O post de hoje tem uma despedida e a expectativa de um breve reencontro. Resolvi me dar "férias" por uns dias. Volto ao blog no dia 4 de janeiro. Após muito tempo, eu fiz a minha própria escala de folga de fim de ano, e isso é muito bom. Melhor ainda é saber que não tenho planos para os próximos dias, inclusive planos de fazer planos para 2010.
Decidi que os dias que restam deste ano serão diferentes dos dias que restavam em anos passados. Por que tudo tem de ser sempre tão igual nesta época? O Especial do Roberto Carlos, o Especial da Xuxa, a Missa do Galo, as insuportáveis compras de presente no shopping lotado, as reuniões familiares de confraternização e briga, o chester esquartejado, o champanhe barato, a porra da caixinha do carteiro, do porteiro, do lixeiro e de outros "eiros", a São Silvestre com vitória de algum queniano, o arrependimento por tudo que não foi feito, as novas resoluções e ilusões.
Minhas “férias” do blog são uma incógnita. Só sei que serão diferentes. Posso me entregar aos prazeres carnais da colônia de férias de Mongaguá, que até hoje ainda não conheci, como posso partir para um retiro espiritual num templo budista. Posso perambular pela São Paulo vazia ou apenas ficar de bobeira em casa, ao lado do Nestor, sem perceber o tempo passar.
A única coisa certa é que preciso agradecer o carinho que recebi de muita gente ao longo deste ano! Adorei escrever neste blog e, por meio dele, conhecer pessoas de todos os cantos do Brasil e de fora dele, de todas as idades, jornalistas ou não. Fui até caso de estudo de TCC de um pessoal bacana da Bahia. E o melhor: eram estudantes de jornalismo e não de psiquiatria!
A todos um fim de ano diferente e um 2010 com muitos desafios. Ou a vida fica sem graça! Beijos e abraços do Duda!
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Dicas de presentes de Natal
Conheça os mimos mais indicados para cada tipo de jornalista:
Para um jornalista ecochato que trabalha com sustentabilidade: um belo pinheiro de origami feito com diplomas do curso de jornalismo.
Para um jornalista que cobre a guerra urbana no Rio de Janeiro: um plano de assistência funerária da empresa Vá com Deus, categoria SuperMegaPlus.
Para um jornalista que separa o sujeito do predicado com vírgula: o livro “Gramática Básica da Língua Portuguesa” (versão com ilustrações).
Para um jornalista cultural descolado: uma camiseta bordada da Cavalera ba-ca-nér-ri-ma ou óculos estilo Lady Gaga para ferver no réveillon.
Para um jornalista nerd da área de tecnologia: uma boneca do site Real Doll para ele vivenciar uma prática sexual mais próxima da realidade.
Para um jornalista militante de esquerda: um pôster da Dilma Rousseff de corpo inteiro em sua fase guerrilheira.
Para um jornalista militante de direita: uma coleção de luxo (capa dura) com as melhores reportagens da Veja de todos os tempos.
Para um assessor de imprensa que sempre liga para a redação no horário de fechamento: um relógio Rolex falsificado de uma banca de camelô.
Para um jornalista recém-formado que não consegue arranjar emprego: o livro de auto-ajuda “Os vencedores são aqueles que nunca desistem”.
Para um jornalista sem emprego: uma cesta básica e um vale-frila.
Para um jornalista com 30 anos de carreira: a obra completa “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust.
Para um jornalista que adora um CTRL C / CTRL V: o livro “Mil piadas pra Twitter”, com frases engraçadas já prontas de até 140 caracteres.
Para um fotógrafo doidão: um convite para uma balada num inferninho suspeitíssimo do centro de São Paulo com direito a todo tipo de loucura, em plena noite de Natal.
Para todo tipo de jornalista: um saco para treinamento de boxe com a cara do Gilmar Mendes para o jornalista encher de porrada e aliviar a tensão do dia-a-dia.
Para um jornalista ecochato que trabalha com sustentabilidade: um belo pinheiro de origami feito com diplomas do curso de jornalismo.
Para um jornalista que cobre a guerra urbana no Rio de Janeiro: um plano de assistência funerária da empresa Vá com Deus, categoria SuperMegaPlus.
Para um jornalista que separa o sujeito do predicado com vírgula: o livro “Gramática Básica da Língua Portuguesa” (versão com ilustrações).
Para um jornalista cultural descolado: uma camiseta bordada da Cavalera ba-ca-nér-ri-ma ou óculos estilo Lady Gaga para ferver no réveillon.
Para um jornalista nerd da área de tecnologia: uma boneca do site Real Doll para ele vivenciar uma prática sexual mais próxima da realidade.
Para um jornalista militante de esquerda: um pôster da Dilma Rousseff de corpo inteiro em sua fase guerrilheira.
Para um jornalista militante de direita: uma coleção de luxo (capa dura) com as melhores reportagens da Veja de todos os tempos.
Para um assessor de imprensa que sempre liga para a redação no horário de fechamento: um relógio Rolex falsificado de uma banca de camelô.
Para um jornalista recém-formado que não consegue arranjar emprego: o livro de auto-ajuda “Os vencedores são aqueles que nunca desistem”.
Para um jornalista sem emprego: uma cesta básica e um vale-frila.
Para um jornalista com 30 anos de carreira: a obra completa “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust.
Para um jornalista que adora um CTRL C / CTRL V: o livro “Mil piadas pra Twitter”, com frases engraçadas já prontas de até 140 caracteres.
Para um fotógrafo doidão: um convite para uma balada num inferninho suspeitíssimo do centro de São Paulo com direito a todo tipo de loucura, em plena noite de Natal.
Para todo tipo de jornalista: um saco para treinamento de boxe com a cara do Gilmar Mendes para o jornalista encher de porrada e aliviar a tensão do dia-a-dia.
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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Eu, ranzinza
Tomando uma cerveja com um amigo, conversávamos sobre o meu blog. Quanto mais álcool entra em nosso sangue, mais sinceridade escapa de nossa boca. “Duda, você sempre foi um cara otimista, mas, lendo alguns de seus posts, notei que você está muito ranzinza, com a nossa profissão, com a vida. Cara, você ficou mais chato que taxista”, disse-me ele. Como ele estava pagando a cerveja, ouvi a crítica e não reclamei. No fundo, estava certo. Estou ficando um velho ranzinza. Mas será que um pouco de insatisfação é tão ruim assim?
A conversa de bar fez lembrar-me de um ensaio do escritor peruano Mario Vargas Llosa, publicado na edição de outubro da revista Piauí, uma defesa do romance, da literatura. Entre outras coisas, Llosa fala do poder que a insatisfação humana, muitas vezes despertada pelos livros, tem de transformar o mundo. Talvez eu nem faça literatura – muitos dizem que blog não é literatura –, mas, ainda assim, acredito que posso, com as minhas palavras, desenvolver nos leitores “uma sensibilidade inconformista em relação à vida”, como escreve Llosa.
A seguir, destaco um trecho do ensaio que achei interessante:
“Viver insatisfeito, em luta contra a existência, significa empenhar-se, como dom Quixote, bater-se contra os moinhos de vento, condenar-se, de certa forma, a viver as batalhas travadas pelo coronel Aureliano Buendía, em Cem Anos de Solidão, sabendo que as perderia todas. Isso é provavelmente verdadeiro; mas também é verdadeiro que, sem a revolta contra a mediocridade e a sordidez da vida, nós, seres humanos, ainda viveríamos em condições primitivas, a história teria acabado, não teria nascido o indivíduo, a ciência e a tecnologia não se teriam desenvolvido, os direitos humanos não teriam sido reconhecidos, a liberdade não existiria, porque tudo isso nasceu de atos de insubmissão contra uma vida percebida como insuficiente e intolerável.”
Estou decidido: em 2010, continuarei um cara ranzinza, insuportavelmente ranzinza.
A conversa de bar fez lembrar-me de um ensaio do escritor peruano Mario Vargas Llosa, publicado na edição de outubro da revista Piauí, uma defesa do romance, da literatura. Entre outras coisas, Llosa fala do poder que a insatisfação humana, muitas vezes despertada pelos livros, tem de transformar o mundo. Talvez eu nem faça literatura – muitos dizem que blog não é literatura –, mas, ainda assim, acredito que posso, com as minhas palavras, desenvolver nos leitores “uma sensibilidade inconformista em relação à vida”, como escreve Llosa.
A seguir, destaco um trecho do ensaio que achei interessante:
“Viver insatisfeito, em luta contra a existência, significa empenhar-se, como dom Quixote, bater-se contra os moinhos de vento, condenar-se, de certa forma, a viver as batalhas travadas pelo coronel Aureliano Buendía, em Cem Anos de Solidão, sabendo que as perderia todas. Isso é provavelmente verdadeiro; mas também é verdadeiro que, sem a revolta contra a mediocridade e a sordidez da vida, nós, seres humanos, ainda viveríamos em condições primitivas, a história teria acabado, não teria nascido o indivíduo, a ciência e a tecnologia não se teriam desenvolvido, os direitos humanos não teriam sido reconhecidos, a liberdade não existiria, porque tudo isso nasceu de atos de insubmissão contra uma vida percebida como insuficiente e intolerável.”
Estou decidido: em 2010, continuarei um cara ranzinza, insuportavelmente ranzinza.
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Carta de um jovem jornalista ao Papai Noel
"Olá, Papai Noel. Eu me chamo João e acabei de me formar em jornalismo, como milhares de outros jovens do meu Brasil. Este ano, eu fiquei meio chateado com essa história de o diploma não ser mais obrigatório, mas não vou desistir da profissão que eu amo! Com ou sem diploma, porém, o problema maior é que está muito difícil arrumar um emprego. Estou justamente escrevendo para pedir uma oportunidade de trabalho neste Natal. Deixei uma meia pendurada na janela com meu currículo atualizado.
Nem precisa ser um emprego muito bom. Para começar, vale qualquer coisa. Sei que vou ganhar um salário bem pequeno, mas já estou mais conformado com isso. Na verdade, eu estou louco para aprender jornalismo na prática. Estão dizendo que em 2010 a crise vai passar, que a vida vai melhorar e estou mais confiante. Meus amigos dizem que sou muito otimista, que acredito em tudo, até em Papai Noel. Mas a gente precisa ser assim.
Eu sei que cometi alguns erros em 2009, mas nada tão grave que não me faça merecer este emprego. O senhor vai compreender. Eu matei umas aulas na faculdade, fiquei de bobeira na internet, escrevendo bobagem no Twitter, fuçando o Orkut alheio, lendo o blog do Duda Rangel. Também gastei dinheiro com a Playboy da Fernanda Young e eu sei que isso não foi legal. O único vício que eu tenho mesmo é beber demais, embora falam que todo jornalista bebe. Também dou um tapa num baseado de vez em quando, mas só quando estou estressado e com dor de cabeça. E, se é para uso medicinal, não há problema, o senhor bem sabe.
No geral, eu até fui um aluno dedicado na faculdade. Fiz os trabalhos direitinho, li um monte de livros que eles indicaram. Eu também sou bem-informado. Não gosto de ler jornal, mas sigo todas as notícias na internet, até de política internacional. E o meu Português é bem correto também. O senhor pode notar que não tem nenhuma vírgula separando o sujeito do predicado nesta carta, não tem “menas” nem exceção com “ss”.
Em 2010, como jornalista real, estou louco para ver se todas aquelas coisas que o Duda Rangel escreve no blog dele são verdadeiras mesmo. Estou com um puta tesão (ops, desculpa!) de ir para a rua, fazer reportagens, buscar sempre a história mais bacana, denunciar as coisas que estão erradas, comer coxinha de frango na padoca, ganhar um monte de jabá e almoçar de graça nos eventos. Eu também quero conhecer o tal pescoção, trabalhar até altas horas da madrugada. Só não quero ser corno, mas este pedido fica para o outro Natal, está bom? Não vou abusar mais do senhor! Obrigado, Papai Noel. João."
Nem precisa ser um emprego muito bom. Para começar, vale qualquer coisa. Sei que vou ganhar um salário bem pequeno, mas já estou mais conformado com isso. Na verdade, eu estou louco para aprender jornalismo na prática. Estão dizendo que em 2010 a crise vai passar, que a vida vai melhorar e estou mais confiante. Meus amigos dizem que sou muito otimista, que acredito em tudo, até em Papai Noel. Mas a gente precisa ser assim.
Eu sei que cometi alguns erros em 2009, mas nada tão grave que não me faça merecer este emprego. O senhor vai compreender. Eu matei umas aulas na faculdade, fiquei de bobeira na internet, escrevendo bobagem no Twitter, fuçando o Orkut alheio, lendo o blog do Duda Rangel. Também gastei dinheiro com a Playboy da Fernanda Young e eu sei que isso não foi legal. O único vício que eu tenho mesmo é beber demais, embora falam que todo jornalista bebe. Também dou um tapa num baseado de vez em quando, mas só quando estou estressado e com dor de cabeça. E, se é para uso medicinal, não há problema, o senhor bem sabe.
No geral, eu até fui um aluno dedicado na faculdade. Fiz os trabalhos direitinho, li um monte de livros que eles indicaram. Eu também sou bem-informado. Não gosto de ler jornal, mas sigo todas as notícias na internet, até de política internacional. E o meu Português é bem correto também. O senhor pode notar que não tem nenhuma vírgula separando o sujeito do predicado nesta carta, não tem “menas” nem exceção com “ss”.
Em 2010, como jornalista real, estou louco para ver se todas aquelas coisas que o Duda Rangel escreve no blog dele são verdadeiras mesmo. Estou com um puta tesão (ops, desculpa!) de ir para a rua, fazer reportagens, buscar sempre a história mais bacana, denunciar as coisas que estão erradas, comer coxinha de frango na padoca, ganhar um monte de jabá e almoçar de graça nos eventos. Eu também quero conhecer o tal pescoção, trabalhar até altas horas da madrugada. Só não quero ser corno, mas este pedido fica para o outro Natal, está bom? Não vou abusar mais do senhor! Obrigado, Papai Noel. João."
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Imprensa Retrô 2009
O diploma caiu. A violência contra os jornalistas subiu. A Globo brigou com a Record. A Record brigou com a Globo. Duas jornalistas quase saíram no tapa por uma entrevista. A Gazeta Mercantil morreu. A Silvia Poppovic ressuscitou. O “jornalismo” do Ratinho voltou. O Milton Neves ficou de mal do Roberto Justus. Anunciaram de novo a “morte” do jornal impresso. O Twitter virou fonte de informação. O Gay Talese, na Flip, convocou os jornalistas a levantarem a bunda da cadeira e irem para a rua. O Sarney calou o Estadão. A Folha criou a “ditabranda”. O Brasil ficou atrás do Haiti no ranking da liberdade de imprensa. O Planalto lançou seu blog (sem espaço para comentários). Jornais declararam guerra ao blog da Petrobras. O Jornal Nacional completou 40 anos, com o pior índice de audiência de sua história. Uma jornalista foi finalista do Big Brother Brasil. Nenhuma jornalista engravidou de senador. O Zé Bob resgatou a magia do jornalismo investigativo. A prótese (dentária) do Wagner Montes voou no Balanço Geral. O Tomás Turbano ganhou os telejornais. Paula Tejano também. As pupilas do Caco Barcellos, como sempre, bateram um bolão. O Galvão Bueno falou muita abobrinha no acidente do Massa. O Luciano do Valle chamou a Band de Globo. O Vampeta virou comentarista esportivo. O Britto Jr. decidiu ser Pedro Bial. O Alborghetti foi para o inferno. A desgraça do Duda Rangel ficou conhecida em todo o Brasil. O Fantástico quis virar TV Fama. O Globo Esporte de São Paulo quis virar Pânico na TV. Lula criticou a imprensa. Fomos culpados pelas mazelas do Congresso. E nenhum jornalista, infelizmente, deu uma sapatada no Gilmar Mendes!
Mas 2010 está aí, minha gente!
Mas 2010 está aí, minha gente!
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Clô e os sonhos para 2010
Cercado por jornalistas em Brasília, o então deputado federal Clodovil Hernandes procura justificar sua declaração de dias antes de que a também deputada Cida Diogo jamais poderia trabalhar como prostituta por sua ausência de beleza. “Eu tenho culpa que ela nasceu feia, gente?”
Por estas e outras, Clô, mesmo já tendo passado desta para uma pior, foi o grande vencedor de nossa última enquete – Qual o entrevistado perfeito para uma matéria bem polêmica? – com 36% dos votos, superando fortes rivais como Caetano Veloso e FHC, que acabaram empatados com apenas 12% cada um.
Imaginei como seria uma entrevista psicografada com o Clodovil. Logo na primeira pergunta – Como está sua vida após a morte? –, já rolaria uma declaração polêmica: “Meu amor, estou odiando isso aqui. Muita gente sem educação, exagerada, gente que não sabe arder no fogo sem gritar. E como tem gente picareta também, está pior que o Congresso Nacional. Também não gostei do anfitrião, um sujeito de péssimo gosto. Ninguém mais usa aquele tridente cafona, nem em baile de carnaval de subúrbio. E o calor? Aqui, eles não sabem o que é ar-condicionado! Ai, meu amor, que saudade do vento fresco de Ubatuba...”
A próxima enquete já está em ritmo de Ano Novo. Como dizem que sonhar não custa nada, sonhemos. O que você, como jornalista, espera de 2010? Bons sonhos!
Por estas e outras, Clô, mesmo já tendo passado desta para uma pior, foi o grande vencedor de nossa última enquete – Qual o entrevistado perfeito para uma matéria bem polêmica? – com 36% dos votos, superando fortes rivais como Caetano Veloso e FHC, que acabaram empatados com apenas 12% cada um.
Imaginei como seria uma entrevista psicografada com o Clodovil. Logo na primeira pergunta – Como está sua vida após a morte? –, já rolaria uma declaração polêmica: “Meu amor, estou odiando isso aqui. Muita gente sem educação, exagerada, gente que não sabe arder no fogo sem gritar. E como tem gente picareta também, está pior que o Congresso Nacional. Também não gostei do anfitrião, um sujeito de péssimo gosto. Ninguém mais usa aquele tridente cafona, nem em baile de carnaval de subúrbio. E o calor? Aqui, eles não sabem o que é ar-condicionado! Ai, meu amor, que saudade do vento fresco de Ubatuba...”
A próxima enquete já está em ritmo de Ano Novo. Como dizem que sonhar não custa nada, sonhemos. O que você, como jornalista, espera de 2010? Bons sonhos!
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
O plantador de notícias
Assessor de imprensa liga para a redação de um site de fofocas.
- Redação, Ricardo, boa tarde.
- Oi, Ricardo. Aqui é o Guto Oliveira, assessor de imprensa das estrelas. Tudo bem?
- Tudo bom.
- Eu tenho uma notícia quentíssima da cantora Jessyca Motta.
- De quem?
- Como de quem? Não conhece a Jessyca Motta? A mulher que já bombou cantando música eletrônica, gospel...
- Ah, claro, desculpe. É que eu sou jornalista novo por aqui...
- Ricardo, é o seguinte: a Jessyca tá gravidíssima. Ela queria divulgar a notícia aos fãs pelo Twitter, mas eu não deixei. Quis dar o furo para vocês, que são o melhor site de celebridades do Brasil.
- Opa, Guto, que bacana. Vamos divulgar, sim!
- Vou mandar um release com mais detalhes. A Jessyca tá amando essa história de ser mãe. O pai, então, tá todo babão. Ela está tão feliz que vai até lançar um novo disco em breve, mas com uma pegada mais infantil, sabe? É novo público dela.
- Que ótimo! Manda o release, sim!
Guto desliga o telefone. A seu lado está a cantora Jessyca Motta.
- Guto, eu não acredito que você fez isso! Eu não estou grávida!
- Querida, você não queria voltar à mídia? Se prepara porque vai chover jornalista querendo saber mais sobre a sua gravidez, o sexo da criança, o nome...
- Mas eu tirei meu útero há dois anos! E se alguém descobre? E se falam com o médico?
- Com o médico eu já me entendi. Ele vai ficar quieto. E mais: esses jornalistas não investigam nada. Só querem saber de notícia fácil. Compram qualquer coisa.
- Ai, meu Deus, Guto, só você mesmo!
- E não esqueça, querida: daqui a dois meses, você vai perder esta criança! Então, aproveite para ser feliz agora, porque, depois, o babado vai ser você sofrer muito na mídia.
- Redação, Ricardo, boa tarde.
- Oi, Ricardo. Aqui é o Guto Oliveira, assessor de imprensa das estrelas. Tudo bem?
- Tudo bom.
- Eu tenho uma notícia quentíssima da cantora Jessyca Motta.
- De quem?
- Como de quem? Não conhece a Jessyca Motta? A mulher que já bombou cantando música eletrônica, gospel...
- Ah, claro, desculpe. É que eu sou jornalista novo por aqui...
- Ricardo, é o seguinte: a Jessyca tá gravidíssima. Ela queria divulgar a notícia aos fãs pelo Twitter, mas eu não deixei. Quis dar o furo para vocês, que são o melhor site de celebridades do Brasil.
- Opa, Guto, que bacana. Vamos divulgar, sim!
- Vou mandar um release com mais detalhes. A Jessyca tá amando essa história de ser mãe. O pai, então, tá todo babão. Ela está tão feliz que vai até lançar um novo disco em breve, mas com uma pegada mais infantil, sabe? É novo público dela.
- Que ótimo! Manda o release, sim!
Guto desliga o telefone. A seu lado está a cantora Jessyca Motta.
- Guto, eu não acredito que você fez isso! Eu não estou grávida!
- Querida, você não queria voltar à mídia? Se prepara porque vai chover jornalista querendo saber mais sobre a sua gravidez, o sexo da criança, o nome...
- Mas eu tirei meu útero há dois anos! E se alguém descobre? E se falam com o médico?
- Com o médico eu já me entendi. Ele vai ficar quieto. E mais: esses jornalistas não investigam nada. Só querem saber de notícia fácil. Compram qualquer coisa.
- Ai, meu Deus, Guto, só você mesmo!
- E não esqueça, querida: daqui a dois meses, você vai perder esta criança! Então, aproveite para ser feliz agora, porque, depois, o babado vai ser você sofrer muito na mídia.
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
A festa da firma
Na minha época de redação, dezembro chegava sempre agitado. Era o tempo de decidir a escala especial de folga do fim do ano – quem trabalha no Natal e quem trabalha no Ano Novo. Sobravam divergências e eventual ofensa à mãe alheia. Mas dezembro também era um tempo alegre, era tempo da festa da firma.
Após passar o ano inteiro explorando os pobres funcionários, principalmente os jornalistas, o dono do jornal decide promover uma festança. Para alguns, é um lampejo de humanidade do patrão, mas, para mim, é pura estratégia. Ele sabe que o jornalista é facilmente seduzido por uma boca-livre. Alimente um jornalista e ele se tornará seu amigo, dizia um filósofo de botequim. Ele esquecerá até que nunca lhe pagaram as horas extras trabalhadas.
A festa da firma é, portanto, um clássico exemplo da política “pão e circo”. Mas quem se importa com isso? Adoramos comida e bebida fartas, show com banda ao vivo e até sorteio de prêmios. Na minha época, começavam com brindes institucionais e acabavam com o prêmio máximo da noite, a cobiçada semana com a família numa colônia de férias em Mongaguá. Eu, que nessas ocasiões sempre preferi o pão ao circo, cheguei a criar um grupo de amigos batizado de “a nuvem dos gafanhotos”, que perambulava pelas mesas de comida deixando só devastação.
O evento de confraternização é uma excelente ocasião para os jornalistas interagirem com pessoas de outros departamentos, coisa rara, como a turma do administrativo e a turma do comercial, esta também chamada de “os vendedores de anúncio”. Quase todo jornalista vai à festa, até mesmo aqueles que nunca conseguem um alvará da patroa para as bebedeiras habituais pós-fechamento. Só não aparece a ala dos intelectuais, jornalistas que acreditam que a festa da firma não passa de uma forma primitiva de entretenimento, regada a axé music, cerveja e suor. Sociologicamente falando, é claro.
Na festa da firma, muita gente perde o pudor, se revela, paga mico ou arruma confusão, mesmo porque as taxas de sangue no álcool ficam baixíssimas. A vantagem de ficar um pouco sóbrio é poder testemunhar todas as aberrações da noite e ter matéria-prima para fofocar com os colegas no dia seguinte. Jamais esquecerei a festa em que o foca do caderno de Variedades, aquele moço tímido e de poucas palavras, foi subitamente arrebatado pela música do Abba, subiu na mesa, arrancou a camisa, rebolou como uma lagartixa e gritou: “I am the queen, I am the dancing queen!”. Depois disso, nunca mais foi visto na redação.
Após passar o ano inteiro explorando os pobres funcionários, principalmente os jornalistas, o dono do jornal decide promover uma festança. Para alguns, é um lampejo de humanidade do patrão, mas, para mim, é pura estratégia. Ele sabe que o jornalista é facilmente seduzido por uma boca-livre. Alimente um jornalista e ele se tornará seu amigo, dizia um filósofo de botequim. Ele esquecerá até que nunca lhe pagaram as horas extras trabalhadas.
A festa da firma é, portanto, um clássico exemplo da política “pão e circo”. Mas quem se importa com isso? Adoramos comida e bebida fartas, show com banda ao vivo e até sorteio de prêmios. Na minha época, começavam com brindes institucionais e acabavam com o prêmio máximo da noite, a cobiçada semana com a família numa colônia de férias em Mongaguá. Eu, que nessas ocasiões sempre preferi o pão ao circo, cheguei a criar um grupo de amigos batizado de “a nuvem dos gafanhotos”, que perambulava pelas mesas de comida deixando só devastação.
O evento de confraternização é uma excelente ocasião para os jornalistas interagirem com pessoas de outros departamentos, coisa rara, como a turma do administrativo e a turma do comercial, esta também chamada de “os vendedores de anúncio”. Quase todo jornalista vai à festa, até mesmo aqueles que nunca conseguem um alvará da patroa para as bebedeiras habituais pós-fechamento. Só não aparece a ala dos intelectuais, jornalistas que acreditam que a festa da firma não passa de uma forma primitiva de entretenimento, regada a axé music, cerveja e suor. Sociologicamente falando, é claro.
Na festa da firma, muita gente perde o pudor, se revela, paga mico ou arruma confusão, mesmo porque as taxas de sangue no álcool ficam baixíssimas. A vantagem de ficar um pouco sóbrio é poder testemunhar todas as aberrações da noite e ter matéria-prima para fofocar com os colegas no dia seguinte. Jamais esquecerei a festa em que o foca do caderno de Variedades, aquele moço tímido e de poucas palavras, foi subitamente arrebatado pela música do Abba, subiu na mesa, arrancou a camisa, rebolou como uma lagartixa e gritou: “I am the queen, I am the dancing queen!”. Depois disso, nunca mais foi visto na redação.
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terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Jornalistas cornos, uni-vos
Ao abrir a caixa de e-mails pela manhã, notei uma mensagem com um assunto curioso: “Pena que você não mora em Rondônia”. Era de um amigo, do tipo “o engraçadinho da redação”. Não entendi o significado daquela frase, mas sabia que era alguma sacanagem.
O e-mail contava a história da Ascron, Associação dos Cornos de Rondônia, entidade fundada há 25 anos por jornalistas de Porto Velho para prestar auxílio a vítimas de traição. Para eles, o jornalista é mais vulnerável a uma pulada de cerca por trabalhar demais e deixar a mulher carente e sozinha em casa. Aí, o bicho, quer dizer, o Ricardão pega. Na Ascron, grande parte da diretoria é formada por jornalistas, alguns com cargos vitalícios. E tem gente que reclama que nossa categoria é desunida!
A Ascron é uma entidade sem preconceitos, aberta a todos os sexos: homens, mulheres e nossos colegas da editoria de Cultura. Aceita também chifrudos de outras classes profissionais. Já são cerca de 8 mil associados em todo o Estado. Um dos atrativos é o clube de benefícios. Os membros recebem uma carteirinha para descontos em estabelecimentos comerciais, como farmácias, mercados e salões de cabeleireiros especializados em polimento de chifres. Até taxista cobra menos dos cornos de Rondônia.
A idéia dos colegas de Porto Velho é realmente interessante e deveria ser copiada por outros Estados. Quem sabe algum dia eu ainda não funde uma unidade em São Paulo? Criaria também um trabalho assistencial com focas, a Fundação Euclidinhos da Cunha, para orientar jovens em seus primeiros pescoções e plantões de fim de semana a lidar com a cornitude com menos sofrimento. Nos preocupamos demais com as campanhas por melhores salários e nos esquecemos de lutar por benefícios aos cornos da redação, essa gente desamparada e alvo de chacotas.
O e-mail contava a história da Ascron, Associação dos Cornos de Rondônia, entidade fundada há 25 anos por jornalistas de Porto Velho para prestar auxílio a vítimas de traição. Para eles, o jornalista é mais vulnerável a uma pulada de cerca por trabalhar demais e deixar a mulher carente e sozinha em casa. Aí, o bicho, quer dizer, o Ricardão pega. Na Ascron, grande parte da diretoria é formada por jornalistas, alguns com cargos vitalícios. E tem gente que reclama que nossa categoria é desunida!
A Ascron é uma entidade sem preconceitos, aberta a todos os sexos: homens, mulheres e nossos colegas da editoria de Cultura. Aceita também chifrudos de outras classes profissionais. Já são cerca de 8 mil associados em todo o Estado. Um dos atrativos é o clube de benefícios. Os membros recebem uma carteirinha para descontos em estabelecimentos comerciais, como farmácias, mercados e salões de cabeleireiros especializados em polimento de chifres. Até taxista cobra menos dos cornos de Rondônia.
A idéia dos colegas de Porto Velho é realmente interessante e deveria ser copiada por outros Estados. Quem sabe algum dia eu ainda não funde uma unidade em São Paulo? Criaria também um trabalho assistencial com focas, a Fundação Euclidinhos da Cunha, para orientar jovens em seus primeiros pescoções e plantões de fim de semana a lidar com a cornitude com menos sofrimento. Nos preocupamos demais com as campanhas por melhores salários e nos esquecemos de lutar por benefícios aos cornos da redação, essa gente desamparada e alvo de chacotas.
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