Tem quem fale que repórter ingênuo devia nascer morto.
Sexta-feira à noite, véspera de minha folga, e o editor vem cheio de graça. Ô, Duda, você tem alguma coisa programada pro fim de semana? Só os ingênuos dizem “não, não tenho”. Se não tem, invente! Diga qualquer coisa. Diga que está rolando um ciclo de filmes romenos mudos imperdível, que você vai pegar um bronze numa praia qualquer – logo você que odeia sol. E praia.
É comum também, após um passaralho, o patrão reunir os repórteres sobreviventes e avisar que, por ora, as vagas estão congeladas e que todos deverão se esforçar mais, trabalhar pelos colegas demitidos. Mas é só por um tempo! Depois as vagas serão descongeladas. Tem repórter que acredita. Descongelam porra nenhuma! Tenho vontade é de congelar o patrão no freezer lá de casa. Em partes. Cabeça, mãos, vísceras, tudo embalado a vácuo.
Tem repórter que enche a boca para dizer que trabalha na grande imprensa, que é independente, sem o rabicó preso. Quanta ingenuidade! Alguns acreditam ser insubstituíveis numa redação. Quando eu sair, essa merda afunda. Mas merda não afunda, seu bobinho! Virão outros, ganhando um salário ainda menor. E o barco seguirá seu rumo.
Ingenuidade não combina com o trabalho de repórter. Desconfie de tudo e de todos, dos Malufs e Sarneys, da tal gente de bem, dos projetos artísticos de ex-BBB, dos releases infestados de superlativos. Desconfie até do que se vê com os próprios olhos.
Repórter tem que ser como puta velha, sabida das coisas da vida.