sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Quem quer um livro do Duda?


Você compraria um livro com as histórias do Duda Rangel? Sim, você mesmo! Compraria um livro com as histórias deste humilde jornalista? Já há algum tempo, diversos leitores do blog têm sugerido a compilação dos posts do Desilusões perdidas em um livro impresso. Haveria ainda textos inéditos e talvez algum sensacionalismo barato para aumentar as chances de venda.

Eu, que sou um sujeito democrático, resolvi ouvir a voz do povo. Esta é, portanto, a nova enquete, que já está no ar.

Confesso que, desde criança, sonho escrever um livro. Mas nunca me achei um cara capaz. Comecei a rever minha posição depois que a Bruna Surfistinha se tornou um sucesso editorial. Pensei: “Porra, se ela que é puta conseguiu lançar um monte de livros, eu que sou jornalista também consigo. Não acho que as putas sejam melhores ou mais capazes que os jornalistas”. Desde então, passei a confiar mais em meu potencial literário.

Se a idéia do livro vencer a enquete, prometo até fazer um lançamento minimamente decente da obra numa livraria. É claro que será um evento bem modesto, sem o furor e o glamour de um lançamento de livro do Chico Buarque. Não esqueçam que sou um jornalista bem pobre (desculpem a redundância). Mas garanto, ao menos, um prosecco ordinário e baconzitos genéricos. O Nestor poderá estar presente ao evento, desde que prometa, é claro, não fazer xixi na estante de livros de auto-ajuda. Votem em mim!

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Atire o primeiro bloquinho de anotações ou gravador o jornalista quem nunca deu uma carteirada na vida. Quem, em seu dia de folga, nunca disse “tô trabalhando, meu amigo, tô trabalhando” com aquela preciosidade plastificada da Fenaj nas mãos? A enquete que acabou de acabar – Qual a prática mais comum adotada por um jornalista para levar vantagem financeira? – teve a vitória da opção “Dar carteirada para entrar em algum evento sem pagar”, com 45% dos votos. A alternativa “Ir a uma boca-livre para economizar a grana do almoço (do jantar, café da manhã)” ficou em segundo, com 33%.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Jornalista, um caso clínico


Por não ter uma vida saudável, o jornalista fica mais vulnerável a doenças. Algumas são típicas da profissão. Patologias que derrubam, principalmente, os colegas de hard news, incapazes de criar anticorpos para combater a rotina maluca de trabalho.

Ricardite crônica ou Mal de Euclides da Cunha

Esta enfermidade afeta jornalistas que viajam muito, fazem plantões de fim de semana ou pescoção até a alta madrugada. As vítimas costumam reclamar de dores fortes na cabeça. Em estágios avançados da doença, alguns relatam casos de alucinações, sobretudo quando chegam em casa mais cedo. Um jornalista afirmou ter notado sapatos desconhecidos em seu quarto. Outro garantiu ter visto o vizinho em sua cama, ao lado de sua mulher. A desinformação aumenta os casos da doença, afinal a vítima é sempre a última a saber o que acontece em sua casa.

Estrelíase aguda ou Síndrome de Bozó

Este mal, de raiz egocêntrica, ataca jornalistas que trabalham em TV, em especial em grandes emissoras. São pessoas que passaram do anonimato à fama de forma rápida e ainda não conseguiram controlar as altas taxas de estrelismo no sangue. O nariz de quem é acometido pela patologia tende a ficar um pouco arrebitado. Mas o sintoma mais claro que o jornalista está doente é quando ele sai bradando a todos os cantos que é o fodão, que tem acesso a qualquer entrevistado, um puta salário e o escambau. Em casos mais graves, o paciente vive o dia inteiro com o crachá da emissora pendurado no pescoço.

Distúrbio da Sociabilidade Reprimida

Espécie de fobia social, atinge jornalistas que, por trabalharem muito, só conseguem se relacionar com outros jornalistas. Eles não têm tempo livre para interagir com seres humanos de outras profissões. Vivem em guetos. São neuróticos. Andam com o celular ligado 24 horas por dia. Só pensam em trabalho. Nos raros momentos de folga, entram em pânico quando se encontram fora de seu hábitat natural de lazer, o bar próximo à redação onde trabalham. Há relatos de um jornalista que, na cama de um motel com uma dentista gostosa pra cacete, teve uma crise de choro na hora H, pois precisava acabar uma matéria para o dia seguinte.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mardita calabresa!


Um esporte bastante praticado pelos jornalistas é a "corrida atrás de emprego". Para quem trabalha, é o "triatlo de redação", modalidade de resistência em que o repórter apura a matéria pela manhã, vira redator à tarde e ajuda no fechamento à noite. Mas, no geral, nossa vidinha é bem sedentária. Uma pesquisa nacional do Comunique-se mostrou que apenas 3 em cada 10 profissionais da área cuidam do corpo de forma adequada.

Jornalistas, em sua maioria, preferem atividades intelectuais, como o debate de idéias num boteco, com cigarro, cerveja e uma porção de calabresa acebolada. Tudo muito saudável. Eu faço parte desta turma de malhação. Sempre tive uma vida desregrada e detestei academia - jornalista está acostumado a levar ferro e não a puxar ferro.

Não tomo Herbalife, nem sou adepto de nenhuma dieta de chá colorido. Sigo a Dieta do Desempregado. Como não tenho dinheiro para ir ao mercado, minha geladeira vive vazia. Logo, estou comendo menos. Quando trabalhava, eu seguia a Dieta da Coxinha, minha companheira de muitos almoços.

Existem, porém, alguns poucos jornalistas preocupados com o corpo e, principalmente, com a saúde. Conheci um novato em Esportes, que, de tão hipocondríaco, decidiu procurar um especialista em distúrbios do sono depois de uma noite em claro em seu primeiro pescoção. Tinha um outro, repórter de Cultura, que fazia exame da próstata desde os 20 anos. Ele dizia que era um cara prevenido, que se sentia protegido ao lado de um urologista de confiança e coisa e tal.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O jornalista PJ


Direito trabalhista é uma coisa que todo jornalista já ouviu falar, mas não lembra exatamente o que é. É algo distante, que escapa à memória. É como um velhinho de 90 anos tentando resgatar o significado da palavra “sexo”. Ele só sabe que era bom.

Assim como os velhinhos desaprenderam a trepar, os jornalistas desaprenderam a ter FGTS, 13º salário, férias remuneradas. Vivemos a ditadura da “pessoa jurídica”. FGTS virou um artigo de luxo. E o pior de tudo é que, com um índice de desemprego tão alto, feliz é o jornalista que consegue, ao menos, emitir uma nota fiscal no fim do mês.

Eu só lembro que existe o tal direito trabalhista em tempos de eleição. Ligo a televisão e, no horário eleitoral gratuito, vejo o Campos Machado (ai, credo) e outras figuras nada agradáveis do PTB evocando Getúlio Vargas e todas as conquistas trabalhistas de décadas passadas. “Se você, meu caro eleitor, tem hoje um 13º salário, é graças ao PTB”, explica o Campos Machado. E quem disse, seu desgraçado, que eu tenho 13º salário?

Há redações e agências inteiras dominadas pelas pessoas jurídicas. Se você ainda não é um jornalista PJ, meu amigo, tudo é uma questão de tempo. Uma dica para estes felizardos que ainda têm carteira assinada é jamais pedir um aumento salarial ao chefe. Se o chefe for o dono da empresa, pior ainda. É grande a chance de ele lhe responder: “Eu até posso aumentar o seu salário, mas você terá de emitir nota. Aliás, ótima idéia! Você terá seu aumento merecido e, a partir de agora, trabalhará como PJ. Estes encargos trabalhistas ainda levarão a empresa à falência. Neste país ninguém tem compaixão pelos empresários.

Então, só lhe restará procurar um contador de sua confiança.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O post dos porquês


Por que o Globo Repórter só fala de bicho e de cuidados com a saúde? Por que o piso salarial do jornalista é muito mais piso do que o piso de várias outras profissões? Por que o jornal de domingo tem mais anúncio de empreendimento imobiliário do que notícia interessante? Por que pauteiros e assessores de imprensa nunca se entendem direito? Por que a cobertura da Semana Santa, do Natal, do Dias das Mães é todo ano igual? Por que as faculdades de jornalismo são, em sua maioria, tão ruins? Por que o Diogo Mainardi não vira correspondente no Afeganistão? Por que só existem as “moças do tempo” e nunca “os moços do tempo” nos telejornais? Por que o César Tralli chega sempre antes? Por que o faro jornalístico e a investigação sucumbiram ao Google? Por que o jornal de ontem causa tanta repugnância? Por que o Márcio Canuto berra no microfone? Por que grande parte dos jovens jornalistas odeia ler jornais e revistas? Por que as legendas das fotos da Folha de S.Paulo são tão óbvias? Por que o Amaury Jr. cobra tão caro por uma entrevista? Por que quando a pessoa nasce Deus tem de perguntar se ela quer ser jornalista ou ganhar muito dinheiro na vida? Por que os jornalistas têm tantas ilusões? Por que os jornalistas não sabem lidar com as suas desilusões?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A mala do Comercial


Edgar é gerente de Comunicação de uma empresa de aromatizantes, também utilizados em preservativos masculinos. Ele detesta os “contatos publicitários” de revistas segmentadas, "predadores que adoram marcar um cafezinho e fazer ligações inconvenientes", segundo ele.

– Edgar?

– Sim.

– Oi, querido. É Vandinha, da Sexo & Saúde.

– Sim.

– Tenho uma proposta irrecusável.

– Sei.

– Vamos lançar uma edição especial dos 20 anos das Camisinhas Long Dong.

– E?

– E vocês, como parceiros de negócios, têm de fazer um anúncio de homenagem.

– Não tenho verba.

– Vocês vão ganhar uma matéria na página ao lado. É só enviar um release pra gente. Vai ser uma edição show.

– Meu orçamento já estourou.

– Meu amor, todos os grandes fornecedores da Long Dong já anunciaram. Vocês não podem ficar de fora.

– Anunciamos em outras publicações.

– Mas há quatros meses não fecham nada com a gente.

– Há muito tempo não sai nada de nós na revista.

– Ah, querido, é que nosso jornalista é um garoto novo, que acabou de entrar na editora. Vou dar um puxão de orelhas nele (riso sarcástico).

– Bom, de qualquer forma, agora não tenho como anunciar.

– Estamos com uma tabela promocional. São só 10 mil reais pela página inteira.

– 10 mil reais???

– É uma edição especial.

– Impossível!

– Vocês merecem um espaço de destaque.

– Não dá!

– OK, lindo, pra você eu fecho por 2 mil e quinhentos.

Alguns segundos de silêncio.

– Tá bom, tá bom, eu fecho o anúncio (de saco cheio).

– Que ótimo! Eu sabia que você ia aceitar...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A boa vida do vestibulando de jornalismo


Dia de vestibular é um martírio para muitos estudantes. Jovens enfrentam momentos de angústia. São acometidos por um mal-estar de grandes proporções, o tal cagaço. Estão cheios de dúvidas. Será que deixei de estudar alguma coisa? A que horas devo chegar ao local da prova? Já vou comido? Uso roupas leves? Será que não esqueci nada? Documentos? Caneta? O amuleto da sorte? A cola? Em comparação com estudantes de outras áreas, o vestibulando de jornalismo tem até algumas vantagens. Abaixo, veja três bons motivos para fazer uma prova tranqüila:

1) Você, que quer estudar jornalismo, não vai encontrar um monte de japonês debruçado sobre as folhas da prova, comum nos cursos de Medicina e Mecatrônica. Você não terá a desagradável sensação de ser devorado por um CDF que passou o ano inteiro estudando enquanto você estava bebendo com os amigos ou no Orkut. No dia da prova, nada pior do que ver um cara respondendo a todas as questões freneticamente enquanto você luta para vencer aquele “branco” que te deixou imóvel, com o olhar perdido no teto e a caneta na mão.

2) Para os homens, além de não topar com um CDF, há uma grande chance de você encontrar ao seu lado "a gostosa", tipo modelo e atriz, que sonha fazer jornalismo para ser apresentadora de TV e ficar famosa. São meninas que, no dia do vestibular, costumam se vestir de forma bem confortável, com shortinho e um top que deixa à mostra a barriguinha sarada com um piercing no umbigo. Só de imaginar que essa moça pode ser sua companheira de classe fará você relaxar (mas sem gozar). Alerta: cuidado para não perder muito a concentração e fazer um monte de merda no teste.

3) Com o fim da obrigatoriedade do diploma, a tendência é por um menor interesse pela carreira de jornalista. Na USP, por exemplo, jornalismo é hoje o sexto curso mais procurado; em 2008, era o primeiro. Ou seja, “com menas concorrência”, como diria o presidente Lula, você tem mais chances de entrar em uma universidade do Estado. Não precisaria, assim, vender rifas ou pedaços de bolo para pagar uma faculdade privada. Pra que gastar grana para comprar um diploma que não tem mais valor se você pode fazer o mesmo com o dinheiro público?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Mainardi x Galvão: briga de cachorro grande


Bem, amigos do Desilusões perdidas. Diogo Mainardi, com seu estilo pitbull egocêntrico, superou Galvão Bueno no quesito "figura mais insuportável da imprensa brasileira". Na última enquete deste blog, o colunista da revista Veja ficou com 31% da escolha dos leitores contra 27% do narrador global, famoso por falar tantas abobrinhas. Vale lembrar que, além da dupla, havia mais seis concorrentes na disputa.

A briga foi acirradíssima, voto a voto, praticamente um empate técnico, afinal Galvão Bueno, o homem que comparou o cérebro humano a uma caixa de catupiry, é quase imbatível em chatice. Mas Mainardi, jornalista obstinado em derrubar o presidente e satanizar seus rivais, venceu, não escapando dos clicks furiosos de muitos internautas.

Da chatice passamos para questões de sobrevivência. A próxima pesquisa deseja saber qual é a prática mais comum adotada pelo jornalista para levar algum tipo de vantagem financeira. Nessas horas, vale tudo, de carteirada à decisão de se filiar ao sindicato da categoria para conseguir um plano de saúde de graça. O negócio é se dar bem! Vamos aos votos.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Bloquinho ou gravador?


Quando a gente fica velho, vez ou outra se pergunta como pôde ter sentido, na juventude, tanto medo idiota por coisas banais. Simplesmente porque, na ocasião, certas coisas não eram tão banais assim. Hoje, eu rio disso tudo. Talvez esta seja uma das vantagens de ficar velho: rir dos medos idiotas da juventude.

Era a tão esperada e temida véspera. Na manhã seguinte, eu, um pobre estudante de jornalismo, faria a minha primeira reportagem, para o modesto jornal da faculdade. As vésperas sempre me deixavam ansioso. Era assim desde os tempos de criança, quando eu assistia à missa do galo na tevê esperando o Natal chegar. Naquela noite, além de ansioso, eu estava tenso, com um medo danado de fazer merda. Minha mente viajava...

Não posso esquecer de pegar mais de uma caneta! Na hora H, a caneta sempre falha e a gente fica com cara de bobo. Então o entrevistado dá risada do foca atrapalhado. Isso não pode acontecer! E será que eu levo só um bloquinho de anotações ou um gravador também? Um jornalista experiente me disse, certa vez, que o bloquinho é melhor, porque faz a gente prestar mais atenção nas palavras do entrevistado, consegue captar a essência da matéria. É isso, vou levar só o bloquinho. E se eu não entender a minha letra no bloquinho? Minha caligrafia é péssima! Está decidido: vou levar o gravador. Mas peraí: será que não vou acabar dependente de uma máquina, de um gravador? Meu Deus, tenho de aprender a fazer uma letra mais decente. É, vou levar só o bloquinho. Mas, e se o entrevistado disser que eu escrevi várias mentiras, que ele não disse nada daquilo que está no texto e resolver me processar? Com o gravador, posso provar que ele disse tudo aquilo, sim! E agora?

Resolvi levar o bloquinho e o gravador. Só para garantir. A minha única (e grande) mancada foi esquecer de verificar se as pilhas estavam no gravador. Na hora H, o negócio não funcionou. O entrevistado caiu na gargalhada. Puta sacanagem com um foca atrapalhado. Então eu usei só o bloquinho. Minha letra ficou, naturalmente, horrível, mas aprendi que é bem melhor mesmo prestar atenção nas palavras, captar a tal essência.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

As lambanças do caso Letterman


Já imaginaram se nos meios de comunicação do Brasil funcionários descontentes com o trabalho ou atolados em dívidas decidissem chantagear os figurões da empresa com a ameaça de revelar suas peripécias sexuais fora do casamento? Haveria muita gente borrando as calças de medo. Nos Estados Unidos, um caso ganhou repercussão mundial: a extorsão a David Letterman, apresentador do programa de entrevistas “Late Show”, da CBS.

A história ainda está muito estranha. O acusado da chantagem é o jornalista Robert Halderman, um produtor de 51 anos, 27 deles dedicados à emissora de TV. Halderman teria pedido um cheque de US$ 2 milhões a Letterman, que é casado, para não tornar público um caso do apresentador com Stephanie Birkitt, de 34 anos, sua ex-mulher e antiga colega de trabalho de Letterman. Como um cidadão exige o pagamento por um crime em cheque? Nem os chantagistas portugueses cometeriam tal deslize.

Halderman teria usado o diário de Stephanie como “prova do crime”. Não entendo também por que uma mulher casada, de mais de 30 anos, escreve todas suas traquinagens extraconjugais num diário, como uma adolescente apaixonada. Se não estava mal-intencionada, deve ser muito burra.

A lambança final foi de Letterman, que, durante seu programa, confessou ser vítima de extorsão e de já ter tido algumas aventuras sexuais com moçoilas de sua equipe, sem citar nomes. Por mais nobre que tenha sido o ato, em tom de arrependimento, a confissão causou desconforto entre as jovens, algumas delas casadas. Todos querem saber agora quem foram as outras amantes do velhinho tarado.

No meu caso, a vantagem de ser apenas um jornalista latino-americano sem dinheiro no banco é talvez nunca correr o risco de sofrer este tipo de extorsão. Até porque nenhuma jovem ambiciosa vai se interessar por um cara sem pistolão.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O netinho querido da vovó


O Nestor resolveu ficar doente justamente no nosso fim de semana. Começou a chorar de forma estranha no sábado à noite. Levei o pobrezinho a um hospital veterinário 24 horas e gastei lá o dinheiro do almoço do domingo. E o do resto da semana também. Na sala de espera, havia muitos cães, um cheirando o rabo do outro, na maior confraternização. Uma velhinha, com um chihuahua chato no colo, puxou assunto. Aliás, velhinhos adoram puxar assunto, assim como chihuahuas adoram ser chatos.

- Ah, então o senhor é jornalista? O meu netinho também é. O senhor trabalha onde?

- No momento, estou buscando novos caminhos, me reciclando, estudando muito, me redescobrindo como jornalista...enfim, estou desempregado, minha senhora!

- O meu neto também. Acabou de se formar e não consegue emprego de jeito nenhum. O menino é inteligente, fala Inglês fluentemente, mas não arranja nada. Dá para acreditar?

Não é a primeira vez que eu conheço alguém que tem parente jornalista. Até uma faxineira que trabalhou lá em casa tinha um sobrinho jornalista. Também era inteligente e não tinha emprego. Só não lembro se falava Inglês.

- Vou pedir para o meu neto mandar o currículo para o senhor. Talvez possa ajudá-lo. O menino é muito bom, inteligente...

Na semana seguinte, recebi um e-mail do moço, “o neto da velhinha do veterinário”, como ele mesmo se apresentou. Era um currículo enxuto demais, como também era o meu quando me formei. Mas o que mais me chamou a atenção – e me assustou – foi a “experiência profiCional”, com “c”. O netinho querido poderia até dominar o Inglês, mas o Português estava sendo duramente castigado. Mas avó é sempre avó, não é?

PS: Naquele sábado à noite, o veterinário disse que o Nestor estava ótimo. Era apenas manha canina. O danado me fez comer miojo por uma semana!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sapato neles


O jornalista, esse cara versátil e criativo, já está se especializando em uma nova atividade: o arremesso de sapatos em personalidades desagradáveis. Tudo começou no ano passado com aquele iraquiano maluco, o precursor mundial da modalidade, que presenteou George W. Bush com um par de “pisantes voadores”. Agora, foi a vez de um estudante turco, repórter de um pequeno jornal esquerdista, mandar o seu sapato (apenas um pé) na direção do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. Ambos mostraram, porém, uma enorme falta de pontaria, incrível semelhança com o ataque do Fluminense.

No Brasil, ainda nenhum jornalista-arremessador de sapatos em personalidades desagradáveis despontou. Somos sempre carentes de ídolos. Dirão que é por falta de incentivo do poder público, mas eu duvido. O que não falta é gente do poder público pedindo para levar um sapato na orelha. O Gilmar Mendes, por exemplo, vive dando bobeira nas sessões do Supremo. E cadê o nosso jornalista-arremessador para fazer o serviço? Acredito que o Maluf até gostaria de receber uma sapatada, mas desde que fosse, é claro, um clássico 752 da Vulcabras, com sola de borracha.

Eu, que na escola fui campeão de arremesso de bolinhas de papel nas costas do CDF da classe, até poderia me arriscar nesta nova carreira, mas, diante de minha precária situação financeira, a idéia seria uma grande loucura. Só tenho um par de sapatos. Torço, contudo, para que algum outro jornalista brasileiro tome a iniciativa e faça bonito no cenário mundial. Brasileiro é um povo talentoso. Acertaríamos o alvo em cheio e seríamos responsáveis pela criação do “arremesso de sapato-arte”. Alguém se habilita?