quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Divã


Pode parecer maluquice minha, doutor, ou melhor, é maluquice, sim, caso contrário eu não estaria aqui. Se não fossem as maluquices, aliás, imagino que nem o senhor estaria aqui. Como eu posso descrever o meu problema? Bem, eu não consigo folgar. Isso mesmo, eu não consigo aproveitar um dia de folga. Tenho um bloqueio, entro em pânico, sabe? Eu sou jornalista e um ser humano que é jornalista trabalha muito, quase não tem fim de semana, feriados, não viaja com os amigos, não comemora aniversário de ninguém. Até aí tudo muito normal. Acho que o meu trauma começou num dia específico. Eu estava trabalhando havia uns 40 dias sem folga quando o meu editor chegou para mim quase no fim da noite e disse: “Amanhã, você terá um dia de descanso. Sortudo, hein?”. Esse amanhã era uma quinta-feira. Foi uma coisa, assim, tão repentina que eu fiquei assustado, meio paralisado. Como aproveitar uma quinta-feira de folga quando se sabe disso numa quarta-feira às 11 horas da noite? Alguém estaria disposto a ir comigo a uma sessão de cinema às 2 da tarde de uma quinta-feira? Claro que não, porque nesse dia estão todos trabalhando. Você não tem companhia para fazer programa algum! Eu liguei para a assistência técnica para consertar a minha lavadora de roupas e sabe o que a menina me respondeu? “Nosso prazo para poder estar agendando uma visita é de 48 horas, senhor”. Mas na sexta-feira eu já voltei ao trabalho. Nem comer pastel na feira eu consegui, porque a feira no meu bairro é de quarta e sábado. Como meu carro estava quebrado e eu estava sem tempo de ir a um mecânico – que levaria umas 72 horas para "estar resolvendo" o problema –, não pude sequer sair pela cidade em busca de uma feira. Doutor, desde esse fatídico dia, minha vida mudou. Morro de medo de receber uma folga inesperada na véspera, sem a chance de me programar, de aproveitar o dia livre. Eu não consigo mais relaxar quando não estou trabalhando, mesmo quando o descanso é aos sábados ou domingos. O senhor acha isso normal? Claro que não! Doutor, o meu caso é grave? Me diga, por favor, o meu caso é grave? Doutor, o senhor não está dormindo, está? Doutor? Doutor?

8 comentários:

Mariana Serafini disse...

hahahahahahaha
COMO ENCONTRAR ALGUÉM PARA UM PROGRAMA LEGAL NA QUINTA-FEIRA A TARDE?!

o editor poderia pelo menos ter avisado da folga na quarta de manhã, néh! daria tempo pra convidar um amigo!

adoro seus textos, Duda!
quando crescer quer ser uma jornalista assim, como você!

hsushushsushsu

A Viajante disse...

Faz assim, Duda...nos dias de folga não planejados, escreva muito, por aqui...o seu divã é aqui!! Ou então, faz "piseiro" nos blogs dos seus seguidores...Beijinhos

Unknown disse...

Nossa Duda você é muito bobo. Mas, há duas semanas quando folguei na sexta não tinha ninguém parar ir ao cinema...

Alícia disse...

Super me identifiquei!
Abraço

Duda Rangel disse...

Mariana, quando crescer, você quer mesmo ser uma jornalista como eu? Não esqueça que estou desempregado e cheio de dívidas!
A viajante, o bom de fazer do blog o meu divã é que não preciso pagar pela terapia.
Derla, também ficou sem companhia para o cinema? Numa sexta? Ô dó!
Alícia, esta é uma neura de muitos jornalistas. Não estamos sós!
Beijos a todas.

Anônimo disse...

Ser jornalista é isso. Deveria ter isso na ementa do curso quando me matriculei. Além de não ter folga, não sei o que significa férias.

Excelente blog, acompanho sempre!

Duda Rangel disse...

Oi, Jéssica. Valeu pelo comentário e parabéns pelo teu blog. Beijo.

Anônimo disse...

Minha quinta-feira de folga, era meu aniversário... E é isso mesmo, comemorei sozinha durante o dia e, comemorei com pessoas somente à noite...rs