia.

Aline – é a imprensa que se diz séria, mas adora uma manipulação.

César – é o jornalista que se diz sério, mas adora uma imprensa manipuladora.

Bernarda e Lutero – depois de décadas sem fazer uma pauta, são os editores da terceira idade que decidem reviver os bons tempos de reportagem.

Eron – é o jornalista que ora quer trabalhar numa redação convencional, ora quer ser assessor de imprensa, e ora quer as duas coisas ao mesmo tempo.

Pilar – é a publicação impressa que perdeu o poder de sedução, a autoestima, e foi trocada por uma jovem mais atraente, a internet.

Amarilys – é a repórter que roubou a pauta do melhor amigo e não devolve de jeito algum.

Paloma – é a assessora que pira ao saber que o seu release, gerado com tanto carinho e tantos superlativos, foi jogado numa lixeira de computador.


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terça-feira, 12 de novembro de 2013

O Rei do Camarote agregou valor ao jornalismo


Quando o jornalista da Vejinha que entrevistou o Rei do Camarote resolveu dar mil explicações para provar que sua reportagem era, sim, verídica, pensei: “fodeu de vez”.

Um repórter suplicando “acredite em mim, meu amor, e não no batom que estão inventando para a minha cueca” é algo muito mais sério do que simplesmente saber se Alexander de Almeida é um boçal real ou um boçal fake.

Ok, assim como a minha ex-mulher, a imprensa nunca foi 100% honesta, mas ao menos parecia honesta. Parece que nem parecer ela parece mais.

Apesar do meu “fodeu de vez” e do quê de desalento do início deste texto, a discussão toda que rolou em torno da verdade ou não da história foi ótima.

Se antes a grande imprensa era a dona de uma verdade absoluta, hoje a pluralidade de informações, contrainformações, subversões e opiniões deixou tudo muito relativo.

E tudo muito maluco também. E a bagunça que virou a circulação da informação nos obriga a pensar e questionar cada vez mais.

O que é verdade, afinal? E o que não é? Em quem confiar?

O jornalista sempre teve o dever de ser um sujeito desconfiado. Agora esta missão é de todo mundo que consome informação.

É claro que muito leitor acostumado à passividade vai achar que desconfiar dá um trabalhão danado, que ainda é melhor uma verdade mastigada. Tenho mesmo que me importar com cuecas e seus batons?

Mas outros tantos vão despertar. E este despertar é urgente.

Mesmo sem querer, a Vejinha, o repórter cheio de explicações e seu rei boçal (real ou não) ajudaram a agregar valor ao jornalismo.


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terça-feira, 5 de novembro de 2013

10 dicas para o caso de você se apaixonar por um entrevistado bonitão


Sendo bonitão, definitivamente este cara não é jornalista, o que é ótimo. Enfim, um homem decente na sua vida. De repente, o cara pode até ter o corpo sarado, a conta bancária sarada. Já pensou? Faça de tudo para conquistá-lo.

Elogie a voz dele, as frases claricelispectorianas dele, as ideias originais dele e, pelo amor de Deus, nada de corrigir um eventual deslize dele no Português. Se o homem é bonitão, deixe-o falar “a nível de” à vontade.

Ao fim da entrevista, sonde se é possível ligar para o celular dele a qualquer hora do dia para checar uma coisinha ou outra. Diga que cuidado com a informação é a chave do bom jornalismo. E, claro, resolva ter uma dúvida no sábado à noite.

Jornalistas odeiam deixar o entrevistado ler a matéria antes de publicada, mas, neste caso, abra uma exceção. Nada de mandar o texto por e-mail. Que tal marcar um jantar romântico pra saber se ele gostou do lead? Só tome cuidado pra não pagar a conta, hein?

Mostre ao entrevistado que você entende muito do assunto dele. Isso vai impressioná-lo. Eu até tentei pensar em outras formas de um jornalista impressionar o entrevistado e, sinceramente, não achei mais nada legal. Vamos estudar o assunto então?

Se além de entrevistá-lo você for fazer fotos dele, contenha-se. Jamais peça para ele abrir a camisa e exibir o peitoral. Não parece, mas jornalismo é, sim, uma coisa séria.

Se ele for o entrevistado tipo fonte cheia de informação boa, além de resolver o lado do seu coração, você ainda passará a descolar umas manchetes ótimas. Ele dá um furo pra você e você... não, não vou fazer esta piadinha tosca e clichê.

Evite entrar numa nóia de dilemas morais, tipo é ético eu dar para o entrevistado? Dê para o cara primeiro, fume um cigarrinho de boa e, só depois, vá pesquisar no Código de Ética dos Jornalistas se existe algum tipo de impedimento para o caso.

Se você sentir que o entrevistado também se interessou por você, faça de tudo para que nenhuma outra repórter da redação queira entrevistá-lo. Proteção é tudo. Se pauta bosta já tem gente roubando, imagine só homem bonito.

Antes de se declarar para o entrevistado, certifique-se de que ele não é casado. De roubada nesta vida já basta o seu contracheque.


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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Redação Royal


O povo começou a ser resgatado ainda era madrugada.

Tinha gente com olheiras de quem vara a noite escrevendo matéria. Gente que era só o bagaço de tanto preencher sozinha duas ou mais páginas por dia.

Os ativistas arrombaram a porta principal e logo perceberam que lá dentro havia dezenas de profissionais trabalhando em condição análoga à de um jornalista escravo.

Estavam lá havia meses. Sem salário decente, sem equipamentos decentes, sem papel higiênico. Faltava decência até para cagar.

Suspeitas de maus-tratos foram confirmadas. Um estagiário, por exemplo, era obrigado a ler e ouvir todas as colunas do Jabor.

Também eram feitos experimentos. Quanto tempo o organismo de um jornalista suporta ficar sem comer? Hein? Tudo pela ciência.

Parte da opinião pública ficou sensibilizada com o caso dos jornalistas resgatados. Tão bonitinhos, principalmente o estagiário que lia o Jabor. Outros acharam que os ativistas deveriam é se preocupar com coisas mais importantes. Tanto vira-lata abandonado por aí na rua e ninguém faz nada.

A Redação Royal foi lacrada. Provisoriamente.

Os black blocs ameaçaram quebrar geral. O patrão, temendo o próprio deadline, ligou para o secretário, que falou com o governador, que liberou a turma do Choque.

A boa notícia é que os jornalistas resgatados podem ser adotados por redações de todo o Brasil. São pessoas legais, que curtem o que fazem e só precisam de gente disposta a lhes dar um trabalho digno. Ah, se rolar também um biscoitinho com café, eles vão amar.


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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Sobre falar de jornalismo por aí


Confesso que estou adorando visitar universidades pelo Brasil para falar de jornalismo e, principalmente, ouvir. Ouvir histórias, desejos, neuras. Discutir coisas sérias com bom humor. Conhecer e reconhecer leitores deste blog. Uma puta experiência. Eu, um velho ranzinza, reaprendo a ser jovem a cada encontro.

Hoje, dia 24, estarei no Rio Grande do Sul, na XIV Semana Acadêmica da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo (UPF). Bate-papo e sessão de autógrafos do livro “A vida de jornalista como ela é” a partir das 19h30.

No dia 30 de outubro, também às 19h30, minha parada será em Santa Catarina, na Semana Acadêmica do curso de Jornalismo da Faculdade SATC de Criciúma, para mais uma palestra sobre as graças e as desgraças da profissão. E, claro, lançamento do livro.

O Duda Rangel Tour 2013 continua em novembro. No dia 8, às 20 horas, participo de um encontro com estudantes da UNIFAE, em São João da Boa Vista (SP). Com direito também a uma personal sessão de autógrafos de “A vida de jornalista como ela é”.

Caso sua faculdade se interesse pela minha nada nobre presença num evento, é só escrever para dudarangel2009@gmail.com.

Lembro que a venda do livro segue também pela loja no Facebook aqui, ou por depósito bancário (detalhes aqui). Nos dois casos, o frete é grátis para todo o Brasil e o comprador pode pedir uma singela dedicatória.

A gente se encontra por aí.


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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O primeiro dia de uma foca na redação


Aí, mãe, meu chefe pediu pra esperar, pra ver se rolava alguma coisa. E nada. A tarde toda.
Aí ele: pintou um caso de polícia. Gosta de matéria com sangue?
Aí eu: adoro matéria com sangue.
Aí ele: liga pro delegado nesse número. Doutor Junqueira.
Aí eu: ligo, sim, ligo agora.
Aí ele: parece que foi briga de bar, um morto, esfaqueado, checa lá. 15 linhas, ok?
Aí eu peguei o telefone, aí o doutor não tava na sala, aí eu liguei de novo, aí eu falei com o bendito doutor, aí eu anotei tudo rapidinho, aí eu não entendi minha letra, aí eu comecei a suar frio, aí eu escrevi correndo.
Aí ele: solta o texto, Luísa.
Aí eu: tô soltando.
Aí ele: solta o texto, Luísa.
Aí eu: já soltei.
Aí ele ficou lendo e franziu a testa e coçou a orelha com o dedinho.
Aí eu fiquei rezando pro texto estar bom, porque eu escrevi correndo, lembra, mãe?
Aí ele não parava de ler, meu Deus!
Aí eu já pensando que tava uma droga, porque como pode demorar tanto pra ler um texto de 15 linhas? E digitou umas coisas e outras coisas.
Aí ele: Luísa, vem cá.
Aí eu: tô indo (com as pernas bambas, sabe, mãe?).
Aí ele: teu texto tá ótimo.
Aí eu: nossa, obrigada!
Aí ele: tinha um errinho só, muitas aspas, viu?, mas depois a gente conversa.
Aí eu: ah, claro, muitas aspas.
Aí ele: como você quer assinar a matéria?
Aí eu: com meu nome.
Aí ele: isso eu sei. E qual o teu nome completo?
Aí eu: Ana Luísa Fonseca de Barros Oliveira Medeiros.
Aí ele: caramba, tudo isso?
Aí eu: tudo isso.
Aí ele: muito grande. Corta pruns três nomes.
Aí eu: gosto de Luísa Medeiros.
Aí ele: Luísa com “z”?
Aí eu: com “s” e acento.
Aí ele: pode chegar cedo amanhã?
Aí eu: na hora que você quiser.
Aí ele: gosta de pauta na rua?
Aí eu: adoro pauta na rua.
Aí ele: às 7 horas aqui (e coçou a orelha de novo com o dedinho).
Aí, mãe, foi isso. Primeira matéria assinada! Página 3, meio lá embaixo, sabe? E, ó, não esquece de comprar o jornal amanhã, tá?


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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ser professor de jornalismo é...


Abrir cabeças, despertar inquietações.

Acumular mais este emprego, afinal, quem não tá precisando de grana?

Treinar nos alunos o olhar que só os olhos do jornalista têm.

Convencer os estudantes (e a si próprio) de que o diploma ainda tem valor, sim.

Falar das boas técnicas, mas, sobretudo, das boas atitudes.

Ler um “menas violência” no texto de um aluno e pensar “porra, tá na faculdade e ainda não aprendeu o português”.

Reconhecer seus próprios erros, assumir suas crises.

Pedir pro aluno ler um texto do Habermas de 200 páginas quando ele está com um puta tesão de ir pra rua encontrar a notícia.

Confiar que até os ensinamentos mais banais um dia serão úteis.

Recomendar a leitura do livro “A vida de jornalista como ela é”, do Duda Rangel.

Entender que “a academia” e “o mercado” precisam ser bons amigos. Ou até algo a mais.

Dar um esporro no aluno que fica de papo furado durante a aula.

Ficar de papo furado com o mesmo aluno no bar após a aula.

Mostrar a dureza da profissão sem desmotivar, falar das coisas boas sem iludir.

Explicar que o temido TCC causa, no máximo, um friozinho bobo na barriga.

Encher o peito e dizer cheio de orgulho: vocês vão ser jornalistas. E isso não é pouca merda, não.


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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Jornalismo também é coisa de criança


Fui bem precoce nessa minha vocação para a pobreza. Na foto do jovem Duda, apareço escrevendo uma matéria que mudaria o mundo. Ah, nessa coisa de sonhar com o impossível, também comecei cedo.

Que menina não teve uma Barbie Assessora de Imprensa, aquela que vinha com um press kit rosa lindo e um mailing list atualizado? Foi nesse mailing que ela descobriu o telefone do Ken.

Um, dois, três, olha o quatro, gravando.

Que mané Galinha Pintadinha! Algumas crianças já vivem ligadas na Globo News. Mas é só aparecer a tia Míriam ou o tio Merval que elas abrem o maior berreiro.

Fotojornalismo é captar o melhor ângulo. O moleque caprichou e fechou na Prochaska.

Jornalismo é uma arte. Arte de criança, travessura.

Apurando o olhar investigativo.

Quem quer brincar de William Bonner?


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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Os clubes de futebol (versão para jornalistas)




Palmeiras – é o caderno de Esportes: faz o maior sucesso na segunda.



Botafogo – é o jornal impresso: já teve anos de glória, mas anda meio caído.



Inter – é o jornal grande que levou furo de um jornalzinho de bairro, o Mazembe News.



Flamengo – é a Carta Capital: adora o patrocínio de uma estatal.



São Paulo – É só um jornal brasileiro, mas se acha o New York Times.



Cruzeiro – é o deadline: obcecado por esse negócio de fechamento.



Santos – é aquele texto cheio de viúvas.


Fluminense – é o repórter que sonha com uma carreira internacional, mas não sabe falar nem espanhol.



Grêmio – É só um jornal brasileiro, mas se acha o Clarín.



Portuguesa – é o blog que tem apenas meia dúzia de leitores.



Atlético – é o repórter que demorou décadas para ganhar um Prêmio Esso.



Vasco – é a TV Record: o máximo que consegue é chegar ao segundo lugar.



Corinthians – é aquele jornal popularzão de 25 centavos, bem tosco, tá ligado, mano?




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