Juraci era um negão sacudido, do tipo segurança. Não abria mão de seus óculos escuros de pagodeiro na testa e da camisa aberta no peito. Era daqueles que dirigiam com um braço para fora da janela, sempre de olho em alguma “princesinha” na rua. Nem preciso falar qual era a trilha sonora de seu rádio.
Ricardinho era o fanático torcedor do Corinthians. Só falava em futebol. Que mala! O pior era quando seu time iria jogar contra o meu. “E aí, truta, ceis tão cagando de medo, hein? Só porque a gente temos a maior torcida, mano.” E ria, sozinho.
Ernesto, com seu ar debochado e sorriso malicioso, derrubava a tese de que a fofoca é uma arte exclusivamente feminina. “Sabe a Glorinha, de Economia? Tá dando pro Zé Carlos, o diagramador; pegaram os dois na escada de emergência do quarto andar.” Pela boca de Ernesto, descobri também que a ninfetinha do caderno de Cultura, que eu peguei logo que entrei no jornal, já havia “conhecido” metade da redação antes de mim.
Messias, um ex-policial truculento que passou alguns anos na prisão, virou o bom moço, um cara religioso e pai de família. Enquanto o repórter estava na pauta, ele ficava no carro, lendo a Bíblia. Messias me fazia acreditar na esperança de cura dos degenerados.
E Durval era o motorista que queria vender de tudo, de carro usado – como um “Voyaginho Oito Dois” com quilometragem adulterada – a rifa com nome de mulher. De tão inconveniente, era difícil dizer "não" para aquele sujeito. “Pô, seu Duda, compra só um número, vai, tá 5 real. Ainda tenho Dulcinéia e Marilene.”
Todos estes homens tinham, pelo menos, uma coisa em comum. Faziam de tudo para eu chegar ao meu destino no horário correto, nem que para isso precisassem transgredir algumas leis de trânsito. Chegar inteiro já ficava por conta da proteção divina. Em nossas aventuras nas ruas, não perdiam o rastro da notícia. Foram meus parceiros de muitas pautas. Cada figura!