segunda-feira, 19 de julho de 2010

Aos 45 do segundo tempo


Naquele dia, o repórter chegou cedo ao trabalho, antes mesmo dos pauteiros. A única TV ligada exibia o Bom Dia Brasil, com os empolgantes comentários de Miriam Leitão. Viu a redação acordar. Os colegas aparecendo, um a um. Os computadores sendo ligados. O silêncio indo embora, a cada nova conversa, com o barulho dos telefones, ao som dos teclados. Precisava escrever uma matéria especial para o fim de semana, além da pauta do dia. Trabalhou pra cacete. Mal teve tempo de fofocar no fumódromo.

Seu único consolo era que, naquela noite, sairia com a mulher para celebrar o primeiro aniversário de casamento. Tinha até reservado uma suíte chique de motel, do tipo que tem piscina aquecida com cascata, puff erótico e teto solar, ideal para destruir as finanças de um jornalista. Amava a mulher. Mas, no final da tarde, quando já se aprontava para escapar da redação, ouviu uma terrível conversa entre o editor e a subeditora do caderno.

- A polícia pegou o Paulinho Bigorna.

- O maníaco que só ataca gordinhas?

- Esse mesmo. Tá no DP de Capão Redondo. Precisamos mandar alguém pra lá agora.

- Vou ver qual jornalista está livre da pauta.

A subeditora caminhou então em direção à equipe de reportagem. O repórter ficou tenso. Pensou na mulher. Na piscina aquecida com cascata. No puff erótico. No teto solar. No futuro do seu casamento. Não sabia como agir. Só não queria acabar a noite ao lado de Paulinho Bigorna.

O que fazer quando rolar uma pauta inesperada aos 45 do segundo tempo, na exata hora de ir embora? Este é o tema da nova enquete do blog. Simular uma caganeira e fugir para o banheiro? Fingir que vai amarrar o cadarço do sapato e se esconder embaixo da mesa? Jogar um colega desavisado na fogueira? Dizer que precisa visitar um parente que está morrendo no hospital? Ou tocar um “foda-se” e enfrentar a situação sem medo? A votação está aberta.

A pesquisa que acabou de acabar – Que hashtag no Twitter melhor definiria a vida de um jornalista? – foi bastante equilibrada, com um empate no primeiro lugar. As opções “#CadeOMeuAumento” e “#PrecisoDeUmCafeUrgente” ficaram com 31% dos votos cada. As alternativas “#PlantaoDeMerda”, “#RIPMeuDiploma” e “#SouMasoquistaMesmo” também foram bastante lembradas, prova de que é difícil definir, em apenas uma frase, a vida deste bicho complexo que é o jornalista.

4 comentários:

Frida disse...

Eu escolhi a #PlantãodeMerda porque repetia isso várias vezes por mês, ou por semana, se falarmos do carnaval e do Natal. #PlantãodeMerda!

Dani Rodrigues disse...

Você é sensacionallllll... #semmais =)

Laís Fernanda Borges disse...

ou a caganeira ou o foda-se rs, mas meu encontro é que não iria se fuder...

Duda Rangel disse...

Frida, plantão é sempre uma merda.
Dani, assim você me deixa encabulado...rs. Valeu!
Laís, é isso aí. E vamos criar um movimento pelo fim das pautas de última hora que atrapalham nossa vida pessoal. Beijos a todas!