segunda-feira, 16 de maio de 2011
Sete sintomas da pobreza de um jornalista
1. Ir a um encontro romântico, ostentando o jabá recebido dias antes numa coletiva para a imprensa. Tudo bem que o restaurante não é nenhum francês bacanérrimo, mas é muito decepcionante para uma mulher jantar com um homem – ela chegou até a imaginar que ele poderia ser o futuro pai de seus filhos – que veste uma camisa pólo azul-cafona com os dizeres “Tubos e Conexões Tigre”.
2. Embolsar o dinheiro do táxi e seguir para a pauta de ônibus. Lotado, claro. Além de poder chegar atrasado ao local da reportagem, o jornalista ficará com a roupa toda amassada e também poderá perder o gravador e o bloquinho de anotações no trajeto. Se o motorista do ônibus for daqueles que dão uma freada brusca antes de parar em cada ponto, há ainda o risco de uma gravidez indesejada.
3. Ir a uma coletiva de imprensa que não despertou o menor interesse do jornal apenas para filar o almoço. O jornalista finge que prestou atenção na entrevista, finge para o assessor de imprensa que vai dar um espaço legal para o assunto na edição do dia seguinte e devora o filé mignon ao molho madeira sem qualquer outro fingimento.
4. Pedir para o garçom do almoço acima preparar uma quentinha que o jornalista finge que vai levar ao motorista. É um dos sintomas mais tristes da pobreza. Na verdade, será o jantar do jornalista naquela mesma noite.
5. Participar de uma entrevista concorrida, cheia de empurra-empurra, com dois microfones e um gravador nas mãos. O repórter de rádio/TV/internet chega a lembrar um daqueles deuses hindus que têm um monte de braços. Faz malabarismos para conseguir captar o áudio. Se falhar, pode perder um de seus três empregos. Ah, ele tem também um quarto trabalho, um bico como assessor de imprensa na prefeitura.
6. Levar o filho, que mora com a ex-mulher, ao cinema para assistir ao filme “O Guerreiro Didi e a Ninja Lili”, com um par de ingressos que estava esquecido numa mesa da redação. Ao fim do filme, o filho, que já tem uns 15 anos, vai dizer ao pai: “Da próxima vez, a gente poderia ver X-Men ou, sei lá, pai, um filme em 3D?”.
7. Ficar do lado de fora de um evento chique, de artistas ou políticos, e tentar descolar comida e bebida com um segurança da casa. O grupo é liderado por um fotógrafo desinibido – aliás, fotógrafos são todos desinibidos –, que faz a negociação com o segurança. Quando enfim chegam os salgadinhos gelados e o prosecco sem gás, os jornalistas disputam os restos numa cena comovente e chocante, digna de ser registrada pelas lentes de Sebastião Salgado.
17 comentários:
- Blog da Ronilma Santos disse...
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Ufa.. pensei que eu era pobre! Mas ainda não sinto nenhum dos sintomas citados.
De tantos males dos jornalistas, me livrei desse, mas acho que esses são 7 de 100 sintomas. - 16 de maio de 2011 às 10:49
- Jessica Riegg disse...
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Faltou só o: pegar o ingresso daquele show chato que você ganhou só porque fez a matéria e vender para ganhar um a mais, já que o salário está atrasado há mais de um mês.
- 16 de maio de 2011 às 11:10
- Debora de Lucas disse...
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Mais uma vez muito bom. Graças a Deus eu ainda não cheguei a esse nível!!!
- 16 de maio de 2011 às 11:23
- TPM disse...
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Ui... To quase pobre... srsrs
- 16 de maio de 2011 às 18:52
- 100 Comunicação disse...
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Cara, parabéns, o seu blog é mto bom. Já sou um seguidor e coloquei um link do Desilusões lá no meu blog (100comunicacao@blogspot.com), que apresenta os bastidores da imprensa de uma forma bem humorada. Aliás, eu pretendo reproduzir alguns textos seus lá tb, obviamente com so devidos créditos, se vc me permitir. Parabéns mais uma vez!!!
- 17 de maio de 2011 às 11:16
- Duda Rangel disse...
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Infelizmente, estes são apenas sete sintomas. Tem mais um monte por aí. Mas o que importa é que temos saúde. Ronaldo, com crédito, tá liberado...rs. Sucesso com o blog.
Abraços a todos. - 21 de maio de 2011 às 20:44
- Luciana Martinez disse...
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kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... ainda rindo. Que horrível!
- 25 de maio de 2011 às 10:54
- Eliane Santos disse...
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Estou rindo até agora! Muito engraçado! rsrsrs
- 31 de maio de 2011 às 14:42
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vida dura! muito bom
- 7 de junho de 2011 às 19:52
- Roberta Trindade disse...
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HAHAHAHAHAHA
Rindo enquanto espero a diagramação acabar o trabalho dela para eu recomeçar o meu... rs rs - 7 de junho de 2011 às 20:29
- Duda Rangel disse...
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Xico, valeu, meu caro.
Luciana, Eliane e Roberta, apesar de todas as desgraças, rir ainda é a melhor saída.
Abraços a todos. - 13 de junho de 2011 às 22:48
- Jean Rio Negrinho disse...
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Aquele lance do almoço eu já fiz kkkk, na real era café da manhã
- 11 de janeiro de 2012 às 16:09
- Ricardo Welbert disse...
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"[...] jornalistas disputam os restos numa cena comovente e chocante, digna de ser registrada pelas lentes de Sebastião Salgado". HAHAHA! Excelente fechamento! Ri alto!
- 11 de janeiro de 2012 às 17:31
- Duda Rangel disse...
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Jean, às vezes, não há mal em fazer uma boquinha por aí.
Ricardo, valeu pela mensagem.
Abraços. - 12 de janeiro de 2012 às 13:19
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Fiquei deprimida.
- 26 de junho de 2012 às 16:08
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eu, 13 anos, sexo feminino, filha de jornalistas separados que moram juntos (veja bem a pobreza) sei bem o que é isso. E pior: quero seguir a profissao. Também sou Duda e cheia de duda (seja de espanhol ou na vida) Mas filho de peixe, peixinho é, e mesmo com todas essas coisas que voce coloca no seu blog voce ainda continua na profissao, é que ela vale muuito! E a parte do ingresso é legal, porque lá dentro voce pode seguir pra qualquer sala e assistir qualquer filme..huehuehuehue.
Muito bom! - 26 de junho de 2012 às 16:41
- Duda Rangel disse...
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Oi, Duda, cheia de duda. Vale muito, sim. Obrigado pela mensagem. Beijos.
- 28 de junho de 2012 às 20:41