segunda-feira, 2 de março de 2009

Quase famosos


Por conta da vida modesta que tenho levado, a grana de minha indenização respira, ainda que por aparelhos. E, para garantir o biscrok quinzenal do Nestor, faço meus frilas, como todo bom jornalista desempregado. Semanas atrás, um amigo me ligou e ofereceu um job de assessoria de imprensa. A missão: divulgar o trabalho de seu cabeleireiro, “uma bicha vaidosa” como definiu, dono de um salão de bairro, o Pedrinhu’s Coiffeur. O nome bizarro, mistura do brega com o chique, me incomodou um pouco no início, mas superei o preconceito e aceitei a proposta.

Ao chegar, notei que o salão era bonito, organizado, com ares de alguma prosperidade.

- Meu sonho é dar uma entrevista para o Jô, disparou, logo de cara, o Pedrinho.

Conheci a história do salão, expliquei um pouco o trabalho de um assessor de imprensa e perguntei ao Pedrinho o que tornava seu salão especial, diferente dos demais.

- O nosso dia da noiva, naturalmente!

- Pedrinho, não sou especialista na área, mas acredito que dia da noiva tem em todo salão, não?

- Sim, querido, mas aqui a noiva fica muito mais bonita!

O salão não era freqüentado por celebridades, alguém de peso que ajudasse a “vender” a casa. O cabeleireiro falou apenas de uma moça de futuro promissor no mundo artístico, uma tal Gyslaynny Brasil. Mas hoje ela era apenas a sobrinha de uma dançarina gostosona de um grupo de pagode, além de rainha da bateria da Unidos de Piraporinha. Arrasaria no carnaval de Diadema este ano, segundo ele. A coisa tava difícil.

Expliquei ao Pedrinho que um bom trabalho de assessoria de imprensa tem como base o planejamento, com estratégias e um plano de ação bem definidos, tudo para fortalecer a imagem do salão e alavancar os negócios. Citei teóricos da comunicação empresarial e discorri sobre a importância de um relacionamento sustentável com a imprensa.

- Lindo, acho que você não entendeu. Me lixo para estratégias! Eu quero ficar famoso!

Mesmo desanimado com a situação, me comprometi a elaborar uma proposta de job para o Pedrinhu’s Coiffeur e, ao deixar o salão, tive uma nova surpresa.

- Duda, não sei se seu amigo lhe contou, mas não tenho dinheiro para pagar este trabalho. A crise tá pegando para todo mundo. Mas posso pagar em cortes de cabelo, por alguns meses. Aliás, você tá precisando dar uma modernizada nesse visual, né?

Pedrinho era uma bicha vaidosa. E extremamente mão-de-vaca!

9 comentários:

Anônimo disse...

Nossa...q furada...e eu axando ruim pq nem frila to conseguindo...

Érico San Juan disse...

Se dependesse desse tipo de trabalho, o Nestor passaria fome...!

Anônimo disse...

Pior eu que fiz o frila para um jornal GRANDE, paguei os impostos da nota como pessoa jurídica e três meses depois, N-A-D-A. Tá desanimando ser jornalista.

Paulo Henrique de Moura disse...

Ótimo texto. Me identifico muito com todos os seus textos. É bem o que acontece.
Acredito que você deva elaborar um livro daqui há algum tempo com todos eles.
Ps: atualmente também estou desempregado!
Jornalista!

Boa sorte para você e sucesso!

Abraço
hehe

Júlia Ourique disse...

Sabe, eu gosto do seu blog, tanto pq eu meio que imagino estas situações e quais seriam a minha reação ao passar por elas, e pelo lado humano do jornalista tambem. Mas, se tem uma coisa que tenho aprendido com este blog, sao as palavras novas... ja aprendi a palavra "foca" e agora "frila" heheh valeu Duda =)

Day Pinheiro disse...

Oooi...conheci teu blog pela comunidade do orkut...E já tô seguindo!
Tô no primeiro período de Jornalismo...Segundo mês, aliàs.
Mas sabe, eu tô pensando seriamente em desistir...rsrsrs
Amei o blog.

Anônimo disse...

Uma escreve "axando", outro "daqui há algum tempo". E nem desconfiam por que estão desempregados.

Anônimo disse...

Anônimo, é complicado, mesmo... além dessas observações, tem também a oração começada com pronome oblíquo "me".

Fábio F. disse...

UHAUHHUUAUHA

Filhadaputice!!! O pior é que, por mais apurado que seja o seu filtro 'anti-roubadas', não dá pra evitar esse tipo de job que visa grandes conquistas sem estrutura e com pouca (ou nenhuma) grana.

AUHUHAUHAUHAUH

Fodástico o blog. realmente igual a muita coisa que passo no meu dia-a-dia (sou antireforma ortográficas).

Abço