sexta-feira, 5 de março de 2010
O nosso pasquim
Ganhamos, na verdade, a oportunidade de aprender, na prática e por conta própria, o que é fazer jornalismo. Com muita improvisação, cuidávamos de todo o processo de criação, da pauta até a distribuição do jornal aos leitores, nossos amigos de curso. A diagramação era precária, feita com colagens em papel sulfite. As impressões não tinham cores. Nossa redação era flutuante – a mesa do bar ou até mesmo o fundão da sala de aula. Eu gostava das reuniões de pauta, regadas a cerveja e gargalhadas, um grandioso brainstorm de merdas.
A gente escrevia o que dava vontade. Não tinha rabo preso com ninguém. Certa vez, fizemos, com foto-montagem, um provocante ensaio sensual da professora de Sociologia, uma italiana chata de mais de 60 anos. Em outra, num trabalho de jornalismo erótico-investigativo, revelamos as perversões secretas do diretor da faculdade. Os bastidores sórdidos das festinhas das repúblicas de alunos também eram pauta certa. Tudo escrito com muita irreverência e criatividade, é claro.
Conquistamos fãs, que esperavam ansiosamente a impressão da edição seguinte, sem prazo definido para sair. O compromisso com os leitores nunca foi nosso forte. A periodicidade do jornal era a “sai quando der”. Conquistamos também desafetos entre a turma e olhares atravessados de alguns professores. Tudo bem que, às vezes, nossas palavras eram assustadoramente ácidas, mas, no geral, o pessoal levava aquilo numa boa.
Por mais que a realidade de um jornal de faculdade, feito por amigos, seja bem diferente da encontrada no mercado de trabalho, esta experiência empreendedora é fascinante. Acho que todos os estudantes de jornalismo deveriam criar as suas publicações, aproveitando as facilidades das novas tecnologias e o incontrolável desejo de jogar bosta no ventilador. O humor e a ironia nunca saem de moda e são formas inteligentes de denunciar as cagadas do homem. Vale a pena tentar!
4 comentários:
- Unknown disse...
-
Eu também tive um Pasquim na escola e fazia muito sucesso. A coluna mais legal era "Quem está na seca"... hehe
- 5 de março de 2010 às 11:09
- Juliana Tavares disse...
-
Um Pasquim na minha sala da facul seria muito interessante. Principalmente quando algum elemento faz uma revelação bombástica sobre ele sem querer rsrs
- 5 de março de 2010 às 12:59
- Cunha disse...
-
Ainda não to na faculdade, mas no ensino médio tentei propor aos colegas de criar um jornal, mas ninguém queria, eles tavam todos alienados em estudar para o vestibular da UFRGS.
Ah, me identifiquei muito com esse trecho "Eu gostava das reuniões de pauta, regadas a cerveja e gargalhadas, um grandioso brainstorm de merdas." ano passado fiz um curso tecnico de publicidade e eu fazia o papel de atendimento e redator na nossa agencia experimental. Quando nos reuniamos para pensar nas criações para os clientes (clientes reais) eram sempre em bares, botecos ou lancherias. E por incrivel que pareça, tivemos poucos problemas de clientes que não gostaram de primeira, mas no final todos gostaram e nós concluímos o curso. :D
e mais uma vez, parabéns pelo teu blog, simplesmente ótimo! - 6 de março de 2010 às 11:38
- Duda Rangel disse...
-
Derla, quer dizer que você sacaneava quem não comia ninguém? Fiquei orgulhoso de você.
Juliana, vamos colocar estas revelações bombásticas no papel, hein? Ou num template!
AC., o brainstorm de boteco costuma ser mais eficiente mesmo!
Grato pelas mensagens. Abraços do Duda. - 14 de março de 2010 às 18:29