segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Travessura de velho
Há alguns deslumbramentos de jovem jornalista, que poderiam ser vistos de forma negativa também, mas são mais inofensivos e até gostosos de sentir. São mais modestos em suas pretensões. Há sensações na carreira de um jornalista bem típicas da juventude e precisam ser saboreadas na hora certa. Uma delas são as primeiras matérias assinadas num jornal.
Para um iniciante, é um prazer quase sexual, melhor, é um prazer bem maior do que o sexual. A minha primeira vez, jornalisticamente falando, foi na publicação da faculdade que funcionava como laboratório para os alunos. Matéria boba, assunto sem importância, mas eu não via a hora de ter a impressão final nas mãos. A razão: ver meu nome estampado na matéria me faria (e me fez) sentir, enfim, jornalista de verdade.
As primeiras matérias assinadas são saboreadas à exaustão. Não tem jeito: somos, desde cedo, impregnados de narcisismo e adoramos lamber a nossa cria. Somos como o pai orgulhoso que desfila com um bebê lindo no parque com cara de “fui eu que fiz”.
Minha primeira matéria assinada já levava o nome de Duda Rangel. O nome completo, de batismo, Carlos Eduardo Rangel, não caía bem. E isso nunca teve nada a ver com numerologia, juro por tudo de sagrado e profano deste mundo. Sempre acreditei que nome composto cansaria o leitor, não teria impacto, além do fato de nome composto lembrar bronca de mãe quando se é criança e apronta alguma travessura.
Às vezes, parecia até que eu corria até a pasta com as minhas matérias só para me certificar de que a assinatura ainda estava lá, que não tinha fugido. “A sua assinatura empreendeu fuga nesta manhã, mas dois investigadores já estão nas ruas para tentar encontrá-la e devolvê-la à sua matéria”, me diria um delegado qualquer se eu cobrasse providências. Mas assinaturas não empreendem fugas. Ficam lá, imóveis. Meu zelo era paranóico.
Nos últimos dias, eu me lembrei dessa história das assinaturas, fiquei resgatando as gostosas sensações passadas. Senti muita falta da juventude, dos tempos que não voltam mais. Como é estranho ter saudade de si mesmo, escreveu o dinamarquês Jacobsen. Certa nostalgia é indício de que não estamos sabendo envelhecer. “Carlos Eduardo, pare com essa coisa de nostalgia boba, meu filho. Viva seu presente!”, me diria a minha mãe, diante dessa minha última travessura.
7 comentários:
- Isa. disse...
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adorei Duda! ilusões ilusões.. ai ai!
- 22 de fevereiro de 2010 às 13:08
- Bangalô Cult disse...
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"Adeus, às Ilusões" Duda!!!
Mandou ver, mais uma vez...
Parabéns!!! - 22 de fevereiro de 2010 às 23:03
- offBruno disse...
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Bom, eu já comecei o curso sem muitas ilusões, na verdade acho que foi mais por teimosia. É bom e ruim saber que posso estar certo quanto a isso; bom por saber que estava certo...e ruim por realmente saber que estava certo.
Mas...ainda continuo.
Parabéns pelo blog. - 23 de fevereiro de 2010 às 10:34
- Júlia Ourique disse...
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Mas Duda... eu só quero o Jornalismo para mudar e ajudar o mundinho... agora o que eu faço? mudar com comida acho que não dá tão certo xD Ótimo post como sempre e eu voltando a ler o seu blog :)
- 23 de fevereiro de 2010 às 14:02
- Talita Cruz disse...
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Estou no segundo ano da facu, e já venho percebendo que realmente de glamour, o jornalismo só tem a fama. Mas não me arrependo de forma alguma, a minha maior desilução na vida seria, com certeza, não ter buscado o meu maior sonho. Como essa desilução eu não terei, que venham as outras...vou adorar escrever sobre elas..rsrs bjsss Duda
- 23 de fevereiro de 2010 às 17:10
- Duda Rangel disse...
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Amigos, jornalismo é uma profissão apaixonante. Só precisa ser aprendida e vivenciada com os pés no chão, na realidade.
Bruno e Lita, sucesso na empreitada, com todos os erros e acertos, coisas boas e ruins que vocês terão pela frente.
Bitter, que bom que você voltou ao blog. Tava com saudade de sua provocação! :)
Beijos e abraços do Duda - 24 de fevereiro de 2010 às 15:40
- marifreica disse...
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O meu maior medo era que meu nome saísse errado em alguma matéria minha. Isso, graças a Deus, nunca me aconteceu. Mas ainda é verdadeiramente animador ver o meu nome em cada uma delas, ainda que não seja mais novidade.
- 4 de março de 2010 às 23:23