segunda-feira, 27 de abril de 2009

Viva a boca-livre


Quando eu ainda era um jornalista empregado, geralmente comia mal, gastronomicamente falando. Muita porcaria pelas ruas da cidade, entre uma entrevista e outra. Mas havia um momento de redenção. Sim, havia! Este momento respondia pelo nome de “filé mignon ao molho madeira com batatas (prussianas ou noisettes) e arroz”, prato clássico servido em eventos que reúnem jornalistas, conhecidos adoradores de uma boca-livre.

Estudiosos do comportamento humano jamais conseguiram explicar este fenômeno jornalístico. Seria uma forma de vingança contra a miséria opressiva cotidiana? Ou o simples desejo de levar vantagem? A única coisa que se sabe, após décadas de pesquisas, é que o gene responsável pela boca-livre é o mesmo ligado à vontade insana de ganhar presentinhos e jabás em geral.

Conheci jornalista que freqüentava aqueles congressos bacanas de empresários só para comer. O encontro com o filé mignon ao molho madeira era sagrado. Ninguém se preocupava se, em alguma mesa naquele salão, uma informação que fosse estremecer o mercado estivesse sendo revelada.

Os organizadores de tais eventos faziam questão de isolar os jornalistas em mesas pelos cantos, versão mais moderna do vale dos leprosos. Nelas se juntavam repórteres, cinegrafistas, fotógrafos e alguns motoristas que, vez ou outra, também participavam da boca-livre.

Seu Nelson era um dos meus motoristas preferidos, um velho bigodudo e bonachão que também tinha uma queda pela comida boa a custo zero. “Ô, seu Duda, dá um jeitinho de eu almoçar lá com vocês.” Seu Nelson dividiu a mesa com os jornalistas inúmeras vezes. Não falava nada. De boca sempre cheia, apenas fazia um sinal positivo com o polegar para indicar que o filé mignon e as batatas estavam ótimos. E como sujava aquele bigodão com molho madeira.

9 comentários:

Anônimo disse...

Nos meus tempos, almoço era mais difícil sair... em compensação, quando pintava um pão-de-queijo com suco de laranja eu me esbaldava. Acho que é uma tática dos assessores que montam esses eventos. Eles sabem que somos tarados por uma boca-livre e que, com estômago cheio, tudo fica mais leve, fácil e digerível depois... seja uma péssima notícia ou mais um entrevistado mala...
Agora, bom mesmo é entrevista em casa de gente normal. Tem sempre um lanchinho pra equipe... afinal, a pessoa está tão impressionada com uma equipe de Tv com toda aquela parafernalha na casa dela que acaba querendo fazer bonito, oferecendo uns comes e bebes... aí é só alegria!!!!

Anônimo disse...

RS... estarei em um congresso semana que vem, se tiver o "filé ao molho madeira" juro que fotografo e posto no meu blog rsrs
Abraço! Parabéns pelo blog!!

The Ideas of a Vintage Doll disse...

Tenho um fraco maior ainda por pato ao molho madeira. Mas como vivo de regime... nem as batatas...

Ro Florêncio disse...

Amo o blog de vocês e por isso dediquei um prêmio ao Desilusões Perdidas! Saiba mais em: http://necessairedepandora.blogspot.com
abç.

Ricardo Muza disse...

No meu tempo de repórter, havia até um ditado: boca-livre e pênalti, só trouxa perde!
Voilá

Mônica disse...

Nos eventos , eles também fazem uma versão singela do cardápio , que são os louváveis coffee breaks!!!!...imperdíveis! Entre uma fonte e outra, a gente se esgueira pelas mesas de garçons, circula e se der sorte ainda encontra uma pauta nas conversas de corredor....

Ewerton Martins disse...

Mas não tem mesmo nada melhor que uma boa boca-livre.

Anônimo disse...

Essa semana eu fui em um, coisa rara de acontecer para jornalistas da editoria de Polícia (ninguém nos quer por perto).
O ambiente vip, literalmente, parecia um curral com aquelas cercas de madeira. Cheguei tarde e perdi a rodada de espumante, mas deu tempo de cai matando em algum salgado com salmão que eu não sei o nome!

Duda Rangel disse...

Caros, é o momento de glória de todo jornalista. Abraços.