sexta-feira, 30 de julho de 2010

As mentiras que os jornalistas contam


Fique tranqüilo que, se você está me dizendo que é off, a gente não vai publicar.

Sabe aquela foca gostosa, a namoradinha do editor-executivo? Então, comi ontem.

Já decidi: vou parar de beber, de comer porcaria e começar a cuidar mais da minha saúde.

Faz o seguinte: manda o release pro meu e-mail que depois eu leio com calma, ok?

Meu amigo, eu tô trabalhando. Você acha que eu sou o tipo que fica dando carteirada por aí?

Eu não trabalho num jornaleco que se vende por qualquer anúncio. Eu sou da grande imprensa. Temos independência.

Não vejo a hora de abandonar essa profissão ingrata. Como eu odeio o jornalismo!

E as mentiras que os jornalistas ouvem
Finalmente o jornal decidiu que vai ter um plano de carreira para vocês, meus caros jornalistas. Aguardem!

Meu bem, é claro que eu não me importo de você trabalhar até as quatro da manhã. Te espero ansiosamente em nossa cama, tá?

Querido, olha, a pauta é ótima, superinédita. Eu tô mandando o release só para vocês, viu?

Futuros jornalistas, percebam como é nobre a nossa profissão. Vocês têm a chance de mudar o mundo!

Aqui, na nossa agência de assessoria de imprensa, você só vai atender um ou, no máximo, dois clientes. O trabalho é bem fácil.

O doutor acabou de entrar em outra reunião, ainda mais urgente, e não vai poder te dar a entrevista agora.

Paulo Maluf não tem nem nunca teve conta no exterior.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Procurados


Você conhece o paradeiro dos jornalistas abaixo? São criminosos que ameaçam a qualidade da imprensa brasileira. Se souber de alguma informação, denuncie!

Gilberto Fonseca ou “Professor” – Conhecido por ser um assassino da Língua Portuguesa. Ao escrever, comete crimes com requintes de crueldade, do tipo “excessão” e “haviam menas coisas”. É acusado de um homicídio triplamente qualificado em uma matéria de política, quando separou o sujeito do predicado com vírgula, colocou crase antes de masculino e esculachou uma regência verbal. Para a polícia, ele é um foragido. Há quem garanta que Gilberto trabalhe atualmente como assessor de imprensa e professor de Português da vidente Mãe Dinah. É um homem perigoso, que costuma usar em seus textos expressões de efeito, como “a nível de” e “haja visto”, para impressionar leitores.

Vera Oliveira ou “Verinha Pauta Louca” – Jornalista acusada de comandar uma rede nacional de tráfico de pautas de baixíssimo nível de qualidade. De seu esconderijo, ela abastece grandes veículos de comunicação. É apontada como a principal fornecedora de pautas sobre dramalhões de subcelebridades e futilidades em geral para diversos programas da TV aberta. Muitos pauteiros e repórteres, em crise de criatividade, tornam-se dependentes de suas sugestões. A criminosa usa assessores de imprensa decadentes para levar a droga jornalística às redações. Comenta-se que foi Verinha quem descobriu a lista de ex-amantes do goleiro do Flamengo Bruno.

José Carlos Pereira ou “Zé Barriga” – É investigado em vários inquéritos por atentar contra a credibilidade da informação jornalística. É famoso por grandes barrigas da imprensa brasileira. Certa vez, revelou, em primeira mão, a morte de um importante escritor que estava vivo. Em outra, divulgou a queda de um avião, quando, na verdade, tratava-se de um incêndio numa favela. Publica notícias sem checar sua veracidade de forma premeditada. Como não consegue mais emprego em lugar algum, vive hoje na clandestinidade. É um terrorista da informação. Cria perfis falsos no Twitter e alimenta uma máfia de repórteres ávidos pelo “furo” a qualquer custo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O deputado, a sogra e a cabeça do repórter



Deputado influente fala com seu assessor

Entendeu o que eu te pedi? Quero que você ligue agora para o editor do jornal e peça para ele demitir aquele repórter irresponsável. Onde se viu escrever que minha sogra tá empregada lá no gabinete, recebe salário e não aparece para trabalhar? Tudo bem que é verdade, mas que direito esse reporterzinho de merda tem de publicar isso? Deixa a velha sossegada, porra! Cadê o respeito com a terceira idade? Mas esse repórter, que é um moleque, vai se dar mal. Vai aprender a não se meter mais comigo! E, outra coisa: não esquece de lembrar o editor que o dono da bosta daquele jornal é meu amigo há muitos anos, que tomamos uísque juntos. E fala grosso, viu? Diz assim: “O deputado tá muito puto com a safadeza desse repórter”.

Assessor fala com o editor do jornal

Tudo bem? Então, é sobre a matéria que saiu sobre a sogra do deputado. Na verdade, o deputado ficou um pouco magoado com o que o seu repórter escreveu. Todos sabem que o deputado sempre foi preocupado com a ética, sempre combateu o nepotismo e agora esse rapaz escreve isso, você entende? E, além de tudo, envolveu a sogra do deputado, que é uma senhora. Eu sei que pode ter sido uma infelicidade do repórter, que ainda é muito jovem, mas o deputado gostaria muito que você desligasse esse jornalista da empresa. Parece que o deputado é amigo do dono do seu jornal, acho que até tomam uísque juntos. É mais para não ferir a amizade que eles têm. Acho que você me entende, não?

FINAL FELIZ

Editor do jornal fala com o repórter


Sabe quem me ligou agora há pouco? O assessor do deputado da sogra. Acredita que o desgraçado do deputado pediu a tua cabeça? Filho-da-puta! Ele acha que é só ligar, dizer que não gostou da matéria e a gente vai mandando pra rua. Queria que você soubesse desta história. Pode ficar tranqüilo que você continua em nossa equipe. Confio no seu trabalho e no seu potencial. Ah, e o assessor veio até com um papinho furado de que o deputado e o dono do jornal são amigos, que tomam uísque juntos. Babacas.

FINAL INFELIZ

Editor do jornal fala com o repórter


Opa, tudo bom? Sabe aquela matéria que você escreveu sobre o deputado que emprega a sogra no gabinete e que a sogra não aparece para trabalhar? Então, parece que você cometeu um equívoco na apuração e desagradou a muita gente. O deputado não gostou, o dono do jornal também. A sogra, que é velha, passou mal. Meu caro, jornalismo é coisa séria. Tem de ter muito cuidado com o que se escreve para não prejudicar ninguém. Mas você é muito jovem ainda, tem muito tempo para aprender... Bom, o departamento pessoal fica no segundo andar, ok? Passa lá. Ah, e não se esqueça de esvaziar a sua gaveta.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tipos manjados da grande imprensa paulistana


Gerson, 48 anos, editor-assistente de Política, pensão alimentícia dos filhos sempre atrasada, mora sozinho, bebe pra caralho, filósofo de botequim, viciado em peep-shows, quadrinhos marginais e nas estagiárias novas da redação. Recusa-se a fazer o exame da próstata, porque tem certeza que só poderá morrer de cirrose. É simpático, amigo de todos, principalmente dos que emprestam um dinheirinho a ele de vez em quando.

Vaninha, 25 anos, fotógrafa, lésbica. Feminista nas horas vagas. Trabalha em hard news, mas faz bicos em casamentos e festas de formatura. Aprecia artes plásticas, Lady Gaga e um baseadinho. Para os colegas de redação, diz que namora um arquiteto; para os amigos íntimos, confessa que está saindo com sua professora de espanhol. Não saberia viver sem o seu colete cheio de bolsos. Sua maior vaidade é depilar o buço.

Luís, 23 anos, foca, ex-trotskista, barbudo, usa All Star e camisa xadrez. Divide o apê em Pinheiros com a namorada para ficar mais em conta. Nas folgas, adora tomar café da manhã ao meio-dia na padoca, sozinho, pão com manteiga na chapa, fica a observar o movimento. Visita sebos e as lojas de instrumentos musicais do bairro. Blasfema contra os poderosos detentores do capital, mas sempre pede uma grana pro pai para inteirar as contas do mês.

Rodolfo, 34 anos, redator de Internacional, solitário. Fala cinco idiomas, apreciador de literatura russa e de livros sobre como conquistar as mulheres. Jeitão de maníaco sexual. Tem fetiche por pés e mãos. Onanista. Obeso e sedentário. Já quase perdeu um pulmão por causa do cigarro. “Viajou” o mundo inteiro pela AP e pela Reuters. Orgulha-se de saber as capitais de todos os países.

Márcia, 42 anos, repórter econômica, divorciada, três filhos. Após muito quebrar a cara, hoje sente-se madura. Faz terapia há uns 15 anos e, vez ou outra, ainda toma um remedinho para relaxar. É espiritualizada, faz trabalho voluntário e adora viajar. Suas próximas férias serão em Londres. Crê que conhecerá sua grande paixão, um charmoso e milionário jogador de pólo paquistanês. Se não rolar, já ficará feliz com um taxista indiano.

Carlinhos, 40 anos, repórter de Geral. É o palhaço da redação. Adora contar piadas e “causos” da imprensa. Imita com perfeição os trejeitos de seu editor. Anima as noites sonolentas do pescoção. É o cara que coloca apelido nos colegas de trabalho. Gosta de sacanear todo mundo. Só fica puto quando é sacaneado pelos outros. Vive sempre de bom humor. Não reclama da vida. Nem parece jornalista.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A vaidade do entrevistado


Janice estava ansiosa para saber se tinha ficado bem na foto. Morria de medo de parecer feia, velha, gorda. O texto não importava tanto, mas a foto era essencial. Deveria ligar ou não? Se ligasse, poderia bancar a chata. E detestava ser desagradável. Não, não ligaria. Mas, analisando por um outro lado, se ligasse, sossegaria o espírito. Pegou o celular.

- Oi, Pablo, tudo bem? É a Janice.

- Janice?

- É, Janice. Nos falamos anteontem. Lembra?

- Na Rua Augusta? Sim, você é a menina da minissaia dourada, coxa grossa...

- Nããão! Eu sou a fisioterapeuta. Fui indicada pela minha amiga Andréa, que trabalha com você. Você me entrevistou para a matéria sobre mulheres que, após o fim do casamento, recorrem à companhia de animais de estimação para superar o trauma.

Pablo ficou constrangido com a confusão, mas logo retomou a conversa.

- Sim, sim, Janice, claro, a que conversa com os cinco poodles que tem no apartamento.

- Exatamente, Pablo! Todas as tardes. Eles são os meus queridos!

- Em que posso ajudá-la, Janice?

- Então, eu sei que devo parecer chata, mas eu queria saber quando vai ser publicada a reportagem. Eu comprei o jornal de ontem, o de hoje e notei que não saiu nada.

- Janice, deixa eu te explicar uma coisa: jornal é meio maluco. A gente nunca sabe quando algumas matérias vão sair, principalmente as matérias frias.

Pablo aconselhou Janice a comprar as edições dos dias seguintes até encontrar a matéria e tratou logo de encerrar o papo.

Janice não gostou da conversa. Sentiu-se uma idiota. Não devia mesmo ter ligado. Ficou ainda mais ansiosa. E, além de tudo, foi confundida com uma puta brega da Augusta. E essa história de comprar o jornal todo dia? É estratégia de marketing, com certeza. Esses caras fazem de tudo para vender jornal.

Mesmo indignada com a imprensa escrota que ilude pessoas de bem como ela só para comprarem jornal por toda a eternidade, Janice garantiu a edição do dia seguinte e dos dias seguintes ao seguinte. E nada. Sentia-se um lixo. A foto dela deveria ter ficado uma merda. Sim, eles resolveram jogar a matéria no lixo porque a foto ficou uma merda. Foi exatamente um dia antes de ela retocar a marroquina. Deveria ligar para o jornal e oferecer uma imagem de seus álbuns particulares? Poderia escolher a melhor de todas, uma bem bonitona, com cabelos escovados, em alta resolução. Sim, mandaria a foto da viagem que fez para Serra Negra, com um dos poodles. Mas depois mudou de idéia. Pareceria ainda mais idiota. Era melhor esquecer essa bobagem toda.

Justamente na manhã seguinte, em que não correu feito louca até a banca, acordou com uma mensagem em sua secretária eletrônica. Era uma amiga, perguntando se a Janice de Souza que apareceu na matéria do jornal era ela mesma. Claro que era ela. Será que ficou tão irreconhecível assim na foto? Apressou-se em chegar ao jornaleiro. Lá, pegou um exemplar em exposição, procurou o caderno, a página, a matéria. Jogou o resto no chão.

Cadê a foto? À “fisioterapeuta Janice de Souza, 44 anos” – “43, porra!” – foram reservadas poucas linhas. E nenhuma foto. Havia fotos de outras duas personagens, uma loira gostosona com um golden retriever e uma morena gostosona com um gato siamês. Mas nenhuma dela. Soltou o resto do jornal que estava em suas mãos no chão e foi embora, chorando. Naquela tarde, não conversou com os poodles.


Leia também: "A mentira que a vaidade do jornalista quer"

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Aos 45 do segundo tempo


Naquele dia, o repórter chegou cedo ao trabalho, antes mesmo dos pauteiros. A única TV ligada exibia o Bom Dia Brasil, com os empolgantes comentários de Miriam Leitão. Viu a redação acordar. Os colegas aparecendo, um a um. Os computadores sendo ligados. O silêncio indo embora, a cada nova conversa, com o barulho dos telefones, ao som dos teclados. Precisava escrever uma matéria especial para o fim de semana, além da pauta do dia. Trabalhou pra cacete. Mal teve tempo de fofocar no fumódromo.

Seu único consolo era que, naquela noite, sairia com a mulher para celebrar o primeiro aniversário de casamento. Tinha até reservado uma suíte chique de motel, do tipo que tem piscina aquecida com cascata, puff erótico e teto solar, ideal para destruir as finanças de um jornalista. Amava a mulher. Mas, no final da tarde, quando já se aprontava para escapar da redação, ouviu uma terrível conversa entre o editor e a subeditora do caderno.

- A polícia pegou o Paulinho Bigorna.

- O maníaco que só ataca gordinhas?

- Esse mesmo. Tá no DP de Capão Redondo. Precisamos mandar alguém pra lá agora.

- Vou ver qual jornalista está livre da pauta.

A subeditora caminhou então em direção à equipe de reportagem. O repórter ficou tenso. Pensou na mulher. Na piscina aquecida com cascata. No puff erótico. No teto solar. No futuro do seu casamento. Não sabia como agir. Só não queria acabar a noite ao lado de Paulinho Bigorna.

O que fazer quando rolar uma pauta inesperada aos 45 do segundo tempo, na exata hora de ir embora? Este é o tema da nova enquete do blog. Simular uma caganeira e fugir para o banheiro? Fingir que vai amarrar o cadarço do sapato e se esconder embaixo da mesa? Jogar um colega desavisado na fogueira? Dizer que precisa visitar um parente que está morrendo no hospital? Ou tocar um “foda-se” e enfrentar a situação sem medo? A votação está aberta.

A pesquisa que acabou de acabar – Que hashtag no Twitter melhor definiria a vida de um jornalista? – foi bastante equilibrada, com um empate no primeiro lugar. As opções “#CadeOMeuAumento” e “#PrecisoDeUmCafeUrgente” ficaram com 31% dos votos cada. As alternativas “#PlantaoDeMerda”, “#RIPMeuDiploma” e “#SouMasoquistaMesmo” também foram bastante lembradas, prova de que é difícil definir, em apenas uma frase, a vida deste bicho complexo que é o jornalista.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Os melhores (ou piores) aforismos de @duda_rangel no Twitter


Ser jornalista é a condenação à maluquice perpétua.

Jornalista é um pouco cão: fareja (notícias), finge-se de morto (se pinta pauta inesperada), fica feliz se lhe dão comida.

Crise na área de Comunicação: após Carolina Dieckmann virar jornalista, agora Gianecchini é relações públicas.

A vida de um jornalista no início da carreira é muito difícil, mas com o tempo as coisas mudam. E a vida fica complicadíssima.

Ser chamado de "jornalista pobre e miserável" é bullying? Ou só um pleonasmo mesmo?

Liberdade de imprensa é trabalhar na Record e falar mal do bispo, é trabalhar na Veja e falar bem do Lula.

O jornalismo está no nosso sangue, assim como o colesterol ruim.

O que dizer numa entrevista de emprego: "Eu poderia estar roubando, matando, mas não; prefiro pedir uma vaga como jornalista".

Atire o primeiro bloco de anotações ou gravador o jornalista que nunca disse: "Por que eu não estudei Direito ou Engenharia?".

E quando ele nasceu Deus perguntou: "Você quer folgar sempre no carnaval ou quer ser jornalista?".

Pais da jornalista lésbica do BBB ficaram chocados quando ela decidiu sair do armário: "A gente não criou filha para ser jornalista!".

No princípio Deus criou o jornalismo e a jornada dupla de trabalho.

“Afirmo sem medo de errar: o jornalismo on-line jamais substituirá os jornais impressos" (Zé do Peixe, feirante).

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ladainha


Oremos...

Pelos jovens jornalistas que, desde cedo, caem no vício da comida saudável, escolhendo o caminho dos alimentos ricos em Ômega 3 e DanRegularis, e trocando a cervejinha gelada pós-fechamento pelo suco Clight sabor frutas vermelhas.

Todos: Senhor, escutai a nossa prece.
Pelos jornalistas que são xingados de cagão pelo técnico da Seleção Brasileira de futebol, pelos que levam porrada de vereador e por todos que sofrem qualquer tipo de violência física ou moral ou bullying, já que esta palavra está na moda.

T: Senhor, escutai a nossa prece.

Pelos milhares de jornalistas condenados a viver na carestia, muitos, inclusive, sendo obrigados a pedir ao garçom uma garrafa de Kaiser quando gostariam de pedir uma garrafa de Original.

T: Senhor, escutai a nossa prece.

Pelos jornalistas desempregados que, para não se sentirem desocupados e improdutivos, começam a escrever textos metidos a engraçadinhos em blogs.

T: Senhor, escutai a nossa prece.

Pelos jornalistas que, cegos pela vaidade, querem fama a qualquer custo, pelos que se inscrevem para participar de reality shows, e pela pobre alma de atores como Carolina Dieckmann, que denigrem ainda mais a imagem da categoria.

T: Senhor, escutai a nossa prece.

Pelos jornalistas que, oprimidos pelo trabalho incessante, são trocados por suas esposas por jovens com mais tempo livre e barriga tanquinho, e pelos que, mesmo não abandonados, convivem por anos nas trevas e na ignorância de sua cornitude.

T: Senhor, escutai... Senhor, largai só um minutinho, por favor, esse maldito iPod, com esses insuportáveis cantos gregorianos, e escutai a nossa prece.


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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vai ser obsessivo assim no inferno!


O JOC (jornalista obsessivo-compulsivo) é um tipo cada vez mais comum nas redações brasileiras. Conheça algumas vítimas deste transtorno de fundo psico-periodístico.

Jornalista com obsessão por prêmios – é um tipo que surgiu com a banalização das premiações jornalísticas. É o cara que fica alucinado com datas e regulamentos de qualquer concurso. Quer participar de todos. Ganhar todos. Seu maior sonho é receber um Esso, mas ficará todo metido só de vencer o Prêmio Caninha Ypióca de Jornalismo. Quando há votação de algum prêmio pela internet, manda e-mails para Deus e o mundo pedindo votos. Deseja bajulação. Adora exibir medalhas e trofeuzinhos de latão.

Jornalista com obsessão por furos – este profissional entra em depressão quando não consegue emplacar uma matéria em primeira mão. É o repórter chato que liga para uma mesma fonte todos os dias, na tentativa de atravessar a concorrência. A ansiedade pelo furo faz, muitas vezes, este jornalista publicar qualquer merda, sem checar sua veracidade. Pacientes em estágios avançados do transtorno tentam seduzir assessores de imprensa em coletivas para conseguir um bate-papo às escondidas com o entrevistado. Outros chegam a pagar uma boa grana por uma exclusiva. Seguidor da escola cesartralliana de jornalismo, é o cara que se gaba das amizades poderosas, com políticos e delegados de polícia, por exemplo.

Jornalista com obsessão pela grande matéria de sua vida – é o repórter que nunca está contente com o que já publicou na imprensa e persegue, dia após dia, a matéria que vai revolucionar o jornalismo e mudar o mundo. Para escrever esta grande matéria, tem a compulsão de pensar em pautas a todo o momento, em qualquer lugar. No banheiro, no motel, na igreja, no almoço na casa da sogra. Uma mania incontrolável. Há relatos de jornalistas que chegam até a conversar com a máquina de café da redação para achar a idéia genial. Muitos enlouquecem, perdem o emprego, a família e vão morar na rua, onde promovem acalorados brainstorms com mendigos pela pauta perfeita.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pequenos casos de amor


Alessandro trabalhava na redação como office-boy. Cuidava do papel da impressora, do papel do fax, comprava cigarro na padoca para os repórteres mais folgados. Era preto, pobre e nunca tinha grandes oportunidades na vida. Era também curioso. Ficava observando o trabalho dos jornalistas e começou a se encantar pela coisa. Um dia pediu ao editor de Cultura que lesse um texto que ele havia escrito sobre uma peça teatral. “Então, você gosta de teatro?”, perguntou o editor. “Sempre que tem peça de graça eu vou.” O editor corrigiu um problema de ortografia aqui, uma crase errada ali, deslizes que até jornalista profissional comete. No geral, gostou bastante do que leu. Texto enxuto, bem sacado, sem afetação. A partir daquele dia, Alessandro começou a colaborar na produção do roteiro cultural da semana. Era uma espécie de assistente do estagiário, cargo que, convenhamos, é nada interessante. Mas Alessandro achou o máximo. Os jornalistas, empolgados com o tesão que o menino mostrava, resolveram fazer uma vaquinha para bancar a faculdade de jornalismo para ele. Alguns repórteres mal tinham dinheiro para pagar o aluguel do apê em que moravam, mas colaboraram mesmo assim. Alessandro estudou jornalismo e conseguiu o diploma que, naquela época, ainda valia alguma coisa. Hoje, é repórter do caderno de Cultura e faz matérias sobre teatro, sobre cinema, música. Ah, e sabe tudo de crase também.


Motorista do jornal, Teixeira vivia nas ruas e criou uma grande intimidade com as cenas inesperadas. Enquanto seus colegas de profissão dedicavam-se à arte de jogar conversa fora, difamar a vida alheia e paquerar “princesas” por todos os cantos da cidade, Teixeira atentava-se a fatos, a imagens. Um dia comprou uma máquina fotográfica simples e de segunda mão e a deixou guardada no porta-luvas de seu carro. Em casa, a patroa protestou. “Mas o que deu na sua cabeça, homem, de querer virar fotógrafo? Deu para gastar dinheiro com essas besteiras agora?” Sempre que podia, Teixeira registrava uma cena. Começou com coisas banais. Os fotógrafos do jornal, camaradas, faziam a revelação de seus filmes no estúdio da redação. Um dia, o editor de Arte viu uma fotografia perdida sobre uma mesa. Pivetes tomando banho no chafariz de uma praça. Achou a imagem poética. “Porra, a foto é de quem? Que Teixeira? O motorista?” Tempos depois, Teixeira, o motorista, foi o único a conseguir registrar o exato momento da execução de um sem-teto em confronto com a polícia. Ganhou a capa do jornal. Os fotógrafos, empolgados com seu talento, resolveram fazer uma vaquinha para comprar uma máquina profissional para ele. Alguns mal tinham dinheiro para pagar a conta da luz, mas colaboraram mesmo assim. Hoje, Teixeira faz até exposição de fotos. A patroa ficou toda orgulhosa. “Que talento tem esse homem!”

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Provérbios jornalísticos


Diga-me com quem andas que eu publicarei na revista de fofocas.

Depois da tempestade, vem a matéria de enchente.

Em terra de pessoa jurídica, quem tem carteira assinada é rei.

Quem nada deve com certeza não é jornalista.

De follow-up em follow-up o assessor de imprensa enche o saco

Aqui se faz frila, aqui não se paga.

Atrás de um grande repórter de TV, há sempre um grande produtor.

Quem indica amigo é.

A pressa é inimiga da boa apuração.

Não há folga que sempre dure, nem plantão que nunca se acabe.

Mais vale um frila na mão do que cem vagas de correspondente internacional voando.

Não adianta chorar sobre o furo tomado.

Em redação que tem estagiário bonitinho, jornalista cultural caminha de costas.

Quem tem boca vai à coletiva de imprensa filar um rango.

Devagar se perde o deadline.


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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Classificados


Como os profissionais da imprensa, loucos por um emprego ou por um frila, anunciariam seus préstimos jornalísticos em classificados iguais àqueles de sacanagem dos jornais.

Bianca, Dezinha e Lolita, universitárias, iniciantes
Amigas e loucas por um estágio. Servem até cafezinho na redação.

Cirilo, 28A, ativo e passivo
Atuo dos dois lados, como jornalista ou assessor de imprensa.

Disk Frila Privê 24 horas
20 jornalistas esperando por você. Sua matéria em ótimas mãos.

Emanuelle, coroa, faço de tudo
Repórter experiente. Apuro, checo, redijo, edito e reviso. Texto final garantido.

Escort homens e mulheres para viagens
Repórteres para acompanhar eventos. Bilíngües. Educados.

Fabinho, ético e sigiloso
Não revelo minhas fontes; guardo off sempre.

Michiko, 22A, oriental
R$ 150,00 a lauda. Atendimento em redação ou em minha casa.

Nando, fotógrafo, aventureiro
Para pautas radicais. Faço também festas de casamento e bailes de debutantes.

Pedrão, mulato bom de pauta, lauda de 30 linhas
Faço as leitoras enlouquecerem com os meus textos. A maior lauda do mercado.