segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Crônica sobre a rapidez do mundo


Quem não tem um emprego tem, ao menos, tardes livres. Desempregado, consigo resolver certos problemas ideais para serem resolvidos em tardes comuns da semana, como ir ao banco renegociar os juros do cheque especial ou levar o meu Corsa Wind 97 modelo 98 a uma oficina mecânica para um sujeito cheio de graxa consertar o radiador furado.

Para fugir da loucura do fim de semana, decidi visitar a Bienal do Livro de São Paulo na tarde da última quinta-feira. Eu queria paz e tranqüilidade, mas embarquei numa aventura. O pavilhão do Anhembi tinha sido invadido por hordas de crianças com uniforme escolar que não respeitavam este jornalista velho. Aquilo parecia mais um parque de diversões do que uma feira de livros. Um dos estandes chegava a lembrar um brinquedo do Playcenter, do tipo visita à casa do terror, com direito a uma fila enorme e barulhenta.

Estava tão incomodado com aquela bagunça infanto-juvenil que, por um instante, eu, grande defensor da idéia de que os jovens precisam ler cada vez mais, mudei radicalmente a minha opinião. “Porra, por que essa molecada não está na Internet agora? Vão para os seus PCs, notes, celulares, MSNs, joguinhos on-line e me deixem em paz! Livro não dá futuro pra ninguém!”, pensei em gritar. Mas não gritei. O máximo que fiz foi me esquivar dos grupos que vinham em direção oposta, com medo de ser atropelado. E talvez pisoteado.

Aquela molecada tem uma velocidade assustadora e, no fundo, está perfeitamente conectada ao mundo, que é igualmente veloz. Eu é que fiquei velho e lento. Esta é a verdade. Os jovens fazem tudo muito freneticamente. À noite, em suas camas, devem até sonhar em apenas 140 caracteres. Mas a Bienal também me ensinou que, mesmo um pouco fora da realidade, o velho pode sobreviver e conviver com o novo, pois lá, em meio a tantas tecnologias, como audiolivros, e-books e Kindles, resistia, com bravura e dignidade, o estande da enciclopédia Barsa.

9 comentários:

Mariana Serafini disse...

estava olhando livros para crianças esses dias, eles falam, emitem sons de animais, as páginas saltam! é uma loucura total, na minha época existinha "Caixinhos Dourados" e pronto.

realmente essa geração é assustadora.
segundo um amigo meu que acabou de ler seu texto aqui no trabalho, a vantagem do sonho em 140 caracteres é que vc pode se lembrar de manhã até dos detalhes!
hsushushsushsushsushsushsu


beijos, Duda!

Carol disse...

Ei Duda, cuidado pra não ficar um velho ranzinza, hein. haha

A Viajante disse...

"...devem até sonhar em apenas 140 caracteres"!

Verdade, Duda. E nesses sonhos do mundo líquido, a realidade é escrita em códigos como ksa, vc, naum,miguxa, te dollo...

E eu? bem, eu "te dollo", também!

pat disse...

hahaha! Realmente: tenho "as tardes livres" - só não consigo aproveitá-las. Será a culpa? A ansiedade (o que vai ser de mim)? Ou a lerdeza? Realmente vc me abre os olhos, talvez eu esteja simplesmente ficando mais devagar.
E por isso esteja difícil arranjar trabalho. Bom, mas o melhor é que tenho tempo para ficar lendo seu blog. E agora também para comentar. Um abraço,
Pat

Eliane disse...

Acho nunca havia lido um texto seu em primeira pessoa. Quero dizer: em primeira pessoa de forma tão manifesta. Achei legal. E o mundo, a juventude, me assusta cada vez mais também, é tudo muito hiperativo, me estressa.

Natalia Vaz disse...

Duda, tenho 23 anos e acho que a minha geração foi a última a utilizar a enciclopédia Barsa como fonte de pesquisa para os trabalhos de História, Geografia e Ciências na escola. Fico feliz com esta notícia. Orgulhosa, até.

Beijos e abraços da França.

Duda Rangel disse...

Mariana, não tinha pensado nesta questão de ser mais fácil de se lembrar do sonho de 140 caracteres. Interessante.
Carol, já sou um velho ranzinza. Tenho de tomar cuidado para não ficar mais ranzinza.
Viajante, quantos códigos! Preciso de um dicionário para entender tudo.
Pat, o único problema de ter as tardes livres é ficar com vontade de assistir ao programa da Sônia Abrão. O resto vale, sem culpa.
Eliane, no começo do blog, nos primeiros posts de janeiro/2009, eu escrevia mais em primeira pessoa. Se puder, dê uma olhadinha no arquivo. Valeu pela observação!
Natalia, em tempos de wikipedia, a Barsa vive (ou sobrevive).
Beijos.

@ire_fp disse...

Legal cara... cada vez curto mais sua "visão" das coisas e do mundo!rs
Agora visita o www.colaborecommeumilhao.blogspot.come conheça a minha visão de mundo tb.
Abração meu velho e manda um grande abraços para os gemeos tb!rs Saudades dos dois!

Duda Rangel disse...

Grande Irê! Muito legal a idéia do teu blog e parabéns pelo texto sobre dislexia. Me identifiquei com ele. Só não vi espaço para comentário por lá. Ou estou cego? Os gêmeos estão bem. Mandaram lembranças! abração.