sexta-feira, 9 de abril de 2010

O jornalista e o gênio


O jornalista recém-formado caminha pela rua quando reconhece um gênio da lâmpada mágica, sentado num banco de praça, fumando um cigarrinho. Aproxima-se dele e pergunta se teria direito a três pedidos. De mau humor, o gênio, em seus poucos minutos de folga, responde que o esquema agora é realizar um só desejo. Está tão atolado de trabalho que nem tem tido mais tempo de voltar para a lâmpada.

– Sabe, seu gênio, meu sonho é trabalhar na grande imprensa. Não vejo a hora de desfilar num carro de reportagem no meio de uma multidão de curiosos. Acho que vou me sentir o cara mais importante do planeta.

– Olha, chefia, o que mais tem por aí é jornalista pedindo uma boquinha dessas. E, para piorar, as redações estão enxutas. Não vai rolar.

– Bom, se não for em grande imprensa, que seja, pelo menos, um emprego com carteira assinada.

– Carteira assinada? (o gênio dá um sorriso maroto). O que tem saído nesses dias é o sistema PJ e olhe lá.

– Tudo bem. Pode ser PJ desde que o salário seja bom.

– Salário bom? (o gênio quase engasga com o cigarro ao ter uma crise de risos). Você não precisa ser gênio para saber que o mercado tá uma merda!

– Mas você não é o gênio da lâmpada mágica? Não consegue qualquer coisa?

O gênio percebe o clima tenso, controla o riso e pede para o jornalista recém-formado sentar-se ao seu lado no banco.

– Tem um monte de gênio picareta por aí que promete o melhor emprego do mundo para os jornalistas. A fama do William Bonner, o salário do Datena, o assédio de mulheres lindas, prêmios Esso e o cacete. São esses caras que mancham a imagem da minha categoria. O que consigo pra você agora é uma vaga em agência de assessoria de imprensa, com piso salarial e vale-refeição. Você começa amanhã, às 8. Se bobear, tem outro que pega a vaga.

O jornalista recém-formado, feliz, aceita a proposta, levanta-se do banco, agradece o gênio e segue sua caminhada.

– Ah, chefia, não atrasa, não, viu? Você terá cinco contas para atender...

8 comentários:

Renato Souza disse...

Puta merda Duda...
Já tive essa ilusão de grande imprensa quando entrei na faculdade.
Hoje no 4° ano essa "febre" já passou. Não sonho com isso. Até porque não passa de sonho mesmo. E de sonho não tem nada, acaba é virando pesadelo depois.
Mas assessoria não. Não faz isso com o rapaz. E ainda mais com 5 contas logo de cara. Coitado. O salário até que é bom, mas... assessoria.

Espero não ter que apelar tanto. rs.

PS: Vou indicar seu blog para o pessoal do 1° ano. Coitados, tem gente lá pensando em apresentar o Globo Esporte durante a Copa de 2014.

Unknown disse...

Ahhhhhhhhhhhh Duda! Assim você me desanima! Faz isso não... Estou deprimida agora...

Juliana Tavares disse...

Pois é Duda, essa é a nossa triste realidade.
Mas, mesmo assim, sou teimosa o bastante para continuar sonhando com a redação.
Um dia a sorte estará do nosso lado (espero estar viva para testemunhar isso rs).
Beijos!

Jujuh Tavares

Anônimo disse...

felizmente tive a sorte de passar num concurso e pra área de jornalismo com menos de um ano de formada.....já tava entrando em parafuso

ALAN ADI hoje disse...

muito bom!!!

Duda Rangel disse...

Renato, como bem disse a Juliana, essa é a realidade de muitos jornalistas. Só espero que ninguém do 1º ano faça uma besteira quando cair na real...rs.
Derla, não se deprima, não se deprima...
Juliana, muita teimosia em tua carreira. E sorte a todos nós!
Anônima, sucesso pra você, sem entrar em parafuso.
Alan, valeu pelo elogio. Seja bem-vindo ao blog!
Abraços a todos!

luci disse...

Duda, essa é a pura realidade. O jornalista hoje tem que ser criativo e destemido, por que a busca de empregos nessa área é uma batalha sem fim. A assessoria pode ser um caminho e pra quem gosta deve se aprimorar. Se nunca esquecer a ética o jornalista pode driblar essas dificuldades.

Duda Rangel disse...

Oi, Luci, bem-vinda ao blog. Como eu sempre digo, a gente podia estar roubando, matando ou pedindo esmola, mas não: estamos trabalhando como jornalistas. Você definiu bem a questão: uma batalha sem fim. Beijo. Volte sempre!