segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sobre o jornalista que se acha o tal


Ser jornalista e ser arrogante são coisas que definitivamente não combinam. São mais ou menos como a praia e a chuva. O Flamengo e a vitória. O tchu-tcha-tcha e a boa música. O político corrupto no Brasil e a cadeia. O Caetano Veloso e a explicação fácil. A gordura trans e o coração. O José Sarney e a alternância de pudê. A Rita e a Carminha. Os motoboys e o retrovisor do meu carro velho. A Igreja Católica e a camisinha. O Assad e a humanidade. A Globo e a Record. As campanhas eleitorais e o debate em alto nível. Panicat e roupa. A reforma ortográfica e o trema. O Paulo Coelho e a boa literatura. A minha geladeira e a superlotação de comida. O Faustão e o bom gosto pra camisa. O celular ligado e o teatro. O Mano Menezes e a minha paciência. O paletó preto e a caspa. A vida depois dos 30 e as brincadeiras de criança. As modelos magérrimas e o rodízio de pizza. O casamento e a vida sexual intensa. A feijoada e o controle da emissão de poluentes. As torcidas de futebol e a civilidade. O beijo e o bafo. O trânsito de São Paulo e a meditação transcendental. O trabalho árduo e o Congresso Nacional. A felicidade e a segunda-feira. A vida e a falta de humor.

Deu mais ou menos para entender?

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Corrente de sorte para jornalistas



A Venerável Olivetti Sagrada é uma espécie de símbolo da sorte para os jornalistas.

Compartilhe este post com o maior número de colegas da imprensa e você poderá ter em troca um puta aumento de salário, fama, prêmios, folgas, sexo e até mesmo um empregão com carteira assinada.

Atenção, isso não é uma brincadeira. Nem pense em quebrar a corrente. Ou poderá se dar muito mal.

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Daniela Albuquerque, mesmo sem saber o significado de venerável, teve muita fé e enviou a imagem para 100 amigos. Hoje está casada com o patrão e apresenta um programa na TV.

O assessor de imprensa Hudson Carvalho mandou a corrente a todo mailing do Maxpress (mesmo desatualizado) e, no dia seguinte, emplacou uma matéria do cliente mais nada a ver da agência no Jornal Nacional.

José Luiz Datena enviou a Venerável Olivetti Sagrada para 50 mil pessoas e se tornou um dos raros jornalistas neste País a ganhar mais de um milhão de reais por mês.

William Bonner repassou a corrente para milhares de sobrinhos no Twitter e, uma semana depois, se “livrou” da mulher e ganhou como parceira de bancada a Patrícia Poeta.

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No fim dos anos 90, Pedro Bial ignorou a imagem, preferindo enviar a amigos um poema de sua autoria. Há 13 anos é obrigado a interagir com subcelebridades do BBB.

Duda Rangel debochou da corrente, fez piada e recebeu sua punição: perdeu o emprego e a mulher. E o pior: tornou-se um jornalista blogueiro.

Fátima Bernardes não repassou a imagem da Venerável Olivetti Sagrada e hoje vê seu programa empatar em audiência com desenhos animados do SBT.

Renata Ceribelli deletou um e-mail com a corrente e, como maldição, recuperou os 11 quilos perdidos no Medida Certa, não cabendo mais em calça alguma.


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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Repórter sem frescura


Repórter sem frescura vai pra pauta até de busão. Escreve sem mesa. Com a bunda no chão. Não se melindra com assessor que acompanha entrevista. Dorme em banco de delegacia.

Repórter sem frescura faz anotação em verso de papel impresso. No guardanapo do bar. Caneta? Com nome de empresa, caneta-jabá. No máximo uma legítima Montblanc de camelô.

Repórter sem frescura apura matéria mesmo com o barulho de vozes, telefones e teclados na redação. Não tem aquela coisa de “chiiiiii” pra cá, “chiiiiii” pra lá. Não fica pedindo pra baixar o ar, pra subir o ar.

Repórter sem frescura almoça no bar do seu Zezé. Prato feito. Feito pedreiro. Copo d´água no copo de requeijão. Não reclama do pagode no carro de reportagem.

Repórter sem frescura não fica com nhenhenhém pra entrar em favela. Mete o pé na lama sem drama.

Repórter sem frescura não tem nojinho do mundo.


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terça-feira, 17 de julho de 2012

Se o povo de Avenida Brasil fosse jornalista


Tufão – é o repórter que acredita que sua mulher está dormindo enquanto ele puxa um plantão até altas horas.

Leleco – é o fotógrafo descolado, figuraça, amigo da galera.

Suelen – é a repórter-piriguete que transa com a fonte por uma informação. Ou para pegar um filho, de preferência de senador.

Nina – é a workaholic que vive com o radar ligado atrás de um furo.

Jorginho – é o apresentador bonitão do telejornal, mas só bonitão, manja?

Ivana – é a colunista social de jornal do interior.

Cadinho – é o jornalista que faz malabarismo para conciliar três empregos.

Monalisa – é a repórter que vê sua pauta ser roubada pela melhor amiga.

Crô – putz, esse é da outra novela. Esquece, foi mal.

Carminha – é a chefe que até parece gente boa, mas vive colocando na bunda alheia.

Adauto – é o repórter que abre a boca na coletiva e só fala merda.

Nilo – é o repórter de futebol das antigas, meio tosco, meio engraçado.

Darkson – É o assessor de imprensa. Olha aí, freguesia, nota exclusiva! Vamos chegando que a promoção é só hoje.

Crianças do lixão – são os estagiários.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Manual para fazer um jornalista carente feliz


O jornalista carente precisa ser lido ou visto. Sempre. Atenção é tudo. Se ele te perguntar “leu minha matéria, né?”, diga que sim (mesmo sendo mentira) ou diga que você já separou o jornal para ler com mais calma à noite. Jamais solte um “que matéria?”. Isso o levará a uma depressão terrível. Se ele divulgar os textos no Facebook, curta. O carentão vai curtir mais ainda.

Não basta ler ou apenas dizer que leu o jornalista carente. Ele vai querer suas impressões. E, claro, impressões boas. Ou melhor, ele vai querer grandes elogios. Se o texto estiver uma merda e você ficar incomodado em mentir, diga apenas “um texto como nenhum outro” ou “um texto de chocar”, expressões que servem tanto para coisa boa quanto para coisa ruim.

Muitas vezes o jornalista carente só precisa de um ouvido. Se você perguntar “como foi a pauta?” e ele resolver contar, indo além do “boa” ou “ruim”, escute os detalhes. Importante: finja estar muito interessado, balance a cabeça, arregale os olhos, diga “ah, legal”. Porque jornalistas carentes sempre apelam para o “ei, você tá prestando atenção no que eu estou dizendo?”.

Jornalista carente adora ser lembrado. Para um frila, para uma festa, mesmo festas chatas só com jornalistas. Se você mandar um cartão bem brega de “feliz dia do jornalista” via Facebook, ele vai amar. Lembre-se também do quanto ele foi corajoso na cobertura de um incêndio anos atrás. Só não lembre que ele está lhe devendo uma grana, porque isso não deixa feliz nem jornalista carente.

Se um dia você encontrar um jornalista carente de cultura, dê a ele um livro. Se um dia você encontrar um jornalista carente de sexo, considere a possibilidade de uma transa, uma rapidinha, vai, não custa nada, ainda mais se for um carente atraente. Agora, se um dia você encontrar um jornalista carente total de talento, aí fica difícil ajudar. Ah, já sei. Mande o coitado rezar. Muito.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O jornalismo, por Caio Fernando Abreu


“Se ao menos dessa revolta, dessa angústia, saísse alguma matéria que prestasse.”

“Plantão dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa.”

“Estou sem tempo para odiar quem me odeia. Estou ocupadíssimo acabando esse frila.”

“E você não sabe quantos sorrisos eu já dei só de pensar numa boca-livre.”

“Ainda bem que sempre existe outro dia. E outras pautas. E outras reportagens. E outros textos.”

“Depois de todas as reformulações e passaralhos o que fica de mim são as contas para pagar.”

“Fico pensando se viver não será sinônimo de trabalhar.”

“Eu sempre acho que cansei do jornalismo, de mim, mas ai vem a grande matéria e revigora”.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pequeno ensaio sobre a insatisfação do jornalista


A insatisfação está para o jornalista assim como o oxigênio está para o cérebro.

Satisfação é outro papo. Tem a ver com marketing de puteiro, com slogan de saco de pão de padaria de bairro, mas não combina com “ser jornalista”.

Achar que está tudo errado e querer salvar o mundo é ótimo e é muito melhor do que salvar o mundo propriamente, porque salvar o mundo ninguém salva, é utopia, mas querer salvar o mundo, mesmo sendo utopia salvar o mundo, traz uma sensação de incômodo e é essa sensação de incômodo que faz a nossa existência, inclusive como jornalista, valer a pena.

Jornalista precisa estar insatisfeito consigo mesmo. Será que minhas sugestões de pauta não andam meio sem graça? Será que eu não apertei o botão do piloto-automático? Quando você achar o seu texto uma merda, não procure um terapeuta. Nem pai de santo. Corra a um bar para festejar com os amigos. Porque se o seu texto está uma merda é sinal de que você pode fazer melhor.

O descontentamento faz o jornalista se mexer. Não suportar mais trabalhar para a Revista Parafusos e Afins é um aviso de que chegou a hora de escrever sobre música, futebol, gastronomia.

Jornalista é um insatisfeito por natureza. Já imaginou que chatice seria se o jornalista estivesse feliz com os plantões, com a sua pauta? Satisfeito com o espaço para a matéria? Ele iria reclamar do quê? Se existe glamour nessa profissão, esse glamour é reclamar!

O dia em que o jornalista deixar de ser um insatisfeito, melhor fazer qualquer outra coisa. Sei lá, melhor virar publicitário.


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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Jogo da verdade


Você já inventou declaração de personagem? Não importa o tamanho. Frase curta, frase longa. Já inventou personagem? É, personagem, com nome, sobrenome, idade e profissão. Inventou, não? Diz aí, já chupou texto de outro jornalista sem dar crédito? Já chupou? Já teve vontade de mandar entrevistado à merda? Melhor: já mandou entrevistado à merda? Tá bom, agora uma pergunta fácil: já deu carteirada? Nunca? Num show do Chico? Num jogo do Corinthians? Nunca mesmo? Duvido. E aí, já “matou” alguém que estava vivo? É, matar entre aspas, na matéria. Já ouviu entrevista de concorrente escondido atrás da porta? Fala a verdade! Já almoçou no Habib´s por 10 reais e pediu nota de 40 para reembolso? Já pegou a grana do taxi e foi para a pauta de busão? Hein? Já deu as caras numa coletiva só para comer? Se empanturrar? Já sentiu inveja do sucesso do seu melhor amigo? Já cobiçou a matéria do seu melhor amigo? Não? Nunca se sentiu um enganador depois de fazer uma matéria bem meia-boca? Me diz, já inventou desculpa ao chefe só para ganhar uma folga? Inventou uma virose? Virose brava, de deixar você um caco de gente, sem forças até para dar a desculpa por telefone. Hein? Hein? Hein?