Tudo o que ele mais queria era ser levado a sério.
Não bastasse a vergonha do currículo cheio de corpo catorze e outras pequenas trapaças, olham para mim como se eu ainda fosse um repórter que faz cocô nas pautas. Não sou mais tão foca assim, não, tá ligado? Já fiz matéria importante, já entrevistei o prefeito, já dormi em delegacia. Quer saber mais? Já li Nietzsche. E entendi tudinho. O problema é essa minha cara de bebê que nem barba crescida dá jeito. O quê? Não, senhor, não é trabalho de faculdade.
Tudo o que ele mais queria era não ser levado a sério.
Legal essa coisa da experiência, do respeito conquistado, mas de repente a gente percebe que a vida perdeu a graça. É a fase filho-da-puta em que você começa a sentir saudade de si mesmo. Eu quero a porra-louquice da minha juventude de volta, a desordem, o sonho, a chance de errar. Como a gente faz para ser foca outra vez? Ser gente grande é muito careta. Saudade do tempo em que tudo era apenas um trabalho de faculdade.
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terça-feira, 26 de março de 2013
Nada a seu tempo
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sexta-feira, 22 de março de 2013
20 riscos da vida de jornalista
1. Risco de pautas nebulosas e oscilações de humor no decorrer do dia.
2. Risco de desenvolver TJC (Transtorno Jornalístico-Compulsivo), como reler a matéria quinhentas vezes.
3. Risco de ser riscado do mapa pelo crime organizado.
4. Risco de encontrar uma bala perdida no meio de uma pauta.
5. Risco de ver anunciante escroto pedir sua cabeça numa bandeja.
6. Risco de ficar encalhado ou, pior, risco de casar com outro jornalista.
7. Risco de descobrir que seu filho – criado com tanto amor e carinho – também quer ser jornalista.
8. Risco de sofrer bullying dos colegas engenheiros.
9. Risco de tomar um pisão no pé numa coletiva lotada.
10. Risco de ser confundido com aquele repórter da Globo, que faz aquele programa, que fala daquele assunto, qual mesmo?
11. Risco de ficar com os dentes amarelos de tanto tomar café.
12. Risco de ficar com os cabelos brancos bem antes da hora.
13. Risco de contrair Estrelíase Aguda.
14. Risco de ter que entrevistar gente que só fala merda, como jogador de futebol e mulher-rã.
15. Risco de levar cantada de fonte.
16. Risco de ser atacado por algum engraçadinho num link de TV.
17. Risco de pés na bunda indesejados.
18. Risco de criar vínculo afetivo com o cheque especial.
19. Risco de enlouquecer ainda muito jovem.
20. Risco de curtir essa loucura.
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2. Risco de desenvolver TJC (Transtorno Jornalístico-Compulsivo), como reler a matéria quinhentas vezes.
3. Risco de ser riscado do mapa pelo crime organizado.
4. Risco de encontrar uma bala perdida no meio de uma pauta.
5. Risco de ver anunciante escroto pedir sua cabeça numa bandeja.
6. Risco de ficar encalhado ou, pior, risco de casar com outro jornalista.
7. Risco de descobrir que seu filho – criado com tanto amor e carinho – também quer ser jornalista.
8. Risco de sofrer bullying dos colegas engenheiros.
9. Risco de tomar um pisão no pé numa coletiva lotada.
10. Risco de ser confundido com aquele repórter da Globo, que faz aquele programa, que fala daquele assunto, qual mesmo?
11. Risco de ficar com os dentes amarelos de tanto tomar café.
12. Risco de ficar com os cabelos brancos bem antes da hora.
13. Risco de contrair Estrelíase Aguda.
14. Risco de ter que entrevistar gente que só fala merda, como jogador de futebol e mulher-rã.
15. Risco de levar cantada de fonte.
16. Risco de ser atacado por algum engraçadinho num link de TV.
17. Risco de pés na bunda indesejados.
18. Risco de criar vínculo afetivo com o cheque especial.
19. Risco de enlouquecer ainda muito jovem.
20. Risco de curtir essa loucura.
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terça-feira, 19 de março de 2013
Fontes jornalísticas
O Don Juan – é o tipo que só passa informação para “as” jornalistas, de preferência as bonitas. É sempre gentil e sugere pagar o jantar num restaurante fino para conversar – ele sabe que a jornalista, carente de comida fina, não vai recusar. Ou sugere um papo no seu apê, afinal é preciso garantir o sigilo da informação.
O agricultor – é o tipo que vive plantando notícias. Liga para o repórter e conta uma mentirinha com a esperança de que, se publicada, ela vire uma verdade. Isso acontece muito com técnico de futebol desempregado, atriz global desempregada ou cardeal que sonha ser papa.
O “putz, de novo este cara?” – é o tipo sempre chamado para palpitar sobre certos assuntos. O mesmo economista para falar sobre taxas de juros, o mesmo médico para abordar os riscos da obesidade, o mesmo psicanalista para explicar por que um jovem sai de casa para matar criancinhas numa escola americana.
O “que causa” – é o tipo que garante a manchete do dia. É procurado quando o noticiário está morno, sem graça. Gosta de dar opiniões polêmicas, fazer provocações. Romário, Jair Bolsonaro, Rita Lee, Alexandre Frota, Luana Piovani, Agnaldo Timóteo e todo o resto do povo que adora aparecer “causando”.
O cagão – é o tipo inseguro, com medo da repercussão de suas declarações. “Pensando bem, é melhor você não colocar isso, não. Bota só aquela parte inicial” ou “Vê como você vai escrever isso aí pra depois não me dar problema” ou ainda “Posso dar uma lida no texto antes de você publicar? Calma, foi só uma sugestão”.
O ocupadinho – é o tipo que está sempre em reunião, ou melhor, o que pede para a secretária dizer que está em reunião. Vai gostar de reunião assim na PQP. E, se a secretária lhe sugerir “me deixa o seu telefone que assim que acabar ele liga”, esqueça, porque esta reunião vai durar semanas, meses. Talvez a eternidade.
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O “putz, de novo este cara?” – é o tipo sempre chamado para palpitar sobre certos assuntos. O mesmo economista para falar sobre taxas de juros, o mesmo médico para abordar os riscos da obesidade, o mesmo psicanalista para explicar por que um jovem sai de casa para matar criancinhas numa escola americana.
O “que causa” – é o tipo que garante a manchete do dia. É procurado quando o noticiário está morno, sem graça. Gosta de dar opiniões polêmicas, fazer provocações. Romário, Jair Bolsonaro, Rita Lee, Alexandre Frota, Luana Piovani, Agnaldo Timóteo e todo o resto do povo que adora aparecer “causando”.
O cagão – é o tipo inseguro, com medo da repercussão de suas declarações. “Pensando bem, é melhor você não colocar isso, não. Bota só aquela parte inicial” ou “Vê como você vai escrever isso aí pra depois não me dar problema” ou ainda “Posso dar uma lida no texto antes de você publicar? Calma, foi só uma sugestão”.
O ocupadinho – é o tipo que está sempre em reunião, ou melhor, o que pede para a secretária dizer que está em reunião. Vai gostar de reunião assim na PQP. E, se a secretária lhe sugerir “me deixa o seu telefone que assim que acabar ele liga”, esqueça, porque esta reunião vai durar semanas, meses. Talvez a eternidade.
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quarta-feira, 13 de março de 2013
20 requisitos para ser jornalista
Requisitos básicos:
1. Gostar de ler.
2. Ser inquieto e questionador.
3. Não ter medo, vergonha, preguiça.
4. Ter engajamento social (não é a mesma coisa que curtir uma balada, ok?).
5. Ter prazer pelo que faz.
Requisitos desejáveis:
6. Capacidade de levar esporro e engolir o choro.
7. Capacidade de receber o contracheque e engolir o choro.
8. Ter um nível de vaidade moderado.
9. Não se importar em levar uma vida PJ.
10. Domínio de idiomas estrangeiros, afinal a vida real não é uma novela da Glória Perez.
Requisitos que agregam valor, geram diferencial competitivo e outras merdas do gênero:
11. Ter boas sacadas de pauta e de personagens. Incrível, mas pensar é diferencial.
12. Escrever um texto de 20 linhas sem um errinho de Português. Ainda mais incrível.
13. Aproveitar as tecnologias, mas sem ser refém delas.
14. Capacidade de ir para a rua e interagir com seres humanos de verdade.
15. Ser craque em concordância, principalmente concordar com a escala de folgas e plantões.
Requisitos imprescindíveis:
16. Desapego a essa coisa chamada dinheiro.
17. Desapego a família, datas festivas, namoro e churrascos num domingão de sol.
18. Estômago resistente a comida tosca, café por períodos prolongados e falta de comida por períodos prolongados.
19. Ser forte, persistente, guerreiro e... porra, e essas lágrimas? Dá para engolir esse choro?
20. Paciência. Muita paciência.
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2. Ser inquieto e questionador.
3. Não ter medo, vergonha, preguiça.
4. Ter engajamento social (não é a mesma coisa que curtir uma balada, ok?).
5. Ter prazer pelo que faz.
Requisitos desejáveis:
6. Capacidade de levar esporro e engolir o choro.
7. Capacidade de receber o contracheque e engolir o choro.
8. Ter um nível de vaidade moderado.
9. Não se importar em levar uma vida PJ.
10. Domínio de idiomas estrangeiros, afinal a vida real não é uma novela da Glória Perez.
Requisitos que agregam valor, geram diferencial competitivo e outras merdas do gênero:
11. Ter boas sacadas de pauta e de personagens. Incrível, mas pensar é diferencial.
12. Escrever um texto de 20 linhas sem um errinho de Português. Ainda mais incrível.
13. Aproveitar as tecnologias, mas sem ser refém delas.
14. Capacidade de ir para a rua e interagir com seres humanos de verdade.
15. Ser craque em concordância, principalmente concordar com a escala de folgas e plantões.
Requisitos imprescindíveis:
16. Desapego a essa coisa chamada dinheiro.
17. Desapego a família, datas festivas, namoro e churrascos num domingão de sol.
18. Estômago resistente a comida tosca, café por períodos prolongados e falta de comida por períodos prolongados.
19. Ser forte, persistente, guerreiro e... porra, e essas lágrimas? Dá para engolir esse choro?
20. Paciência. Muita paciência.
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quinta-feira, 7 de março de 2013
O amor nos tempos da pauta
Ele dá uma cantada tão criativa quanto os seus textos: você vem sempre em coletiva?
Ela mexe no cabelo para chamar a atenção dele. Nem vê o fone de ouvido sair voando.
Ele faz a barba, compra uma segunda calça, lava enfim o All Star.
Ela começa a usar o perfume francês que ganhou de jabá.
Ele finge que não entende uma resposta do entrevistado só para perguntar a ela.
Ela faz que perde a caneta só para pegar uma emprestada dele.
Ele acha linda a caligrafia dela, mesmo sem entender uma palavra escrita no bloquinho.
Ela suspira toda vez que ele diz “um, dois, três, gravando”.
Ele anota para ela seu e-mail. Vai que ela precisa escrever um frila a quatro mãos.
Ela anota para ele seu celular. Vai que ele tem uma dúvida de Português no sábado à noite.
Ele divide com ela o último croissant do coffee break. Uma mordidinha dele aqui, uma mordidinha dela ali.
Eles esquecem o deadline.
Ele arranca o microfone da mão do assessor na coletiva e faz uma declaração de amor para ela.
Ela atualiza o perfil no Face. Em um relacionamento sério. Se é que relacionamento entre jornalistas pode ser algo, assim, sério.
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Ele finge que não entende uma resposta do entrevistado só para perguntar a ela.
Ela faz que perde a caneta só para pegar uma emprestada dele.
Ele acha linda a caligrafia dela, mesmo sem entender uma palavra escrita no bloquinho.
Ela suspira toda vez que ele diz “um, dois, três, gravando”.
Ele anota para ela seu e-mail. Vai que ela precisa escrever um frila a quatro mãos.
Ela anota para ele seu celular. Vai que ele tem uma dúvida de Português no sábado à noite.
Ele divide com ela o último croissant do coffee break. Uma mordidinha dele aqui, uma mordidinha dela ali.
Eles esquecem o deadline.
Ele arranca o microfone da mão do assessor na coletiva e faz uma declaração de amor para ela.
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segunda-feira, 4 de março de 2013
Curtindo a vida de jornalista adoidado
Jornalismo se aprende na doideira da prática. Na doideira do dia a dia.
É arriscar, cair de paraquedas. Mergulhar no mundo sem medo. Sem dedos.
É correr para a pauta, para várias pautas. Concentração total.
É demorar a dormir porque tem texto para acabar. Demorar a dormir porque na manhã seguinte tem matéria importante e quem quer saber de travesseiro numa hora dessas?
É roer as unhas pela fonte que não liga, pela fonte que não fala, pela fonte que não para de falar e o fechamento tá chegando, porra.
É sentir na pele a chuva, o frio, o sol queimar. É nem se lembrar que existe um troço chamado protetor solar.
Jornalismo a gente respira, transpira. Pira.
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É arriscar, cair de paraquedas. Mergulhar no mundo sem medo. Sem dedos.
É correr para a pauta, para várias pautas. Concentração total.
É demorar a dormir porque tem texto para acabar. Demorar a dormir porque na manhã seguinte tem matéria importante e quem quer saber de travesseiro numa hora dessas?
É roer as unhas pela fonte que não liga, pela fonte que não fala, pela fonte que não para de falar e o fechamento tá chegando, porra.
É sentir na pele a chuva, o frio, o sol queimar. É nem se lembrar que existe um troço chamado protetor solar.
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