terça-feira, 30 de agosto de 2011

Entrevista: Euclides da Cunha, o corno, o mito


Ele podia ser um jornalista e escritor ilustre apenas por sua grande obra, “Os Sertões”, mas Euclides da Cunha ainda é muito lembrado por ter sido corno. Um dos cornos mais famosos da imprensa brasileira. Morto pelo próprio Ricardão no duelo por sua honra, Euclides calou-se. Um século e muitas piadinhas depois, ele resolveu romper o silêncio. O blog Desilusões perdidas, que adora polêmica e sensacionalismo, conseguiu esta exclusiva com Euclides, com a ajuda, claro, de um médium.

Euclides, como é carregar esta fama de jornalista traído por um século?

Duda, meu caro, em primeiro lugar, quero agradecer a oportunidade que você está me dando de falar sobre o assunto. É um tema muito espinhoso para mim, mas chegou a hora de me abrir. Apesar de toda minha contribuição ao jornalismo, à literatura, as pessoas ainda preferem dar um peso maior à futricagem, às maledicências. Há pouco, acompanhei a minissérie Desejo e o que vi foi degradante.

Você assistiu à minissérie? Como?

Desde que aquele gaúcho, o Werner Schünemann, assumiu o Ministério da Comunicação aqui no nosso lar, o acesso às tecnologias de comunicação ficou muito maior. Temos notebook, internet, 3G, wireless, TV a cabo. Note que minha linguagem está moderna. Incorporei até algumas gírias. Não vi Desejo em sua exibição original, apenas a reprise no Canal Viva.

E por que achou degradante?

Justamente pelo grande enfoque dado à minha cornitude. Não valorizam o meu trabalho. “Os Sertões” é sucesso internacional. A obra foi traduzida para vários idiomas. Isso muito antes de Paulo Coelho. E tem outra: a produção da minissérie ainda foi muito generosa com a minha ex-mulher. Vera Fischer? Tá maluco? Anna Emília sempre foi muito nota 3, nota 4. Se ela fosse um mulherão, eu teria me preocupado mais com ela. Sempre saí de viagem sossegado, porque sabia que ninguém cobiçaria a minha mulher nota 4. Mas cobiçaram. Neguinho não perdoa.

O trabalho árduo e as longas viagens são a principal razão da vulnerabilidade dos jornalistas?

Sem dúvida. Mas, hoje, pelo que tenho acompanhado, os jornalistas estão mais protegidos.

Mais protegidos? Como assim?

Mais protegidos. Veja o caso daquele repórter da Globo que foi para a Líbia, o carequinha...

Marcos Uchôa.

Esse mesmo. Marcos Uchôa. Note que aquele capacete que ele usa é especial para proteger os cornos. Isso dá segurança ao jornalista que tem de viajar para uma grande cobertura. O cara até levou uma bronca do Bonner quando estava sem o capacete.

Mas a cornitude é um problema ainda comum na imprensa brasileira.

O que mudou muito é a questão da aceitação. Hoje, os jornalistas aceitam mais a cornitude. Na minha época, a gente chamava para o duelo, tinha aquela coisa de limpar a honra. Hoje, o sujeito leva um chifre e faz o quê? Vai pro terapeuta? Faz um swing com o Ricardão? No meu tempo, havia um engajamento muito mais forte da imprensa contra o chifre.

Eu também fui vítima deste problema e, embora não tenha chamado o Ricardão para o duelo, não aceitei a minha cornitude numa boa. Sei que é uma questão bem complexa. Mas, hoje, consegui superar o chifre. Imagino que você, Euclides, também já superou este trauma, não?

Meu caso é mais difícil, porque tem sempre gente lembrando. Aqui mesmo no nosso lar, neguinho ainda me sacaneia. Tô na fila da reencarnação há mais de 50 anos, mas a minha senha ainda não foi chamada. Acho que só assim para o meu pesadelo acabar.

Quando reencarnar, toparia voltar como jornalista?

Fica complicado voltar como jornalista nos dias de hoje porque as grandes matérias que eu gostava de fazer não existem mais. Seria um retrocesso. E a proposta da reencarnação é a evolução.

Que dicas daria aos jornalistas para evitar o chifre?

Por mais que uma grande dedicação ao trabalho seja necessária, nunca esqueça de dar atenção à sua mulher, mesmo que ela não seja uma Vera Fischer. Uma Vera Fischer no auge, digo. Ligar para casa antes de chegar também é de bom-tom. Mas não adianta ligar quando já está chegando. Pelo menos, uma meia hora antes. O que os olhos não vêem a testa não sente. Outra coisa: caso a sua mulher não seja jornalista, não fique falando o tempo todo de trabalho com ela, porque isso, Duda, com o perdão da palavra, é chato pra cacete.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Para gostar de ler


Jornalista que não gosta de ler tem uma dificuldade danada de escrever.

Jornalista que não gosta de ler se expressa com a fluência de uma Luciana Gimenez.

Jornalista que não gosta de ler é o que mais protesta contra o preço alto dos livros.

Jornalista que não gosta de ler perde o senso crítico. E do ridículo.

Jornalista que não gosta de ler engole qualquer merda que escuta de um entrevistado.

Jornalista que não gosta de ler só sabe falar das fofocas da redação na mesa do bar.

Jornalista que não gosta de ler passa parte da coletiva de imprensa com a cabeça na lua.

Jornalista que não gosta de ler fica a reunião de pauta inteira rabiscando seu caderno.

Jornalista que não gosta de ler adora reclamar que está perdendo espaço no mercado de trabalho.

Jornalista que não gosta de ler é igual a atriz pornô que não gosta de sexo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

20 tipos de jornalista sem noção


1. Tem um espaço de 10 linhas, mas escreve 30. E, depois, fica uma hora cortando o texto para caber.

2. Acha que sabe tudo e dá ordens até para um jornalista mais experiente.

3. Vai a uma pauta que exige traje social com a mesma calça jeans molambenta que usa na redação.

4. Enche a cara de prosecco e dá vexame no vernissage chique.

5. Fica parado ao lado do entrevistado bem na hora em que os fotógrafos querem fazer uma foto só do entrevistado.

6. Conta piadas aos colegas e ri alto na cobertura de velórios e enterros.

7. Atende o celular no meio de uma reportagem ao vivo na TV.

8. Pergunta ao editor sobre o plantão do sábado ainda na loucura do fechamento da terça.

9. Acredita que a matéria sobre “pressão cambial” deveria ser feita pelo pessoal do jornalismo automotivo.

10. Revela todos os podres dos colegas da redação, inclusive os seus, para os motoristas do jornal.

11. Faz uma matéria-denúncia contra o maior anunciante de sua revista.

12. Na véspera da folga, diz ao chefe que vai passar o fim de semana de bobeira em casa.

13. Começa uma entrevista de forma tão agressiva que faz o entrevistado desistir da conversa.

14. Quando vai fotografar um cego, dá a seguinte orientação: “Olhando pra janela azul agora”.

15. Liga para o celular do entrevistado no almoço de domingo para checar se o sobrenome dele é com um “L” ou dois.

16. Antes de fazer a pergunta na coletiva, demora 20 minutos contando experiências pessoais, fazendo análises de fatos, coisas que ninguém está a fim de ouvir.

17. Dá de presente de aniversário para a namorada um relógio e esquece de retirar da caixa o adesivo “brinde para a imprensa”.

18. Queima uma fonte superimportante por não ter sido capaz de guardar um off.

19. Esquece de ligar para casa para avisar a mulher que está voltando mais cedo do pescoção.

20. Mesmo com 20 anos de formado, ainda acredita que vai ficar rico com o Jornalismo.


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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Nova enquete: qual a principal razão que levou você a ser jornalista?


O coração tem razões que a própria razão desconhece. Com esta frase brega de Pascal, está aberta a nova enquete do blog: qual a principal razão que levou você a ser jornalista? Questão complexa, muito complexa. Você sempre odiou Matemática? Descobriu a profissão numa caixa de Toddynho? Não saberia fazer outra coisa? Participe da pesquisa. É só ir para a coluna à direita do blog e votar. Se o seu motivo não está entre as alternativas da enquete, deixe uma mensagem na área de comentários.

***

Ele troca de emissora de TV mais do que a Luana Piovani troca de namorado, ele garante que não faz jornalismo sensacionalista (convenceu alguém aí?), ele é o vencedor da última enquete deste blog. A pergunta Qual jornalista você levaria para uma ilha deserta e deixaria lá, mofando, sozinho? teve 22% dos votos para José Luiz Datena. Diogo Mainardi, é bem verdade, esforçou-se para ganhar a passagem só de ida, mas acabou na segunda colocação, com 17% dos votos, tecnicamente empatado com Galvão Bueno (16%). Os leitores destacaram que esta foi uma das enquetes mais difíceis. Alguns revelaram a vontade de mandar todos os jornalistas da lista para a ilha, de preferência para uma ilha norueguesa.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Agosto, mês do jornalista louco


Qual a maior loucura que um jornalista pode cometer? Ser jornalista? Quem, em sua perfeita sanidade mental, escolhe ser jornalista? Algum maluco aí pode me dizer? Que jornalista nunca travou batalhas contra entrevistados gigantes e furiosos quando estes eram apenas "moinhos de vento"? Que jornalista nunca pensou em fundar seu próprio periódico e mudar o mundo? Megalomaníacos? Nós? Tem ser humano mais bipolar que o jornalista, que no bar conta uma piada e, cinco segundos depois, entra em depressão? Quer vida mais alucinada que a do jornalista? Mais neurótica? Quem nunca teve a insânia de virar noites trabalhando, de escrever quatro matérias num mesmo dia, de ficar sem comer por horas e horas? Quem nunca conheceu um fotógrafo lelé, um motorista pinel, um ilustrador doidivanas, um foca aloprado? Um repórter esquizofrênico?

Mas não é linda essa maluquice? Não foi o Raulzito quem disse que a arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal? Já imaginou ser um sujeito normal? Tá doido?


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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Os dias e dias da vida de um jornalista


Tem dia que o lead não sai. A fonte me trai. O texto não vai.

Tem dia que a pauta emperra. O chefe só berra. O prazo me ferra.

Tem dia que assessor é um mala. Entrevistado não fala. Que o papo não embala.

Tem dia que plantão não tem fim. O humor é ruim. O almoço, chinfrim.

Tem dia que redação é um hospício. Pescoção, um suplício. Que o café é meu vício.

Tem dia que apurar é um apuro. Que eu me sinto inseguro. Que eu levo um furo.

Tem dia que fechamento é um drama. Que a gente reclama. A gastrite me chama.

Mas tem dia da grande matéria. Que a vida é pilhéria. Que esqueço a miséria.


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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Versinhos para não se ler numa sexta-feira


Tá bom, tá bom, eu já sei.

Preciso cair na real. Preciso ler mais jornal. Preciso estudar português. Preciso lembrar do inglês. Preciso ver menos TV. Preciso montar meu CV. Preciso pular já da cama. Preciso ralar por mais grana. Preciso trocar minhas pilhas. Preciso pegar alguns frilas. Preciso voltar com meu blog. Preciso manter algum hobby.

Tá bom, tá bom, eu já sei.

Preciso sair pela estrada. Preciso fazer caminhada. Preciso cortar as gorduras. Preciso comer mais verduras. Preciso baixar a glicose. Preciso tratar a lordose. Preciso ver meu analista. Preciso voltar ao dentista. Preciso vencer a fadiga. Preciso perder a barriga. Preciso hidratar o meu rim. Preciso cuidar mais de mim.

Tá bom, tá bom, eu já sei. Preciso partir para a ação. Preciso sentir mais paixão.

Mas é sexta, porra, me solta.

Segunda eu começo.

Sem falta.


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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sobre os plantões jornalísticos e o amor


Primeira parte – O baile de carnaval

Cris achou que ele estava fantasiado de repórter com aquele colete de imprensa.

- Ah, não é fantasia?

- Não. Eu não sou folião. Sou jornalista. Tô aqui trabalhando.

- Nossa, não sabia que beijar o pescoço das meninas no trenzinho fazia parte do trabalho de um jornalista.

- E não faz. Eu só tô curtindo um pouco o baile, sabe? Acabei de gravar todo material que precisava.

- Sei.

- É preciso parar um pouco e relaxar. Ninguém é de ferro nesse mundo.

- Sei. E você trabalha na televisão?

- Sim.

- Uau, sabia que eu sempre imaginei, assim, conhecer melhor um jornalista de televisão?


Segunda parte – Ah, ele não é da Globo?

- A que horas eu consigo ver seu namorado na Globo, minha filha?

- Mãe, eu já disse: o Fê não trabalha na Globo.

- Mas você não falou que ele é repórter de televisão?

- É, mãe, de televisão, mas não da Globo. É de um canal de TV fechado. Mas me garantiu que tem uns amigos na Globo e que um dia ainda vai trabalhar lá.

- E por que ele não vem almoçar com a gente amanhã, filha? É meu aniversário.

- Mãe, ele vai estar de plantão amanhã. Mas mandou um beijo pra senhora.

Cris estava tão apaixonada por Fernando que nem se importava com suas ausências. O melhor era saber que as amigas estavam morrendo de inveja. A Cris namorava um jornalista da TV.


Terceira parte – Ou o jornalismo ou eu

- Fernando César, eu não acredito que você vai trabalhar bem na virada do ano.

- Eu já tinha te avisado deste risco, meu amor.

- E a casa que eu e minhas amigas alugamos em Maresias? Eu também já tinha te avisado. Nosso primeiro réveillon e vamos passar separados. Eu não tô crendo nisso.

- Cris, meu amor, eu também queria muito estar com você, mas é a minha profissão. O que posso fazer?

- Sempre essa merda de plantão.

- Você acha que estou feliz por trabalhar na virada? Feliz por ter que cobrir o show do Maurício Manieri na Paulista? Odeio esse cara, porra! Pior que isso só show do Maurício Manieri com chuva. Porque costuma chover na noite da virada.

- Tomara que caia o mundo na Paulista, que teu microfone sofra uma descarga elétrica e que você morra eletrocutado.

Bateu a porta. Passou a virada na praia. Sem o Fernando.


Parte final – O réveillon na Paulista

A Fabiana tinha estudado com ele no colégio. Depois, nunca mais se viram. Ele nem sabia que ela também tinha cursado jornalismo. Por coincidência (ou destino), estavam os dois na Paulista.

- Pra falar a verdade, Fernando, era até minha folga hoje, mas eu pedi pra trabalhar.

- Sério?

- Pois é. Troquei. Pedi pra folgar no Natal. E se eu te contar uma coisa, você promete não rir?

- Claro.

- Pedi pra trabalhar só pra assistir ao show do Maurício Manieri hoje, aqui. Fê, eu adoro ele. Sei que tem muita gente que não curte, mas eu a-mo o Maurício Manieri!

- Ah, então foi por isso?

- Foi (rindo). E você também gosta dele?

- Não sou fã de carteirinha como você, mas gosto bastante, sim.

- Você tá sentindo?

- O quê?

- O pingo. Pingo de chuva. Tá começando a chover. Vamos pra área reservada da imprensa?

O mundo caiu na Paulista. Fernando gravou, se molhou todo, escapou de sofrer uma descarga elétrica fatal. Entre uma gravação e outra, arriscou até cantar alguma coisa do Maurício Manieri. E, claro, beijou a Fabiana.

Ninguém é de ferro nesse mundo.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Slogans publicitários aplicados ao jornalismo


A primeira matéria a gente nunca esquece. (Valisère)

Jornalista é fresquinho porque trabalha em Cultura? Ou trabalha em Cultura porque é fresquinho? (Tostines)

Dúvida por quê? Plantão é sofrê. (Ypê)

Porque a pauta é agora. (Visa)

QI. É melhor... ter. (Bradesco Seguros)

Existem razões para acreditar: os jornalistas fodidos são maioria. (Coca-Cola)

Quem disse que não dá? Com carteirada dá! (Fininvest)

Pescoção, lugar de gente infeliz. (Pão de Açúcar)

O tempo passa, o tempo voa e a censura contra a imprensa continua numa boa. (Bamerindus)

A cerveja é a nossa energia. (Petrobras)

Faculdade de jornalismo: 1001 inutilidades. (Bombril)

Reclamo muito de tudo isso. (McDonald´s)

Apaixonados por boca-livre, como todo jabazeiro. (Postos Ipiranga)

Existem empresas de comunicação que o dinheiro não compra. Para todas as outras existe a matéria paga. (MasterCard)

Johnnie Reporter, keep working. (Johnnie Walker)