segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vai ser obsessivo assim no inferno!


O JOC (jornalista obsessivo-compulsivo) é um tipo cada vez mais comum nas redações brasileiras. Conheça algumas vítimas deste transtorno de fundo psico-periodístico.

Jornalista com obsessão por prêmios – é um tipo que surgiu com a banalização das premiações jornalísticas. É o cara que fica alucinado com datas e regulamentos de qualquer concurso. Quer participar de todos. Ganhar todos. Seu maior sonho é receber um Esso, mas ficará todo metido só de vencer o Prêmio Caninha Ypióca de Jornalismo. Quando há votação de algum prêmio pela internet, manda e-mails para Deus e o mundo pedindo votos. Deseja bajulação. Adora exibir medalhas e trofeuzinhos de latão.

Jornalista com obsessão por furos – este profissional entra em depressão quando não consegue emplacar uma matéria em primeira mão. É o repórter chato que liga para uma mesma fonte todos os dias, na tentativa de atravessar a concorrência. A ansiedade pelo furo faz, muitas vezes, este jornalista publicar qualquer merda, sem checar sua veracidade. Pacientes em estágios avançados do transtorno tentam seduzir assessores de imprensa em coletivas para conseguir um bate-papo às escondidas com o entrevistado. Outros chegam a pagar uma boa grana por uma exclusiva. Seguidor da escola cesartralliana de jornalismo, é o cara que se gaba das amizades poderosas, com políticos e delegados de polícia, por exemplo.

Jornalista com obsessão pela grande matéria de sua vida – é o repórter que nunca está contente com o que já publicou na imprensa e persegue, dia após dia, a matéria que vai revolucionar o jornalismo e mudar o mundo. Para escrever esta grande matéria, tem a compulsão de pensar em pautas a todo o momento, em qualquer lugar. No banheiro, no motel, na igreja, no almoço na casa da sogra. Uma mania incontrolável. Há relatos de jornalistas que chegam até a conversar com a máquina de café da redação para achar a idéia genial. Muitos enlouquecem, perdem o emprego, a família e vão morar na rua, onde promovem acalorados brainstorms com mendigos pela pauta perfeita.

3 comentários:

Luan Crispim de Andrade disse...

Duda Rangel,
pessimista, mas extremamente veraz e guiador o texto escrito por você.
Sou universitário de jornalismo e admito que me identifiquei com o terceiro perfil de jornalista.
Antes mesmo de ingressar na profissão, já sinto o desejo (utópico e irreal) de salvar o mundo com minhas matérias.
Tenho tentado jugir desta quimera, pois não quero está fadado a desilusão.

Semelhante a você, escrevo em meu blog para tentar reconstruir ideias, principios e valores (sem presunção, certamente).
Se puder... convido-o a conhecer meus relatos.

P.S.: Eu gostaria muito de conhecer suas experiencias profissionais. O Jornalismo é um sonho pueril, mas sei que a realidade é nada fantasiosa.

Abraços.

Duda Rangel disse...

Caro Luan, obrigado pela mensagem. Visitarei, sim, o teu blog para conhecer melhor as tuas idéias. E volte sempre ao Desilusões perdidas. A porta está sempre aberta. É só entrar. Abração.

Mariana Serafini disse...

"brainstorms com mendigos pela pauta perfeita". é ótimo!