quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Como os jornalistas são vistos pelos leigos


O leigo imagina que todo jornalista trabalha em TV, ou melhor, na TV Globo. Jornalismo se resume à TV Globo. Você não aparece no Jornal Nacional? Não? Mas você não é jornalista? Ah, você só escreve. Entendi. Que louco, mas a tua cara é muito conhecida.

O leigo acha que jornalista quebra todos os galhos por ter acesso a gente famosa. Pega o autógrafo dos jogadores do Corinthians nessa camisa. De todo mundo, tá? É pro Dudu, meu sobrinho. E não esquece o do Ganso. Ah, é Pato? Vixe, confundi os bichos.

O leigo acredita que jornalista resolve todas as encrencas de texto da humanidade. Amor, faz a minha carta de pedido de emprego. Faz, vai, você é jornalista, é craque em escrever. Te amo! Ah, dá pra revisar também esse poeminha que eu vou botar no Face?

O leigo supõe que jornalista ganha um puta salário. Já que tu é jornalista, me empresta uns duzentos! É pra pensão da minha ex. Cinquentinha, então. Dez reais, tu não tem dez reais? Caraca, meu irmão, pensei que tu ganhava bem. Tu não trabalha na Globo?


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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sobre a cobertura de uma tragédia


Para um jornalista, cobrir uma tragédia é trabalhar no limite. O limite entre o interesse público e a simples exploração da desgraça.

Cobrir uma tragédia é monitorar os próprios passos, perceber até onde se pode avançar.

É apelar para o bom gosto em meio a gosto tão amargo.

Cobrir uma tragédia é prestar serviço. E auxílio, se for preciso.

É ficar bem próximo da dor do outro, da histeria, da anestesia. E saber respeitá-las. É lembrar que o Jornalismo pertence à tal área de Humanas, por mais que a Matemática, com seus balanços de mortos e feridos e índices de audiência, insista em se intrometer.

Cobrir uma tragédia é parar com a bobagem de achar que frieza é sinônimo de profissionalismo. Jornalista pode se emocionar, pode se solidarizar. Pode se sentir pequeno. Nós, jornalistas, não somos máquinas. Pertencemos também à área de Humanas.


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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A reunião de pauta segundo Jesus Cristo


Jesus: Gente, estou precisando muito de boas sacadas de pauta. Outros olhares, vocês entendem? A última grande manchete do nosso jornal foi quando andei sobre as águas.

André: E o milagre da multiplicação das pautas, chefe?

Jesus: Apenas como último recurso, André.

Pedro: Chefe, já que estamos falando em novos olhares, eu queria pedir para mudar de editoria. Não aguento mais as pautas chatas de sempre.

Jesus: Que pautas chatas de sempre, Pedro?

Pedro: Ué, só matéria de chuva, enchente, piscinão, o Rio Jordão que transbordou. Já estou ficando estigmatizado como o repórter da chuva. Daqui a uns séculos ou milênios, sei lá, eu viro santo e vou ser o quê? O santo da chuva. Vocês podem escrever isso.

João: Pedro, se você quiser, pode cobrir a Galileia Fashion Week no meu lugar. O evento é top. E sempre rolam umas roupinhas de presente, umas túnicas de linho lindas.

Jesus: Voltemos à reunião de pauta! Ideias, meus caros?

Tiago: A gente poderia fazer uma matéria especial sobre a UPP que instalaram lá no Monte Sinai. Pacificou geral o morro.

Jesus: Boa, Tiago. Isso dá chamada de primeira, hein?

Tiago: Obrigado, chefe!

Tomé: Senhor, uma fonte me bateu que tá rolando uma operação da PF para investigar a corrupção do Judiciário. Tem até nome: “Operação Mãos Lavadas”. Parece que o Pilatos tá envolvido. Eu não acredito que vai dar em alguma coisa, mas vou ficar de olho.

Jesus: Ok, Tomé. Veja isso, sim. O povo adora essas histórias de corrupção. Vende jornal.

Simão: Eu tô com a matéria das pet shops de ovelhas.

Jesus: Legal, Simão. Só não se esqueça de uma retranca com os pastores, foco na avaliação deles sobre o serviço, ok?

Tiago: Deixa comigo.

Jesus: E cadê o Mateus que não apareceu ainda? Ele não sabia da reunião de pauta de hoje?

João: Ele está cobrindo a história do Moisés, o lance lá de abrir o mar. Chefe, o senhor não viu o release, não?

Jesus: Meu Pai, verdade, João. Agora de manhã, não?

João: A abertura do mar estava marcada para as 9 horas. Agora, já deve estar rolando o brunch.

Jesus: Esses brunchs da assessoria do Moisés são ótimos.

João: E o cordeiro ao molho madeira que eles servem no almoço? Divino! Alguém aí já comeu?


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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O que responder para um cara que oferece 10 reais pelo texto de um jornalista profissional


Prefiro fazer malabarismo com bolinhas no farol que eu ganho mais.

É por essas e outras que o mercado está uma bosta. Babaca.

Eu cobro 10 mil reais pelo meu texto. Mas a gente pode chegar a um meio-termo. Topa?

Eu não vou perder o meu tempo escrevendo para uma publicação furreca como a sua (gostaram da expressão “furreca”?).

Que jornalista ganha mal a gente já sabe, mas, meu amigo, também não precisa avacalhar, né?

Por que o digníssimo senhor não pega esta nota de 10 reais, faz um aviãozinho igual ao Silvio Santos e enfia no seu digníssimo cu?


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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Cenas de um Big Brother só com jornalistas


CENA 1 – CONFESSIONÁRIO / PAREDÃO

Elvis, o pauteiro: Bial, eu vou votar no assessor de imprensa por uma questão de afinidade mesmo. E essa falta de afinidade vem desde os tempos em que ele tentava me vender umas pautas furadas. Valeu? Beijo, Brasil.

Paulo, o assessor de imprensa: boa noite, Bial, boa noite, Brasil. Eu vou votar no Elvis, o pauteiro. É mais um voto de defesa, porque eu sei que esse cara não gosta de assessor.


CENA 2 – A FESTA

Erika, a colunista social: tá muito boa essa festa. Uhu! E a comida japonesa? Sensacional. E olha que de boca-livre eu entendo (dançando com um prato na mão).

Sharon, a estagiária ambiciosa: eu vou é me esbaldar, passar mal de tanto comer, porque, quando eu voltar pro jornal, só vão me dar roubada pra cobrir. Brunch que é bom, nada.


CENA 3 – DIA DE CALOR NA PISCINA

Fernanda, a editora de Economia: vou te falar uma coisa, Mônica, como jornalista é feio, meu Deus. Não tem um aí que preste. Olha só a barriga do pauteiro.

Mônica, a repórter de Moda: claro, esses caras não malham, só comem porcaria. Você queria o quê? E o Carlos, o diretor de Redação? Além de careca, aquele corpo não vê sol há uns 20 anos.


CENA 4 – PAIXÕES E TRAIÇÕES

Sharon, a estagiária ambiciosa: eu não vim pra cá pensando em me envolver com alguém, mas você é um cara que mexeu comigo, sabe? A gente não controla essas coisas do coração.

Carlos, o diretor de Redação: é o que eu digo para a minha esposa sempre: a gente não controla essas coisas do coração. Ah, pega lá o edredom, vai.


CENA 5 – O BARRACO (cena exibida só no Pay-Per-View)

Mônica, a repórter de Moda: pô, Miguel, eu não te dei o direito de roubar o meu contracheque na minha bolsa e mostrar para o Brasil inteiro!

Miguel, o fotógrafo: meu, deixa de ser fresca. Foi só uma brincadeira.

Mônica: brincadeira? Agora que todo mundo já sabe quanto eu ganho, o povo vai perguntar “é esse o glamour?”. Você não ia curtir se eu revelasse pro Brasil o saldo da sua conta bancária, ia?

Miguel: faz o que você quiser, meu. E quer saber? Pra mim, glamour de cu é rola.


CENA 6 – NOITE DE ELIMINAÇÃO

Pedro Bial (depois de um longo discurso que ninguém entendeu): ele brilhou por muito tempo, mas o jogo acabou para ele. Com 98% dos votos dos internautas, o eliminado desta noite é você, Jornal Impresso. Vem pra cá, meu guerreiro.


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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Jornalista com gosto


Gosto de ser jornalista.

Gosto dessa coisa de não ter rotina. Gosto da surpresa. Do imprevisível. Gosto da rua. De andar, de olhar. De ouvir. Gosto das coisas belas e das feias também. Gosto de gente.

Gosto do frio na barriga. Gosto do gosto de primeira vez pela milésima vez. Gosto das boas histórias para contar. Das boas histórias para lembrar.

Gosto de imaginar o que o leitor achou, se refletiu, amou ou odiou.

Gosto da dúvida. Gosto de questionar. Desconfiar. Gosto do desafio de sentar e escrever. Gosto de pensar como é que eu começo essa porra. Gosto de não saber como terminar.

Gosto de não me conformar. Da inquietação que me faz andar.

Gosto do cheiro de café. Gosto do jornal fechado, do jornal folheado. Gosto do bar. Dos amigos. Gosto da conversa fiada. Da piada. Gosto dos dias alegres e dos cheios de melancolia também.

Gosto de trapacear o destino. Gosto de reclamar. Caraca, como eu gosto de reclamar.

Gosto de ficar desgostoso com a minha vida de jornalista e logo depois achar tudo muito gostoso outra vez.
 

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