segunda-feira, 25 de julho de 2011

Qual jornalista você levaria para uma ilha deserta e deixaria lá, sozinho, mofando?


Algumas figuras da nossa imprensa são um pouco inconvenientes. Ou melhor, muito inconvenientes. Quero dizer, chatas mesmo. Por isso, a nova enquete do blog pergunta: Qual jornalista você levaria para uma ilha deserta e deixaria lá, sozinho, mofando? Escolhi 12 nomes, mas admito que a lista poderia ser bem maior. Para abandonar o seu escolhido na ilha, é só ir para a coluna à direita do blog e votar. Caso se lembre de outros jornalistas chatos, manifeste sua opinião na área de comentários.

A enquete que chegou ao fim – Qual a frase mais ouvida por um jornalista? – teve uma disputa bastante acirrada. O resultado foi um empate técnico. A frase tão repetida por nossos sábios pais “Eu falei, meu filho, estuda Engenharia” conquistou 31% dos votos, apenas dois pontos percentuais à frente de “O doutor está em reunião. Não vai poder estar atendendo” (29%).

Em tempo: ficarei uma semana de férias do blog. Volto em 1º de agosto, próxima segunda-feira. Ainda não decidi o que fazer no período de ócio. Pegando dicas na coleção “Que Viagem”, do selo Edith, talvez eu vá para a Casa do Chapéu. Ou para Onde Judas Perdeu as Botas. Qualquer que seja o destino, estarei em alerta no Twitter (@duda_rangel) e no Facebook. A gente se encontra por aí. Abraços e até mais.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Histórias de quem consome o Jornalismo


Seu Zé se atualiza sobre as maracutaias de Brasília pela rádio. Precisa de assunto para conversar com os passageiros de seu táxi.

Lúcia lê o horóscopo assim que abre o jornal. Não passa um dia sem se enganar.

Orlando não sai para o trabalho de manhã sem antes ouvir o bom dia da Renata Vasconcellos. E, claro, o da sua mulher também.

Dona Maria liga a TV no fim da tarde para ver a filha falar de ações preferenciais e ordinárias e derivativos e commodities. Não entende porra nenhuma, mas adora este ritual.

Quim, também conhecido como “o português da banca”, dá uma olhadela nas manchetes dos jornais populares e pendura os mais toscos na lateral da banca. Pro povão se deliciar.

Érica compra revistas de Saúde e Fitness para conhecer as novas dietas da moda que ela não vai fazer. Porque odeia dietas.

Ricardo se inspira nas crônicas do Verissimo para manter vivo o sonho de ser escritor.

Isabel lê todas as matérias sobre cinema asiático e artes plásticas. Para comentar com as amigas no almoço. E fingir que é culta.

Indignado com o trânsito, Paulo liga na rádio de trânsito. Só para ficar um pouco mais indignado.

Silmara, a cabeleireira, deixa a TV de seu salão ligada e sem som. Fica suspirando pela buniteza do apresentador do jornal.

Antes de ir para o canteiro de obras do metrô, Juraci pára na banca do Quim. Solta um “eita, danado” quando lê sobre o marido corno que fez picadinho da mulher.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O jornalzinho da firma


Pedro odiava quando diziam que ele era o responsável pelo jornalzinho da firma.

Ele era, segundo suas explicações, o editor do Sua Voz, veículo de comunicação dirigido aos colaboradores da organização ou ao público interno. A coisa ficava bem diferente.

A merda é que até o presidente falava jornalzinho da firma.

- Doutor Alcides, assim o senhor desvaloriza o produto. Jornalzinho da firma, house organ, essas expressões são muito antigas, sabe? Hoje, temos o quê? Temos um canal de diálogo com um dos mais importantes stakeholders da organização: os nossos colaboradores. Dizer jornalzinho da firma é o mesmo que dizer que a kafta que o senhor comeu ontem no churrasco é espetinho de carne moída. Percebe a diferença?

Mas doutor Alcides não percebia. Nem sabia o que era kafta. Muito menos carne moída. Insistia que era, sim, o jornalzinho da firma. Da sua firma. E ponto final.

Tinha gente que, ciente que o Pedro não gostava da alcunha dada ao Sua Voz, sacaneava.

- Aí, Pedrão, quando sai o próximo jornalzinho da firma?

Pedro amava o Sua Voz. Dedicava sua vida a ele, ainda mais depois do fora que levou da Maria Clara, do Faturamento. Criou seções diferentes, a coluna sobre a memória da organização, um concurso de poesias. Para mostrar que o veículo não era um simples porta-voz do patrão, instituiu até um espaço para cartas de reclamações dos colaboradores, com a garantia de que não haveria retaliações. E realmente não havia.

Um dia recebeu uma carta da Maria Clara, do Faturamento. Será que ela também queria reclamar de algo? Mas não era um protesto. Era coisa boa. Bem boa. Ao ler a carta, Pedro sentiu uma dor de barriga tão grande de felicidade que saiu correndo para o banheiro. “O seu convite para o cinema ainda está valendo, Pedro? Se estiver, eu aceito. Sabia que de todos que trabalham no jornalzinho da firma você é o mais bonito?”

Trancado na primeira cabine do banheiro do sexto andar, Pedro relia a carta. Era só alegria. Nem se importou que a Maria Clara, do Faturamento, escreveu jornalzinho da firma.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Teste para jornalistas: qual o seu nível de vaidade?


Responda às questões e descubra. O resultado está no fim do post.

1) O que você faz quando tem uma matéria assinada na capa do jornal?
A) Mostra o jornal para a família, amigos, para a torcida do Flamengo.
B) Guarda o jornal e, vez ou outra ao longo do dia, dá uma paquerada na capa.
C) Não se ilude. Sabe que, no dia seguinte, aquele jornal vai enrolar peixe na feira.

2) Se alguém de outra área lhe diz que ser jornalista é o máximo do glamour, você...
A) Concorda que é um ser humano especial e pergunta se a pessoa não quer um autógrafo.
B) Agradece meio encabulado: “Nem tanto, nem tanto”.
C) Responde: “Dá uma olhada no meu extrato bancário e depois me diz o que é glamour”.

3) Como você gosta de se vestir na redação?
A) Super descolado e de acordo com as tendências da moda.
B) Sem exageros, mas sempre com a camisa e a calça passadinhas.
C) Tênis sujo, calça rasgada e camiseta do Seu Madruga de Che Guevara.

4) Você gostaria de ganhar um Prêmio Esso?
A) Lógico, eu vivo para isso.
B) Ficaria muito feliz.
C) Caguei para o Esso. Prefiro ganhar a Mega-Sena acumulada.

5) Se alguém lhe pergunta se foi difícil entrevistar o Rodrigo Santoro, você...
A) Diz que foi uma moleza, afinal você é amigão do Rô.
B) Diz que foi difícil, mas que sua boa relação com o assessor do ator ajudou.
C) Confessa que as declarações foram dadas numa entrevista coletiva, com outros 37 jornalistas.

6) Você é um apresentador de TV. Ao sair uma noite para jantar, não é reconhecido por ninguém no restaurante. O que você faz ao chegar em casa?
A) Se entope de Prozac para não cometer suicídio.
B) Acredita que só não foi reconhecido por estar de óculos e boina.
C) Descobre o lado bom do anonimato: pôde jantar sem ninguém enchendo o saco.

7) Ao entrar na área VIP de uma festa, ao lado de celebridades, você...
A) Cumprimenta a Gisele Bündchen (“Gi”) como se fossem íntimos há 20 anos.
B) Faz fotos da festa com seu celular pré-pago para colocar no Facebook.
C) Acha tudo aquilo muito chato e sente saudade do boteco ao lado da redação.

8) Como você reage a uma crítica negativa ao seu texto?
A) Fica puto da vida, afinal como podem falar mal de um texto tão perfeito?
B) Finge que aceitou as críticas e não admite para si que o texto está ruim.
C) Reconhece que o texto ficou mesmo uma merda.

9) Quando algum entrevistado elogia publicamente sua pergunta em uma coletiva de imprensa, você...
A) Faz que não ouviu o elogio e pede para ele repetir o que disse em voz mais alta.
B) Se imagina mais tarde na redação contando o elogio para o chefe.
C) Preferiria ter recebido uma resposta interessante à sua pergunta.

10) Se você é demitido do jornal porque fez uma cagada, você diz aos amigos que...
A) Pediu um ano sabático ao editor para se reciclar. Talvez uma viagem para Viena.
B) Foi vítima do processo de downsizing da redação.
C) Revela que matou Itamar Franco três dias antes da morte oficial.

RESULTADOS

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “A”: O seu nível de vaidade é comparável ao de publicitários loucos para ganhar um Leão de Ouro em Cannes. Você tem certeza que é o fodão, o semideus, praticamente um Arnaldo Jabor. Se liga, mané!

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “B”: Você é vaidoso, sim, mas ainda dentro de um padrão de normalidade. Não é o caso de você ser encaminhado ao consultório de um psiquiatra. Só tome cuidado para não pular para a letra “A”, ok?

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “C”: Você é o jornalista-Amélia, aquele que não tem a menor vaidade. É um tipo raríssimo, mais difícil de ser encontrado do que jornalista que não reclama ou jornalista que ganha bem.


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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Tristes histórias de quem migrou para o jornalismo sem diploma (e já se arrependeu)


Sou modelo e meu sonho sempre foi ser famosa. Todo ano me inscrevo para a seleção do Big Brother e já ganhei o concurso Miss Festa da Jabuticaba lá na minha cidade. Quando soube que não precisava mais de diploma para ser jornalista, vibrei: “Chegou a minha vez”. Pedi o registro no Ministério do Trabalho, botei minha minissaia e fui pra capital atrás de uma chance na televisão. E não é que eu arrumei um emprego? Só que até agora nada de fama. O máximo que faço é redigir notas cobertas. Que ironia, logo eu que sempre gostei de me despir! Se isso é ser jornalista, então eu tô fora! Quero ter um programa só meu pra apresentar, ser reconhecida nas ruas. Odeio escrever notinha. Prefiro concentrar minhas energias no concurso Garota Festa do Milho Verde 2012 que tá logo aí.
(Suellen Adriely – Sabará/MG)


A medicina foi a maior decepção da minha vida. Muito trabalho para pouco retorno financeiro. Vocês sabem quanto estes vermes dos planos de saúde pagam por uma consulta? Uma merreca! Você trabalha praticamente de graça aqui no Brasil. É mais vantajoso fazer trabalho voluntário na África. Foi quando resolvi mudar de profissão. Como sempre gostei de escrever, descolei um emprego como repórter em um jornal diário. A desgraça é que nada mudou! Plantões intermináveis, celular que toca no fim de semana e uma miséria no fim do mês. Para ser sincero, acho que até piorou. Não consigo sequer decifrar minha letra no bloquinho de anotações. Antes, isso era um problema dos meus pacientes.
(Mário Sérgio Ponzio – Guarulhos/SP)


Só depois de me formar, em Antropologia, descobri que o mercado de trabalho estava saturado. Todo antropólogo quer viver em alguma tribo indígena, mas o problema é que tem pouca tribo para muito profissional. A solução foi buscar oportunidade em outra área. Por que não o jornalismo? Nem precisa mais de diploma. A idéia da diversidade humana de uma redação também me seduziu. Mas quem disse que arrumo emprego como jornalista? Arrumo nada. Acho que no Brasil tem menos redação do que tribo de índio. Fugi de uma roubada e caí em outra. Um amigo publicitário, que também sofre com a saturação dos mercados, me disse que o lance agora é a construção civil. Com o boom imobiliário, tá sobrando vaga de pedreiro. “Vamos bater laje, Dionísio!” Sou fraco fisicamente, mas até que gosto da idéia da diversidade humana de um canteiro de obras.
(Dionísio Cardoso – São Paulo/ SP)

Leia também:
Todo mundo virou jornalista
Diploma, dois anos na marginalidade

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Essa edição é pra casar


Às vezes, acho que estou velho para tantos casos. Efêmeros. Estou velho, mas ainda gosto do imprevisível, dos riscos. Não que eu seja volúvel, longe disso, é que elas me seduzem. Parece que não sei viver sem elas, sem a variedade delas. Tem gente que vai ao McDonald´s e pede sempre o número 1. Eu sempre gostei de variar, sabe?

Mas quando o homem fica velho começa a pensar se não é hora de sossegar esse fogo, buscar uma relação mais estável, mais fiel. Um amigo meu, também jornalista, vive me dizendo: “as reportagens são excitantes – quem não gosta delas? –, mas já não é tempo de você pensar em trabalhar na edição? A edição é pra casar”.

A edição é o próprio casamento. Uma vida com roteiro pronto a que você se acostuma com o tempo, uma vida mais tranqüila, mais caseira. O grande risco é você engordar, porque se come muito mais. Na reportagem, chego a passar o dia com meia dúzia de cream cracker no estômago.

As reportagens exigem pique, fôlego, preparo físico, mental, espiritual, transcendental. Você não pode falhar. Não que eu falhe, longe disso – aliás, nunca falhei, eu juro –, é que eu sinto que as reportagens se ligam mais nos garotões, nos caras que estão começando. Será que não estou fazendo o papel do tiozão bobo que ainda acha que apavora?

O tal meu amigo me disse também que, quando eu quiser, me arruma rapidinho um esquema com a edição. Mas é esquema sério, papel passado e tal. Edição decente, de família.

Mas enquanto eu não me decido, sigo com as minhas reportagens. Aliás, daqui a pouco vou para uma nova, lá no centro da cidade. O pauteiro ainda não me disse do que se trata, por isso, eu fico aqui imaginando, fantasiando. Será que é uma reportagem bem gostosa, daquelas de deixar o jornalista a tarde toda eufórico, extasiado? Só não pense que sou tarado, por favor. Longe disso.

Leia também: Separação

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Redação


Toques de telefone que se misturam ao barulho de gavetas que se abrem e fecham em descompasso com o som das teclas dos computadores e vozes finas e grossas e estridentes que contam piadas e fofocam e brigam com o chefe e fazem entrevistas e gritam com assessores num coral desafinado.

TVs penduradas aqui ali acolá com telas que vomitam berros do Datena em dessintonia com o inglês da CNN e os boletins da Globo News até o esperado boa noite do Jornal Nacional e o futebol do pay-per-view que atrai uma horda de curiosos e palpiteiros que cercam o repórter que faz a crítica de Flamengo e Corinthians e xingam o juiz e gritam gol como se estivessem num boteco.

Mesas com bloquinhos com canetas com gravadores com mouse pads imundos cercados de porta-retratos da mãe e do filho e do marido que disputam espaço com fios de computador que descem ao chão pelas pernas do repórter e se enroscam numa cadeira de rodinhas boa de atacar cifose lordose escoliose.

Assessores que desfilam com sacolinhas de jabás e esbarram nos repórteres e fotógrafos que estão de saída pra rua e nos repórteres e fotógrafos que estão de volta da rua e numa correria danada tropeçam em crianças da excursão escolar àquele zoológico com focas e antas e macacos velhos cada qual na sua jaula de trabalho.

Um cheiro de café em desarmonia com o cecê de sovacos de dedicados jornalistas que passaram o dia todo em pauta com seu Rexona vencido e agora esticam seus braços sobre teclados até altas horas para que a porra do jornal enfim feche e no dia seguinte todo esse caos comece de novo e de novo e de novo.


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quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Inferno de Duda


Já imaginou o Inferno habitado só por jornalistas? Republico aqui minha viagem dantesca ao cafofo de Lúcifer, acompanhado do jornalista Luiz Carlos Alborghetti, que por conhecer bem o pedaço assume o papel de meu guia, meu Virgilio. A jornada espiritual começa no limbo, uma espécie de ante-sala do Inferno, e percorre os nove círculos.

Limbo: é o local onde ficam os jornalistas que fizeram algo de louvável, mas não escaparam do Inferno simplesmente porque escolheram ser jornalista. São os que denunciavam ministros picaretas, falsos doutores, os que defendiam a Amazônia. O local também abriga os críticos que detonavam os livros do Paulo Coelho ou os discos da Preta Gil. Vivem uma vida bem classe média. Nunca chegarão ao Paraíso, mas também não queimarão a bunda nos andares mais baixos do Inferno.

2º círculo (luxuriosos, sedutores e sacanas em geral): é onde ficam os jornalistas que sempre tentaram comer as estagiárias gostosas da redação. Lá também estão os que gostavam de impressionar as mulheres com o “status” de jornalista, no melhor estilo Bozó, da Rede Globo. No Inferno, vivem isolados, condenados ao onanismo eterno. Ao chegar, recebem uma Playboy da Fernanda Young e um pôster da guerrilheira Dilma Rousseff.

3º círculo (gulosos): é onde ficam os jabazeiros, gente que adorava um bom vinho de presente, uma viagem ao Caribe a convite de alguém, vernissages e bocas-livres em geral. Na morada do Capeta, o único presente que podem receber é o DVD Preta Gil Ao Vivo, autografado pela cantora. Em vez de jantares chiques, vão às festas da laje do círculo, com churrasco de gato, cerveja morna e, claro, muita música da filha do Gilberto.

4º círculo (avarentos): é o espaço reservado aos jornalistas que davam “carteirada” para assistir a eventos esportivos ou espetáculos culturais na faixa. Usavam a velha desculpa de estar a trabalho só para não pagar. No Inferno, são obrigados a viver em uma casa de shows velha, cheia de baratas e sem ar-condicionado. O calor passa dos 50 graus. Ficam o dia inteiro assistindo a um mesmo show, de Suzana Black, a Preta Gil cover.

5º círculo (assessores de imprensa do mal): o espaço é destinado aos que enviavam releases com informações inverídicas, que vendiam uma pauta exclusiva para vários jornais, que ligavam para a redação na hora do fechamento ou eram chatos no follow-up. Como castigo, passam 24 horas ao telefone, recebendo propostas de aquisição de cartão de crédito e internet banda larga. Os assessores do bem vão para o limbo.

6º círculo (vaidosos e competitivos): são os jornalistas que faziam de tudo para conseguir um furo de reportagem, mesmo que para isso tivessem que puxar o tapete de um colega. Sonhavam com prêmios. São os que sonegavam informações aos amigos e se debruçavam sobre a tela do computador para que ninguém descobrisse sua “grande matéria”. Hoje, atuam como rádio-escuta no jornal oficial do Inferno, para ajudar os colegas. O único furo que dão é para o Capeta, mas não precisamos entrar em detalhes.

7º círculo (abutres em geral): local reservado aos sensacionalistas, que alavancavam a audiência de seus noticiários explorando a desgraça e a miséria alheias. Têm a companhia dos invasores de privacidade, paparazzi e afins. É onde vive o Alborghetti. Ele aproveita e me serve um cafezinho. Frio. No Inferno, eles são condenados a editar um tablóide diário em que reportam os próprios castigos a que são submetidos, tudo com muito drama e sofrimento. Afinal, o Capeta também gosta de uma imprensa marrom.

8º círculo (mentirosos e caluniadores): é um grupo formado por pecadores de respeito, que mancham a reputação da crasse. São os que inventavam matérias, criavam factóides, tudo com o objetivo de difamar o outro. Sofrem um dos piores castigos: diariamente são publicadas, no jornal oficial do Inferno, notícias falsas que denigrem a imagem destes pecadores. Sem direito de resposta.

9º círculo (vendidos e subornadores): estão no nível mais baixo do Inferno, os pecadores de alta periculosidade. São os que, em vida, tiveram o rabo preso e serviram apenas a interesses obscuros. Lá também estão os que publicavam informações mediante vantagem financeira e os que subornavam fontes em troca de privilégios. São os que ardem nas profundezas. No Inferno, até tentam negociar algum tipo de benefício, mas o Capeta, que não é bobo, não dá a mínima. Só faz aumentar o tamanho da labareda.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Qual a frase mais ouvida por um jornalista?


Sejam do editor, do assessor de imprensa ou da própria família, algumas frases perseguem os jornalistas em seu dia-a-dia. “Solta logo esse texto, porra!” e “Eu falei, meu filho, estuda Engenharia” são alguns exemplos. Mas qual é a frase mais ouvida? A nova enquete do blog já está no ar, na coluna à direita da página. Participe, seu voto é muito importante (você já deve ter ouvido muito esta frase também).

A pesquisa que acabou de acabar – Jornalista, você tem medo de quê? – teve a vitória da alternativa “Olhar o saldo da conta bancária”, com 41% dos votos. A segunda opção mais votada foi “Ser só um número na estatística do desemprego”, com 27%.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

20 razões para um jornalista de hard news ter uma crise de estresse


1) Ter que escrever um texto de 40 linhas em 5 minutos.

2) Escrever o texto de 40 linhas em 5 minutos com o bafo de café do editor no cangote.

3) Fazer duas ou três ou quatro matérias num único dia.

4) Ser obrigado a ter sacadas originais mesmo fazendo duas ou três ou quatro matérias num único dia.

5) Ver a hora do fechamento bem próxima sem ter o retorno telefônico de uma fonte importante.

6) Em seu plantão, temer que a qualquer momento uma desgraça (queda de avião, rebelião em presídio, enchente) pode acontecer.

7) Ser chamado pelo chefe do plantão para cobrir a desgraça que, enfim, aconteceu.

8) Estar sempre preocupado em dar e não tomar um furo da concorrência.

9) Levar vida de pediatra (24 horas por dia com o celular ligado para emergências) recebendo salário de repórter.

10) Precisar voar para uma pauta.

11) Precisar voar para uma pauta e pegar um puta trânsito no caminho.

12) Precisar voar para uma pauta, pegar um puta trânsito e perceber que esqueceu o gravador apenas ao chegar ao local.

13) Não chegar a tempo para a pauta depois de um vôo cheio de turbulências.

14) Mal ter tempo de almoçar, respirar, cagar.

15) Não ter hora para sair da redação à noite.

16) Perder a apresentação de balé da filha num sábado à tarde por estar trabalhando.

17) Suportar entrevistado que adora se estressar com jornalista.

18) Trabalhar em uma editoria que odeia.

19) Viver com medo de perder o emprego para um repórter mais jovem e (ainda) sem crises de estresse.

20) Saber que se errar será punido. E se acertar receberá, no máximo, um singelo tapinha nas costas.