terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ser jornalista é...


Escutar briga de vizinho com um copo na parede.

Curtir muito mais jogar Detetive do que Banco Imobiliário.

Comer coxinha de galinha e arrotar foie gras.

Fazer voto de pobreza, de castidade, de plantão aos domingos.

Ser ranzinza bem antes de ficar velho.

Gostar de ler até bula de remédio.

Sentir-se, pelo menos uma vez na vida, o Clark Kent.

Lamentar, pelo menos umas 500 vezes na vida, ter esquecido de salvar o texto.

Remexer saco de lixo, feito cachorro de rua.

Ter reputação de paquerador de tanto olhar para os lados.

Desafiar o tempo. O tempo todo.

Cobrar escanteio e ir para a área cabecear.

Ser meio dom Quixote, meio Aureliano Buendía.

Viver na rua, mesmo tendo casa e família.

Ganhar medalha de ouro em levantamento de copo.

Ser jornalista até nas horas vagas.

Contar causos fantásticos sem ficar com fama de pescador.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Retrato do jornalista quando velho


Coloque numa mesa de bar alguns jornalistas velhos. Uns três ou quatro. Preste atenção que a conversa vai girar quase toda sobre as histórias vividas. “Los viejos nos entretenemos con los tiempos idos”, já escreveu o chileno Roberto Bolaño. A vida do jornalista fica impregnada na memória, como cheiro de cigarro na camisa. Uma vez contador de causos, sempre contador de causos. De causos pitorescos, de preferência.

– Vocês se lembram daquela moça do caderno de Geral, uma baixinha, que era casada com o gordo do arquivo?
– A Nádia?
– Não, a Nádia era casada com um fotógrafo.
– Ah, sim, a Lurdes. O gordo do arquivo era o Pedrão.
– Porra, Lurdes, essa mesmo. Vocês se lembram da merda que ela fez uma vez?
– A história do release falso?
– Essa mesmo. Alguém escreveu um release falso sobre um remédio que causava impotência, só pra sacanear o Célio, um esquisito, hipocondríaco, que tomava o tal remédio. Mas era só pra sacanear o Célio. Aí a Lurdes encontra o release e publica a porra da informação falsa. Deu a maior merda com o laboratório.
– Putz, verdade. Eu me lembro dessa história. E quem escreveu o release falso foi o Evaldo.
– Que Evaldo? O viado?
– O Evaldo era viado?
– Ah, todo mundo falava que ele tinha um caso com o carequinha de Esportes, o...
– O Ronaldo?
– Ronaldo!
– Caraca, essa eu não sabia. Eu jurava que o Ronaldo comia a Nádia, a mulher do fotógrafo.
– Não sei se era viado, mas o Ronaldo era o cara que pegava a grana do táxi e ia pra pauta de ônibus. Só para embolsar a grana.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Clássicos jornalísticos do axé


Porra de matéria
(versão de Dança da Manivela, de Asa de Águia)

Eu vou perguntar pra foca, meu amor (meu amor)
Mas que porra de matéria ela entregou (mas que matéria)
Eu vou perguntar pra foca, meu amor (meu amor)
Mas que porra de matéria ela entregou.

Dizendo que aqui tá fraco, lá tá ruim
Muito fraco, muito ruim
Aqui tá fraco, lá tá ruim
Muito fraco, muito ruim.

Muda o leadzinho dela
Limpa os errinhos dela
Corta o pezinho dela
Reescreve mais um pouquinho.


Carteirada na Festa
(versão de Festa, de Ivete Sangalo)


Hoje tem festa bacana
Comida pra se fartar
Carteirinha da Fenaj
Claro que eu vou usar.

Tem prosecco, sim, senhor
Croissant e canapé
Boca é livre, meu amor
Hoje é noite de filé
Vai lá, pra ver...

Repórter sem trabalhar
Só pra comer e beber
O assessor já mandou me chamar
Avisou! Avisou! Avisou! Avisou!

Carteirada na festa
Eu vou dar
Até o segurança
Mandou liberar.


Que vida louca
(versão de Levada louca, de Ivete Sangalo)


Rale, rale, rale
Trabalhe sem bico de choro
Cheque, cheque, cheque
Até o dia nascer.

Que vida louca
Que vida louca
Que vida louca
De matar.


Pauteira
(versão de Sorte Grande ou Poeira, de Ivete Sangalo)


Pauteira
Pauteira
Pauteira
Liga pra pauteira!


Lá na rosca
(versão de Céu da Boca, de Ivete Sangalo)


Qual o jornalista que nunca levou na rosca?
Qual o jornalista que nunca levou na rosca?
Lá na rosca, lá na rosca!
Lá na rosca, lá na rosca!


Pescoceition
(versão de Rebolation, de Parangolé)


Enche a cara de café que vai começar...
O pescoceition, tion, o pescoceition
O pescoceition, tion, o pescoceition.


Domingão, carnaval e Natal
(versão de Paz, carnaval, futebol, de Babado Novo)


Domingão, carnaval e Natal
Plantão em feriado é sacal
Carnaval, no Natal, pior é quando ainda faz um sol.


Furinho na mão
(versão de Carrinho de mão, de Terra Samba)


Furinho na mão, padá
Padá, padá, bá!
Furinho na mão, padá
Só falta checá.


Frila
(versão de Milla, de Netinho)


Ô, frila
Só mais uma noite
Dez laudas pra escrever
Texto pé no saco
Por um fee bem safado
Só no café requentado
No maior baixo-astral.

Já é madrugada
Não consigo acabar
Vejo estrelas caindo
Ouço o galo cantar
Eu e você... e o omeprazol
E o omeprazol.


Cheque especial
(versão de Água Mineral, de Carlinhos Brown)


Pagou o aluguel? Não!
Tá sem grana? Tô!
Olha, olha, olha, olha o cheque especial
Cheque especial
Cheque especial
Cheque especial
Com juro espacial
Depois você se dá mal.


Salário Ruim Demais
(versão de Ara Ketu Bom Demais, de Araketu)


Nem dá pra te dizer
O salário que eu vou ganhar
Não dá, não dá, não dá, não dá.

Nem dá pra te dizer
O salário que eu vou ganhar
Não dá, não dá, não dá, não dá.

Só sei
Que o rosto enrubesce
Coragem desaparece
Vergonha do cacete é o meu drama
Entendi por que o povo reclama
Pra lixeiro pagam mais
Só sei
Que meu salário é ruim demais.

Ê, ô, ê, ô
Ganho o pisô, ganho o pisô
Ê, ô, ê, ô
Ganho o pisô, ganho o pisô.


Sou jornaleiro
(versão de Sou praieiro, de Jammil e Uma Noites)


Sou guerreiro
Jornaleiro
Jabazeiro
Quero mais o quê?

Sou guerreiro
Jornaleiro
Jabazeiro
Quero mais o quê?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

10 dicas para uma boa cobertura de carnaval


Um post jornalístico-carnavalesco para relembrar.

1. Seja na avenida, num baile de salão ou atrás de um trio elétrico, tente fugir das perguntas óbvias quando for entrevistar um folião. Pelo amor de Deus, nada de “muita emoção?” ou “curtindo o carnaval?” ou ainda “e essa energia tem hora pra acabar?”.

2. Evite os personagens manjados, como o gari que samba feliz; o rapaz que sofre para empurrar o carro alegórico, mas faz isso pelo amor à escola de samba; ou a tiazinha gorda na arquibancada do sambódromo que não perde o pique apesar da chuva.

3. Entrevistar um carnavalesco não é missão fácil. Para se ter uma dimensão da encrenca, esse povo tem o ego maior do que o de nós, jornalistas. Seja cauteloso nas perguntas para não magoá-lo e correr o risco de presenciar um dos maiores pitis de sua vida.

4. Se for entrevistar (sub)celebridades em bailes, na concentração ou em camarotes de cervejaria, cheque o nome da pessoa antes de entrar ao vivo na TV. E fale apenas com gente interessante. Não caia naquela lorota dos “projetos artísticos sigilosos”.

5. Não se revolte se esbarrar numa Carla Perez trabalhando como repórter ao seu lado. Pensamentos ruins, como “nosso diploma não vale nada mesmo” ou “poderia ter gastado a grana da faculdade numa lipo”, vão atrapalhar a sua concentração.

6. É fundamental ter cuidados com a voz. Fazer perguntas gritando, em meio ao barulho, deixa qualquer um rouco. Neste caso, não é considerada prática antiética levar a boca para bem perto da orelha do entrevistado. Mas sem enfiar a língua, ok?

7. Prepare-se para todo tipo de adversidade – chuva, sol, altos decibéis de música sem parar, cheiro insuportável de mijo nas ruas, cantadas de baixo nível e, claro, piadinhas como “aí, jornalista, trabalhando no carnaval! Se fodeu, hein?”.

8. No dia da apuração do bloco especial, é conveniente trabalhar com protetores de cabeça e maxilar (como os de pugilistas). Apuração é sempre aquela briga e tumulto de repórteres querendo falar com o presidente da escola campeã ou rebaixada.

9. Se você odeia samba ou axé, cobrir o carnaval ouvindo rock no MP3 player é uma ótima dica. Só não esqueça de tirar os fones do ouvido na hora de uma entrevista. Uma desintoxicação pós-festa (não ouvir Ivete Sangalo durante a quaresma) também é uma boa.

10. Se você é casado, nada de ficar ligando pra casa a todo o momento pra saber se sua mulher ou seu marido está se comportando. Relaxe! E por que não prestar atenção naquela diabinha safada ou no bombeiro musculoso? Afinal é carnaval.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Já tive matérias...


Matérias (versão de Mulheres)
Martinho da Vila

Já tive matérias do tipo atrevida,
Do tipo de capa, do tipo não-lida.
Bem fria, bem quente, com final feliz.
Matéria-release, de tudo eu já fiz.

Matérias bem longas, matérias cortadas.
Matérias roubadas que rolam demais,
Mas nenhuma delas me faz tão feliz
Quando um furo ela traz.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O jornalismo sem pretérito. E sem futuro


Os empresários do atacante teriam se reunido com o clube espanhol e, na conversa, teriam definido o valor da transferência.

O senador teria admitido a amigos que teria encontrado o lobista uma única vez em Brasília.

O craque do Flamengo teria sido visto aos beijos com uma loira numa praia da Barra.

A atriz teria sido internada numa clínica em Los Angeles.

O aposentado teria reagido ao assaltante, que teria feito três disparos. O aposentado teria chegado já sem vida ao hospital.

A dançarina estaria separada do pagodeiro desde o início do ano.

Em reunião fechada, o ministro teria manifestado interesse em candidatar-se na próxima eleição.

Excesso de gases teria sido a causa da explosão de restaurante especializado em feijoada.

O craque do Flamengo teria sido visto aos beijos com uma morena na concentração do time.

A dançarina não estaria mais separada do pagodeiro.

O casal de BBBs teria feito sexo sob o edredom. A polêmica é que, durante o ato, ela estaria lendo um livro de poesia.

O jornalismo teria confidenciado a interlocutores que não agüenta mais esse tal futuro do pretérito.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Marchinhas jornalísticas de carnaval


As marchinhas voltaram. Hora de botar o bloquinho na rua.

Me dá um frila aí (versão de Me dá um dinheiro aí)

Ei, você aí, me dá um frila aí
Me dá um frila aí
Ei, você aí, me dá um frila aí
Me dá um frila aí.

Não vai dar?
Não vai dar, não?
Vou te ligar e ir à redação
Te enlouquecer de tanto insistir
Me dá, me dá, me dá (oi)
Me dá um frila aí.


A audiência do jornal (versão de A pipa do vovô)

A audiência do jornal não sobe mais
A audiência do jornal não sobe mais
Apesar de explorar só desgraça
O jornal já perdeu o seu gás.

Ele tentou uma chacinazinha
O Ibope não deu nenhuma subidinha
Ele tentou mais uma enchentezinha
O Ibope não deu nenhuma subidinha.


Passaralho (versão de Saca-rolha)

Cabeças vão rolar
Um pé na bunda eu não quero é levar
É o passa-passa-passa-passa-passaralho
Vamos saber quem vai sobrar!


Imprensa não é livre (versão de Cachaça não é água)

Você pensa que a imprensa é livre?
Imprensa não é livre, não.
Ser livre é falar verdades
Sem medo de uma demissão.


Ô, produtor (versão de Allah-lá-ô)

Ô, produtor, ô ô ô ô ô ô
Tu demorô, ô ô ô ô ô ô
Pra agendar a entrevista que me falta
A rival foi mais esperta
E furou a nossa pauta.


Nenhum riso (versão de Máscara negra)

Nenhum riso, ó, nem alegria
Mais de dez palhaços de plantão
Todo mundo festejando o carnaval na avenida
E a gente na redação.


Salário do Zezé (versão de Cabeleira do Zezé)

Olha o salário do Zezé!
Será que ele é?!
Será que ele é?! (jor-na-lis-ta)
Olha o salário do Zezé!
Será que ele é?!
Será que ele é?!

Será que ele ganha o piso?
Será que ele é muito ralé?
Parece repórter de rádio
Mas isso eu não sei se ele é.

Melhora o salário dele! (pã pã)
Melhora o salário dele! (pã pã)

Melhora o salário dele! (pã pã)
Melhora o salário dele!


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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

As jornalistas


Post inspirado na obra de Sérgio Porto e na minissérie da Globo.

A estressada do Fechamento

A maluquete de Cultura

A sem-diploma da Sapucaí

A desinibida da Assessoria

A corajosa de Polícia

A lésbica da Fotografia

A namoradinha do Senador

A anarquista do D.A.

A esquartejadora da Edição

A piriguete do Aguinaldo

A despautada da Economia

A pioneira do Rádio Esportivo

A descapitalizada da Blogosfera

A viúva do Copydesk

A suburbana do Coquetel de Lançamento

A investigativa do Twitter

A fofoqueira da TV

A faz-tudo do Jornal do Interior

A sacoleira da São Paulo Fashion Week

A indecisa do Toddynho

A setorista do Papa

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Minorias


O repórter heterossexual de Cultura

– Eu desconfio que o Carlão é.
– Hetero?
– Nunca viram o jeito como ele fala de futebol?
– Ai, que maldade. De repente, ele curte ver as coxas dos bofes.
– Ele sabe o que é impedimento.
– Gente, nada a ver, o Carlão a-do-ra teatro, moda...
– Fachada. Conheço esse tipo de hetero enrustido.


O único assessor de imprensa num BBB só com jornalistas de redação
(Notem como o assessor é discriminado)

(Jornalista 1): Meu voto vai pro assessor, porque numa escala de afinidade é o que eu menos gosto.
(Jornalista 2): Oi, Bial, oi, Brasil, eu vou votar no assessor de imprensa. Tá rolando um estresse aqui na casa. Bial, ele só quer trabalhar até as 6 da tarde da sexta. Não faz nada no fim de semana, não lava um prato, uma cueca.
(Jornalista 3): Hoje, eu voto no assessor de imprensa, porque, na semana passada, ele prometeu dar o anjo com exclusividade para uns três jornalistas. Sacanagem, Bial.


O repórter que recebe a grana do frila sem atraso

– Beto, vai pagar o chope da galera, sim, senhor!
– Peraí. Vamos dividir esse negócio.
– Dividir nada. Você é único da mesa que faz frila e recebe certinho, não é? Tá sempre com a grana.
– Mas...
– Ô, Beto, eu demoro uns três meses pra receber um frila, quando recebo. E ainda me pedem uma porrada de mudança no texto.
– E eu, gente, que só vou receber daquela revista esotérica na próxima lua minguante. Aliás, alguém aí sabe quando é a próxima lua minguante?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O juramento do jornalista


Juro (sem cruzar os dedos) ser um jornalista responsável e comprometido com a verdade.

Juro ouvir o outro lado. Mas só até o fechamento da edição.

Juro respeitar os valores aprendidos na faculdade, como não roubar no jogo de truco, nem chamar o adversário de “marreco”.

Juro não chorar se receber cinco pautas num mesmo dia.

Juro (cruzando os dedos) usar a carteira da Fenaj apenas nos eventos em que estiver a trabalho.

Juro honrar a tradição jornalística de comer porcaria em botecos de má reputação.

Juro não cobiçar a pauta alheia.

Juro não ficar contando piadinhas em velórios de gente famosa, com exceção do velório do Gilmar Mendes.

Juro não praticar jornalismo sensacionalista, a menos que a audiência esteja muito fraca.

Juro (cruzando os dedos das duas mãos) recusar todo tipo de jabá em coletivas de imprensa.

Juro não rasgar o meu diploma, apesar da vontade que vai me dar de vez em quando.

Juro encher de porrada o não-jornalista que falar mal da minha profissão.

Juro não esmorecer nos dias mais difíceis da carreira, que serão praticamente todos os dias.

Juro ser um jornalista etílico e, claro, ético também.

Juro que esta é a última vez que eu juro tanta coisa ao mesmo tempo. Ô, troço chato!

 
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