sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Porrada


Há quem diga que jornalistas adoram se passar por vítimas de agressões físicas, verbais, ameaças e não sei mais o quê. Que reclamam demais da violência contra a imprensa. E não temos razões para isso? Ano passado, no Brasil, foram registrados 58 casos de violência contra jornalistas. Fora os não denunciados. Pouca coisa, não é? Poderia ter sido pior, 200, 300, 500 casos. Mas não, foram só 58. Choramos à toa mesmo. Até desisti de lutar pela criação da Lei Tim Lopes, uma espécie de Lei Maria da Penha para a imprensa.

Dizem por aí que jornalistas têm mania de perseguição por denunciar o crime organizado. Esquisitice nossa. Na verdade, invejamos a bandidagem por sermos uma classe tão desorganizada. Acusamos até os políticos – coitados – de intimidação. Logo os políticos, gente tão honesta. Político trabalha bastante e não tem tempo de ligar pra jornal para pedir cabeça de repórter, não.

Tem gente que afirma que jornalistas adoram protestar contra a censura e as pegadinhas que pregam na imprensa livre. Balela. Em 2009, o Brasil ficou em 71º lugar no ranking da liberdade de expressão da Repórteres Sem Fronteiras, de 175 países. Tá ótimo. Chiar por quê? Só porque ficamos atrás do Haiti? Se fosse um país politicamente instável, com uma democracia de meia-tigela, tudo bem. Mas não, era o Haiti. Ficamos na frente da Coréia do Norte. Já não tá bom? Isso ninguém valoriza.

Atacam também os jornalistas que sofrem agressões das próprias empresas em que trabalham. Dizem que criamos até um nome bonito para isso: autocensura. Que mal existe em ter de engolir a linha editorial do jornal, em falar bem do político da casa, em não poder falar mal de um anunciante? Reclamamos pra cacete. Fomos os inventores daquela lenda do jornalista de TV pública demitido por desrespeitar a ordem lá de cima. Que nada. Se foi pra rua, é porque aprontou coisa feia. Sei lá, tava vendo sites de sacanagem na redação, fumando um baseadinho no banheiro.

Somos mesmo um bando de inconvenientes! Todos nós. De impresso, rádio, TV, internet. Fim da violência contra a imprensa? Que nada! A polícia não pode perder tempo com casos de pouca importância enquanto ladrões de galinha de alta periculosidade estiverem soltos por aí. Daqui a pouco vão nos acusar de fazer um puta dramalhão pelo aumento dos assassinatos de jornalistas, de lobby pelo título de mártires. Poxa, são casos isolados. Uma balinha perdida aqui, outra ali. A morte é uma fatalidade. Só isso.

5 comentários:

Silvana Chaves disse...

Duda,

Tudo o que vc disse é mais do que verdade, só esqueceu de uma coisa: o assédio moral.

Muitas veze, quem é mais novo e inexperiente na profissão passa por isso e fica numa sinuca de bico, sem saber como reagir.

Que a vida é dos espertos, é fato.
Mas não dá pra ser coagido e ficar numa boa.

Mariana Serafini disse...

também nunca existe aquele político ou presidente "dono" de sindicato que quer "dar uma olhadinha" antes que a matéria seja publicada, não importa quanto custe, ele QUER saber como vai ficar.

Daqui ha uns dias vamos preencher um formulário pedindo liberação protocolada para entregar a matéria ao editor!

:S

Duda Rangel disse...

Mariana, entrevistado pedir para aprovar um texto antes da publicação é uma das grandes sacanagens do mundo do jornalismo. Assim como o assédio moral, Silvana. Cabe a gente combater tudo isso. Certas práticas são inaceitáveis. Jornalista já engole muita coisa. Beijos.

Anônimo disse...

Acho que minha cabeça rolou por causa de questões políticas já. Mas a dúvida cruel paira até hoje, pois na empresa cada um deu uma versão diferente. Até que eu não gostava de fazer hora extra de graça, pôxa! E eram só 4h a mais por dia. Eu não tinha nada que fazer cara feia depois de mais de 10 anos de profissão. Que sacanagem a minha... Pior foi terem chamado uma colega de "cara de cu", num e-mail do chefe para outra subordinada, e que ela estava trabalhando mal humorada por falta de... bem, daquilo que os maldosos falam por aí. Depois é a gente que reclama demais. Pôxa vida!

Duda Rangel disse...

Caro Anônimo, reclamamos de barriga cheia mesmo. Obrigado pelo comentário. Abraços.