quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O privilégio do nosso olhar



Horacio Oliveira, o argentino que buscava um sentido para sua existência em Rayuela (O Jogo da Amarelinha), de Cortázar, passou tardes a observar o amor dos clochards (ou mendigos) às margens do Sena e em outros pontos de Paris. Para muitos, a vida e os hábitos daqueles miseráveis representariam apenas algo repugnante e nojento, mas, para Horacio, significavam muita coisa. Tudo o ajudava a compor o quebra-cabeça da vida.

Saber prestar a atenção nas pessoas que estão ao nosso redor, sobretudo as marginais e as aparentemente mais insignificantes deste mundo, é um dom reservado a raros seres humanos. É bem provável que apenas os artistas, os jornalistas (retratistas ou os que lidam com as palavras) e outros poucos tenham a capacidade de olhar essa gente e descobrir histórias maravilhosas.

O que teria para nos contar, por exemplo, aquele traveco esculpido a silicone barato que faz ponto nas esquinas pobres das grandes cidades? E aquele flamenguista sofrido, sem dentes e com uma imagem de santa nas mãos, sempre presente na geral do Maracanã? Não podemos esquecer também o catador de sucata, que empurra seu carrinho pesado no meio do trânsito caótico, escoltado o tempo todo pelo fiel vira-lata. Além de vários outros personagens que rendem matérias deliciosas.

Há muitas histórias bacanas por trás dessa gente, muitas mensagens por trás de seus gestos. Fica aqui uma dica para os jornalistas iniciantes: nunca desperdicem esse dom, esse nosso olhar privilegiado!

10 comentários:

Margarete disse...

Esse "olhar privilegiado" é uma lição de humanismo para todos...

Adoro o blog! Não perco nenhum texto.

Bjos!
Margarete

Anônimo disse...

Duda,
escolhi alguns blogs para encaminhar o convite do musical AVENIDA Q...para nos vai ser um privilégio...entre em contato:flavia@franceschini.com.br
Belo texto"!

Unknown disse...

Duda uma amiga apresentou o seu blog! Adorei! Merdas acontecem na vida de todos, não tem como, por mais que seguramos sempre sai, nem que seja precedido de formas gasosas antes. Enfim, como toda mulher gosta de chegar no fim da estória antes mesmo da possibilidade de existir alguma, eu acho que o office boy vai deixar sua mulher por uma mais nova, provavelmente mais baranga, aquelas gostosas barangas, ou até mesmo em último caso corneá-la com uma. Tenho amigas empresárias que começam a gostar do estagiário, nunca vi estória que deu certo. O Nestor terá filhinhos (se não for castrado tadinho) e adotará um. Obama morrerá afogado de tanto voodoo mas antes terá salvo o mundo
(como não sei tudo, não sei como) e você terá um trabalho ótimo em um mundo bem melhor! Vou acompanhar o blog, gostei! Beijo grande e boa sorte!

Júlia Ourique disse...

Olá Duda \o ser jornalista é dadiva/castigo divino... ao mesmo tempo que você vê a beleza em pequenas coisas que os outros não veem... você vê as pequenas (grandes) injustiças que os outrs não vêem também... mas sempre dá pra conciliar xD

Fer Suguiama disse...

Encontrei o link do blog na revista Piauí, na seção ode cartas. Li alguns textos e realmente gostei do blog. Estou no terceiro ano do colegial, devo ter alguma atração pelo lado B do jornalismo. Meu namorado está no 2º ano do curso. É realmente instigante o modo com que um jornalista consegue observar o mundo.

Tati disse...

Poucos seres humanos têm esse olhar privilegiado e observador, livre do preconceito. Meu TCC foi sobre adolescentes infratores e foi uma das experiências mais incríveis que tive na vida, a oportunidade de ouvi-los.

Camila Coutinho disse...

Além do dom do olhar, o jornalista tem a capacidade de se indignar.

Duda Rangel disse...

Tati e Camila, obrigado pelas mensagens. Beijos.

Patricia Beninca disse...

É por conta desse olhar que eu ainda tenho esperança...Essa tua naturalidade de escrever sobre a vida me encanta, Duda! Beijos pro Nestor.

Duda Rangel disse...

Muito obrigado, Patricia. Nestor também agradece os beijos.