quarta-feira, 4 de março de 2009

Na solidão de meu trono


Todo mundo tem um lugar de refúgio na vida. Uma montanha mágica, uma casinha no campo, uma praia deserta. Em meus anos de labuta no jornal, meu recanto da paz estava no 2º andar, mais precisamente no banheiro do 2º andar. Sempre vazio, era ideal para eu buscar inspiração para as minhas matérias. Nunca gostei do barulho e da agitação dos banheiros da redação, alguns pisos acima. Para mim, cagar era um momento sublime, de reflexão.

Sentado em meu trono, organizava minhas idéias, escolhia as melhores palavras, rascunhava, em pensamentos, o título mais atraente, o lead mais completo. Não precisava atender o telefone, ouvir as cobranças do meu chefe, olhar para a tela em branco de meu PC implorando por um texto. Na redação, tinha problemas de concentração, principalmente quando alguma assessora de imprensa desfilava de calça justa e um jabazinho nas mãos.

No 2º andar, me divertia também com a literatura de porta de banheiro, comum até nos lugares de menos movimento. Tentava decifrar, entre tantos rabiscos, o significado de mensagens repletas de palavrões e erros de português. Em meio a insultos preconceituosos e anúncios de serviços sexuais, havia sempre espaço para a expressão de idéias. Certo dia, uma frase me chamou a atenção. Um anônimo taxava os jornalistas de “um bando de viadinhos que só sabe reclamar da vida”. No início, aquilo me irritou, mas me ajudou a refletir e a começar a escrever mais sobre a profissão. A inspiração não vem só das coisas boas.

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