sexta-feira, 8 de julho de 2011

Redação


Toques de telefone que se misturam ao barulho de gavetas que se abrem e fecham em descompasso com o som das teclas dos computadores e vozes finas e grossas e estridentes que contam piadas e fofocam e brigam com o chefe e fazem entrevistas e gritam com assessores num coral desafinado.

TVs penduradas aqui ali acolá com telas que vomitam berros do Datena em dessintonia com o inglês da CNN e os boletins da Globo News até o esperado boa noite do Jornal Nacional e o futebol do pay-per-view que atrai uma horda de curiosos e palpiteiros que cercam o repórter que faz a crítica de Flamengo e Corinthians e xingam o juiz e gritam gol como se estivessem num boteco.

Mesas com bloquinhos com canetas com gravadores com mouse pads imundos cercados de porta-retratos da mãe e do filho e do marido que disputam espaço com fios de computador que descem ao chão pelas pernas do repórter e se enroscam numa cadeira de rodinhas boa de atacar cifose lordose escoliose.

Assessores que desfilam com sacolinhas de jabás e esbarram nos repórteres e fotógrafos que estão de saída pra rua e nos repórteres e fotógrafos que estão de volta da rua e numa correria danada tropeçam em crianças da excursão escolar àquele zoológico com focas e antas e macacos velhos cada qual na sua jaula de trabalho.

Um cheiro de café em desarmonia com o cecê de sovacos de dedicados jornalistas que passaram o dia todo em pauta com seu Rexona vencido e agora esticam seus braços sobre teclados até altas horas para que a porra do jornal enfim feche e no dia seguinte todo esse caos comece de novo e de novo e de novo.


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12 comentários:

João Damasio disse...

E quando consegue enfim sair da redação bate no peito e diz: eu sou jornalista.
Duda, pare (ou melhor não pare) com esses textos que nos deixam sem ar, afobados, mais do que já estamos nas redações ou qualquer lugar.

Belle disse...

Tô saindo de redação de jornal pra me dedicar à vida acadêmica, mas, com um post desses, quase dá vontade de voltar atrás. A gente reclama, reclama, mas redação é o melhor lugar do mundo, não tem jeito...

Aline Sharleny Aprileo disse...

Duda, cada vez sou mais a sua fã e amante dos seus textos. Sensacional o post de hoje!
Abraços,
Aline Aprileo

Lucas Heckler disse...

Duda, a cada dia, através do seu maravilhoso blog, percebo o porque quero ser jornalista.

Até
Lucas Heckler - Futuro Jornalista
http://lucashe.blogspot.com

Johann Barbosa disse...

E o melhor, nõs adoramos trabalhar assim! Esse texto podia muito bem ser a ementa de alguma disciplina do curso de jornalismo. Algo como Metodologia da Redação Jornalística.

Jéssica Alves disse...

e viva a rotina de uma redação hehehehe

Cor de Rosa e Carvão disse...

e mesmo assim, a gente adora esse zoológico...

Liziane Berrocal disse...

" A gente reclama, reclama, mas redação é o melhor lugar do mundo, não tem jeito..."

Lágrima escorrendo no cantinho do olho...
Saí da redação e fui para assessoria... Queria ter mais vida... Esqueci que minha vida é redação!

Duda Rangel disse...

Quem já trabalhou em redação nunca vai esquecer esta experiência, mesmo estando longe dela. Obrigado pelos comentários de todos. Aquele abraço.

Fábio Ricardo disse...

Olha, isso aí não me traz saudades, nao. Mas fica aceso na lembrança.

Petter MC disse...

Cara, é sempre muito louco ler as postagens de teu blog. Parabéns!

Duda Rangel disse...

Fábio, as boas lembranças sempre ficam.
Petter, valeu! Volte sempre!
Abraços