segunda-feira, 2 de agosto de 2010
O post do desassossego
O jornalista desassossega-se com o que pode ocorrer no dia de seu plantão. Pede a Deus – esquece até que é ateu – que nenhuma desgraça extraordinária aconteça no mundo no período em que ele vive seu cárcere na redação. Já pensou se o Pelé resolve morrer logo num sábado à noite? O jornalista desassossegado vive o mesmo drama quando está deixando o jornal em um dia normal de trabalho. Para evitar uma pauta de última hora, adota a saída à francesa, na ponta dos pés, escondendo a bolsa sob o casaco e olhando discretamente para os lados.
O jornalista desassossega-se com seus projetos profissionais. Será que é isso mesmo que eu quero para o resto da minha carreira? Será que não é hora de largar esse mundo podre da política que eu cubro há tanto tempo para me dedicar ao jornalismo cultural que eu sempre amei? Será que não é o momento de recomeçar, do zero? Será que não é o caso de vender o carro e passar um ano fora do Brasil, conhecer gente nova, idéias novas? Será que, mesmo velho, eu ainda vou levar um curso de Inglês a sério?
O jornalista desassossega-se com tudo que está acontecendo no planeta. Precisa saber sobre os últimos escândalos políticos, as últimas catástrofes naturais. Precisa formar opinião sobre tudo, sobre o casamento gay, sobre as novas mídias, sobre a necessidade de ter opinião sobre tudo. Muitos jornalistas tomam café da manhã na padaria com as páginas do jornal abertas. O jornalista desassossegado não pode passar vexame na reunião de pauta e, pior, não pode ficar sem assunto na mesa do bar.
Como eu gosto deste desassossego.
7 comentários:
- Juliana Franzon disse...
-
Todas minhas aflições ali, no terceiro parágrafo. Abraço.
- 2 de agosto de 2010 às 10:23
-
-
Muito pertinente. Haver um Retiro dos Jornalistas até seria uma boa. Melhor ir criando um por aqui!
- 2 de agosto de 2010 às 10:36
- Unknown disse...
-
Duda eu acho que você é apaixonada pela Ilze...
- 2 de agosto de 2010 às 13:48
- Duda Rangel disse...
-
Juliana, obrigado por compartilhar sua aflição. Você me faz sentir melhor assim, porque sei que não sou o único inquieto. :)
Alceu, em tempos de eleição, acho que deveríamos cobrar dos candidatos a criação de diversos retiros de jornalistas por todo o Brasil, com bom atendimento médico, internet banda larga e cervejinha bem gelada, claro.
Derla, depois que fui abandonado por minha mulher, passei a desacreditar nessa coisa de amor e paixão. Mas não descartaria um casamento com a Ilze 100% por interesse! :)
Beijos e abraços do Duda - 2 de agosto de 2010 às 14:23
-
-
O sindicato dos jornalistas vive me empurrando o tal do Fenaj Prev que, de tanto "relacionado a", foi parar no pré-sal. Fiquei com medo e resolvi apurar e escrever sobre o petróleo. Fiquei com mais medo ainda.
Resultado: não fiz a previdência. O dia que ela me render uma pauta menos cabulosa... quem sabe.
PS: ainda acordo no meio da madrugada pensando no que eu vou fazer qdo tiver, sei lá, 50 anos... - 2 de agosto de 2010 às 16:26
-
-
É esse desassossego nos move mesmo. Após um dia inteiro de trabalho em locais diferentes, enfrentando situações diferentes, chegar em casa por volta das 22h (quando não acontece nenhuma desgraça como 3 ocorrências ao mesmo tempo na Polícia Federal quando vc tá descendo as escadas pra ir embora, abaixa a cabeça e pensa, "que se dane, vou logo cobrir a pauta), ter que deixar uma camisa passada (pra tv é preciso né, fazer o quê) você ainda para pra ler aquela revista semanal, assistir os jornais da noite e quando para pra pensar já são 1h30 da manhã! Opa, preciso dormir, amanhã levanto às 6h30 pra repetir tudo isso!
- 2 de setembro de 2011 às 11:52
- Duda Rangel disse...
-
Vida dura, Johann. Abraço.
- 2 de setembro de 2011 às 20:31