sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ah, essa nossa versatilidade


Como diz aquela famosa frase daquele famoso livro: “No princípio, Deus criou os céus, a terra e a jornada dupla (ou tripla) de trabalho para os jornalistas”.

Amanda passa o dia inteiro na redação, apurando, escrevendo, ajudando no fechamento. À noite, quando deveria descansar, dedica-se à carreira de escritora amadora. Sonha levar a coisa mais a sério um dia, perder a timidez, publicar seu livro de poemas, sobreviver de literatura, mandar o jornal à merda. Quando sobra um tempo, ainda ajuda a mãe a fazer artesanato em mosaico para vender na feirinha da Benedito Calixto.

Alex adoraria que seu dia tivesse 36 horas, única forma de poder conciliar o emprego de subeditor de um site sobre cinema com os vários frilas. Nos raros momentos de ócio na redação, aproveita para usar o telefone do patrão e escrever as matérias que faz por fora. Assina seus frilas com pseudônimos. Aliás, adora escolher pseudônimos. O último foi Raimundo Coppola, uma homenagem simultânea ao avô cearense e ao cineasta americano.

Repórter de uma revista mensal sobre variedades, Érica assumiu, recentemente, o cargo de “diretora de Comunicação” do grupo de empresas de sua família, que inclui duas lojas de 1,99 no centro da cidade e um açougue decadente. Vive dizendo ao pai que, sem estratégias de comunicação modernas e eficientes, o grupo irá à falência. Ganha uma remuneração bem baixa pelo nobre cargo de diretora, mas família é aquela coisa, né?

Desde que Boninho passou a reservar uma cota para jornalistas no Big Brother, o assessor de imprensa Jonas dedica as noites a criar artimanhas para conseguir vaga no programa. Sabe que o futuro dos jornalistas está nos reality shows. Planeja vídeos de inscrição. A imitação de William Bonner apresentando o JN de cueca tinha tudo para encantar, mas não deu certo. A de moça do tempo gostosa também naufragou, apesar do strip-tease no fim.

Heitor, cujo trabalho oficial é o de editor de imagens num programa esportivo de TV, descobriu que consegue ter um bom complemento de renda como professor de jornalismo. Começou com aulas de telejornalismo, sua área, empolgou-se e hoje também é responsável pelas disciplinas Teorias da Comunicação, Filosofia e Rádio. Não é um profundo conhecedor das disciplinas, mas a faculdade também não é lá essas coisas.

César Luís chega à emissora de rádio apenas à tarde para comandar o programa “A Notícia em Sua Casa” e aproveita as manhãs para fazer um bico no Supermercado Princesa. De óculos escuros e microfone na mão, é o locutor responsável por anunciar as promoções. “Vamos aproveitar, dona de casa, que hoje é o dia do peixe barato aqui no Princesa. O filé de merluza tá com preço especial. Tá esperando o quê, minha senhora?”

13 comentários:

Letícia Iambasso disse...

Oi Duda!!

Será que com os bambambams do jornalismo também é assim??

Eu já sei que terei essa versatilidade também. A primeira personagem é a minha cara! rs

Abs

ingra costa e silva♥ disse...

Acho que e típico da gente, ter outras funções secundárias... Fica mais bonito se dissermos que exercemos nossos outros dons...
Eu por exemplo, além de jornalista tenho dom de secretára, manicure, maquiadora e nas horas vagas engano de cozinheira. UHASAUSauhsH
Beijo Duda, como sempre o texto está o máximo.

Amanda Carvalho disse...

Mulher tem sempre mais de uma função né? Trabalha fora, em casa, é esposa, mae, e encara tudo de frente! Agora ser mulher e jornalista tem que ter MUITO peito! Pq pra ganhar o suficiente vc encara uma jornada absurda além de estar sempre linda pro amado!
Amei o poste começar com meu nome =)
Textos ótimos... sempre!

Thiago Quirino disse...

Eu tive um professor na faculdade que era exatamente o perfil do Heitor. Ele era radialista, tinha seu proprio programa de uma das rádios de noticias mais conhecidas do país. Mas a faculdade colocou ele para falar de filosofia. E deu no que deu!

Alex Moraes disse...

Pois é, rapaz. É por essa versatilidade que jornalistas são tão mal pagos! Quem se propõe a fazer tudo acaba não fazendo nada direito. Que tipo de valor um profissional "pau para toda obra" pode ter? Ah, profissão desgraçada...

Alex Moraes disse...

Duda, acabo de conhecer seu blog e já virei leitor assíduo. Finalmente alguém que vê a profissão como ela é! Você bem que poderia fazer dele um livro, hein? Abraço!

Unknown disse...

enquanto eu trabalhava de pauteira eu também era assistente comercial, e pra ajudar resolvi fazer freela para um revista eletrônica de saúde. Só faltou o canudo pra tudo isso heueueh

Curiosa disse...

Oi!

Segue o meu blog: curiosanews.blogspot.com!

Beijos!

Anônimo disse...

Tudo certo, até o sonho de viver de literatura, porque quem já sonhou isso sabe que não é bem assim. Quando lancei meu livro, na tradicional feira do Livro de Porto Alegre, bem ao meu lado estava um jornalista famoso da RBS, afiliada da Globo aqui no sul. David Coimbra tinha uma fila imensa esperando seus autógrafos. Eu só vendi dois livros. Sabe como é jornalista de interior querendo lançar livro na capital só podia dar nisso. Mas o editor do meu livro disse que ele também não ganha grande grana. A diferença entre nós é que ele ganha pouco e vende muito e eu vendo pouco e ganho bastante. Mesmo assim, jornalista... escritor, tem que ter bom padrinho. Este é o segredo. Um beijão.

Duda Rangel disse...

Letícia, muitos estrelões de hoje já devem ter ralado muito também.
Alex Moraes, o livro sairá em breve. Bem-vindo ao blog.
Curiosa, vou visitar tua página.
Vera, realmente não é fácil viver de Literatura no Brasil.
Ingra, Amanda, Thiago e Natalia, valeu pelas mensagens. Jornalismo é paixão e luta pela sobrevivência. Abraços, meu caros.

Flávio Rocha disse...

Oi Duda,

Tô curtindo muito ler o seu blog. Sou recém-formado e como muitos amigos de faculdade,desempregado. Como a vida não é feita só de sonhos já estou procurando outro tipo de trabalho, quem sabe como assistente administrativo, função que já exerci outras vezes. Um dias as coisas melhoram, assim espero.

Abços
Flávio Rocha

Monika Pimenta disse...

O Heitor é real, eu conheço. A faculdade que ele ensina tb... rsrsrs.
Duda, vc é f... Vou montar um jornal um dia só pra te dar emprego! ;)
@MonikaSouzaS

Duda Rangel disse...

Oi, Flávio, o começo da carreira não é fácil mesmo. Não desanima, não. Sucesso pra ti.
Monika, existem muitos "Heitores" perdidos por aí. Valeu pela mensagem!
Abraços.