sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O insólito caso da piriguete com nome cheio de consoante


(Checar a grafia do nome da piriguete).

Puta que pariu! Foi só acordar, abrir o jornal e entrar em pânico. A observação ainda estava lá. Publicada. Terceira linha do quinto parágrafo. Mico-mor da minha carreira!

É o que dá fazer na pressa, não revisar o texto. E o editor que deixou passar? Putz, eu sempre tão cuidadoso.

A piriguete é uma das personagens da matéria, uma estudante. Protesto na Paulista pelo direito de ouvir música no iPod durante as aulas. Ela chamava a atenção. A única de microssaia e salto alto. Mas tinha um nome difícil, daqueles cheios de consoante, sabe? Tipo islandês, russo, sei lá.

Nos portais de informação da internet, a gente faz merda, vai lá e corrige. Impresso é diferente. Não tem como abortar informação indesejada. Impresso não tem pílula do dia seguinte.

A chefia gosta de mim, não devo perder o emprego, mas a vergonha tortura. Meu nome lá. Assinado. Vão me dizer que amanhã a vergonha passa, a gente esquece, a vida segue. Só que o hoje é uma eternidade.

Daqui a pouco chego à redação. Já estou até vendo: a galera rindo, sacaneando. Vou ganhar apelido novo: Paulo Piriguete. O Pê Pê. Vou entrar para os anais da imprensa. Virar piada em show do Maurício Menezes.

Será que alguém vai me reconhecer na rua, apontar aquele dedo que diz “ó lá o cara que escreveu piriguete no jornal”? Tormento. Sou o próprio Raskolnikov. Ras-kol-ni-kov. Porra, escrevi certo?

Medo de acessar a web. E-mails aos montes? Uma mensagem indignada da piriguete? E se eu parar nas redes sociais? Nos TTs mundiais? A cagada do repórter viralizada!

Nunca mais deixo este tipo de observação nos textos. E o principal: não entrevisto mais gente com nome difícil. Com nome cheio de consoante. Tipo islandês, russo, sei lá. E imaginar que no protesto tinha um monte de menina com cara de Maria da Graça. Rita de Cássia. Simples. Assim.

6 comentários:

Ariyanna Koswollowitsky disse...

Pior ainda, Duda, é ninguém comentar nada. A dor de escrever e não ser lido talvez seja maior do que a da humilhação pública.

Unknown disse...

Nossa realmente é uma situação bem ruim, é de acabar com uma pessoa.

Maykon Souza disse...

Ótimo!
Quem nunca escreveu esse tipo de observação e foi pra casa com medo de ter mandado o texto sem apagar?!
Parabéns pelo blog!
Maykon

Duda Rangel disse...

Maykon, obrigado pela mensagem. Volte sempre! Abração.

Renata Dias disse...

Isso me lembra aquela legenda do "colocar só a véia", que virou um clássico do jornalismo.

Duda Rangel disse...

Bem lembrado, Renata.