quarta-feira, 14 de abril de 2010

Foi bom pra você?


Relato de um jovem a Duda Rangel.

Chega o tão sonhado dia. Minha primeira vez, aos 22 anos. Não posso falhar. Esperei tanto por isso. A mulher ao meu lado, com o dobro da minha idade, esbanja experiência. Sorridente, segura. Estou ansioso. Que puta frio na barriga! E se eu travar na hora H?

– Faltam três minutos, grita o produtor.

Meu primeiro link. A entrada ao vivo na TV é um desafio radical para um repórter iniciante. Leio minhas anotações no papel. Arrumo o nó da gravata pela décima vez. A entrevistada percebe a minha apreensão. Tenta me acalmar. Não estou tenso, estou muito tenso. Quero dizer, estou cagando de medo. E se eu engasgar quando falar? E se me der um branco? Revejo minhas anotações. Repasso as perguntas que farei para ela. Bate uma vontade louca de ir ao banheiro. Não tenho mais tempo.

– Faltam dois minutos, grita o produtor.

O ambiente também está carregado. O sinal da transmissão oscila. Pode cair a qualquer momento. Testo o som com o estúdio. O retorno está fraco. Por que não fui trabalhar em jornal impresso? A mulher ao meu lado continua sorridente. Já deu muitas entrevistas ao vivo. É só um telejornal regional, penso. Não vou pagar mico para o Brasil inteiro. Com um pequeno espelho, dou uma última olhada no meu visual. Encontro um pelinho tentando fugir do nariz. Desgraçado! Com o dedo molhado em saliva, o coloco para dentro de novo. Aproveito para despachar algumas caspas do meu terno.

– Falta um minuto, grita o produtor.

Meu momento está chegando. Torço para que nenhum engraçadinho passe atrás de mim para aparecer na TV. Concentração total. Acerto a gravata pela décima primeira vez. O retorno melhora. Me posiciono ao lado da entrevistada. É preciso relaxar, apesar da vontade louca de ir ao banheiro.

– Faltam 30 segundos, grita o produtor.

Não há mais tempo para angústia. Agora vai. O sinal está OK. Dou aquela tossidinha básica para mostrar que estou pronto. Conto até 10. O apresentador me chama. Hora de entrar em cena. A entrevista é rápida, rola numa boa. Sem brancos, sem falhas na hora H. Fora do ar, a mulher elogia meu desempenho. Me sinto o fodão do pedaço. Imagino até que estou fumando um cigarrinho ao lado dela depois do link. Foi bom pra você?

13 comentários:

Renato Souza disse...

Que comparação, hein cara.

Deu até vontade de encarar um link desses. Mas não sei se rolaria assim, tão fácil.

Tenho pavor de câmeras. Com papéis e canetas é bem mais fácil.

Unknown disse...

Duda seu bobo... Já estava pensando besteira... hahaha

Ariadne Lima disse...

Adorei! Abs!

Flávia Romanelli disse...

O primeio link a gente nunca esquece, fiquei apavorada, mas segui a dica do meu chefe na época, nada mais que Ricardo Kotscho. Não decora, domine o assunto e converse com a câmera como se estivesse falando com alguém. Deu certo!

Laís disse...

Nossa...

Eu fico apavorada com a possibilidade de ter que fazer um link! Tenho maior intimidade com minhas canetas, com meu amado caderninho e com meu inseparável notebook.

Esse estava somente com vontade de ir ao banheiro, mas se fosse eu, nem daria tempo de chegar lá :(

Talita Cruz disse...

Ufa, até eu tava sentindo o desespero do rapaz...rsrs. Assim como o Renato, tenho pavor de câmeras, eu pretendo trabalhar no impresso. Mas, o futuro a Deus pertence, quem sabe um dia eu não queimo a minha língua?..rsrs

Flávia, ter trabalhado com o Ricardo Kotscho deve ter sido um aprendizado e tanto hein? Muito legal.
Adorei o post Duda..bjss :)

Duda Rangel disse...

Renato, Laís e Talita, confesso que eu também tenho um certo pavor de links de TV. Fazer um link num helicóptero, então, me deixaria todo borrado de medo!
Flávia, muito legal te ver de volta aos comentários. Estava com saudade.
Ariadne, valeu pelo carinho, querida.
Derla, que cabecinha poluída você tem, hein???...rs
Abraços, meus amigos!

Lanier Rosa disse...

AI que saudade de ler este blog. Estava literalmente desconectada. O lado bom é ver que tem muita novidade por aqui. O que não é novidade são os textos maravilhosos que são postados. AMEI!

Júlia Ourique disse...

Caramba! foi tão intenso que até o meu coração disparou!

Ailime kamaia disse...

Aiai...suei frio junto com o repórter!

Duda Rangel disse...

Agradeço as mensagens! Beijos.

Amanda Carvalho disse...

Depois de tanto tempo sem pensar em gravar pra tv, tive que fazer um vídeo institucional. Só ele já me deixou tensa.. imagina um link ao vivo. Eu morreria! =) Bom texto Duda... como sempre!

Duda Rangel disse...

Olá, Amanda. O frio na barriga faz parte do trabalho, até com os jornalistas mais experientes. A tremedeira é mais preocupante. Agora, o estágio de cagaço já exige um acompanhamento psicológico para o repórter. Beijos.