CENA INTERNA
Estão todos na sala – a mãe, o pai, o irmão caçula, o avô, a tia estranha, a vizinha invejosa – para acompanhar a primeira entrevista da Paulinha na TV. Clima de final de Copa do Mundo.
A vizinha invejosa: deve ser meio chato trabalhar nesse tal Canal do Boi, né?
O pai: pior se ela trabalhasse no TV Fama.
A vizinha invejosa: pior nada, melhor. Ela estaria entrevistando artista e não boi.
A mãe: a Paulinha não entrevista boi. Ela vai entrevistar o...
O pai: veterinário.
A mãe: isso, o veterinário. Ele é doutor.
O irmão caçula: mãe, o vovô dormiu.
A mãe: pai, acorda. É a primeira entrevista da sua neta na TV.
O irmão caçula: o vovô não acorda fácil.
A mãe: paaaaaai!!!
O avô (acordando): já acabou?
O pai: vai começar.
A mãe: será que fizeram uma escova boa nela?
O pai: será que vai dar uma daquelas crises de pânico nela?
O avô: será que ela vai dizer que foi o avô que a incentivou a estudar jornalismo?
O pai: não, seu Jacinto, é uma entrevista com um veterinário. Não é arquivo confidencial do Faustão.
A mãe: silêncio, gente.
A vizinha invejosa: já tá começando a chover. Acho que a Sky vai sair do ar.
A mãe: que sair do ar, nada! Vira essa boca pra lá.
O irmão caçula: vô, abre o olho.
O avô: eu não tô dormindo, Pedrinho.
O pai: começou!
Silêncio.
A mãe: como ela tá linda.
A tia estranha: é sobre o que mesmo o assunto?
Todos: xiiiiiiiiii!
Um minuto e 17 segundos depois.
A vizinha invejosa: mas já acabou?
O pai: é assim mesmo. Hoje tá tudo muito moderno e rápido.
A mãe: ai, gente, que orgulho da Paulinha. Vocês viram como ela falou bonito, como ela segurava o microfone bonito?
O pai: e ela não teve nenhum branco.
A mãe: foi perfeita. Ai, gente, até chorei.
A vizinha invejosa: eu gostei do veterinário. Bonitão. Cara de safado também. Vai dar em cima da Paulinha, com certeza.
A tia estranha: alguém pode me responder sobre o que era o assunto?
O pai: tia Néia, sobre novas técnicas de inseminação para o gado nelore.
A tia estranha: credo.
A mãe: um dia essa menina ainda vai tá entrevistando presidente do Brasil na Globo!
O irmão caçula: agora o senhor já pode dormir, vô.
O avô: minha neta tava linda, como eu sempre sonhei.
A mãe: Pedrinho, vai lá na lavanderia e solta o Bonner.
O pai: você prendeu o Bonner na lavanderia? Que a Paulinha não saiba disso!
A mãe: amor, o Bonner ia ficar aqui latindo a entrevista inteira.
A vizinha invejosa: deixa eu voltar pra minha casa, gente, que já vai começar o TV Fama.
O clima ainda é de grande comoção na sala. A chuva aumenta. A Sky sai do ar.
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014
terça-feira, 16 de setembro de 2014
O Mito da Bancada do Jornal Nacional
Havia dois cargos que ninguém abria mão de jeito algum: de papa e de apresentador do Jornal Nacional. Os tempos mudaram.
Em agosto, numa conversa com a imprensa, Francisco admitiu a chance de pedir pra sair num futuro próximo, repetindo gesto de Bento XVI. Patrícia Poeta durou apenas três anos na bancada do JN e já está livre, leve e solta para fazer comercial de linguiça.
Cargos que representavam poder, credibilidade e até devoção entraram em crise. Chama o psiquiatra, já previa o cineasta italiano Nanni Moretti.
Apresentar o Jornal Nacional tem sido, há muito tempo, o sonho de consumo-mor de tantos e tantos estudantes de jornalismo. E agora? Sim, agora chegou a difícil hora de explicar às futuras Fátimas e Poetas que vovó não saiu de férias. Vovó morreu.
Mas vislumbrar um novo mundo fora da caverna, ou melhor, fora da bancada do Jornal Nacional é libertador.
Logo, logo, ao perguntar a um jovem jornalista “o que você espera para seu futuro?”, ele não vai mais dizer “apresentar o Jornal Nacional”. Ele vai responder: “quando crescer, quero apresentar o meu próprio programa de entretenimento ou o meu próprio reality show”. E, claro, fazer comercial de linguiça. Putz, fodeu!
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Em agosto, numa conversa com a imprensa, Francisco admitiu a chance de pedir pra sair num futuro próximo, repetindo gesto de Bento XVI. Patrícia Poeta durou apenas três anos na bancada do JN e já está livre, leve e solta para fazer comercial de linguiça.
Cargos que representavam poder, credibilidade e até devoção entraram em crise. Chama o psiquiatra, já previa o cineasta italiano Nanni Moretti.
Apresentar o Jornal Nacional tem sido, há muito tempo, o sonho de consumo-mor de tantos e tantos estudantes de jornalismo. E agora? Sim, agora chegou a difícil hora de explicar às futuras Fátimas e Poetas que vovó não saiu de férias. Vovó morreu.
Mas vislumbrar um novo mundo fora da caverna, ou melhor, fora da bancada do Jornal Nacional é libertador.
Logo, logo, ao perguntar a um jovem jornalista “o que você espera para seu futuro?”, ele não vai mais dizer “apresentar o Jornal Nacional”. Ele vai responder: “quando crescer, quero apresentar o meu próprio programa de entretenimento ou o meu próprio reality show”. E, claro, fazer comercial de linguiça. Putz, fodeu!
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quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Se o povo de A Grande Família fosse jornalista
A exemplo de diversos jornais impressos, A Grande Família também fechou. Ou foi descontinuada, como dizem por aí. Uma homenagem aos personagens-jornalistas desempregados.
Agostinho – é o repórter que inventa declaração da fonte, que dá carteirada em evento pra não pagar.
Tuco – é o filho jornalista largadão que só quer ficar em casa escrevendo seu blog. Trabalhar que é bom, nada.
Dona Nenê – é a editora mãezona da redação cheia de focas.
Lineu – é o editor que adora fiscalizar o texto dos outros, pra ver a validade da matéria, pra checar se rola alguma crase errada.
Paulão da Regulagem – é o jornalista que, apesar de já ser jornalista, ainda não aprendeu o Português. Sofre com o editor “Irineu”, injustiça seja feita.
Seu Floriano – é o saudoso jornalista investigativo.
Bebel – é a repórter que chora quando a pauta cai, chora quando perde a folga no domingo, chora quando recebe o salário.
Mendonça – é o editor-chefe maluco cachaceiro das antigas.
Marilda – é a repórter que, prevendo que o jornal afundaria, pula fora antes disso e se torna uma assessora de imprensa de sucesso em outra redação.
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Dona Nenê – é a editora mãezona da redação cheia de focas.
Lineu – é o editor que adora fiscalizar o texto dos outros, pra ver a validade da matéria, pra checar se rola alguma crase errada.
Paulão da Regulagem – é o jornalista que, apesar de já ser jornalista, ainda não aprendeu o Português. Sofre com o editor “Irineu”, injustiça seja feita.
Seu Floriano – é o saudoso jornalista investigativo.
Bebel – é a repórter que chora quando a pauta cai, chora quando perde a folga no domingo, chora quando recebe o salário.
Mendonça – é o editor-chefe maluco cachaceiro das antigas.
Marilda – é a repórter que, prevendo que o jornal afundaria, pula fora antes disso e se torna uma assessora de imprensa de sucesso em outra redação.
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quarta-feira, 3 de setembro de 2014
O perfil do jornalista brasileiro
2 de cada 3 jornalistas que lamentam a provável extinção do jornal impresso não têm o hábito de ler jornal impresso.
43% dos jornalistas passam mais tempo na frente do computador do que com seus namorados. Os outros 57% estão encalhados.
O Facebook é o principal meio para o jornalista bisbilhotar a vida alheia com a desculpa de estar em busca de pautas interessantes.
7 em cada 10 assessores de imprensa ficam indignados quando alguém diz que assessor não é jornalista. Os demais resolvem a questão na porrada.
De cada 10 jornalistas, 11 reclamam da vida pra cacete.
99% dos jornalistas ainda têm que explicar pra tia que, apesar de serem jornalistas, não trabalham na Globo.
Pizza requentada é o prato mais consumido no almoço por quem trabalha em casa. Em seguida vem o miojo sabor galinha caipira.
De cada 10 jornalistas culturais rotulados de gays em fofocas de mesa de bar, 4 são heterossexuais apesar de não parecerem, 3 são gays enrustidos e 3 são tão donos dos respectivos cus que não têm vergonha de assumir o que fazem com os respectivos cus.
Enquanto 76% dos jornalistas vivem sem um plano de carreira, apenas 2% conseguem viver sem um telefone celular.
De cada 5 mulheres jornalistas, 3 pensam em trocar o emprego por um marido igual ao da Ticiana Villas Boas.
O jornalista do século 21 cria a pauta, vai atrás das fontes, é motorista, apura, checa, escreve, revisa, vende Natura, edita texto, põe título, subtítulo, legenda, vende ovo de Páscoa, faz foto, trata imagem, filma, edita vídeo, joga na Mega-Sena, sobe arquivo no site, fecha matéria e, nas horas vagas, faz um monte de frila.
O jornalista do século 21, acreditem, também trepa.
88% dos jornalistas garantem que, a partir da próxima segunda-feira, vão começar a cuidar mais da saúde.
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7 em cada 10 assessores de imprensa ficam indignados quando alguém diz que assessor não é jornalista. Os demais resolvem a questão na porrada.
De cada 10 jornalistas, 11 reclamam da vida pra cacete.
99% dos jornalistas ainda têm que explicar pra tia que, apesar de serem jornalistas, não trabalham na Globo.
Pizza requentada é o prato mais consumido no almoço por quem trabalha em casa. Em seguida vem o miojo sabor galinha caipira.
De cada 10 jornalistas culturais rotulados de gays em fofocas de mesa de bar, 4 são heterossexuais apesar de não parecerem, 3 são gays enrustidos e 3 são tão donos dos respectivos cus que não têm vergonha de assumir o que fazem com os respectivos cus.
Enquanto 76% dos jornalistas vivem sem um plano de carreira, apenas 2% conseguem viver sem um telefone celular.
De cada 5 mulheres jornalistas, 3 pensam em trocar o emprego por um marido igual ao da Ticiana Villas Boas.
O jornalista do século 21 cria a pauta, vai atrás das fontes, é motorista, apura, checa, escreve, revisa, vende Natura, edita texto, põe título, subtítulo, legenda, vende ovo de Páscoa, faz foto, trata imagem, filma, edita vídeo, joga na Mega-Sena, sobe arquivo no site, fecha matéria e, nas horas vagas, faz um monte de frila.
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