1. Ir à pauta de busão para embolsar a grana do táxi.
2. Fazer anotações na mão para economizar folhas do bloquinho.
3. Ir a uma coletiva chata só para garantir o almoço do dia.
4. Esfregar a caneta velha entre as mãos para soltar a tinta ressecada.
5. Passar a madrugada à base de café requentado escrevendo frilas que pagam mal pra cacete.
6. Aproveitar a entrevista com uma dermatologista famosa para perguntar qual o melhor tratamento para olheiras de jornalistas que passam a madrugada à base de café requentado escrevendo frilas que pagam mal pra cacete.
7. Decorar a casa só com presentinhos de assessor.
8. Perguntar ao entrevistado qual a operadora do celular dele para escolher o melhor chip e gastar menos no pré-pago.
9. Vender tudo que é tranqueira no MercadoLivre para conseguir comprar uma máquina fotográfica no MercadoLivre.
10. Usar a mesma calça jeans e o mesmo All Star há anos.
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terça-feira, 29 de abril de 2014
terça-feira, 22 de abril de 2014
Jornalisten bundamolensen
Carta ao jornalista dinamarquês que ficou chocadinho com o Brasil e desistiu do sonho de cobrir a Copa do Mundo.
Prezado Mikkel Jensen ou “jornalisten bundamolensen” (para falar um dinamarquês bem claro),
Eu adoraria fazer uma cobertura jornalística sobre a bela primavera em Copenhague. A cidade ensolarada e cheia de gente com consciência ecológica pedalando de lá pra cá. Se você me fizer um convite, vou praí com grande satisfação. Desde que o convite inclua, claro, passagem aérea, hospedagem e alimentação.
É muito bom cobrir belas primaveras em qualquer cidade ensolarada do mundo, mas, quando a gente escolhe ser jornalista, precisa estar preparado para tudo, coisas belas ou não.
Mazelas, tragédias, desgraças em geral fazem parte da nossa realidade de jornalista.
Jornalista chocado com a realidade é como um cirurgião chocado com sangue ou uma ninfomaníaca com direito a volumes 1 e 2 chocada com uma “pirocassen” ou uma “xoxotassen” (aliás, estas foram as primeiras palavras que me ensinaram em dinamarquês).
E você, meu caro, chocado com o que ouviu ou imaginou do Brasil ainda abriu mão do sonho de cobrir uma Copa do Mundo? Que porra de jornalista você é, afinal?
Aqui, no Brasil, há muitas coisas lindas para se cobrir, mas aqui também se matam crianças. Se matam velhos, Amarildos, se queimam índios. Violência social é com a gente mesmo. E é por isso que o Brasil precisa tanto do olhar sem medo dos jornalistas.
Não basta ter sangue viking correndo pelas veias. É preciso ter sangue de jornalista correndo pelas veias.
Para não me alongar, paro por aqui. Fico aguardando um convite seu para cobrir a bela primavera em Copenhague. Não me importo de viajar em classe econômica, ok? E torço muito para que você reconsidere sua decisão e volte ao Brasil para realizar o seu sonho. Venha mesmo, mas, por favor, sem “mimimissen” (para falar um dinamarquês bem claro).
Cordialmente,
Duda Rangel
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Prezado Mikkel Jensen ou “jornalisten bundamolensen” (para falar um dinamarquês bem claro),
Eu adoraria fazer uma cobertura jornalística sobre a bela primavera em Copenhague. A cidade ensolarada e cheia de gente com consciência ecológica pedalando de lá pra cá. Se você me fizer um convite, vou praí com grande satisfação. Desde que o convite inclua, claro, passagem aérea, hospedagem e alimentação.
É muito bom cobrir belas primaveras em qualquer cidade ensolarada do mundo, mas, quando a gente escolhe ser jornalista, precisa estar preparado para tudo, coisas belas ou não.
Mazelas, tragédias, desgraças em geral fazem parte da nossa realidade de jornalista.
Jornalista chocado com a realidade é como um cirurgião chocado com sangue ou uma ninfomaníaca com direito a volumes 1 e 2 chocada com uma “pirocassen” ou uma “xoxotassen” (aliás, estas foram as primeiras palavras que me ensinaram em dinamarquês).
E você, meu caro, chocado com o que ouviu ou imaginou do Brasil ainda abriu mão do sonho de cobrir uma Copa do Mundo? Que porra de jornalista você é, afinal?
Aqui, no Brasil, há muitas coisas lindas para se cobrir, mas aqui também se matam crianças. Se matam velhos, Amarildos, se queimam índios. Violência social é com a gente mesmo. E é por isso que o Brasil precisa tanto do olhar sem medo dos jornalistas.
Não basta ter sangue viking correndo pelas veias. É preciso ter sangue de jornalista correndo pelas veias.
Para não me alongar, paro por aqui. Fico aguardando um convite seu para cobrir a bela primavera em Copenhague. Não me importo de viajar em classe econômica, ok? E torço muito para que você reconsidere sua decisão e volte ao Brasil para realizar o seu sonho. Venha mesmo, mas, por favor, sem “mimimissen” (para falar um dinamarquês bem claro).
Cordialmente,
Duda Rangel
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terça-feira, 15 de abril de 2014
A arte de fazer tudo desaparecer
Apalpou os bolsos e nada.
Foi só voltar à redação e se dar conta de que o bloquinho de anotações havia desaparecido.
Era especialista em fazer as coisas desaparecerem. Bloquinhos, canetas, celulares, ideias geniais de dez minutos atrás. Seu apelido na redação era o “Repórter Lost”.
- Porra, São Longuinho, me ajuda aí.
O santo, que não é bobo, fingia não ouvir. Ajudar jornalista dá muito trabalho.
No bloquinho perdido estavam todas as aspas bombásticas para a grande matéria do dia. Resolveu voltar ao local da pauta, a rodoviária da cidade.
- Por favor, o senhor não viu um bloquinho perdido por aí, não? Um bloquinho de anotações pequeno, assim desse tamanho, capa azul ou vermelha, agora eu não lembro, todo sujo, com umas folhas bem rabiscadas, tipo letra que só farmacêutico entende.
Repetiu a pergunta várias vezes e nada.
Por que não inventam um bloquinho com microchip, rastreado por satélite e o cacete?
Se não reencontrasse o bloquinho, teria de se lembrar das informações e das aspas bombásticas de cabeça. Logo ele que, por três vezes seguidas, havia sido reprovado num curso de memorização a distância.
- Porra, São Longuinho, eu dou mil pulinhos mais juros extorsivos de 13,7% pelo milagre, tipo cheque especial, topa?
O santo, que não é bobo, topou. Mas pediu 15%.
Foi o faxineiro quem encontrou o bloquinho. No banheiro.
- Ó aqui, seu jornalista, seu bloquinho perdido. Mas eu vou falar uma coisa pro senhor: essa letra aí nem farmacêutico entende.
A matéria estava salva, o faxineiro ganhou um beijo na testa e o santo levaria seus 1.150 pulinhos de boa. No carro, voltando à redação pela segunda vez, foi saboreando as aspas bombásticas. O deadline apertou. Pensou num lead.
Mas foi só sentar para escrever a matéria e... O que estava acontecendo? Queria porque queria digitar e nada. A ideia genial de lead de dez minutos atrás havia desaparecido. Assim, sem mais nem menos. E sem deixar rastros.
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Foi só voltar à redação e se dar conta de que o bloquinho de anotações havia desaparecido.
Era especialista em fazer as coisas desaparecerem. Bloquinhos, canetas, celulares, ideias geniais de dez minutos atrás. Seu apelido na redação era o “Repórter Lost”.
- Porra, São Longuinho, me ajuda aí.
O santo, que não é bobo, fingia não ouvir. Ajudar jornalista dá muito trabalho.
No bloquinho perdido estavam todas as aspas bombásticas para a grande matéria do dia. Resolveu voltar ao local da pauta, a rodoviária da cidade.
- Por favor, o senhor não viu um bloquinho perdido por aí, não? Um bloquinho de anotações pequeno, assim desse tamanho, capa azul ou vermelha, agora eu não lembro, todo sujo, com umas folhas bem rabiscadas, tipo letra que só farmacêutico entende.
Repetiu a pergunta várias vezes e nada.
Por que não inventam um bloquinho com microchip, rastreado por satélite e o cacete?
Se não reencontrasse o bloquinho, teria de se lembrar das informações e das aspas bombásticas de cabeça. Logo ele que, por três vezes seguidas, havia sido reprovado num curso de memorização a distância.
- Porra, São Longuinho, eu dou mil pulinhos mais juros extorsivos de 13,7% pelo milagre, tipo cheque especial, topa?
O santo, que não é bobo, topou. Mas pediu 15%.
Foi o faxineiro quem encontrou o bloquinho. No banheiro.
- Ó aqui, seu jornalista, seu bloquinho perdido. Mas eu vou falar uma coisa pro senhor: essa letra aí nem farmacêutico entende.
A matéria estava salva, o faxineiro ganhou um beijo na testa e o santo levaria seus 1.150 pulinhos de boa. No carro, voltando à redação pela segunda vez, foi saboreando as aspas bombásticas. O deadline apertou. Pensou num lead.
Mas foi só sentar para escrever a matéria e... O que estava acontecendo? Queria porque queria digitar e nada. A ideia genial de lead de dez minutos atrás havia desaparecido. Assim, sem mais nem menos. E sem deixar rastros.
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segunda-feira, 7 de abril de 2014
Jornalista, breve definição
Ser jornalista é vida sem meio-termo. É ter diploma de bipolaridade. Ou não ter diploma. É amor e é dor. Entusiasmo e apatia no mesmo dia. É querer salvar o mundo sabendo que essa merda não tem mais jeito, não. É ter muitas ideias para o futuro e não ter a menor ideia do futuro. É bater e é apanhar. É ser seguramente inseguro. É ter ora uma vontade louca de viajar o planeta ora de ficar quietinho no seu canto. É ir do Inferno ao Céu numa única pauta. É odiar Matemática, mas encher a matéria de números. É querer fazer tanta coisa e ter uma preguiça danada. É ser livre sem ser livre. É se achar mesmo quando se está perdido. É ter porra nenhuma para celebrar e, ainda assim, ir ao bar. Um brinde à porra nenhuma! É fazer graça da desgraça. É dormir cheio de aflição e acordar cheio de excitação. Ser jornalista é ser tudo isso e não ser. Eis a confusão.
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