quarta-feira, 28 de abril de 2010

E se a imprensa não existisse?


Balzac, o escritor francês que foi uma das inspirações para este blog, disse, certa vez, que “se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la”. Eu sempre me encantei com esse quê desencantado do velho Balza, mas acho a frase meio radical. Tudo bem que, se a imprensa não existisse, o Zeca Camargo teria sido apenas um exímio dançarino do ventre, o que seria ótimo, não? Mas não posso resumir a questão ao Zeca Camargo. Há, sim, muita coisa ruim no jornalismo, mas também tem muita, ou melhor, alguma coisa boa.

E se a imprensa realmente não existisse?

Quem denunciaria as contas secretas do Maluf, as maracutaias do Arruda e os dólares na cueca? O novo CD da Preta Gil chegaria às lojas imune de críticas. Não haveria os bares de jornalista e as filosofias de botequim de jornalista. Quem avisaria sobre as ruas congestionadas e as chuvas de fim de tarde? A arte da investigação não teria conhecido o brilho e o talento de Zé Bob. Não haveria as garotas do tempo, as aprendizes do Caco Barcellos e as apresentadoras radicais do SporTV. Pescoção seria apenas o cidadão interessado em olhar o decote da moça a seu lado no metrô. A liberdade de expressão não teria tanto valor. O Nelson Rodrigues teria sido talvez... médico? Ginecologista? Meu Deus! Não existiria o blog “Desilusões perdidas” para falar mal (e às vezes bem) da profissão. Jamais teríamos conhecido as histórias do bebê-diabo do ABC e do homem que torrou o pênis na tomada divulgadas pelo inesquecível Notícias Populares. O Pedro Bial teria, muito provavelmente, dedicado toda a sua carreira a reality shows e outras programas de entretenimento. O William Bonner teria seguido a carreira de imitador e humorista e talvez se casado com uma atriz de seu grupo teatral. Não haveria o caderno de Esportes da segunda-feira para a gente ler os elogios à vitória de nosso time no domingo. Os fotógrafos só sobreviveriam com casamentos, batizados e festas de debutante. O furo seria apenas um orifício qualquer. Eu jamais teria acordado com o Jornal da Manhã da Jovem Pan. Repita: eu jamais teria acordado com o Jornal da Manhã da Jovem Pan.

12 comentários:

Dani Rodrigues disse...

Texto delicioso! Crítica fundamentada e com humor é uma qualidade rara hoje. Torne-me leitora cativa do blog.

Talita Cruz disse...

Quando aconteceu toda aquela história do Boris Casoy X Garis, eu li uma frase no orkut que dizia mais ou menos isso "Podemos viver sem jornalistas, mas sem garis não.." Enquanto existirem pessoas com essa mentalidade, o Brasil será o que é. Jornalismo é vida!..rsrs Bjs Duda.

Natalia Vaz disse...

Eis uma verdade.

camilla disse...

Bebê diabo, o orgulho do ABC!

camilla disse...

Bebê diabo, o orgulho do ABC!

Duda Rangel disse...

Dani, valeu pelas palavras. E viva o bom humor.
Talita e Nat, vida longa aos jornalistas e aos garis!
Camilla, hoje o bebê-diabo já não é mais o único orgulho do ABC. Agora tem também o Cicinho, o Rodriguinho, o Branquinho...
Beijos!

@nanymata disse...

Não teve alguém que certo dia disse "ruim com eles, pior sem eles"? Mandou bem na crítica, Duda... Em meio a tantos podres, há sim muito que não podeos deixar de ter no jornalismo...

Mariana Serafini disse...

"O furo seria apenas um orifício qualquer"

o que seria de nós jornalistas, se não existisse todo esse bom humor!

estou agora com enxaqueca numa redação saturada e consegui rir e me deliciar com aprofissão!

Duda Rangel disse...

Mariana, só com bom humor para suportar essa vida ingrata. :)
beijo

Verônica Suênia Gomes de Vasconcelos disse...

"se a imprensa não existisse?" NEM QUERO PENSAR NISSO... GENTE DESINFORMADA NINGUÉM MERECE!! O povo precisa das notícias, a gente só contribue c isso... tenho a felicidade de trabalhar num telejornal que além de informação, leva esperança! prioriza notícia boaa!!! mas claro ñ deixa de mostrar a 'dura' realidade..... é o nosso papel =)

http://noticias.cancaonova.com/

bjs caros colegas
Deus os abençoe!

Anônimo disse...

Como se Nelson Rodrigues fizesse assim tanta falta.

Duda Rangel disse...

Verdade, Verônica, é sempre importante valorizar a "boa notícia". Beijo.