segunda-feira, 4 de abril de 2011

Pequeno dicionário de expressões jornalísticas mortas


Algumas expressões que há muito tempo caíram em desuso:

Copydesk – uma espécie de revisor, este profissional corrigia as cagadas nos textos dos jornalistas. Vivia em briga com os repórteres, que o acusavam de mexer demais onde não devia e de cortar as matérias pelo pé. O copydesk perdeu o emprego para o corretor ortográfico do Word, que trabalha de graça e não exige férias nem plano de carreira.

Viúva – não confundir com a mulher do jornalista que, de tanto comer calabresa acebolada e tomar todas no boteco, foi vítima de um ataque do coração aos 43 anos. Viúva era só aquela palavrinha solta, abandonada numa linha de texto incompleta.

Jornalista investigativo – repórter que ia para as ruas farejar grandes matérias. Com a criação do Google e com os dossiês políticos customizados, o jornalista investigativo passou a ser chamado de jornalista-da-bunda-quadrada. Fica só na redação, sentado na frente do computador, com o celular ligado, esperando cair em seu colo uma bomba. Parece mais atendente do Disque-Denúncia.

Gillette Press – era a arte de pegar uma notícia já publicada, cortar aqui, aparar ali e, na maior cara-de-pau, apresentar um texto completamente “novo”. Hoje, a expressão foi esquecida, mas a prática está cada vez mais forte. Na era digital, os jornalistas, sem tempo para a apuração ou sem vergonha na cara, preferem chamá-la de “Copy and Paste” (ou Ctrl C / Ctrl V).

Paste-up – parece, mas não tem nada a ver com marca de pasta de dente. Era uma colagem de tiras de textos, impressos em papel fotográfico, no processo de composição de uma página de jornal. Um trabalho lúdico, feito pela turma da Arte, que, na infância, sempre tirava as melhores notas nas aulas de Educação Artística.

Apuração cuidadosa – era uma prática comum nas redações do período Neolítico, quando ainda havia preocupação com a qualidade da informação. Com a transformação das redações em linhas de produção de notícias e a pressa de furar a concorrência, foi criada a matéria-miojo, de apuração instantânea, que fica pronta em três minutinhos.


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22 comentários:

Julian Cunha disse...

Adorei sua crítica à apuração cuidadosa!
É bem verdade mesmo! Nos tornamos máquinas de textos. A apuração? Tornou-se luxo!
Temos de ser, assim como nossas matérias, instantâneas!
Abraços, Duda!
Você é otimo!

Debora de Lucas disse...

"Jornalista investigativo – repórter que ia para as ruas farejar grandes matérias. Com a criação do Google e com os dossiês políticos customizados, o jornalista investigativo passou a ser chamado de jornalista-da-bunda-quadrada. Fica só na redação, sentado na frente do computador, com o celular ligado, esperando cair em seu colo uma bomba. Parece mais atendente do Disque-Denúncia..." Simplesmente genial. Até agora estou morrendo de rir!!!

Everton Maciel disse...

Gilette press era como chamávamos os caras que apresentavam noticiário na rádio onde eu trabalhava. Quem chegava depois das 9h, encontrava os jornais do dia todos esburacados. Eles queriam "exclusiva"

|Blog da Aline disse...

"Matéria miojo" é impágavel! rsrsrs
Prêmio Esso para o Duda!

Edson Oliveira disse...

Até agora a pouco eu queria me especializar no formato investigativo. Agora sei que não me enquadrarei mais nesse formato. Daqui pra frente serei o jornalista-da-bunda-quadrada =S haushau... Gostei demais dessa critica!!!

Unknown disse...

Maravilha. Meu deu até saudade do início de carreira quando pelo menos o copy tinha tempo de discutir a matéria com você.

Yaya Bittersweet disse...

Não sou jornalista nem estudante de, mas às vezes uso essas técnicas. Vale pra todo mundo que escreve/produz. Bem divertido.

xxx

Anônimo disse...

Nossa, Duda, vc, como sempre é impagável! Adoooorooooo seus textos e sua fina ironia rs

Fabi Fernandes disse...

Se não fossem os seus textos, minha depressão por ser jornalista seria mais chata!!!
hahahahahaahahah
obrigada por filosofar sobre nós, seres sofredores e esteotipados!

beijooooooooooooooooo

Oscar Menezes disse...

Cagada em texto jornalístico é o que mais se vê hoje.
Copydesk neles!!!

Montezuma disse...

E o calhau?

Tatyane Malta disse...

ótimo, ótimo!

Eu como estudante do último ano de jornalismo nunca ouvi certas expressões contidas na postagem!

Mas uma coisa que você disse é certíssima "Com a criação do google..." agora muitos jornalistas acham que conseguem compor matérias direto de casa sem precisar ir as ruas, doce ilusão...

http://tatyanemalta.blogspot.com

Jose Ramon Santana Vazquez disse...

...traigo
sangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...


desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ


COMPARTIENDO ILUSION
DUDA RANGEL

CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...




ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CHAPLIN MONOCULO NOMBRE DE LA ROSA, ALBATROS GLADIATOR, ACEBO CUMBRES BORRASCOSAS, ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER ,CHOCOLATE Y CREPUSCULO 1 Y2.

José
Ramón...

Unknown disse...

Um doce para quem souber a diferença entre órfão e viúva :)

Wellington Rafael disse...

A viúva ainda existe e tem incomodado muito a turma da ECA no fechamento do São Remo.

Duda Rangel disse...

Esta é uma pequena lista de expressões mortas. Há muitas outras, como o calhau, lembrado pelo Montezuma. Um post dedicado aos jornalistas mais velhos. Abraços.

Meja disse...

Matéria-miojo é o fim! Divertido e sarcástico como sempre!

Margarida Maria disse...

Muito bom! Poderia acrescentar uma menção à (antiga) contradição e embate entre Igreja (redação) X Estado (depto. comercial). Abraços!
Margarida

Duda Rangel disse...

Legal, Margarida, valeu pela contribuição. Abraços.

Davi Miranda disse...

"O copydesk perdeu o emprego para o corretor ortográfico do Word..."

Então essa medida é a maior cagada já feita pelos jornais, já que corretores ortográficos não dão conta de detectar e corrigir inúmeras questões gramaticais da língua portuguesa, entre outros problemas:

http://www.fotolog.com.br/bluelines/56991886

Esses são apenas dois exemplos. Eles são infinitos e mostram que os jornais não deveriam nunca abrir mão do copidesque.

Ana Paula Ribeiro disse...

Quem lembra dessas é um "velho" jornalista? Putz... foi triste! hahahaha.

Duda Rangel disse...

Ana Paula, é um jornalista experiente. Abraço.