sexta-feira, 13 de março de 2009

Ah, os plantões intermináveis...


São 24 esfihas de carne, 15 de queijo, 10 quibes e umas garrafas grandes de Coca-Cola. Todos colaboram com notas amassadas e moedas. O dinheiro arrecadado vai para as mãos de um dos motoristas, que seguirá até o Habib’s mais próximo. Em pouco tempo (às vezes muito tempo) ele voltará com aquela caixa gigante e quente e, então, começará a divisão da comida. Se não fosse por um conflito que vez ou outra ocorre – “esse quibe que tá sobrando aí é meu, porra!” –, aquela bela cena até lembraria Jesus repartindo o pão e o vinho.

Este é o viés gastronômico (baixíssima gastronomia, digo, de passagem) de uma montagem de guarda de jornalistas. Quem é o jornalista com algum tempo de estrada que nunca ficou horas num hospital esperando pelo novo boletim médico daquele cantor famoso em estado terminal? Ou passou a tarde jogado numa calçada na frente do prédio em que mora o presidente? Há também os plantões nos fóruns da vida, nos grandes julgamentos.

Nesses plantões, tudo pode acontecer. Ou nada pode acontecer. O lance é esperar a notícia, sem saber ao certo se ela vai chegar e a que horas. Os jornalistas, mesmo os concorrentes, unem-se, dividem a angústia do tempo que não passa. Nessa hora, você agradece aos céus por existirem os fotógrafos, que são metidos a engraçadinhos, contam piadas, fazem brincadeiras com quem passa por lá, levam o baralho para o truco.

São nesses plantões intermináveis que se revelam as mais inusitadas histórias de jornalistas, gargalhadas verdadeiras são saboreadas, dramas pessoais compartilhados e até algumas paixões iniciadas.

No fim, feliz é o jornalista que recebe um telefonema da redação com a notícia de que está sendo “rendido” por algum colega. “Bem, amigos, infelizmente, vou ter de deixá-los”, diz, com um sorriso malicioso no canto da boca. Despede-se de todos e entra no carro do jornal, que está impregnado por aquele maldito cheiro de esfiha. Por que é sempre o seu motorista que tem de ir ao Habib’s mais próximo?

8 comentários:

Anônimo disse...

Em algumas redações, grandes redações aliás, a esfiha era acompanhada de uísque tomado em copinhos de café, coisa que deixaria qualquer Chiquinho Scarpa de cabelo em pé (ele tem cabelo?). Depois ninguém entendia porque o jornal de domingo continha o maior número de erros da semana....

Anônimo disse...

A parte mais gostosa do pescoção era descer ao bar do Português e tomar algumas antes de volta ao batente. Pode reparar como tem fechador magrinho. Troca a esfiha pelo conhaque de segunda classe.

Unknown disse...

que bacana o blog e que interessante a enquete. rs.
boa sorte por aí.
abraço,

wagner belmonte

Anônimo disse...

Duda,
Parabéns pelo blog.
Entro todos os dias na esperança de novos textos. Aliás, cadastrei meu e-mail para receber atualizações, mas, até agora, não recebi nenhuma mensagem avisando.
Abraço
renantruffi@terra.com.br

Júlia Ourique disse...

Eeee colocou a ferramenta pra seguir ^^ nem vou comentar sobre o post, pq nao tenho nada a acrescentar.. sortudos sao voces, jornalistas formados ^^

The Ideas of a Vintage Doll disse...

Eu adoro os plantões. Acho que é porque gosto de kibe...

Giovana disse...

Quando ainda existia plantão de sequestro, encarei alguns no Rio. Mas, nada de quibe. Era café, coca-cola e pão com mortadela mesmo. Cruzes!

Unknown disse...

Duda eu amo você de paixão! Ninguém consegue falar do lado B do jornalismo tão bem! Parabéns pela milésima vez!