quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sobre dores, coisas boas e uma despedida


“O jornalista é, antes de tudo, um forte”
(Euclides da Cunha)


Quem já teve pedra no rim (meu caso) ouviu alguém falar que a dor da danada se mexendo é pior que a dor do parto. E a dor de ser jornalista, como é? É pior que cólica renal. Porra, então vamos desistir desta profissão, vocês vão dizer. Sofrer pra quê? Mas não se foge da dor. Ela faz parte da vida. Para ser jornalista – assim como para viver – é preciso conviver com a dor, ser mais forte que ela. Defendo até que as faculdades de jornalismo, além dos estúdios de rádio e TV, tenham um Laboratório da Dor, para simular sensações como a perda do emprego, da liberdade, das ilusões, dos cabelos.

O ano de 2011 foi doloroso para os jornalistas por velhas razões. Passaralhos, violência, desrespeito. O diploma, tadinho, seguiu marginalizado. Deu até entrevista para o blog revelando, por exemplo, que tentou o suicídio. Mas sobrevivemos. Sempre sobrevivemos. Só quem é capaz de suportar a dor é capaz de saborear as coisas boas da vida e dessa nossa profissão maluca. E posso garantir: são muitas as coisas boas pra gente saborear!

Que em 2012 a gente continue mais forte que qualquer dor.

Quero agradecer aos leitores fiéis que prestigiam meus textos neste blog, aos que dão uma passadinha de vez em quando, aos que postam comentários, aos que comentam só em pensamento, aos que mandam mensagens carinhosas, aos que discordam do que escrevo, aos que divulgam meus escritos por aí, aos que choram, aos que riem.

O blog entra em férias e volta a ser atualizado em 16 de janeiro. Neste período de hibernação, vai rolar o “Desilusões perdidas Retrô” no Facebook e no Twitter, com os melhores (ou piores) posts de 2011. A quem estiver na área, é só ficar ligado. Ano que vem, tem mais. Valeu, amigos, vocês são a razão deste blog! Feliz ano novo! Duda.


PS: Não sei se o mundo acaba mesmo em 2012, mas, se acabar, torçam para não estar de plantão. Porque, acreditem, cobrir o apocalipse vai ser muito foda.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

40 resoluções para não cumprir em 2012


1. Passar os telefones do bloquinho para a agenda do celular.
2. Não perder o celular.
3. Organizar a pilha de jornais com os recortes de suas matérias.
4. Não aceitar mais frila por uma merreca.
5. Mudar para um emprego decente.
6. Mudar para uma profissão decente.
7. Criar uma superagência de assessoria e dominar o mercado.
8. Fazer um plano de previdência para não correr o risco de acabar no Retiro dos Jornalistas.
9. Não assistir mais ao BBB. Nenhuma espiadinha.
10. Reclamar menos.
11. Transar mais.
12. Fazer um plano anual na academia.
13. Largar o cigarro.
14. Moderar na cerveja.
15. Beber pelo menos dois litros de água por dia.
16. Fazer refeições de 3 em 3 horas.
17. Não ter medo do passaralho.
18. Atualizar o blog toda semana.
19. Pagar todas as contas sem atraso.
20. Devolver o dinheiro que pegou emprestado de um amigo (não-jornalista, claro).
21. Dar mais atenção ao “eu interior”.
22. Perder menos tempo lendo o blog do Duda Rangel.
23. Ficar menos dependente do Google para apurar matérias.
24. Ficar menos dependente das redes sociais para viver.
25. Ser mais tolerante com os assessores de imprensa.
26. Voltar a estudar inglês.
27. Ler pelo menos 25 livros no ano.
28. Ler pelo menos 3 jornais todas as manhãs.
29. Realizar o sonho do iPad próprio.
30. Não aceitar mais jabás.
31. Ter mais engajamento social (é diferente de ir a baladas).
32. Doar sangue (mais a quem precisa e menos ao dono do jornal).
33. Escrever um livro.
34. Comprar um All Star novo e aposentar o velho encardido.
35. Parar de se entupir de remédio para dormir.
36. Parar de ficar procurando o amor de sua vida em eventos só com jornalistas.
37. Parar de odiar o Gilmar Mendes.
38. Parar de ficar tanto tempo parado.
39. Procurar mais personagem nas ruas e menos no Twitter.
40. Não fazer mais listas com resoluções de ano novo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O presente de Natal certo para cada tipo de jornalista


Para o jornalista que não terá férias em janeiro: o livro “Como descolar pautas bacanas num período em que porra nenhuma acontece”.

Para o jornalista metido a intelectual: assinatura da revista New Yorker para ele deixar sobre a mesa de trabalho. Ele não sabe Inglês? Tudo bem. É só para deixar sobre a mesa.

Para um jornalista chato que você tá bem a fim de sacanear: livro do Gabriel Chalita. Qualquer um tá valendo. Se achar aquele em que ele troca cartas com o padre, ótimo.

Para o jornalista que sempre perde o bloquinho de anotações: um moderno bloquinho com rastreador e sinal sonoro que repete “atenção, este bloquinho está sendo perdido”.

Para o jornalista que não entende a própria letra no bloquinho: curso de caligrafia a distância do IUB, com método que vai de entrevistas rápidas a convites de casamento.

Para o jornalista obcecado por furos: uma cesta de queijos do tipo Emmental.

Para a jornalista cheia de glamour da editoria “Geral”: um kit bem brega com botas de borracha e capa de chuva, afinal o verão tá aí, e enchente não é nada fashion, bebê.

Para um jornalista sem diploma: porta-retratos com uma foto sua levantando o troféu de campeão da Copa Jürgen Habermas de Truco Universitário. Só para fazer inveja.

Para o bom assessor de imprensa (no crees en asesores de prensa buenos, pero que los hay, los hay): um almoço em sua casa, para retribuir todas as bocas-livres que ele lhe proporcionou ao longo do ano.

Para o foca que acha que já sabe tudo: uns tapas na orelha para ele ficar esperto.

Para o jornalista que padece de insônia: a indicação do blog do Duda Rangel. Se é para ficar a noite toda de bobeira, aproveita então para ler os textos do pobre coitado.

Para o jornalista que adora ser a notícia: capa fake da Caras com a foto dele, claro, e a chamada: “Fulano de tal abre sua casa em Búzios e fala dos novos projetos jornalísticos”.

Para uma apresentadora global desempregada: um programa matinal em 2012.

Para o jornalista que não consegue um aumento de salário decente: um mês com apenas 15 dias. Se encontrar um com 10, melhor ainda. Presentaço de Natal.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O que alguns jornalistas esperam para o ano novo


Como os sonhos sempre se renovam, um post para relembrar.

Fábio espera ser promovido de estagiário pessimamente remunerado sênior para repórter com salário de merda júnior.

Letícia espera fazer uma especialização em Jornalismo na Espanha. Ou um mestrado em Mídias Sociais na USP. Ou trabalho voluntário. Ou mudar o corte do cabelo.

Murilo espera cobrir uma guerra no Oriente Médio, mas, se não rolar, serve um morro no Rio de Janeiro.

Sérgio espera não esperar nada para depois não se frustrar.

Tatiana espera arrumar um empregão, igual ao da Ilze Scamparini.

Diogo espera deixar a revista Hidráulica Moderna e poder, enfim, escrever sobre cinema.

Joana espera roubar todos os clientes da agência de assessoria de imprensa de seu chefe canalha e abrir sua própria agência.

Pedro espera parar de fumar, beber e se entupir de comidas gordurosas. Mas só às segundas-feiras de lua cheia.

Patrícia espera que o jornal em que trabalha não vá à falência ou vire apenas uma edição eletrônica.

Fernanda espera arrumar um namorado novo. Mas, por favor, Deus, que não seja outro jornalista.

Roberto espera fazer menos plantão. E mais sexo.


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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O dia seguinte


Oi. Eu pensei que você fosse ligar.

Fiquei de ligar?

Não, mas eu esperei, sei lá. Imaginei que pudesse rolar algo mais.

Não devia esperar, sabe disso.

É que eu sou boba mesmo.

Eu avisei que era coisa momentânea.

Avisou, sim. Só me diz uma coisa.

O quê?

Sobre ontem.

O quê?

Não foi legal?

Foi ótimo.

Sério?

Claro, você é excelente.

Eu fico mais feliz assim.

O problema não é você. É que a gente não tem vaga mesmo.

Eu sempre me iludo com algo mais sério, tipo emprego, sabe?

Foi ótimo, mas foi só um frila.

Ok, ok, foi só um frila (risos). Se pintar outro, me avisa, tá? A grana é boa. E obrigada pelo “você é excelente”!

Sabe que eu gosto de você, né?

Então, tchau.

Peraí, moça.

O quê?

Quer sair comigo hoje à noite?

Hoje?

É. Hoje.

...

Vamos?

Tá bom, mas, ó, já vou avisando: é só sexo, tá? Sem compromisso.


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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Adote um jornalista carente neste Natal


Um post cheio de espírito natalino para relembrar. Escolha uma cartinha, dê o presente e faça um jornalista feliz.

“Estar desempregado não afeta apenas a auto-estima de um jornalista. Afeta o seu estômago. Vocês não imaginam o que é comer todo dia o marmitex de cinco reais do bar do Sassá, na Vila Buarque. Como fica a dignidade do ser humano? Logo eu, um cara acostumado ao bem-bom das coletivas de imprensa. São dois anos longe de um canapezinho de atum com damasco, de um carpaccio de salmão. Mas o que eu queria ganhar mesmo neste Natal é o meu prato favorito: filé mignon ao molho madeira com batatas prussianas. Eu só peço a refeição, mas se rolar também um presentinho-surpresa eu ficaria ainda mais feliz.”
Ricardo Macedo

“Eu acabei de me formar e ainda não consegui um emprego. Eu podia estar jogando videogame, podia estar assistindo àqueles videozinhos de stand-up comedy no YouTube, mas prefiro pedir uma chance de trabalho. Aceito qualquer coisa, por qualquer salário. Se for o caso, trabalho até de graça. Sei que é difícil apostar num jovem com um currículo de uma página e ainda assim em Arial 16. Para não dizer que não tenho experiência alguma com técnicas de apuração jornalística, eu gosto muito de monitorar as frases dos famosos no Twitter. Lá, vocês sabem, é sempre possível encontrar grandes furos.”
Bruno Felipe de Oliveira

“A maior frustração da minha vida é nunca ter recebido um prêmio jornalístico. Até hoje, só consegui um troféu mixuruco de terceiro lugar no concurso de poesia na 5ª série. Prêmio faz o jornalista se sentir mais importante. Umas amigas já ganharam. Eu perdi as contas de quantas vezes já reescrevi o meu discurso de agradecimento nesses últimos 15 anos. Eu gostaria muito neste Natal que alguma grande empresa, tipo uma multinacional, se sensibilizasse com a minha história e criasse um prêmio jornalístico exclusivo para mim. Tenho até um espaço reservado na estante da minha sala, ao lado do troféu de poesia da 5ª série.”
Cássia Monteiro

“Fim de ano e o Retiro dos Jornalistas fica cheio. As pessoas só lembram da gente no Natal. No resto dos dias é um esquecimento só. Mas, tudo bem, já é alguma coisa. O que eu queria receber de presente é algo um pouco complicado, eu sei. Queria alguém para me ouvir. Hoje, é tão complicado encontrar alguém para nos ouvir. E eu tenho tanta história para contar. Era eu quem redigia as receitas de bolo para publicar no jornal quando o pessoal da censura baixava na redação. Um dia esqueci de colocar a farinha na lista dos ingredientes. Já viram bolo sem farinha? E as figuras que eu já entrevistei? Teve uma mulher que jurava ser a reencarnação da Nossa Senhora. Dá para acreditar? Reencarnação de Nossa Senhora?”
Marcos Saldanha


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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Crise existencial


De onde vim e pra que pauta irei?

Existe vida após um dia de trabalho de 14 horas?

O jornal impresso vai mesmo acabar em 2012?

Onde estava Deus na hora em que decidi prestar jornalismo?

Por que a liberdade vem sempre pela metade?

Por que o tempo passa mais rápido quando a gente tá atrasado?

Qual o sentido da faculdade de jornalismo? Pra lá ou pra cá?

O que é felicidade? Uma manchete assinada? Uma porção de calabresa?

Deus está vivo? Roberto Marinho é o Deus? Roberto Marinho está vivo?

Ser assessor de imprensa ou não ser?

Se existem perguntas sem resposta, por que o meu editor me enche tanto o saco?

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Rápidas lições para fingir ser um jornalista cheio de glamour


Com o sucesso das rápidas lições para fingir ser um jornalista intelectual, o blog decidiu criar outro módulo intensivo. Nós, jornalistas, sabemos que nossa vida não tem glamour algum, mas as pessoas leigas, tadinhas, acreditam que tem. Por que frustrá-las com a triste realidade? Não, nada disso! Mantenha viva nestes pobres mortais a fantasia de profissão chique. E mais: engane a si próprio! Sim, você pode. É o que muitos jornalistas tanto querem! A ilusão tem gosto de mel.

Todo jornalista que busca fingir uma vida de encantos deve cobrir, ao menos uma vez, a São Paulo Fashion Week. O primeiro passo é aposentar o seu guarda-roupa by Renner. Básico. Descole roupas e acessórios de grifes internacionais. Vale uma peça falsificada? Se for impecável, sim. Use aqueles óculos que ocupam 77,8% do seu rosto, porque, além de chiques, eles escondem suas olheiras de cansaço e as rugas de preocupação pela falta de dinheiro. Nada de ficar pegando sacolinha de jabá, hein? Pelo amor de Deus! Eu sei que é difícil recusar, mas elas são muito atestado de pobreza! Não deixe também de entrar de penetra nas festas bacanas que rolam todos os dias e faça de tudo por uma foto com a Gisele Bündchen. Poste no Face, óbvio, no álbum “badalando com a Gi na SPFW”.

Os gays – e existem muitos gays no mundo jornalístico – são um ótimo benchmarking. Até a bicha mais pão-com-ovo do mundo consegue fingir glamour. É este o espírito! Assistir ao filme O Diabo Veste Prada à exaustão também ajuda na inspiração. Ser chique é ainda liderar um abaixo-assinado pela internet em prol de qualquer merda, viajar (ninguém precisa saber que foi a convite de uma operadora de turismo) para Copenhague – aliás, já descobriu onde fica Copenhague? –, ter um prêmio na estante da sala. Como? Vá até uma loja de troféus e medalhas e encomende uma estatueta superexclusiva para você. Invente um nome legal, tipo Prêmio Top Top de Jornalismo Investigativo, e, lógico, deixe-a bem à mostra quando rolar um jantarzinho para os amigos na sua casa. Humilhou!

Seres humanos que exalam glamour merecem ser paparicados. Fã é um troço chato, grudento, mas necessário. No seu caso, o papel de fã caberá aos assessores de imprensa. Eu sei que você vai protestar: “pô, com tanta gente legal pra ser meu fã, por que logo um assessor de imprensa?”. Primeiro: fã a gente não escolhe. Segundo: tudo isso aqui é um grande fingimento, já esqueceu? Imagine que a bajulação dos assessores é carinho, idolatria. Esqueça que eles têm outros interesses. Relaxe, aproveite os presentinhos, os jantares no Fasano. E uma dica ótima: quando eles se aproximarem para vender alguma pauta (não falei que fã é chato?), seja mais rápido: “querido, você quer um autógrafo?”.

Se você trabalha ou tem algum amigo no jornalismo automotivo, a dica final é desfilar com aqueles carrões que as montadoras cedem à imprensa para testes e produção de matérias. Os vizinhos, coitados, não sabem que os carros são emprestados. A cada semana, exiba uma máquina diferente. Só pra fazer inveja! E muita atenção: se um dia você trombar um vizinho no trem e ele lhe perguntar sobre o BMW que você tinha comprado, diga sem vacilar que deixou na garagem de casa, para evitar a emissão de CO2. “Ser chique não é só ter dinheiro, bebê! Ser chique também é salvar o planeta.” Arrasou!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ajude um repórter


Repórter da revista Plástica & Recauchutagem procura mulher que já passou por inúmeras intervenções estéticas, mas que, pelo amor de Deus, não seja a Angela Bismarchi.

Repórter de revista médica procura pessoa com sonolência excessiva (matéria sobre distúrbios do sono), que consiga ficar acordada, pelo menos, durante duas perguntas.

Repórter procura desesperadamente telefone de fonte importante anotado onde mesmo?

Repórter de revista especializada em Comunicação procura cinco personagens para matéria “Fiquei rico sendo jornalista”. Mas aceita apenas três ou dois. Ok, um só já tá bom.

Repórter-fotográfico procura celebridade decadente, mas ainda gostosa, para fotos “superespontâneas” em praia carioca.

Repórter esportivo de rádio procura voz que sumiu após gritar gol do time do coração à beira do gramado.

Repórter de programa religioso procura mulher que pegou o marido com outra para depoimento sem aquela voz de pato.

Repórter, que já tem “que”, “quem”, “quando” e “onde”, procura urgentemente o “como” e o “por quê” para fechar o maldito lead.

Repórter divorciada e sem filhos procura fonte do sexo masculino, entre 39 e 50 anos, também sem filhos, heterossexual, para relacionamento jornalístico sério e algo mais.

Repórter, de saco cheio, procura barraquinha de cachorro-quente em ponto privilegiado.

Repórter diplomado que vai entrevistar o senador Collor procura advogado criminalista especializado em homicídios com requintes de crueldade. Para eventual necessidade.