quarta-feira, 11 de março de 2009

A primeira vez a gente nunca esquece...


Depois de conquistarem o sonho do “diploma de jornalismo próprio”, os focas passam a conhecer a dura realidade do mercado. Quando entram na faculdade, são o futuro do país. Quando a deixam, muitos viram um problema social, mais um numerozinho na estatística do desemprego. Conseguir o primeiro trabalho é um sofrimento para vários profissionais, com ou sem crise econômica. No meu caso, a história não foi diferente.

Com muita vontade e pouca experiência, peguei meu currículo de meia página e saí em busca da almejada vaga na grande imprensa. Fui parar em um jornal de bairro, numa pequena redação de fundo de quintal. A função era nobre: seria o responsável pela edição do horóscopo da semana. Expliquei ao meu chefe que não entendia nada de astrologia. Ele foi enfático.

– No gavetão tem todos os horóscopos do ano passado. Dá uma maquiada e manda ver.

Foi um exercício de criatividade para mim. A rotina, porém, me desanimava.

– Sabe, chefe, não que eu tenha algo contra os astros, mas eu queria fazer alguma coisa diferente.

Em um ato de extrema benevolência, ele prometeu dar uma turbinada em minha carreira.

– Deve rolar um anúncio de uma clínica de acupuntura. Taí tua grande matéria, mostrar todo o trabalho que eles fazem por lá, algo bem positivo...

Onde foi parar a tal independência editorial que aprendi na faculdade? Quando já considerava razoável a idéia de trabalhar como corretor de imóveis, recebi uma indicação de um amigo.

– Duda, é um puta empregão. Editora de perfil arrojado, em constante expansão...

Parti para uma nova aventura, desta vez em uma empresa que publicava dezenas de revistas, dos mais variados assuntos. Tudo feito por um grupo reduzido de jornalistas, a maioria de recém-formados. Escrevi para a Amigo Proctologista, Construção e Decoração, Artesanato Moderno, Fofocando, Vegetais & Cia... Escala industrial, sem contrato de trabalho, por um cacho de bananas. Não suportei por muito tempo. Peguei meu currículo – agora com uma página inteira – e novamente saí por aí. Ainda queria descobrir se a grande imprensa realmente existia ou se eu estava fadado a ser uma mera estatística.

6 comentários:

Paulo Henrique de Moura disse...

Duda, estou vivendo isso agora, apesar de ja ter trabalhado muito na área e ter duas páginas de currículo. Me formei em dezembro passado e nada de emprego até o momento!

Júlia Ourique disse...

Também estou passando por isso, mas não tenho experiencia alguma, e nem to tentando jornalismo... ainda nao fiz faculdade xD to tentando magistério hehehe e enfim, malditos Q.I's políticos! e boa sorte =D Conheço uma mulher que teve essa mesma experiência que a sua em relação a astrologia... acho que todo mundo tem um pouco de Mãe Dinah.

Anônimo disse...

Infeliz coincidência tb...estou desde novembro procurando algo e só levo porta na kra..Dá até vontade de começar a ver se tenho "talento" de me jogar pela varanda...c cem mil d apto p pagar e sem emprego...ta difícil colegas jornalistas..

Anônimo disse...

Continua?

The Ideas of a Vintage Doll disse...

Há!
Eu estagio em uma dessas editoras. Triste!
Tive uma vez que escrever O Manual do Pomar. Pensa na emoção!

Anônimo disse...

"grande imprensa" é um termo que deveria apenas servir de exemplo para aquela figura de linguagem que descreve exageros, a hipérbole