sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Falem de mim


Após uns dias desconectado, decidi abrir minha caixa de e-mails. Sim, a tão temida opinião pública estava do meu lado. Havia recebido várias mensagens, muitas de apoio ao blog, de personalidades do mundo político, artístico e esportivo. Tinha também uma ou outra impressão mais negativa, como a do nosso querido presidente, mas este é um espaço democrático. E, além do mais, em minha carreira, cansei de receber críticas dos meus editores no jornal: “Duda, faz um favorzão, reescreve essa porra.”

Abaixo, meus amigos, vocês saberão o que falam de mim por aí:


“Desde o diário virtual de Bruna Surfistinha, a blogosfera mundial carecia de um trabalho penetrante e de impacto.”
Luciana Gimenez, apresentadora e pensadora

“Literatura que, literalmente falando, me indefiniu como leitor. Ou não.”
Caetano Veloso, cantor e pitaqueiro

“Blog de jornalista me dá azia.”
Lula, presidente e voraz leitor

“Blog bão é blog que tem anunciante. Vamos ganhar dinheiro, minha gente”.
Milton Neves, consultor de vendas e jornalista

“Não gosto de blogs. Isso é coisa de democrata. Mas podemos marcar uma tarde para jogar War, afinal agora também estou no ócio.”
George W. Bush, desempregado

“Estimado Duda, essa história de cornos é cousa que os homens colocam em vossa cabeça.”
Euclides da Cunha, jornalista e escritor (em e-mail psicografado)

“Eu nunca estive com esses jornalistas travestidos de humoristas. Eu juro!”
Ronaldo Fenômeno, ex-jogador em atividade

“Todo jornalista deveria doar 10% do salário – mesmo aqueles que recebem o piso de cinco horas – ao blog Desilusões perdidas. Isso é o que eu chamo de fidelidade universal.”
Edir Macedo, líder religioso e empresário da Comunicação

“Enfim um blog autoral, que não faz uso do CTRL C + CTRL V.”
Lázaro Ramos, o homem que copiava e ator


O despertador tocou. Era de manhã. Levei um susto. Ninguém me escreveu? Não! Todas estas manifestações de apoio de gente famosa não passavam de um sonho, um delírio. Até o Bush, que não tem mais o que fazer, tem mais o que fazer do que escrever para um jornalista-blogueiro terceiro-mundista como eu. Passada a frustração inicial, corri para o computador. Ao menos algum mortal deveria ter deixado algum recado importante para mim. O sonho era um sinal. Abri a caixa de e-mails e, para meu espanto, só havia uma mensagem: “Enlarge Your Penis”.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Blogando e andando!


Eduardo Ribeiro, diretor do Jornalistas&Cia, tradicional informativo que circula pelo universo jornalístico de todo o Brasil, resolveu, em um ato de coragem e solidariedade ao próximo, prestigiar este blog. Na semana passada, o Desilusões perdidas foi tema de uma matéria, fato que me deixou muito feliz e honrado. De quebra, ainda ganhei uma charge especial assinada por Mário (Que Mário?) César de Oliveira, que me retrata no auge de um momento de inspiração literária!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

“Pescoção”, esse incompreendido


Eu era jovem e, naquela sexta-feira, peguei minha bolsa-carteiro (aliás, por que jornalistas adoram bolsas-carteiro?) e me preparava para deixar a redação. Era noite de balada. Já tinha cumprido minha missão naquele dia, no meu primeiro emprego em um grande jornal diário. Foi quando meu chefe me convidou para ficar para o “pescoção”. Fiquei ansioso com a novidade, mas confesso que não doeu. Foi a primeira de muitas noites em que troquei o conforto do meu lar ou os prazeres da vida mundana por intermináveis madrugadas na frente de um computador.

Descobri que não existe curso de Jornalismo capaz de explicar o verdadeiro significado deste ritual que domina as redações há tanto tempo. Nada melhor do que trabalhar em um “pescoção” para entendê-lo. No começo da carreira – quando você ganha mal, mas tem energia e é feliz –, o pescoção é até um evento social. Todos reunidos, comendo uma pizza, falando besteira. Até nosso chefe parece simpático. Ele faz parte da turma, conta piadas, a maioria sem graça, mas todo mundo ri, é claro.

Após muitas sextas-feiras viradas, você descobre que “pescoção” é simplesmente um segundo dia de trabalho em um único dia de trabalho. Extenuante. E o pior: sem ganhar hora extra. O que me incomodava também era o desafio de escrever, para o leitor de domingo, um texto dois dias antes, sem encher lingüiça e sem deixar de ser atual. No meu caso, trabalhar de madrugada foi também o começo da ruína do meu casamento. Lá em casa, na minha ausência, a vida também era agitada, intensa.

Hoje, sinto falta dos pescoções, com seu ritmo alucinado, principalmente quando estou em casa, nas noites de sexta-feira, de bobeira, assistindo à TV aberta, já que não tenho dinheiro para pagar uma TV a cabo, nem coragem de puxar um gato do vizinho. Fico lá, sozinho, vendo a Luciana Gimenez fazer cara de santa e dar lição de moral em atriz pornô, os big brothers gritando “uh-uh”, e o Amaury Jr. bombando em Punta del Este. As coisas mudam. Só o jornal de domingo que continua velho.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sim, nós podemos!


A grande vantagem de estar na maior merda nos dias atuais é que a gente pode colocar tudo na conta do Obama. Desde que ele ganhou a eleição, gente desgraçada do mundo inteiro voltou a ter esperança de que as coisas vão melhorar!

Até uma amiga minha, encalhada há anos, está botando a maior fé no Obama. “Duda, presta atenção: esse negão vai resolver o meu problema de homem em 2009”, me confidenciou semanas atrás, em meio a garrafas de vinho barato e resoluções para o Ano Novo. E prosseguiu: “O Obama é o cara. Aquele Santo Antônio não se reciclou, tá meio ultrapassado.” Me explicou ainda que a simpatia do momento é deixar um bonequinho do Obama de cabeça para baixo dentro dum copo d’água no guarda-roupa.

Eu confesso que também vivo um momento de entusiasmo com o Obama. Se ele realmente der um jeito na grave conjuntura econômica global – ministros da Fazenda do mundo inteiro também devem estar com seus bonequinhos do Obama de castigo –, tenho mais chances de arrumar um novo emprego e abandonar esse período sabático permanente a que fui submetido pelo meu ex-chefe. Além de sair do cheque especial, é claro!

Estou curtindo o meu ócio criativo, é verdade, mas preciso voltar a trabalhar este ano. Esta foi minha principal resolução de Ano Novo. Já sinto uma falta imensa da redação, dos pescoções, da tensão de alguns plantões, de almoçar apenas uma coxinha de frango no boteco da esquina, de escrever a tão perseguida grande matéria da minha vida! Sempre fui um cara ambicioso, de objetivos grandiosos, como conquistar a Ásia, a América do Norte e mais uns dez territórios.

Naquela noite de resoluções para 2009, minha amiga e eu, embriagados pelo vinho Chapinha e pelo Obama, nos abraçamos, choramos e bradamos com toda força: “Yes, we can; yes, we can”. Rimos, com alegria infantil, de nossa miséria.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Farejadores


Desde que minha mulher me abandonou, sinto um grande vazio interior. Ainda é muito difícil acordar pela manhã, me virar na cama, olhar para o lado e não ver o Nestor, meu fiel cachorro, deitado em seu tapete, na porta do quarto. A ingrata o levou. Sinto falta de nossos passeios matutinos. Ao caminhar pelas ruas, eu descobria um novo bairro, bem diferente daquele conhecido pela janela do carro, sempre com pressa.

Ao lado de Nestor, notei construções antes despercebidas, fui apresentado aos buracos das calçadas e conheci como é a vida às 7 horas da manhã. Velhinhas indo à padaria, o vaivém de faxineiras mal-humoradas, a molecada com cara de sono a caminho da escola, a vizinha gostosa saindo de carro para trabalhar. Adorava sentir o ar poluído bater em meu rosto, ouvir o latido da cachorrada da redondeza, ver os jornais jogados no chão à espera de seus donos.

Nestor também se entretinha em um novo mundo. Parecia um jornalista ávido por novidades. Observador, vivia atento a qualquer movimento de pessoas ou coisas, tal qual um farejador de grandes pautas. Apurava com cuidado os mais diferentes barulhos, checava os cheiros conhecidos, os desconhecidos, para, no final, fazer sua grande obra: um monte de merda. Às vezes, na redação, eu agia como ele, farejando, checando... e escrevendo uma matéria de bosta.

As manhãs não são mais as mesmas sem o Nestor. Sinto falta de sua companhia, das andanças, da vizinha saindo de casa e, principalmente, de nossas descobertas. Confessei meu drama a um amigo, na mesa de um bar. Ele me disse que esse negócio de vazio interior é coisa de cara meio esquisitão. Infelizmente, não tinha como me ajudar.

Vestiram o Ditão!


Dizem que o futebol moderno está mais feio, burocrático. Perdeu a arte e a magia do passado. O jornalismo esportivo também. Pelo menos a cobertura feita nos vestiários, após os jogos. Em meus tempos de repórter de futebol – quando o Ronaldo ainda era magrinho –, o acesso aos vestiários era livre. Entrava todo mundo. Jornalista, maria-chuteira, filho de conselheiro. A imprensa convivia em harmonia com os jogadores, peladões, na saída do chuveiro. Podíamos conversar com qualquer um deles, a qualquer hora.

Era possível, no meio de todos aqueles homens sem roupa, encontrar um furo (de reportagem). A gente tinha o direito de ir e vir. Ver os peladões era também motivo de brincadeiras na redação. Ficou reparando no do Tonhão, hein? Fulano disse que o do Pedrinho não é tudo isso. Eu sempre adotei a postura profissional de olhar meus entrevistados nos olhos. Mas confesso que, certo dia, fiquei interessado em saber se a fama do zagueiro Ditão era verdadeira ou lenda de vestiário. Jornalista é um bicho curioso mesmo.

Em determinado momento de nossa conversa, baixei meu olhar para o bloquinho de anotações e, depois, o desviei para a direita. Em poucos segundos, fui invadido por um imenso sentimento de inferioridade. Uma mistura de espanto e inveja. A fama era justa. Nessas horas agradeço a Deus por ter nascido jornalista e não jogador de futebol. Nunca gostei de tomar banho em público. Naquela tarde, Ditão foi o destaque de minha matéria, mas pelo que fez em campo.

Hoje, porém, a realidade é outra. As portas dos vestiários se fecharam. Vivemos a fase da coletiva de imprensa. Mais formal, aquele clima europeu. Atletas sentados, na frente dos banners dos patrocinadores. A assessoria do clube escolhe quem vai falar. E ponto final. É claro que sou a favor da organização e profissionalização do futebol, mas os jornalistas perderam a sua liberdade. Os diários esportivos de segunda-feira estão todos iguais. Os mesmos personagens, as mesmas declarações. Prefiro ler o horóscopo do dia.

Mas um velho colega de redação, que também já desviou seu olhar para baixo, me fez um alerta. Na era do celular com câmera fotográfica e da internet colaborativa, o que seria da privacidade dos atletas? Imaginem se as fotos dos novos Ditões vão parar em um blog de fofocas! Pensando bem, talvez seja melhor esquecer os peladões e acompanhar numa boa as coletivas do Luxemburgo. De terno e gravata.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Bem-vindos, meus amigos!


Meu nome é Duda Rangel, sou jornalista e, em 2008, cheguei aos meus 38 anos de vida e duas décadas de carreira. Foram 20 anos de ilusões e desilusões, experiências profissionais e pessoais incríveis. Sempre fui tão apaixonado e focado no meu trabalho que demorei a abrir os olhos para certos fatos sórdidos. Apenas meses atrás, por exemplo, descobri que minha mulher tinha um outro cara. Hoje, sou a piada dos amigos, o prefeito de Triunfo...

Anos e anos de pescoções, fechando jornais na madrugada, plantões. O desfecho da história não poderia ter sido outro. Ela me trocou por um garotão, o office-boy da empresa em que trabalha. Um cara vazio, sem o meu conteúdo. Pior foi ouvir da desgraçada que o conteúdo dele era realmente bem diferente do meu, um conteúdo grande, e foi isso que a seduziu. Mas minha separação tem sido dolorosa até hoje principalmente por brigar na Justiça pela guarda do nosso cão Nestor.

Pouco depois de descobrir minha cornitude, soube que fazia parte de um programa de reestruturação do jornal em que trabalhava. E nessa de readequar a empresa à nova realidade competitiva e globalizada, eu perdi meu emprego. Corno e desempregado.

Queria me matar. Passei uma tarde toda ouvindo um velho vinil dos Smiths que, com certeza, me daria inspiração para um belo suicídio. Tudo planejado. Pegaria uma estrada na contramão e bateria de frente em um caminhão de umas dez toneladas. No tal dia, porém, fiquei preso em um congestionamento, me estressei e desisti da idéia. Soube depois que um sujeito já havia tido a mesma idéia, e com sucesso. Até como suicida sou um fracasso.

Procurei, então, um velho amigo, daqueles para quem você conta a vida toda, mesmo estando sóbrio, e ele me aconselhou a fazer terapia. “Com que dinheiro?”, retruquei. “Por que não faz um blog então?”, ele replicou. “Desabafa, conta o que você viveu, o que quer viver.” Era isso que eu precisava, escrever minha vida em um blog. Fiquei emocionado, abracei meu amigo, chorei. Lembro de suas palavras encorajadoras: “Boa sorte, cornão!”

Neste blog, carinhosamente chamado de Desilusões perdidas, vou relatar as histórias de um jornalista com 20 anos de carreira, com um pouco de acidez e muito bom humor, coisas que ainda me restaram, apesar de tudo.


Leiam os posts, opinem. Um abraço e até breve!




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As desilusões perdidas


O sujeito esquisitão retratado por Joe Sorren (acima) tem muito de minha antiga aflição. Hoje, pós-blog, já me sinto um novo homem, mais vivo, sem essa cara mórbida de vegetariano de longa data

Quando se é jovem e se está começando no jornalismo, existem as naturais ilusões da profissão. No meu caso, queria mudar o mundo com as palavras e, conseqüentemente, ficar famoso e, mais conseqüentemente ainda, comer toda a mulherada gostosa que fosse possível neste mundo, finalidade-mor de toda empreitada masculina.

Com o passar do tempo, você percebe que não mudou o mundo. Você muda de emprego, muda de aparência (geralmente para pior), muda de humor várias vezes num só dia, mas não muda o mundo. Conseqüentemente não fica famoso. Pior: é condenado a comer um monte de baranga. O único consolo é que seus amigos, também jornalistas, estarão no mesmo patamar que você e, logo, ninguém pode sacanear ninguém. E a vida segue.

É neste momento que você conclui que seus sonhos de “foca” eram, sim, ilusões, ilusões que você acaba de perder. Então, você culpa o seu chefe, o governo, as faculdades de jornalismo, o sistema capitalista, o mercado canibal. Começa a avaliar a possibilidade de mudar de ramo – cheguei a pensar em vender água de coco em garrafinhas num quiosque no Carrefour –, mas descobre que não sabe fazer nada além de contar histórias, aliás, ama contar histórias. Por que então não contar histórias pro resto de sua vida, mesmo ganhando mal e comendo mal a mulherada?

É a fase do amadurecimento do jornalista. Primeiro você perdeu as ilusões e, agora, perde as desilusões. É como se fosse um recomeço, um renascimento. Esse cara sou eu. E como ainda estou sofrendo os reveses da reestruturação do jornal em que trabalhava (entenda-se desempregado) vou aproveitar meu tempo livre para contar as minhas histórias neste blog. E feliz por saber que não tenho de mudar mundo algum. Tenho, sim, é de mudar de advogado, pois acabo de descobrir que perdi a guarda do Nestor para minha “ex”. Pobre cão!



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