quinta-feira, 29 de março de 2012

Todo mundo tem um quê de jornalista (ou é o jornalista que tem um quê de todo mundo?)


O médico trabalha de madrugada, sábado, domingo, feriado. Plantão que não acaba mais.

O publicitário cria uma imagem de glamour (falsa, é claro) de sua profissão.

A puta tá sempre fodida e dizendo “um dia ainda largo essa vida”.

O caminhoneiro enche a cara de café pra ficar acordado.

A ex-BBB adora um convite para uma boca-livre.

O cozinheiro pode trabalhar sem diploma.

O executivo bem-sucedido, peraí, esse não tem nada de jornalista. Esquece.

A operadora de telemarketing pode estar pedindo um minutinho de atenção.

O autor de novela da Globo tem um ego gigante.

O motoboy vive na correria.

O hacker invade a privacidade dos outros.

O advogado tem um lugar garantido no inferno.

O ornitólogo, ornitólogo? Que porra mesmo faz um ornitólogo?

O lixeiro tá sempre mexendo na coisa podre, fedida.

A atriz vive ouvindo “minha filha, arruma uma profissão decente”.

A puta, ah, a puta, reclama, mas não larga essa vida.

terça-feira, 27 de março de 2012

O jornalismo, por Clarice Lispector


“Ser jornalista na prática é um dos desejos mais urgentes que existem.”

“Não tenho tempo para mais nada, ser repórter me consome muito.”

“Liberdade é pouco. O que eu desejo tem nome: salário decente.”

“Já que sou assessora de imprensa, o jeito é ser.” (Macabéa, que atende cinco contas, em A Hora do Follow-up)

“Estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já, que é o instante de fechar a edição do jornal.”

“Tenho várias caras. Uma é quase de sono, outra é quase de fome. Sou um o quê? Um quase jornalista no pescoção.”

“Ter virado jornalista me estragou a saúde.”

“Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu fiz quatro pautas.”

“Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, eu não consigo terminar esta maldita matéria.”

“Ela acreditava em jornalismo imparcial e, porque acreditava, ele existia.”


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sexta-feira, 23 de março de 2012

“Duda Rangel News”: Repórteres da Alegria levam esperança às redações




Nada como o sorriso de um jornalista. Mesmo com dentes amarelos de tanto cigarro e café. Há um ano, o Repórteres da Alegria visita redações para levar gargalhadas e esperança a uma classe que sofre com muito trabalho e pouco dinheiro. O grupo não tem fins lucrativos, assim como a profissão de jornalista.

“Me senti um palhaço ao ser demitido sem explicação, após 20 anos de entrega total ao jornal. Então, decidi colocar um nariz vermelho, não para protestar, mas, sim, para divertir os colegas que seguiram nas redações”, revela Lula Peixoto, o fundador.

Peixoto diz que, no começo, o grupo chegou a ser expulso de uma redação. “Era hora do fechamento e fomos confundidos com assessores de imprensa”, lembra, rindo. Hoje, os repórteres-palhaços são motivo de festa. “O pessoal vibra com as nossas visitas, principalmente em datas especiais, quando levamos presentinhos, como garrafas de uísque.”

O Repórteres da Alegria já conta com 200 palhaços, todos jornalistas desempregados. Pedidos para entrar no grupo aumentam a cada dia. As piadas são o carro-chefe da trupe, como aquela do jornalista que acha que é livre. “Outra que o povo da redação adora é a do repórter que pergunta de quanto será o dissídio salarial e o chefe responde 1,37%”, conta Peixoto, caindo na gargalhada.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Receita para se tornar um milionário trabalhando como jornalista


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segunda-feira, 19 de março de 2012

Pequeno ensaio sobre o jornalista encalhado


No quesito “amor”, muitos jornalistas acabam, por uma questão de afinidade ou proximidade ou falta de coisa melhor mesmo, namorando colegas jornalistas. Outros ficam encalhados. Há quem acredite que é melhor estar encalhado do que num relacionamento com outro jornalista, mas eu não concordo. Todo mundo sonha ter alguém ao seu lado, para beijar, abraçar, ir ao cinema e, no caso dos jornalistas, para ler sua matéria e dizer se ficou boa ou ótima.

Festas de jornalista têm o maior número de gente encalhada por metro quadrado do planeta. Nunca reparou, não? O Globo Repórter, que adora falar de animais exóticos, bem que poderia dedicar um programa só para falar dos jornalistas encalhados.

As razões para o “encalhe” de um jornalista são bem variadas. A mais comum é o encalhado trabalhar muito e não ter tempo para o amor. Os desempregados têm tempo, mas não têm dinheiro para o amor. Há também os chatos, que são muitos, e os superexigentes. Quem gosta de fazer só matéria de primeira página não se contenta com qualquer notinha de rodapé.

Muitos jornalistas ainda são vítimas do mal de Cinderela sem final feliz. O pretendente imagina que, por ser jornalista, ela é rica e trabalha na Globo. Estão numa festa. Ela pensa “que cara lindo, é hoje que eu desencalho”. Ele pensa “caraca, é hoje que eu como uma famosa da TV”. Mas então dá meia-noite e ela diz que precisa ir embora correndo, porque trabalha da uma às oito da manhã clipando matérias numa agência de assessoria. E o encanto se acaba.

Você, que está encalhado ou encalhada ou tem algum amigo com este status, vai então perguntar: temos salvação? Ou estamos condenados a virar um iPad 1, sem o menor atrativo? A solução é bem simples. Sério. Se você é um jornalista que trabalha muito e não tem tempo para nada, ache um tempinho, porra! Pode ser aquele momento que você passa ao lado da máquina de café da redação. Grandes histórias de amor começam ao lado da máquina de café da redação. O cinema ainda não descobriu estas histórias, mas elas existem.

Se você está desempregado e sem dinheiro, convide a pessoa amada para ver um ciclo de filmes búlgaros gratuito. Os filmes são tão sacais que vocês vão poder passar a sessão inteira se beijando. Se você é superexigente, aprenda que as matérias menores podem ser tão ou mais prazerosas que uma matéria de capa. Agora, se você é chato, o que eu posso dizer? Se você é chato, tem mais é que ficar encalhado mesmo. Jornalista chato é um porre.



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quinta-feira, 15 de março de 2012

20 perrengues na hora de escrever a matéria


1. Ficar travadão e não saber como começar o texto.

2. Ter que decifrar as letras apagadas do teclado.

3. Apurar outras duas matérias enquanto escreve.

4. Sofrer pra se concentrar, porque a colega ao lado não pára de brigar com o marido no telefone.

5. Sofrer pra se concentrar, porque o Datena não pára de falar merda na TV.

6. A pressão do chefe pra acabar o texto em cinco minutos.

7. O torpedo do(a) namorado(a): “Vai chegar cedo em casa hoje?”

8. Precisar escrever 40 linhas, mas ter informação só pra 10.

9. Precisar escrever 10 linhas, mas ter informação pra 40.

10. Esquecer onde anotou aquela declaração superimportante.

11. O computador que demora séculos pra salvar um texto.

12. A barriga que ronca de fome.

13. Não poder acessar o Facebook enquanto escreve, porque o deadline não deixa.

14. Não ter tempo de checar a grafia correta de “obsessão”.

15. Por que na adolescência eu não acabei meu curso de datilografia?

16. O torpedo do gerente do banco: “Seu cheque voltou de novo. Me liga.”

17. O sono.

18. A angústia de que a “obra-prima” que você está criando pode não ser lida por ninguém.

19. Descobrir lá pela 39ª linha que aquela matéria de 40 (a que você só tinha 10 linhas de informação, lembra?) caiu.

20. A maldita voz do Datena que continua falando merda na TV.


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segunda-feira, 12 de março de 2012

Tudo o que você sempre quis saber sobre jornalismo (mas tinha medo de perguntar)


Praticar jornalismo antes de se formar é pecado?
Não, claro que não. Os tempos mudaram. Tem gente, inclusive, praticando o jornalismo mesmo sem a faculdade, que já é outro extremo. É preciso achar um ponto de equilíbrio ou a coisa vira baixaria. No seu caso, como ainda é jovem e não se formou, pratique o jornalismo, mas vá devagar. Não precisa sair por aí pegando qualquer pauta safada.

Devo usar o gravador com entrevistados de risco?
Óbvio. Entrevista segura sempre. Muitos entrevistados podem alegar depois que não falaram o que falaram e pedir a sua cabeça ao chefe. Com o gravador, você evita as DSTs (Demissões Sacanamente Transmissíveis).

Conheço uma assessora de imprensa que antes era jornalista de redação. Há cinco anos, decidiu fazer a operação para mudança de profissão e hoje se diz mais completa e feliz. Mas tenho dúvidas. Quando a pessoa faz este tipo de mudança não perde o prazer?
Vários trans-jornalistas desempenham ótimo papel como assessores e sentem prazer na nova atividade. É preciso respeitar a diferença. Mais: é preciso um grande processo de inclusão do assessor na sociedade. Quando teremos um assessor numa novela da Globo?

Tenho um fetiche muito grande por emplacar a manchete do jornal. Fico todo excitado, ainda mais se for manchete de domingo. Sou um pervertido?
A excitação pela manchete ou matéria de capa é um transtorno tão comum que chega a ser algo normal para os jornalistas. Doente você seria se não a tivesse.

Publicar notícias com muita rapidez deixa o leitor insatisfeito?
Sim, os leitores ficam na maior vontade por uma matéria mais aprofundada. Uma grande disfunção do jornalismo atual é a ejaculação de informação precoce, que afeta principalmente jornalistas de portais. Invista nas apurações preliminares.

A primeira vez no pescoção dói?
Dói, ô se dói. A primeira, a segunda, a terceira...

Engulo o esporro do editor ou cuspo na cara dele?
Se precisa muito do emprego, engula. E sem fazer cara feia, ok?

É saudável ter fantasias jornalísticas? Eu, por exemplo, sempre me imagino apresentando o Jornal Nacional com a Patrícia Poeta numa ilha deserta.
A realidade é melhor do que qualquer fantasia. Mesmo que seja cobrir a explosão de um bueiro numa rua nada deserta.

Na minha editoria, há apenas homens. É muito comum um comentar o tamanho do lead do outro. O meu é sempre muito pequeno, porque tenho dificuldade de colocar o “como” e o “por quê” logo no primeiro parágrafo. Como aumentar o meu lead?
Não caia na cilada daqueles e-mails “enlarge your lead”, ok? Você nunca ouviu ninguém dizer que não importa o tamanho do lead, mas, sim, o prazer informativo que ele proporciona? A coisa é por aí. De que adiantam leads enormes e bobocas?


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quinta-feira, 8 de março de 2012

A mulher jornalista


Fica irritadíssima naqueles dias... de plantão.

Vive achando que seu texto está gordo e não cabe em nenhum template.

Demora um tempão em frente à tela experimentando o lead ideal.

Usa a tabelinha de frila do sindicato para evitar a merreca indesejada.

Passa meses gerando algo muito forte dentro de si, tipo uma úlcera nervosa.

Finge sentir prazer ao dividir a pauta com um repórter estrelão.

Assessora de imprensa, amamenta um bando de repórteres famintos e chorões em eventos.

Quando fica puta da vida, muda o tipo de corte que faz no texto dos outros.

É moderna. Já foi o tempo em que só cozinhava informação.

Sempre guarda um bloquinho básico na gaveta.

Sofre de Tensão Pré-Matéria Especial.

Não esconde a ansiedade esperando o “outro lado” ligar.

Fica toda molhadinha quando faz matéria de enchente.

Todo mês sangra. De tanto trabalhar.

Dá à luz um texto lindo, super fofo, cute-cute da mamãe.


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segunda-feira, 5 de março de 2012

Repórter, o pidão


Repórter pede um pouco de atenção. Duas perguntas, senhor, depois não incomodo mais, não. Pede relato da história, detalhes e opinião. Pede nome completo, idade e profissão. Na muvuca, pede licença, pra não pisar no pé de ninguém. Na muvuca, pede desculpa, porque pisou no pé de alguém. Repórter pede ajuda ao colega assessor, resposta até as 18, sem atraso, por favor. Repórter pede a manchete do caderno à chefia. Pede só mais um minutinho, pra fechar a matéria do dia. Ao motorista do jornal pede pra pauta voar. Pede ajuda a São Longuinho, pra anotação perdida encontrar. Repórter pede o contato de todo tipo de gente, pede dica de personagem. Pede emprego, óbvio. E sempre. Repórter pede chope e porção de calabresa. Pede que o amanhã chegue logo. Com toda a sua certeza. Pede muita compreensão, da família e namorado. E, claro, do tiozinho que cobra o aluguel atrasado. Pede credencial e pede sem fingimento, pede caneta emprestada, pede pedido de aumento. Pede com jeitinho, pede desajeitado. Pede cheio de calma. Pede desesperado. Repórter vive pedindo coisas, quando tem ou não tem trabalho. Pede, pede, pede. Repórter pidão do caralho.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Quer uma coluna do Duda Rangel?


Quando nasci, Deus, com seu jeitão todo poderoso, foi logo exigindo de mim a primeira grande escolha: “Você quer ter talento para ganhar dinheiro ou quer ser jornalista?”. Eike Batista – soube que ele passou pela mesma situação – cravou, claro, letra A. Eu, ingênuo, respondi sem pensar. O resto da história vocês já conhecem.

Só agora, depois de velho, comecei a perceber que mesmo sem talento a gente pode arriscar e se dar bem, não pode? A Lady Gaga não ganha uma puta grana cantando? E aquele menino? Me fugiu o nome dele agora... Ah, sim, Kayky Brito. Gente, ele é ator! E o Mano Menezes que virou técnico da seleção?

Resolvi, então, arriscar. Com o objetivo de superar a linha da pobreza extrema, criei o projeto “Quer uma coluna do Duda Rangel?”. Se você curte meu blog e gostaria de contar com o humor dele em sua publicação, impressa ou digital, que tal me contratar? Pode ser uma crônica, um conto. Sobre diferentes assuntos.

Apesar de jornalista, sou limpinho. E não mexo na geladeira.

O blog Desilusões perdidas, há pouco mais de três anos no ar, é totalmente gratuito. Logo, preciso de uma grana. Para sobreviver. Para dar uma ração mais digna ao Nestor. Sobre briefing e valor do investimento, é só escrever para dudarangel2008@gmail.com.

Deus, com seu jeitão todo paternal, bem que podia dar uma força.