quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sobre dores, coisas boas e uma despedida


“O jornalista é, antes de tudo, um forte”
(Euclides da Cunha)


Quem já teve pedra no rim (meu caso) ouviu alguém falar que a dor da danada se mexendo é pior que a dor do parto. E a dor de ser jornalista, como é? É pior que cólica renal. Porra, então vamos desistir desta profissão, vocês vão dizer. Sofrer pra quê? Mas não se foge da dor. Ela faz parte da vida. Para ser jornalista – assim como para viver – é preciso conviver com a dor, ser mais forte que ela. Defendo até que as faculdades de jornalismo, além dos estúdios de rádio e TV, tenham um Laboratório da Dor, para simular sensações como a perda do emprego, da liberdade, das ilusões, dos cabelos.

O ano de 2011 foi doloroso para os jornalistas por velhas razões. Passaralhos, violência, desrespeito. O diploma, tadinho, seguiu marginalizado. Deu até entrevista para o blog revelando, por exemplo, que tentou o suicídio. Mas sobrevivemos. Sempre sobrevivemos. Só quem é capaz de suportar a dor é capaz de saborear as coisas boas da vida e dessa nossa profissão maluca. E posso garantir: são muitas as coisas boas pra gente saborear!

Que em 2012 a gente continue mais forte que qualquer dor.

Quero agradecer aos leitores fiéis que prestigiam meus textos neste blog, aos que dão uma passadinha de vez em quando, aos que postam comentários, aos que comentam só em pensamento, aos que mandam mensagens carinhosas, aos que discordam do que escrevo, aos que divulgam meus escritos por aí, aos que choram, aos que riem.

O blog entra em férias e volta a ser atualizado em 16 de janeiro. Neste período de hibernação, vai rolar o “Desilusões perdidas Retrô” no Facebook e no Twitter, com os melhores (ou piores) posts de 2011. A quem estiver na área, é só ficar ligado. Ano que vem, tem mais. Valeu, amigos, vocês são a razão deste blog! Feliz ano novo! Duda.


PS: Não sei se o mundo acaba mesmo em 2012, mas, se acabar, torçam para não estar de plantão. Porque, acreditem, cobrir o apocalipse vai ser muito foda.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

40 resoluções para não cumprir em 2012


1. Passar os telefones do bloquinho para a agenda do celular.
2. Não perder o celular.
3. Organizar a pilha de jornais com os recortes de suas matérias.
4. Não aceitar mais frila por uma merreca.
5. Mudar para um emprego decente.
6. Mudar para uma profissão decente.
7. Criar uma superagência de assessoria e dominar o mercado.
8. Fazer um plano de previdência para não correr o risco de acabar no Retiro dos Jornalistas.
9. Não assistir mais ao BBB. Nenhuma espiadinha.
10. Reclamar menos.
11. Transar mais.
12. Fazer um plano anual na academia.
13. Largar o cigarro.
14. Moderar na cerveja.
15. Beber pelo menos dois litros de água por dia.
16. Fazer refeições de 3 em 3 horas.
17. Não ter medo do passaralho.
18. Atualizar o blog toda semana.
19. Pagar todas as contas sem atraso.
20. Devolver o dinheiro que pegou emprestado de um amigo (não-jornalista, claro).
21. Dar mais atenção ao “eu interior”.
22. Perder menos tempo lendo o blog do Duda Rangel.
23. Ficar menos dependente do Google para apurar matérias.
24. Ficar menos dependente das redes sociais para viver.
25. Ser mais tolerante com os assessores de imprensa.
26. Voltar a estudar inglês.
27. Ler pelo menos 25 livros no ano.
28. Ler pelo menos 3 jornais todas as manhãs.
29. Realizar o sonho do iPad próprio.
30. Não aceitar mais jabás.
31. Ter mais engajamento social (é diferente de ir a baladas).
32. Doar sangue (mais a quem precisa e menos ao dono do jornal).
33. Escrever um livro.
34. Comprar um All Star novo e aposentar o velho encardido.
35. Parar de se entupir de remédio para dormir.
36. Parar de ficar procurando o amor de sua vida em eventos só com jornalistas.
37. Parar de odiar o Gilmar Mendes.
38. Parar de ficar tanto tempo parado.
39. Procurar mais personagem nas ruas e menos no Twitter.
40. Não fazer mais listas com resoluções de ano novo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O presente de Natal certo para cada tipo de jornalista


Para o jornalista que não terá férias em janeiro: o livro “Como descolar pautas bacanas num período em que porra nenhuma acontece”.

Para o jornalista metido a intelectual: assinatura da revista New Yorker para ele deixar sobre a mesa de trabalho. Ele não sabe Inglês? Tudo bem. É só para deixar sobre a mesa.

Para um jornalista chato que você tá bem a fim de sacanear: livro do Gabriel Chalita. Qualquer um tá valendo. Se achar aquele em que ele troca cartas com o padre, ótimo.

Para o jornalista que sempre perde o bloquinho de anotações: um moderno bloquinho com rastreador e sinal sonoro que repete “atenção, este bloquinho está sendo perdido”.

Para o jornalista que não entende a própria letra no bloquinho: curso de caligrafia a distância do IUB, com método que vai de entrevistas rápidas a convites de casamento.

Para o jornalista obcecado por furos: uma cesta de queijos do tipo Emmental.

Para a jornalista cheia de glamour da editoria “Geral”: um kit bem brega com botas de borracha e capa de chuva, afinal o verão tá aí, e enchente não é nada fashion, bebê.

Para um jornalista sem diploma: porta-retratos com uma foto sua levantando o troféu de campeão da Copa Jürgen Habermas de Truco Universitário. Só para fazer inveja.

Para o bom assessor de imprensa (no crees en asesores de prensa buenos, pero que los hay, los hay): um almoço em sua casa, para retribuir todas as bocas-livres que ele lhe proporcionou ao longo do ano.

Para o foca que acha que já sabe tudo: uns tapas na orelha para ele ficar esperto.

Para o jornalista que padece de insônia: a indicação do blog do Duda Rangel. Se é para ficar a noite toda de bobeira, aproveita então para ler os textos do pobre coitado.

Para o jornalista que adora ser a notícia: capa fake da Caras com a foto dele, claro, e a chamada: “Fulano de tal abre sua casa em Búzios e fala dos novos projetos jornalísticos”.

Para uma apresentadora global desempregada: um programa matinal em 2012.

Para o jornalista que não consegue um aumento de salário decente: um mês com apenas 15 dias. Se encontrar um com 10, melhor ainda. Presentaço de Natal.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O que alguns jornalistas esperam para o ano novo


Como os sonhos sempre se renovam, um post para relembrar.

Fábio espera ser promovido de estagiário pessimamente remunerado sênior para repórter com salário de merda júnior.

Letícia espera fazer uma especialização em Jornalismo na Espanha. Ou um mestrado em Mídias Sociais na USP. Ou trabalho voluntário. Ou mudar o corte do cabelo.

Murilo espera cobrir uma guerra no Oriente Médio, mas, se não rolar, serve um morro no Rio de Janeiro.

Sérgio espera não esperar nada para depois não se frustrar.

Tatiana espera arrumar um empregão, igual ao da Ilze Scamparini.

Diogo espera deixar a revista Hidráulica Moderna e poder, enfim, escrever sobre cinema.

Joana espera roubar todos os clientes da agência de assessoria de imprensa de seu chefe canalha e abrir sua própria agência.

Pedro espera parar de fumar, beber e se entupir de comidas gordurosas. Mas só às segundas-feiras de lua cheia.

Patrícia espera que o jornal em que trabalha não vá à falência ou vire apenas uma edição eletrônica.

Fernanda espera arrumar um namorado novo. Mas, por favor, Deus, que não seja outro jornalista.

Roberto espera fazer menos plantão. E mais sexo.


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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O dia seguinte


Oi. Eu pensei que você fosse ligar.

Fiquei de ligar?

Não, mas eu esperei, sei lá. Imaginei que pudesse rolar algo mais.

Não devia esperar, sabe disso.

É que eu sou boba mesmo.

Eu avisei que era coisa momentânea.

Avisou, sim. Só me diz uma coisa.

O quê?

Sobre ontem.

O quê?

Não foi legal?

Foi ótimo.

Sério?

Claro, você é excelente.

Eu fico mais feliz assim.

O problema não é você. É que a gente não tem vaga mesmo.

Eu sempre me iludo com algo mais sério, tipo emprego, sabe?

Foi ótimo, mas foi só um frila.

Ok, ok, foi só um frila (risos). Se pintar outro, me avisa, tá? A grana é boa. E obrigada pelo “você é excelente”!

Sabe que eu gosto de você, né?

Então, tchau.

Peraí, moça.

O quê?

Quer sair comigo hoje à noite?

Hoje?

É. Hoje.

...

Vamos?

Tá bom, mas, ó, já vou avisando: é só sexo, tá? Sem compromisso.


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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Adote um jornalista carente neste Natal


Um post cheio de espírito natalino para relembrar. Escolha uma cartinha, dê o presente e faça um jornalista feliz.

“Estar desempregado não afeta apenas a auto-estima de um jornalista. Afeta o seu estômago. Vocês não imaginam o que é comer todo dia o marmitex de cinco reais do bar do Sassá, na Vila Buarque. Como fica a dignidade do ser humano? Logo eu, um cara acostumado ao bem-bom das coletivas de imprensa. São dois anos longe de um canapezinho de atum com damasco, de um carpaccio de salmão. Mas o que eu queria ganhar mesmo neste Natal é o meu prato favorito: filé mignon ao molho madeira com batatas prussianas. Eu só peço a refeição, mas se rolar também um presentinho-surpresa eu ficaria ainda mais feliz.”
Ricardo Macedo

“Eu acabei de me formar e ainda não consegui um emprego. Eu podia estar jogando videogame, podia estar assistindo àqueles videozinhos de stand-up comedy no YouTube, mas prefiro pedir uma chance de trabalho. Aceito qualquer coisa, por qualquer salário. Se for o caso, trabalho até de graça. Sei que é difícil apostar num jovem com um currículo de uma página e ainda assim em Arial 16. Para não dizer que não tenho experiência alguma com técnicas de apuração jornalística, eu gosto muito de monitorar as frases dos famosos no Twitter. Lá, vocês sabem, é sempre possível encontrar grandes furos.”
Bruno Felipe de Oliveira

“A maior frustração da minha vida é nunca ter recebido um prêmio jornalístico. Até hoje, só consegui um troféu mixuruco de terceiro lugar no concurso de poesia na 5ª série. Prêmio faz o jornalista se sentir mais importante. Umas amigas já ganharam. Eu perdi as contas de quantas vezes já reescrevi o meu discurso de agradecimento nesses últimos 15 anos. Eu gostaria muito neste Natal que alguma grande empresa, tipo uma multinacional, se sensibilizasse com a minha história e criasse um prêmio jornalístico exclusivo para mim. Tenho até um espaço reservado na estante da minha sala, ao lado do troféu de poesia da 5ª série.”
Cássia Monteiro

“Fim de ano e o Retiro dos Jornalistas fica cheio. As pessoas só lembram da gente no Natal. No resto dos dias é um esquecimento só. Mas, tudo bem, já é alguma coisa. O que eu queria receber de presente é algo um pouco complicado, eu sei. Queria alguém para me ouvir. Hoje, é tão complicado encontrar alguém para nos ouvir. E eu tenho tanta história para contar. Era eu quem redigia as receitas de bolo para publicar no jornal quando o pessoal da censura baixava na redação. Um dia esqueci de colocar a farinha na lista dos ingredientes. Já viram bolo sem farinha? E as figuras que eu já entrevistei? Teve uma mulher que jurava ser a reencarnação da Nossa Senhora. Dá para acreditar? Reencarnação de Nossa Senhora?”
Marcos Saldanha


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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Crise existencial


De onde vim e pra que pauta irei?

Existe vida após um dia de trabalho de 14 horas?

O jornal impresso vai mesmo acabar em 2012?

Onde estava Deus na hora em que decidi prestar jornalismo?

Por que a liberdade vem sempre pela metade?

Por que o tempo passa mais rápido quando a gente tá atrasado?

Qual o sentido da faculdade de jornalismo? Pra lá ou pra cá?

O que é felicidade? Uma manchete assinada? Uma porção de calabresa?

Deus está vivo? Roberto Marinho é o Deus? Roberto Marinho está vivo?

Ser assessor de imprensa ou não ser?

Se existem perguntas sem resposta, por que o meu editor me enche tanto o saco?

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Rápidas lições para fingir ser um jornalista cheio de glamour


Com o sucesso das rápidas lições para fingir ser um jornalista intelectual, o blog decidiu criar outro módulo intensivo. Nós, jornalistas, sabemos que nossa vida não tem glamour algum, mas as pessoas leigas, tadinhas, acreditam que tem. Por que frustrá-las com a triste realidade? Não, nada disso! Mantenha viva nestes pobres mortais a fantasia de profissão chique. E mais: engane a si próprio! Sim, você pode. É o que muitos jornalistas tanto querem! A ilusão tem gosto de mel.

Todo jornalista que busca fingir uma vida de encantos deve cobrir, ao menos uma vez, a São Paulo Fashion Week. O primeiro passo é aposentar o seu guarda-roupa by Renner. Básico. Descole roupas e acessórios de grifes internacionais. Vale uma peça falsificada? Se for impecável, sim. Use aqueles óculos que ocupam 77,8% do seu rosto, porque, além de chiques, eles escondem suas olheiras de cansaço e as rugas de preocupação pela falta de dinheiro. Nada de ficar pegando sacolinha de jabá, hein? Pelo amor de Deus! Eu sei que é difícil recusar, mas elas são muito atestado de pobreza! Não deixe também de entrar de penetra nas festas bacanas que rolam todos os dias e faça de tudo por uma foto com a Gisele Bündchen. Poste no Face, óbvio, no álbum “badalando com a Gi na SPFW”.

Os gays – e existem muitos gays no mundo jornalístico – são um ótimo benchmarking. Até a bicha mais pão-com-ovo do mundo consegue fingir glamour. É este o espírito! Assistir ao filme O Diabo Veste Prada à exaustão também ajuda na inspiração. Ser chique é ainda liderar um abaixo-assinado pela internet em prol de qualquer merda, viajar (ninguém precisa saber que foi a convite de uma operadora de turismo) para Copenhague – aliás, já descobriu onde fica Copenhague? –, ter um prêmio na estante da sala. Como? Vá até uma loja de troféus e medalhas e encomende uma estatueta superexclusiva para você. Invente um nome legal, tipo Prêmio Top Top de Jornalismo Investigativo, e, lógico, deixe-a bem à mostra quando rolar um jantarzinho para os amigos na sua casa. Humilhou!

Seres humanos que exalam glamour merecem ser paparicados. Fã é um troço chato, grudento, mas necessário. No seu caso, o papel de fã caberá aos assessores de imprensa. Eu sei que você vai protestar: “pô, com tanta gente legal pra ser meu fã, por que logo um assessor de imprensa?”. Primeiro: fã a gente não escolhe. Segundo: tudo isso aqui é um grande fingimento, já esqueceu? Imagine que a bajulação dos assessores é carinho, idolatria. Esqueça que eles têm outros interesses. Relaxe, aproveite os presentinhos, os jantares no Fasano. E uma dica ótima: quando eles se aproximarem para vender alguma pauta (não falei que fã é chato?), seja mais rápido: “querido, você quer um autógrafo?”.

Se você trabalha ou tem algum amigo no jornalismo automotivo, a dica final é desfilar com aqueles carrões que as montadoras cedem à imprensa para testes e produção de matérias. Os vizinhos, coitados, não sabem que os carros são emprestados. A cada semana, exiba uma máquina diferente. Só pra fazer inveja! E muita atenção: se um dia você trombar um vizinho no trem e ele lhe perguntar sobre o BMW que você tinha comprado, diga sem vacilar que deixou na garagem de casa, para evitar a emissão de CO2. “Ser chique não é só ter dinheiro, bebê! Ser chique também é salvar o planeta.” Arrasou!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ajude um repórter


Repórter da revista Plástica & Recauchutagem procura mulher que já passou por inúmeras intervenções estéticas, mas que, pelo amor de Deus, não seja a Angela Bismarchi.

Repórter de revista médica procura pessoa com sonolência excessiva (matéria sobre distúrbios do sono), que consiga ficar acordada, pelo menos, durante duas perguntas.

Repórter procura desesperadamente telefone de fonte importante anotado onde mesmo?

Repórter de revista especializada em Comunicação procura cinco personagens para matéria “Fiquei rico sendo jornalista”. Mas aceita apenas três ou dois. Ok, um só já tá bom.

Repórter-fotográfico procura celebridade decadente, mas ainda gostosa, para fotos “superespontâneas” em praia carioca.

Repórter esportivo de rádio procura voz que sumiu após gritar gol do time do coração à beira do gramado.

Repórter de programa religioso procura mulher que pegou o marido com outra para depoimento sem aquela voz de pato.

Repórter, que já tem “que”, “quem”, “quando” e “onde”, procura urgentemente o “como” e o “por quê” para fechar o maldito lead.

Repórter divorciada e sem filhos procura fonte do sexo masculino, entre 39 e 50 anos, também sem filhos, heterossexual, para relacionamento jornalístico sério e algo mais.

Repórter, de saco cheio, procura barraquinha de cachorro-quente em ponto privilegiado.

Repórter diplomado que vai entrevistar o senador Collor procura advogado criminalista especializado em homicídios com requintes de crueldade. Para eventual necessidade.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Rápidas lições para fingir ser um jornalista intelectual e descolado


Atenção à primeira dica: jornalistas intelectuais e descolados não vêem TV, ok? Mídia alienante não pega bem. Confessar que você adora o quadro “Minha patroa é um avião”, da Luciana Gimenez, então, pega mal ao cubo. Abra exceção apenas para os telejornais, da CNN ou BBC, afinal você precisa estar bem-informado. Como a proposta destas rápidas lições não é ser um intelectual, apenas fingir ser, você pode destacar também que assiste sempre ao Manhattan Connection. Como viver sem aquelas dicas cool de Nova York?

Quando o assunto é leitura, diga que seus cadernos preferidos do jornal são os de Cultura e Internacional. Decore o nome e a situação política de alguns países da África que ninguém conhece. Critique, sempre que possível, o caderno de Esportes, aquela coisa menor que não agrega nada à sua intelectualidade. Compre revistas cults com nomes esquisitos e ande com elas debaixo do braço. Nem precisa ler. Enaltecer os clássicos russos da literatura e falar mal do Paulo Coelho (mesmo sem nunca tê-lo lido) também é de bom-tom.

Na segunda-feira, elogie um filme iraniano ou um documentário brazuca que você fingirá ter visto no fim de semana, mesmo sabendo que eles são muito chatos. O mesmo serve para espetáculos de dança. Música? Pesquise na web uma banda indie do momento. Da Islândia. Na mesa do bar, discorra sobre o novo álbum, “o mais emblemático e visceral” de todos os dois já lançados, e, claro, fale do cenário musical islandês atual. Se alguém mencionar um tal Luan Santana, franza as sobrancelhas e pergunte “quem é Juan Santana?”.

Viagens internacionais também dão um toque descolado ao jornalista. Mas, por favor, nada de postar no Facebook fotos suas em parques de diversão de Orlando, ok? Londres, que já foi o sonho de consumo de jornalistas pseudo-intelectuais, anda meio caída e cheia daquele povo ilegal dos Brics. Esqueça. Que tal montar um álbum com suas viagens para Berlim ou Copenhague? Antes, claro, pesquise na internet onde fica Copenhague. Como você nunca visitou estas cidades, faça uma montagem. Photoshop existe pra quê? E não se esqueça de postar nas fotos comentários como “gente, Berlim é tudo”, de preferência em alemão.

Ufa, muita informação? Bom, agora que você aprendeu algumas lições de como fingir ser um jornalista bacana, que tal relaxar? Se não tiver ninguém por perto para você ter que se exibir, fique à vontade para ler o caderno de Esportes ou o horóscopo do dia. E uma última coisa: hoje tem Luan Santana na Luciana Gimenez, hein? Imperdível!



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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Toca Raul (versão para jornalistas)


Repórter ambulante (versão de Metamorfose ambulante)

Prefiro ser
Esse repórter ambulante
Eu prefiro ter
Uma rotina emocionante.

Do que ter aquela velha pauta chata
Apurada via Google
Do que ter aquela velha pauta chata
Apurada via Google.


Publiquei há 10 minutos atrás*
(versão de Eu nasci há 10 mil anos atrás)
*com erro de português e tudo mais

Publiquei há 10 minutos atrás (publiquei há 10 minutos)
E não tem outro site no mundo que vai me furar mais.

Publiquei há 10 minutos atrás (publiquei há 10 minutos)
E não tem outro site no mundo que vai me furar mais.

Ouvi primeiro o fato ser anunciado
Corri pro note e escrevi bem-apressado
E quando o resto da imprensa descobriu, eu já tinha publicado
Já, sim.

Publiquei há 10 minutos atrás (publiquei há 10 minutos)
E não tem outro site no mundo que vai me furar mais.


Meio duro (versão de Óculos escuros)

Quem não tem emprego anda sempre meio duro
Quem não pega frila toma grana e paga juro
Quem não tem amigo tá na Catho e em apuro.


Medo da chuva (versão de Medo da chuva)

Não perdi o meu medo
O meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando
Pra Sampa faz tudo alagar.

Aprendi que a pauta, a pauta
A pauta maldita
É a velha matéria de enchente
Pra gente apurar.


Herói eu não serei (versão de Cowboy fora da lei)

Mamãe, não vou fazer Direito
Para as leis não tenho jeito
Será que o papai vai me matar?
Eu sonho trampar em jornais
Salvar o mundo eu sou capaz
Não quero no cabelo gel passar.

Fui muito besta de tirar onda de herói
Ser jornalista como dói
Papai, exagerei
O Super-homem só existe no gibi
Mas nesta vida vou seguir
E contar histórias pra vocês.


Reportagem Criativa (versão de Sociedade Alternativa)

Viva! Viva!
Viva a Reportagem Criativa!

Viva! Viva!
Viva a Reportagem Criativa!


Liberte-se (versão de Aluga-se)

A solução para ser livre
Eu vou dar
Vamo acabar
Com essa pressão mercantil
O meu jornal
Agora eu vou fundar
Patrão que vá pra puta que o pariu.

Ninguém manda mais em nada
Ninguém manda mais em nada
É tudo free
Tá na hora
Eu já sofri
Mas tô fora
Rabo preso eu vou soltar
Já cansei de me alugar.


Microempresa (versão de Maluco beleza)

Enquanto você
Se esforça pra ser
Um jornalista anormal
Com emprego formal.

Eu do meu lado
Aprendendo a ser frila
PJ total
Só na nota fiscal.

Compro a nota
Todo fim do mês
Mas agora é
A minha vez...

De criar-ar-ar
Criar com certeza
Uma microempresa
Eu vou criar-ar-ar
Criar com certeza
Uma microempresa.


Jornalista (versão de Gita)

Às vezes você se pergunta
Por que ainda está do meu lado
Não dou dinheiro, nem fama
E sempre te deixo estressado.

Você vive em mim toda hora
Nem no feriado me deixa
Reclama de mim pra caraca
Mas hoje eu vou lhe mostrar.

Eu sou o Jornalismo
Eu sou o seu respirar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou a história a contar.

Eu sou o aluguel atrasado
Mas sou sua vocação
Eu sou os seus olhos pro mundo
Eu sou...! Eu fui...! Eu vou!


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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Artistas globais em defesa dos jornalistas (versão do Movimento Gota D’água)


Juliana Paes: Você já ouviu falar que jornalista é chato?

Marcos Palmeira: Você já visitou sites de fofoca?

Elizângela: Você sabe o que quer dizer invasão de privacidade?

Isis Valverde: Paparazzi? Já ouviu falar?

Nathália Dill: Eu tenho culpa de ser famosa?

Maitê Proença: Eu tenho culpa de ser famosa?

Bruno Mazzeo: Mas eu tenho culpa de ser famoso?

Juliana Paes: Bom, eu divulgo release, nota oficial de gravidez, marco coletiva de imprensa...

Carol Castro: Eu ainda tenho que me preocupar com esse povo mala quando tô num restaurante no Leblon?

Marcos Palmeira: Olha, se não tiver imprensa no mundo, não vai ter jornalista. Se não tiver jornalista, a gente vai falar mal de quem com os amigos? Como eu vou fazer?

Cissa Guimarães: Deus me livre ficar sem jornalista pra falar mal!

Luana Piovani: Quem eu vou xingar no Twitter, gente?

Caio Castro: Jornalista sempre distorce o que a gente fala! Imprensa marrom.

Sérgio Marone: Mas do que adianta a gente ficar aqui detonando jornalista se vira-e-mexe a gente precisa desses caras?

Eriberto Leão: Peraí, como assim? A gente precisa de jornalista?

Elizângela: Claro, eles divulgam nossos projetos artísticos quando nos interessa.

Isis Valverde: Eu não tô entendendo, gente. Eu vou ter que pesquisar.

Maitê Proença: Eu pesquisei, vai olhar.

Elizângela: Pesquisei. E sabe o que eu descobri? Tem jornalista que ganha 500 Reais por mês.

Ingrid Guimarães: Quanto?

Guilhermina Guinle: 500 Reais.

Ingrid Guimarães: 500 Reais?

Bruno Mazzeo: 500.

Juliana Paes: Reais?

Cissa Guimarães: Faz as contas, realiza. Como alguém com faculdade sobrevive com 500 reais?

Maitê Proença: Esse povo, coitado, ganha uma miséria mesmo.

Cissa Guimarães: E ninguém vai discutir o assunto?

Ingrid Guimarães: Agora eu tô entendendo por que jornalista come pra caramba em evento.

Eriberto Leão: Nas festas fechadas, eles ficam pedindo prosecco pro segurança. Pode isso?

Maitê Proença: Eles precisam de ajuda! De onde tiraram essa idéia de que jornalista é o todo-poderoso?

Bruno Mazzeo: Peraí, peraí. Esses caras têm o poder de me encher o saco. Falam das minhas ex-namoradas, falam mal do meu filme.

Ingrid Guimarães: Uma pergunta.

Marcos Palmeira: Como se resolve a questão do perrengue dos jornalistas?

Eriberto Leão: É possível criar alternativas para o jornalista gerar renda: três empregos, frilas, vender Avon na redação, rifa, vender o corpinho.

Dira Paes: Mas com tanto bico assim, como fica a situação dos jornalistas investigativos, os que denunciam falcatruas, que defendem a verdade?

Cláudia Ohana: Mas quem se importa com os jornalistas investigativos?

Bruno Mazzeo: Ó, a gente dá uma internet rápida pra eles e eles investigam tudo pelo Google.

Murilo Benício: Pra mim, jornalista investigativo hoje só quer moleza.

Ary Fontoura: Tomar café na redação o dia inteiro.

Murilo Benício: Dossiê pronto, conforto.

Cissa Guimarães: Jornalista investigativo? Ainda tem jornalista investigativo?

Dira Paes: Será que os jornalistas são ouvidos?

Maitê Proença: É muita pergunta sem resposta.

Carol Castro: Precisamos ficar atentos aos jornalistas.

Cláudia Ohana: Eles precisam de apoio!

Luana Piovani: Pensando melhor, eu adoro os jornalistas!

Carolina Dieckmann: Eu amo jornalista. Fiz até o papel de uma há pouco tempo.

Caio Castro: Eu quero deixar claro que não tenho preconceito algum contra jornalistas. Tenho, inclusive, vários amigos jornalistas!

Sérgio Marone: Neste momento, em todo o Brasil, milhares de pessoas estão indo pra internet lutar em defesa dos jornalistas.

Eriberto Leão: Entre nessa corrente! Tem um blog de um cara que mostra a realidade dos jornalistas. E com bom humor.

Sérgio Marone: Entra lá. O endereço do blog é http://desilusoesperdidas.blogspot.com/.

Ingrid Guimarães: Vocês entendem que, se este blog conseguir uma enorme quantidade de leitores, a gente pode entender melhor a vida desse povo e ajudá-lo?

Marcos Palmeira: Leia os posts e comente com os amigos.

Juliana Paes: Tá, peraí, se você tá lendo este texto, já conhece o blog. Então, vai lá, tem outros posts bem legais. Quero dizer, acho que tem.

Sérgio Marone: É apenas entrar naquele endereço.

Juliana Paes: Tá sem pauta? Aproveita, entra!

Maitê Proença: Ai, falar de jornalista me deu um calor! Lembrei do meu ex, o Rodrigo. Vou tirar o sutiã pra ficar mais à vontade.

Juliana Paes: E aí? Tô esperando você entrar no blog.

Maitê Proença: (gemidos pensando no Rodrigo)

Sérgio Marone: Eu não sou o Duda Rangel, o autor do blog, mas... entra lá.

Isis Valverde: Se você, assim como eu, já entrou no blog, é só passar este link para mais uns 10 jornalistas.

Malvino Salvador: Você enche o saco deles.

Maitê Proença: Não conhece 10 jornalistas?

Nathália Dill: Ah, você deve conhecer 10 jornalistas. Hoje em dia, com tanta faculdade por aí, todo mundo conhece, sei lá, um milhão de jornalistas. Fora os que não têm diploma.

Bruno Mazzeo: Ah, o Duda também tá no Twitter. É @duda_rangel, que tal?

Juliana Paes: Assim criamos uma onda.

Letícia Sabatella: Uma onda de divulgação.

Marcos Palmeira: Ainda há tempo.

Sérgio Marone: Passe esse blog adiante.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Jornalismo, vide bula


Composição:
Cada comprimido de Jornalismo 500 é composto de 350 mg de cloridrato de paixão, 130 mg de ralaçãomicina e 20 mg de reconhecimentol.

Indicações:
Indicado no tratamento de pessoas que sonham construir um mundo livre e democrático. Também recomendado para casos de paixonite crônica pela escrita e por contar histórias.

Contra-indicações:
Não é aconselhável o uso em pacientes com hipersensibilidade a críticas e perrengues. Deve ser administrado com cautela em pessoas com preguicismo agudo, disfunção do senso de realidade ou estrelíase (alto índice de vaidade no sangue).

Reações adversas:
Gastrite nervosa, envelhecimento precoce, fadiga, problemas de fígado, depressão, euforia, mais depressão, mais euforia, cornitude e ressecamento da conta bancária.

Posologia:
Os comprimidos de Jornalismo devem ser ingeridos por completo. Várias vezes ao dia.

Superdosagem:
Em caso de um tratamento ininterrupto de dois meses, sem folgas, é indicada a sua suspensão para um período de descanso, mesmo que numa terça-feira sem graça.

Advertências:

Este medicamento é contra-indicado em casos de suspeita de rabopresismo.

Este medicamento não deve ser armazenado em redações frescas, com ar-condicionado. Conservá-lo preferencialmente nas ruas, em ambientes nada protegidos.

Este medicamento deve ser mantido fora do alcance de quem lê embalagens de Toddynho.


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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Documento secreto: como irritar um jornalista


Com a Lei de Acesso à Informação, textos sigilosos começam a vir à tona. O blog Desilusões perdidas obteve, com exclusividade, documento que ensina um entrevistado a provocar o repórter, só para deixá-lo desestabilizado (ainda mais do que ele já é) emocionalmente. Confira as orientações:

Dê um chá de cadeira de horas nele.

Convide-o para almoçar num restaurante caro, mas não pague a conta sozinho.

Peça para ler as perguntas antes da entrevista para verificar se estão bem-elaboradas.

Opte por monossílabos quando ele quiser respostas aprofundadas.

Fuja malufamente das polêmicas.

Responda uma pergunta com outra pergunta.

Elogie o doutor Gilmar Mendes, mesmo fora do contexto.

Diga que tem uma informação ótima e exclusiva e, logo depois, lembre que não está autorizado a contar.

Se ele estiver com pressa, fale com a rapidez de um Suplicy.

Dê menos atenção se ele não trabalhar na “grande imprensa”.

Quando estiverem conversando, enalteça o furo do principal concorrente dele.

Chame o jornal em que ele trabalha de jornalzinho.

Lembre que ele deve ser generoso na produção do texto, afinal você é um influente anunciante.

Pergunte quando vai sair a entrevista e se sua foto terá destaque.

Elogie mais uma vez o doutor Gilmar Mendes.

Peça para aprovar a matéria antes da publicação.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A hora do fechamento


Quinze minutos, gente, quinze minutos.

Hein? Querida, não tô precisando de torpedo ilimitado. (tu-tu-tu)

Cadê a foto da 3?

Ó o calhau!

Não esquece o nome da gorda da foto-legenda da 4.

Meu Deus, por que não salvei esta merda?

Depois a gente corrige na segunda edição.

Dez minutos, gente, dez minutos.

Vem cá, o que você quis dizer com esta frase?

Pede pro Jurandir fritar a calabresa. Já tô descendo.

O título do abre da 2 tá estourando. Vê lá!

Vinte linhas são vinte linhas, não quarenta. Ainda não aprendeu?

Cacete, e esse correspondente que não manda a matéria?

Cinco minutos, gente, cinco minutos.

Já era. Corta pelo pé mesmo. O tempo já está esgot

Release? Ah, não! Liga mais tarde. Por favor. (tu-tu-tu)

Solta este texto, porra!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Repentistas: o dia em que o jornalista de redação desafiou o assessor e vice-versa


Quero só que tu me diga
Com clareza, por favor
Qual a diferença entre
O jornalista e o assessor.


Quero só que tu me diga
Com clareza, por favor
Qual a diferença entre
O jornalista e o assessor.

(Jornalista de redação)
Meu amigo assessor
Preste muita atenção
Você trai toda verdade
Doutro lado do balcão
Porta-voz de empresário
Jornalista não é, não.

(Assessor de imprensa)
Preste atenção você
Que se julga sempre o rei
O jornal que te emprega
E onde um dia eu trabalhei
Faz conchavo e tem muito
Rabo preso que eu sei.

(Jornalista de redação)
Lave a boca, assesssor
Pra falar do meu jornal
Rabo preso ou rabo solto
Nunca foi o principal
O interesse que domina
É a justiça social.

(Assessor de imprensa)
A justiça social
O Boitatá e o Pererê
São folclore, são histórias
Que contaram pra você
Teu jornal é um negócio
Faz de tudo pra vender.

Quero só que tu me diga
Com clareza, por favor
Qual a diferença entre
O jornalista e o assessor.


Quero só que tu me diga
Com clareza, por favor
Qual a diferença entre
O jornalista e o assessor.


(Jornalista de redação)
Minha vida em redação
É pauleira, é corrida
Tem plantão, tem pescoção
Tem pauta bem encardida
Já tu é um bicho bundão
Que fugiu pra boa vida.

(Assessor de imprensa)
Boa vida eu não tenho
Também tenho que ralar
Só recebo mais dinheiro
O aluguel posso pagar
Tua merda de salário
Não queria mais ganhar.

(Jornalista de redação)
Meu salário é uma merda
Tu falou uma verdade
Bebo Kaiser no boteco
Mas tenho dignidade
Não vivo só por dinheiro
Quero ter felicidade.

(Assessor de imprensa)
Desapego ao dinheiro
Não consigo acreditar
Tu vive em coletiva
Só de olho no jabá
Come e bebe pra caralho
Até o evento terminar.

Quero só que tu me diga
Com clareza, por favor
Qual a diferença entre
O jornalista e o assessor.


Quero só que tu me diga
Com clareza, por favor
Qual a diferença entre

O jornalista e o assessor.

(Jornalista de redação)
Assessor é um cabra chato
Cheio de atrevimento
Liga sempre em hora errada
Na hora do fechamento
Insiste no follow-up
Coisa mais sem cabimento.

(Assessor de imprensa)
Vem falar em atrevimento
Tu é um baita de um folgado
Manda e-mail com pergunta
Quer retorno apressado
Dá piti se não envio
Tudinho bem mastigado.

(Jornalista de redação)
Assessor é um sem-noção
Agora vou lhe dizer
Release bem do safado
Tô cheio de receber
Jogo tudo na lixeira
Claro que nunca vou ler.

(Assessor de imprensa)
Falar mal do meu release
É muita ingratidão
Jornalista hoje em dia
Não apura informação
Reproduz tudo que escrevo
Sem prestar nem atenção.

Quero só que tu me diga
Com clareza, por favor
Qual a diferença entre
O jornalista e o assessor.

Quero só que tu me diga
Com clareza, por favor
Qual a diferença entre
O jornalista e o assessor.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

50 coisas que (quase) todo jornalista já viveu


Qual o jornalista que nunca perdeu um puta tempo procurando um telefone num bloquinho velho de anotações? Que nunca esqueceu o nome de um entrevistado? Trocou o nome de um entrevistado? Nunca prometeu largar o jornalismo por um emprego decente? Acabou a noite num bar para comemorar... para comemorar mesmo o quê? Teve um branco em frente à tela do computador? Perdeu um texto inteiro que tinha esquecido de salvar? Passou a madrugada escrevendo um frila para entregar no dia seguinte bem cedinho? Qual jornalista nunca disse “mês, faz isso comigo, não, acaba logo, vai, por favor”? Ficou todo babão com uma matéria publicada? Fez uma merda enorme e passou o resto do dia se sentindo mal? Ganhou um elogio e passou o resto do dia se sentindo bem? Pensou em ganhar dinheiro escrevendo um blog? Fez um belo nariz de cera? Achou que sabia mais do que realmente sabia? Tomou chá de cadeira de entrevistado? Precisou explicar para um tio que, embora seja jornalista, não trabalha na Globo? Ficou com preguiça de ouvir a gravação de uma entrevista? Saiu frustrado de uma coletiva por não ter tido tempo ou coragem de fazer uma pergunta? Teve dúvida sobre como escrever “exceção”? Cochilou numa aula de Teoria da Comunicação na faculdade? Se arrependeu de aceitar um frila trabalhoso por uma merreca de grana? Caiu de pára-quedas numa pauta? Teve uma pauta que caiu na última hora? Sentiu medo de não conseguir terminar um texto até o deadline? Chegou atrasado a uma pauta? Qual o jornalista que nunca foi chamado de jornaleiro na família? Almoçou porcaria na padoca? Deixou de almoçar? Folgou numa terça ou quarta-feira? Contou uma piadinha num velório de famoso? Amou/odiou um entrevistado? Teve sensação de poder com uma credencial no pescoço? Ganhou jabá bem chinfrim? Trabalhou até em sonho? Se imaginou escrevendo “a matéria”, daquelas de mudar os rumos do país? Recorreu ao “até o fechamento desta edição fulano de tal não foi encontrado”? Passou um carnaval ou um ano-novo de plantão? Pensou em trocar de editoria? Qual jornalista nunca se iludiu? Nunca se desiludiu? Se desiludiu um pouquinho mais? Reclamou do salário? Falou mal de outro jornalista? Comprou rifa com nome de mulher para ajudar algum motorista? Pensou em ganhar um prêmio? Uma menção honrosa? Foi a uma pauta só para paquerar um(a) repórter de outro jornal? Desistiu de trocar o jornalismo por um emprego decente? Qual jornalista nunca se sentiu um pouco bipolar?



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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Imprensa sedentária


Jornalista preguiçoso não vai pra rua... cansa demais... aquela coisa... tem que andar... tem que investigar... e tá muito quente... prefere a redação... fica lá... assim... largadão... cafezinho... ar-condicionado... tá meio sem pique... sei lá... deve ser estresse...

Jornalista preguiçoso não tem saco pra apurar matéria... checar informação... troço chato... demora muito... fica naquela... a fonte nunca dá retorno mesmo... o espaço é pequeno mesmo... e vai lá no Google... ou espera tudo mastigado do assessor... as respostas prontinhas por e-mail... tá bom demais...

Jornalista preguiçoso não se prepara pras entrevistas... é meio assim... na hora a gente vê o que faz... aperta o REC do gravador... nem presta atenção na fala do entrevistado... tá sempre atrasado... esquece a caneta... faz uma perguntinha de bosta... não questiona mais nada... engole tudo... assim... numa boa...

Jornalista preguiçoso adora um clichê... aquele lance... pensar dá muito trabalho... não ganha pra isso... chupa o texto do outro... é mais fácil... não tá inspirado hoje... não dá pra ser criativo todo dia... o texto sai bem meia-boca... e foda-se...

Jornalista preguiçoso é como este texto... cheio de reticências...


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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Por que jornalistas namoram jornalistas?


Porque eles frequentam sempre as mesmas redações, os mesmos bares de jornalista, festas de jornalista, eventos para jornalista.

Porque jornalista adora apresentar um amigo jornalista encalhado para uma amiga jornalista encalhada.

Porque pobreza atrai pobreza.

Porque só um jornalista entende as neuras do outro.

Porque só um jornalista suporta o papo de jornalista do outro.

Porque é doce a ilusão de, um dia, se tornar o novo casal 20 do Jornal Nacional.

Porque um não pode rir da desgraça do outro.

Porque o namorado(a) anterior era publicitário(a) e descobriu-se, assim, que tem coisa pior que jornalista neste mundo.

Porque jornalistas são metidos mesmo e querem cruzar apenas entre si para perpetuar a pureza da espécie.

Porque o amor é cego e surdo e estúpido, nunca ouviu isso, não?

Porque é preciso ter alguém para ler os seus textos antes de mandar os frilas para a editora.

Porque, como os dois ralam pra cacete e vivem fazendo plantão, o risco de um cornear o outro é bem menor.

Porque, como os dois ralam pra cacete e vivem fazendo plantão, o risco de um ter que conviver com a família do outro é bem menor.

Porque algum(a) ex de outra profissão deve ter jogado uma praga daquelas bem fortes, do tipo vocês jornalistas se merecem, manja?

Porque essa coisa de ser meio anti-herói e esquisito tem um charme que só outro jornalista é capaz de perceber e deixar-se seduzir.

Porque só jornalistas conseguem envelhecer ao lado de jornalistas.

Porque jornalista é um bicho burro mesmo. Com tanto engenheiro rico e empresária bem-sucedida por aí, vai escolher logo outro jornalista? Faça-me o favor.


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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Teste vocacional


Você tem aptidões para o jornalismo? Se ainda não entrou na faculdade, é hora de descobrir. Se já se formou, saiba se fez a escolha correta. Ou uma grande cagada.

No teste, são apresentados 20 pares de atividades, com as letras “A” e “B”. Anote uma das opções. No final, confira o resultado.

Você prefere...

A) Banco Imobiliário.
B) Detetive.

A) Pagar uma grana alta por um show.
B) Entrar de graça em eventos culturais.

A) Ter que se arrumar todinho para trabalhar.
B) Poder ir desleixado ao trabalho na maioria das vezes.

A) Ir a um churrasco num domingão de sol.
B) Trabalhar num domingão de sol.

A) Degustar um elegante Romanée-Conti.
B) Não se importar em tomar uma Kaiser.

A) Viver trancado num escritório.
B) Bater perna na rua.

A) Pedir sempre o número 1 no McDonald´s.
B) Ir a uma boate gay mesmo sendo hétero.

A) Não ter que pedir uma carona, por vergonha.
B) Tomar banho nu no lago do vizinho.

A) Lidar com planilhas, gráficos, metas.
B) Lidar com gente.

A) Fazer refeições equilibradas a cada três horas.
B) Almoçar coxinha na padaria (quando der).

A) Ver o crescimento dos filhos.
B) Viver as relações familiares remotamente.

A) Viajar todas as férias para a Europa.
B) Viajar para a colônia de férias do sindicato (se tiver férias).

A) Aceitar a vida passivamente.
B) Ser um eterno descontente.

A) Ter medo da morte.
B) Negociar com a morte.

A) Viver com o fone do iPod no ouvido.
B) Escutar a briga entre seus vizinhos com o copo na parede.

A) Andar de carrossel no parque de diversões.
B) Andar de montanha-russa.

A) Contar o dinheiro ganho na Bolsa de Valores.
B) Contar histórias.

A) Planejar o futuro.
B) Viver intensamente o presente.

A) Ser interessante.
B) Ser interessado.

A) Acreditar em ETs, duendes e testes vocacionais.
B) Desconfiar do mundo.

Resultados:

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “A”, você não tem a mínima aptidão para ser jornalista. Vai desistir no primeiro plantão.

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “B”, seja bem-vindo ao insano mundo do jornalismo. Mas, ó, a vida é dura. Depois não vá reclamar do teste vocacional, hein?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Os melhores (ou piores) aforismos de @duda_rangel no Twitter (parte 3)


A vida de ralação do jornalista é o método anticoncepcional mais eficaz que existe.

No Dia Mundial de Combate à Obesidade, diga não à “barriga jornalística”. Cheque a informação antes de publicar.

Uma notícia boa e outra ruim. A ruim: Carolina Dieckmann voltou a fazer novela. A boa: não voltou como jornalista.

Qual jornalista nunca procurou um telefone perdido num velho bloquinho de anotações?

Use sempre o gravador com entrevistados de risco: assim você evita doenças jornalisticamente transmissíveis e, claro, a demissão indesejada.

O jornalismo é muito boêmio, sedutor. Está longe de ser bom pai de família.

O Código de Ética dos Jornalistas é como regulamento de condomínio. Todos deveriam ler, mas poucos têm saco pra isso.

Adesivo para carros de jornalista: “Meu outro carro é o de reportagem”.

Jornalista que não gosta de ler é igual a atriz pornô que não gosta de sexo.

Pauteiro pauta puta pauta pro Paulo.
Puto, Paulo pautado empata a puta pauta.
Nem a pau, tá?

O que é pior para a imagem do Toddynho: produto com detergente ou incentivar a Daniela Albuquerque a ser jornalista?

“Mantenham-se famintos, mantenham-se ligados numa boca-livre” (Steve Jobs, na formatura de uma turma de jornalismo).

Para o jornalista, o texto é a sua nêga. Ai de quem colocar a mão.

Johnnie Reporter, keep working.

Quando o mundo acabar, só espero não estar de plantão.

Leia também:
Os melhores (ou piores) aforismos de @duda_rangel no Twitter (parte 2)
Os melhores (ou piores) aforismos de @duda_rangel no Twitter (parte 1)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

96,7% dos jornalistas adoram um número


A greve, que já dura 11 dias em 15 Estados, atinge 80% dos bancários, que pedem reajuste de 12,4%. Em 9 meses, Lei Seca diminui mortes no trânsito em 30%. O planeta chega a 7 bilhões de habitantes. Brasil ocupa o 69º lugar no ranking mundial da corrupção. Cantora Gretchen se casa pela 17ª vez. Em 14 dias, Mostra de Cinema vai exibir 297 filmes de 55 países em 22 salas. Túlio Maravilha faz o gol de número 973 de sua carreira. Com investimentos de R$ 60 milhões, nova fábrica vai gerar 2.000 empregos diretos. Ex-dançarina do Bonde das Cachorras turbina seios com 450 ml de silicone. O motorista que causou o acidente dirigia um Z45i, com motor de 440 cavalos, que vai de 0 a 100 em 3.8 segundos e tem velocidade máxima de 315 km/h. Nana Gouvêa é capa da Sexy pela 15ª vez. Tomar 3 xícaras de café por dia reduz em 20% o risco de você dormir num pescoção. Tomar 3 xícaras de café por dia aumenta em 20% a chance de você não ter dentes 100% brancos. 70% dos brasileiros entre 15 e 24 anos passam de 6 a 8 horas por dia na internet – 60% navegam por redes sociais, 38% visitam sites de sacanagem e 2% fazem pesquisa escolar. Terremoto e tsunami no Japão deixaram 5.178 mortos e 8.606 desaparecidos, com custo de US$ 309 bilhões à economia do país; Viaje para Paris gastando apenas 10 euros por dia. Cantor Fábio Júnior se casa pela 13ª vez.

78% das pessoas que lerem este post vão se ligar que o jornalismo está muito, muito desumano.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O tarô, segundo o baralho jornalístico


Conheça os 22 arcanos maiores:

O Louco – simboliza um novo começo (o cara que perdeu o emprego e decidiu montar sua própria assessoria) ou atos imprudentes (como seduzir a amante do diretor de redação).

O Mago – diz respeito à capacidade de utilizar o talento para a concretização de novos empreendimentos, como aquele jornal independente que não passa da segunda edição.

A Sacerdotisa – representa o sigilo, os jornalistas que conseguem manter um off, os que não revelam de jeito nenhum o saldo de sua conta bancária.

A Imperatriz – ligação forte com o feminino e com o poder de suportar um trabalho sacrificante. É a repórter que rala na redação, e ainda é mãe, esposa, consultora da Natura.

O Imperador – representa o domínio, o autoritarismo, o repórter especial que não aceita ser pautado, o fotógrafo que odeia palpites em seu trabalho.

O Papa – também conhecido como O Hierofante ou arcano Jabor, é a carta que guia os jornalistas que se acham portadores de uma sabedoria divina.

Os Enamorados – é o amor, a vontade própria, é a repórter fogosa que transa com o motorista no carro do jornal e, depois, diz: “rápido pra pauta, Jurandir, que estou atrasada”.

O Carro – simboliza a retidão, a honestidade. Assessor, jamais ofereça um jabá a quem costuma sortear esta carta.

A Força – Representa a audácia, o sujeito que quer fazer uma super-reportagem sobre o tráfico de drogas no morro, correndo o risco de acabar num forno de microondas.

O Eremita – simboliza o isolamento, o repórter que senta lá no fundo da redação para que ninguém veja a matéria que ele está escrevendo.

A Roda da Fortuna – esta carta, infelizmente, não existe no baralho jornalístico.

A Justiça – representa a reflexão, a racionalidade, o repórter que analisa a notícia sob diferentes prismas antes de publicá-la e acaba sendo furado por um repórter mais ágil e prático.

O Enforcado – carta que simboliza o mistério, o dilema. O que compensa mais: o cheque especial ou um empréstimo bancário? Pago a pensão pra ex ou vou pra cadeia?

A Morte – apesar de estar ligada ao deadline, que é sempre muito apertado e negativo, a carta representa um renascimento: a reunião de pauta para a edição seguinte.

A Temperança – significa o equilíbrio emocional e espiritual, uma carta muito difícil de ser sorteada pelo jornalista, a não ser que ele esteja de folga.

O Diabo – Não se trata do editor que vive cassando sua folga. É a carta que representa a ambição, a vontade louca de ganhar um Esso ou, pelo menos, uma menção honrosa.

A Torre – carta que simboliza os eventos inesperados. Se você já acabou tudo que tinha para fazer na redação, trate de ir embora rápido antes que pinte uma pauta de última hora.

A Estrela – a carta da orientação, que nos conduz por caminhos desconhecidos, muito ligada aos motoristas mais experientes do jornal ou aos que usam GPS.

A Lua – simboliza a capacidade instintiva do jornalista, o cara que sabe quando uma pauta vai dar merda ou quando sua matéria vai cair para dar lugar a um anúncio dos bons.

O Sol – representa a felicidade, a autoconfiança, o texto fechado a tempo, a chamada de primeira página, o furo.

O Julgamento – tem como significado as grandes mudanças que estão por vir. Que tal correr até a máquina do café para saber da rádio-peão se tem algum passaralho a caminho?

O Mundo – simboliza a perfeição, o bem-estar, a gratificação. Assim como a Roda da Fortuna, esta carta não existe no baralho jornalístico. O Mundo, meu amigo, acabou.

Leia também: O horóscopo jornalístico da semana

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Breves diálogos irreais


- Querida, pode colocar o biquíni. Hoje, vai dar praia!
- E o seu plantão, Fê?
- O editor acabou de me ligar. “Felipe, esquece o plantão. O dia está lindo. Vai aproveitar esse solzão com sua família”.
- Ai, que máximo, Fê. Já estou pegando o biquíni.
- Querida, aproveita e liga pra sua mãe. Vê se ela não quer ir pra praia com a gente.


- Acabei de chegar do sindicato e tenho uma ótima notícia!
- Já definiram o dissídio deste ano?
- Já! E advinha quanto de ganho real.
- Não sei, fala rápido!
- 15%.
- Caraca, 15%? Esse sindicato é foda mesmo!


- Muito boa a sua matéria, Paulo! Para um foca você está indo muito bem.
- Obrigado, editor. Pena que não vai ter espaço para publicar.
- Claro que vai. Vou ligar agora mesmo pro Comercial e derrubamos um anúncio!
- Sério? Não estou nem acreditando que vou publicar a minha primeira matéria.
- E, olha, amanhã vamos conversar sobre um aumento salarial, ok? Você está há um mês no jornal e merece um reconhecimento.


- Oi, a pauta é ótima. Vocês vão adorar!
- Não tenho dúvidas. Aguarda só um instantinho no telefone, por favor. Vou pedir pro editor atrasar um pouco o fechamento pra gente conversar.
- Tudo bem.
(segundos depois)
- Opa, voltei.
- Não quer que eu ligue outra hora? Não quero atrapalhar o seu fechamento.
- Não precisa. Se atrasar um pouco não tem problema. Me conta da sua pauta.


- Pai, já decidi: vou cursar Engenharia!
- Esquece essa bobagem, meu filho. Faz Jornalismo que dá mais futuro.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Blog Desilusões perdidas sob ameaça de censura


Em novo atentado à liberdade de expressão, o blog Desilusões perdidas corre o risco de ser tirado do ar. A razão: uma ação impetrada na Justiça pelo Sindicato Nacional das Coletivas de Imprensa (Sindicolim). A entidade considerou ofensiva a frase “coletiva de imprensa é uma grande suruba”, publicada pelo blog em post do último dia 17 de outubro. “O senhor Duda Rangel, que se diz jornalista, ultrapassa os limites da ética e do bom gosto, e faz ofensa despropositada à coletiva de imprensa. É este o dito humor inteligente do Brasil?”, protestou o sindicato em nota.

A ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, intrometeu-se no assunto e também divulgou uma nota, de apoio ao sindicato. “Repudiamos com veemência o caráter sexista do post. A coletiva, enquanto palavra feminina, é associada à libertinagem, à prática orgiástica. O senhor Duda faria a mesma associação caso fosse um substantivo masculino? Por que não o ‘fechamento é uma grande suruba’? ou ‘o plantão é uma grande suruba’?”

Ressalto que não é a primeira vez que tentam calar o Desilusões perdidas. No fim de 2010, uma ONG de defesa do filé mignon ao molho madeira ameaçou levar o blog aos tribunais, alegando que o prato é “sistematicamente ridicularizado nos posts, sempre ligado à boca-livre dos jornalistas”. A ONG chegou a falar em “bullying gastronômico”. A estratégia intimidadora não avançou.

Este ano, outro post foi motivo de repúdio de uma entidade civil, mas a tentativa de ferir a livre expressão também fracassou. No texto “Sete passos para um jornalista ambientalmente responsável”, de 11 de janeiro de 2011, a coluna do jornalista Diogo Mainardi foi comparada ao lixo que leva muito tempo para se decompor. O presidente da Associação Brasileira de Apoio ao Lixo que Leva Muito Tempo para se Decompor revoltou-se: “Tudo bem que a gente é lixo pesado, prejudica o planeta, mas ser comparado à coluna do Mainardi também já é um desrespeito”.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Parlendas jornalísticas


Uni duni tê
Pauta bem deprê
Reportê não qué fazê
Mas o escolhido foi você.


Um, dois, comer depois
Três, quatro, checar o fato
Cinco, seis, sem timidez
Sete, oito, tô muito afoito
Nove, dez, perdi os papéis.


Um assessor chato incomoda muita gente
Dois assessores chatos incomodam, incomodam muito mais.
Dois assessores chatos incomodam muita gente
Três assessores chatos incomodam, incomodam, incomodam muito mais.
Três assessores chatos incomodam muita gente
Quatro assessores chatos incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais.


- Cala a boca!
- Cala a boca? Já calei.
Quem manda na Justiça é o Sarney.


"En-ga-nei" a Glo-bo
Com a imagem do outro.


Assessor e pauteiro
Casamento interesseiro
Pauteiro e assessor
Casamento sem amor.


Um boato quando nasce
Se esparrama rapidão
Jornalista que o publica
Não apura informação.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Coletiva de imprensa


Coletiva de imprensa tem credenciamento na porta da sala Esmeralda. Topázio. Rubi. Tem press kit montado às pressas. Tem recepcionista com cara de sono. Com cara de sapato apertado.

Coletiva tem microfone que não funciona, tem microfonia, tem entrevistado que fica com aquela porra de Alô, um, dois, três, testando, som, som. Testando.

Tem coletiva que é um fiasco. De crítica e público. Tem coletiva com transmissão ao vivo pela TV, corre-corre, gravadores amontoados na mesa, fios emaranhados no chão. Cinegrafistas se esforçando pra conviver em harmonia. Olha o meu tripé aí, pô.

Tem fotógrafo que conta piada sem graça enquanto a entrevista não começa. Tem o engraçadinho que grita Vai começar, vai começar só pra ver colega correndo desesperado. Tem assessor de imprensa pedindo silêncio uma, duas, três, cinco, dez vezes.

Coletiva tem repórter que demora meia hora pra fazer uma pergunta, divaga, fala da própria vida. Que faz três perguntas numa só. Que chega atrasado e faz pergunta que já foi feita. Que clama preferência porque está num link. Que sussura uma pergunta exclusiva no ouvido do entrevistado ao fim do evento.

Tem repórter que quer fazer a pergunta mais inteligente. Que ganha o dia se o entrevistado lhe diz Muito boa sua questão. Tem repórter que não abre a boca. Que dorme de boca aberta. Que baba. Tem repórter concentrado nos e-mails. No Sudoku.

Tem repórter que puxa o saco da entrevistada famosa, Dani querida pra cá, Carol linda pra lá. Tem repórter que pede autógrafo pra mãe. Pra tia. Pra rifar na redação.

Coletiva tem croissant frio, carpaccio de todo tipo. Suco de laranja de caixinha. Tem repórter que pega canapé com guardanapo pra bancar o fino. Tem quem pega com a mão mesmo. Tem pão de queijo malocado no bolso. Tem filé mignon ao molho madeira!

Tem assessor que pede um espaço bacana para o repórter. Tem repórter que pede um jabá bacana para o assessor.

Tem celular que toca quando deveria estar desligado. Entrevistado que derruba o microfone com a mão falante. Tem discussão, provocação. Tem assessor que diz Deu, né, gente? Só mais uma pra acabar, ok? Então, tem alvoroço entre a reportaiada. Braço erguido, indicador esticado. Aqui. Aqui. Voz que atropela voz.

Coletiva de imprensa é uma grande suruba.


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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O produtor que cansou de ser produtor


Quer saber? Repórter de TV deveria ser produtor por um dia. Só por um dia.

Quer saber? Não estudei quatro anos pra aturar piti de quem se acha a estrela.

Quer saber? Faço quatro pautas por dia. Para quatro repórteres.

Quer saber? A vida na redação é uma prisão.

Quer saber? É broxante ser só um nome que aparece por poucos segundos na tela.

Quer saber? Já tô de saco cheio de pensar em matérias criativas, apurar, correr atrás de fontes confiáveis, agendar entrevistas, escolher locações, escrever toda a pauta, organizar equipe de gravação e o escambau pra você, repórter, ficar com a fama.

Quer saber? Cansei de levar culpa por matéria que sai uma merda.

Então, não quer ser produtor de telejornal por um dia?

Só por um dia?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Hoje é dia de Maria


Maria Isabel a-do-ra a vida de repórter. Não a troca por nada.

Hoje é dia de Maria acordar com planos de tomar mojitos à noite, de se jogar numa pista de dança.

Hoje é dia de Maria ter um dia light na redação.

Hoje é dia de Maria ser surpreendida por uma pauta roubada.

Hoje é dia de Maria cobrir a explosão de uma casa de fogos em Guaianases.

Hoje é dia de Maria descobrir que Guaianases fica no cu do mundo.

Hoje é dia de Maria ver desgraça, gente machucada, gente morta.

Hoje é dia de Maria falar com bombeiro herói, vizinho mentiroso.

Hoje é dia de Maria almoçar pastel com Coca no bar do Ceará.

Hoje é dia de Maria reencontrar sua gastrite.

Hoje é dia de Maria trocar figurinhas com outros repórteres que também tiveram o dia premiado com uma explosão em Guaianases.

Hoje é dia de Maria tomar chuva, de pedir proteção a Santa Bárbara e ao toldo do bar do Ceará.

Hoje é dia de Maria pensar: será que eu ainda tenho o login e a senha da Catho?

Hoje é dia de Maria escrever matéria dentro do carro da reportagem.

Hoje é dia de Maria pegar um puta trânsito para voltar à redação.

Hoje é dia de Maria descobrir que Guaianases não fica no cu do mundo. Fica na hemorróida do cu do mundo.

Hoje é dia de Maria chegar tarde à redação. Molhada, faminta.

Hoje é dia de Maria pedir desculpa à amiga. Não vou mais dançar, tô um bagaço só. Você tem noção de onde fica Guaianases?

Hoje é dia de Maria tomar um banho quente e só ter forças de preparar um miojo.

Hoje é dia de Maria ligar a TV para dar mais uma olhadinha na cobertura da tragédia.

Hoje é dia de Maria ficar encanada. Dez mortos? Não eram 8? Comi bola? Porra!

Hoje é dia de Maria demorar para dormir.

Hoje é dia de Maria decidir que amanhã é dia de procurar a senha da Catho. Sem falta.

Hoje é dia de Maria sonhar com os mortos.

Amanhã é dia de Maria acordar como se nada tivesse acontecido. Com a cabeça mais uma vez nos mojitos. Na pista de dança.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Enquete: quais temas mais te atraem no blog?


A nova pesquisa está mais séria e quer conhecer um pouco os hábitos de consumo dos leitores. Quais temas do jornalismo mais atraem seu interesse neste blog? Vida de foca? Agruras da profissão? Ética? Causos da imprensa? Estas e outras opções estão na coluna à direita. Você pode votar em mais de uma alternativa. Manifeste-se também na área de comentários.

A enquete encerrada nesta semana – Qual a pauta mais roubada para um jornalista cobrir? – foi uma das mais disputadas da história do blog. A alternativa vencedora, “Uma palestra de 3 horas de um ambientalista xiita”, teve 19% dos votos. Em segundo lugar, ficou a opção “Velório num domingão de sol”, com 16%.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

10 formas de sacanear um jornalista


1. Chamá-lo de jornaleiro (sacanagem clássica).

2. Dizer a ele que o dissídio anual da categoria será de 30% e, logo depois, disparar um “pegadinha do Mallandro”.

3. Fazer chifrinho nele quando ele entrar ao vivo na TV.

4. Questioná-lo (com ar sério para esconder a sacanagem): “Mas se você é jornalista, por que não trabalha na Globo?”

5. Questioná-lo (novamente com ar sério): “Todos os jornalistas se parecem com a personagem da Carolina Dieckmann?”

6. Passar uma informação falsa só para ele publicar uma barriga.

7. Contar que seu cachorro cagou bem em cima de uma matéria assinada por ele.

8. Convidá-lo para uma coletiva de imprensa sem comidinhas e presentinhos.

9. Ligar para ele no meio do plantão (um domingão de sol) e dizer: “Vem curtir o churrasco com a gente. A cerveja tá uma delícia.”

10. Consolar a mulher dele (sozinha e carente) no churrasco do domingão de sol.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O que estaria escrito na lápide de jornalistas famosos


Haaaja oração!
(Galvão Bueno)

Não fugi para o limbo.
(Diogo Mainardi)

O valor do terreno no céu subiu 26,7% em setembro.
(Joelmir Beting)

É preciso passar o paraíso a limpo.
(Boris Casoy)

Deus me disse: você é o cara.
(Arnaldo Jabor)

Como tem papa por aqui.
(Ilze Scamparini)

Saudade das minhas focas.
(Caco Barcellos)

Este túmulo tem o patrocínio da Funerária Novo Horizonte. Marque um golaço na hora de morrer. E atenção: quem tiver um mal súbito nos próximos 10 minutos ganha um desconto especial.
(Milton Neves)

Polícia celestial confirma esquema de compra de vida após a morte.
(César Tralli)

Esses vermes vagabundos estão me comendo! Cadê as autoridades?
(José Luiz Datena)

Que tristeza!
(Milton Leite)

A morte
Ó dama negra e forte
Chegou mansa
Deixou-me torpe.
(Pedro Bial)

Não é para ser uma viúva muito alegre, viu, dona Fátima?
(William Bonner)

Boa morte.
(Cid Moreira)

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Bonde da redação


O jornal todo
(versão de O baile todo – Bonde do Tigrão)

Só redatoras (hu-hu-hu-hu-hu)
As diplomadas (hu-hu-hu-hu-hu)
Reportezudas (hu-hu-hu-hu-hu)
As focas todas. (hu-hu-hu-hu-hu)

Todas na pressão
É o bonde da redação
Esquece a TPM
Tem trabalho de montão.


Uma pautinha não dói
(versão de Um tapinha não dói – Mc Naldinho)

Mais uma pauta não dói
Uma pautinha não dói
Uma pautinha não dói
A quarta do dia.

Mais uma pauta não dói
Uma pautinha não dói
Uma pautinha não dói
A quinta do dia.


Salário de dar dó
(versão de Egüinha Pocotó – Mc Serginho)

Vou pedindo um dinheirinho
Pra mãezinha e pra vovó
Meu salário de repórter
É pequeno de dar dó.

De dar dó, de dar dó, de dar dó
Meu salário é de dar dó
De dar dó, de dar dó, de dar dó
Meu salário é de dar dó.

Já pensei em vender coco
E até dar meu rabicó
Eu preciso inteirar
O meu salário de dar dó.

De dar dó, de dar dó, de dar dó
Meu salário é de dar dó
De dar dó, de dar dó, de dar dó
Meu salário é de dar dó.


Vaidosa
(versão de Glamurosa – Mc Marcinho)

Vaidosa
Rica e importante
Bem famosa
Com Esso na estante
Quer ser top, muito foda
Dona da redação
Mas é só a foca
Pobre e cheia de ilusão.


Vem, migalha ou Funk do Dissídio
(versão de Vai, Lacraia – Mc Serginho)

Vem, migalha
Vem, migalha
Vem, migalha
Vem, migalha.


Corte na redação
(versão de Cerol na mão – Bonde do Tigrão)

Quer ficar? Quer ficar?
O patrão não vai deixar
Quer ficar? Quer ficar?
O patrão não vai deixar
Passaralho é cruelzão
É, sim, é, sim
Vai cortar teu cabeção
Vai, sim, vai, sim
Vai mostrar quem é o patrão
Dar um pé no popozão
Então congela, congela
Congela o empregão
Limpa a gavetinha
Tem mais vaga, não
É o corte na redação.


Diploma é coisa do passado
(versão de Beijo na boca – Furacão 2000)

Nosso diploma é coisa do passado
A moda agora é
Registro liberado.


Estressadinha
(versão de Atoladinha – Tati Quebra-Barraco)

Piririn, piririn, piririn
Alguém ligou pra mim
Piririn, piririn, piririn
Alguém ligou pra mim
Quem é?
Sou eu, o assessor
E uma pauta vou te dar
Exclusiva e diferente
O release vou mandar
Vai me deixar em paz?
Não, não, vou perturbar
Vai me deixar em paz?
Não, não, vou perturbar
Tô ficando estressadinha
Tô ficando estressadinha
Tô ficando estressadinha
Calma, calma, pauteirinha.


Conquista
(versão de Conquista – Claudinho e Buchecha)

Sabe (thu-ru-ru-ru)
Estou louco pra escrever (oh, yes)
Sabe (thu-ru-ru-ru)
Jornalista eu quero ser (iê-iê-iê-iê)

Sabe (thu-ru-ru-ru)
Estou louco pra escrever (oh, yes)
Sabe (thu-ru-ru-ru)
Jornalista eu quero ser (iê-iê-iê-iê)

E a porra do tempo não passa
E eu quero ter
Um emprego, enfim
Nada se compara
Ao tal do fazer
Tô muito a fim
De gravar, apurar
E depois publicar
No jornal, meu amor
Facul tem que acabar!
Oh, yes, oh, yes!

Já faz mais de ano
Que eu tô estudando
Vidinha pau no cu
Quero adrenalina
Sentir alegria e dor
Na real tudo fica blue.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O dia em que a Morte visitou o Jornal Impresso


- A Morte me visitando?

- A Morte. Nunca ouviu falar?

- Porra, claro que sim. Mas por que hoje, agora?

- Porque é a sua vez, ora. Todo dia visito alguém.

- A senhora vai me desculpar, mas hoje eu não estou pra brincadeira.

- Posso ao menos entrar? Podemos conversar com civilidade?

(Minutos depois, ambos tomam um café na sala)

- Sabia, dona Morte, que a senhora já me visitou antes?

- Ah, é? E quando foi? (colocando o adoçante)

- Quando inventaram a televisão.

- Mas isso faz muito tempo. Devia ser outra Morte. Eu estou no ramo há 15 anos apenas.

- Que seja. Mas era a Morte. A televisão vai acabar com você, me ameaçou. Hora de ir, de descansar. E cá estou eu, vivinho da silva.

- Eu não vim aqui para discutir o passado. O que me importa é o hoje. E hoje eu tenho ordens para te levar. Entendo que ninguém quer ir, mas é o meu trabalho.

- Pior que até sei a justificativa desta vez.

- A razão está aqui, no mandado de busca.

- Então, leia. Só para confirmar minha suspeita.

- Causa: pre-fe-rên-cia do pú-bli-co pela no-tí-cia na in-ter-net.

- Putz, que falta de originalidade! A velha história de que uma nova tecnologia de comunicação vai decretar o meu fim.

- Já disse, só cumpro ordens.

- Lamento, mas a senhora se deu mal. Pode acabar o seu café, levantar e ir embora.

- De mãos vazias, eu não saio.

(Silêncio)

- Bom, dona Morte, podemos negociar então?

- Podemos, mas não me venha com a merda do jogo de xadrez que isso é a coisa mais clichê que existe.

- Claro, sem jogo de xadrez. Também sou contra o clichê, embora viva cheio deles.

- Quero que você me dê três bons motivos para não ser levado. Se forem convincentes, deixo você viver por mais um tempo.

- Três?

- Isso, só três.

- Mas assim, pá-pum, sem pensar?

- Pá-pum! Estou dando a você a chance de salvar essa sua pele cheia de tinta. E não vale falar do feirante que enrola peixe, ok? Isso não é argumento.

- Bom, senhora Morte, digo que aceito sua proposta, mas peço 24 horas para responder. É justo, não? Quero fazer a coisa bem-feita.

- Amanhã à tarde, estou aqui. Sem atraso.

(E a Morte foi embora. Mal fechou a porta, ele correu para o escritório, abriu seu notebook e tratou de jogar a frase “razões para o jornal impresso não morrer” no Google)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

As telenovelas e o jornalismo


Pauta Nostra

Insensato Pescoção

Redazione

Roque Pauteiro

Pecado Editorial

Estressadíssima

Rainha da Cascata

Sem Hora pro Destino

Estúpido Artigo

Workin’ Days

Que Repórter Sou Eu?

Os Editores Também Choram

Direito de Folgar

Éramos Seis Redatores (antes do passaralho)

A Traça Comeu (meu velho portfólio)

Sem Laços com a Família

A História de Ana Rádio e Zé Televisão

Um Frila Caiu do Céu

A Foca Isaura

Leia mais: Redação em chamas

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Como desabrocha um jornalista


Felipe, da 4ª série B, ganhou o concurso de redação e ouviu da tia Jane que tinha jeito para a coisa. Passou a escrever de tudo, de contos de aventura a cartinhas de amor, até chegar às grandes reportagens e aos torpedos à mulher (avisando que deixaria a redação bem tarde).

Luis Fernando criou, ainda garoto, um jornal com notícias da família. Tinha a irmã como parceira. Penduravam o periódico, O Patentino, numa parede do banheiro de casa.

Roberta tinha 13 anos quando o descaso da rede pública de saúde roubou a vida de sua mãe. Decidiu que lutaria por um mundo mais digno. Sem grana e apoio, estudou, virou jornalista. Sabe que não mudará o mundo, mas fica feliz com as pequenas transformações.

Daniela leu (com dificuldade) a embalagem do Toddynho que falava sobre a profissão, refletiu (também com dificuldade) e decidiu: seria jornalista. “Se nada der certo, eu viro hippie ou, sei lá, caso com um homem rico, tipo dono de emissora de TV.”

Luiza cresceu ouvindo o Jornal da Manhã com o pai, todos os dias, tomando café com leite. “Vambora pra escola, minha filha, olha a hora”, ele brincava. Num desses dias, ela profetizou: “O senhor ainda vai acordar com a minha voz”.

Bill, motorista de carro de reportagem, começou a levar uma máquina fotográfica amadora nas saídas para as pautas. Registrava o trabalho dos amigos jornalistas. Suas fotos ganharam a primeira página do jornal. Ele ganhou elogios, exposições, um novo horizonte.

Carlos Eduardo, todo mês de dezembro de sua infância, vestia o paletó gigante do pai e apresentava a retrospectiva do ano à família, numa bancada de telejornal improvisada na sala de casa. Os primos desdenhavam, a tia gorda roncava, mas nada desmotivou o menino.

João Paulo nasceu jornalista. E sob orientação divina. “Meu filho, terás uma missão importante neste mundo, lutarás por justiça, falarás apenas a verdade. Mas, atenção, não descansarás muito no sétimo dia, como Eu descansei, porque terás o maldito plantão”.


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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pressão alta


Jornalista sofre pressão na faculdade.

– Quero que leiam a Teoria da Ação Comunicativa de Habermas até amanhã. São só 250 páginas. Entenderam?

Jornalista sofre pressão do editor.

– Volta logo pra redação que você ainda tem outras duas pautas hoje.

Jornalista sofre pressão da tela em branco do computador.

– E esse lead que não sai, mané? Vai ficar aí parado com cara de bunda?

Jornalista sofre pressão do relógio.

– 15 minutos para o fechamento. 10 minutos para o fechamento. 5 minutos para o fechamento.

Jornalista sofre pressão da mulher.

– Você prometeu me dar um filho depois da Olimpíada de Pequim. Esqueceu?

Jornalista sofre pressão do filho.

– Plantão de novo, pai? Já sou quase faixa preta e nada de você me ver lutar.

Jornalista sofre pressão do exame de sangue.

– Teu triglicéride tá chegando nos 400. Fica esperto, vacilão.

Jornalista sofre pressão da consciência.

– Vai mesmo entrar nessa favela cheia de traficante? Você não ganha pra isso.

Jornalista sofre pressão do ego.

– Tá com medinho de traficante? Entra logo, porra. Não quer reconhecimento, prêmios?

E jornalista desconta toda a pressão nos assessores de imprensa.

– Tô te mandando 20 perguntas por e-mail. Mas, ó, quero as respostas pra ontem.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Você votaria nestes jornalistas?


O portal Comunique-se, pegando como gancho a possível candidatura de José Luiz Datena à prefeitura de São Paulo, quis saber de seus leitores o que eles achavam de jornalistas concorrerem a cargos públicos. A questão é polêmica. O blog aproveita a discussão para reproduzir uma breve lista de jornalistas-candidatos. Você votaria em algum deles?

Paulinho Foca
Você não me conhece! É que eu acabei de me formar e ainda estou desempregado. Minha principal bandeira é o trabalho decente para os jovens jornalistas. Chega de só ficar escrevendo notinha ou cuidando de tabelas e gráficos. Foca vota em foca!

Adílson do Sindicato
Em minha longa trajetória como dirigente sindical, não consegui bons dissídios para a categoria, nem tive sucesso em questões como direitos autorais aos jornalistas e defesa do diploma, mas preciso de seu voto para continuar lutando por você.

Rita de Cássia
Sou mulher, mãe, filha, cunhada, tia, jornalista, repórter, pauteira, fotógrafa, designer, faço frila nas horas vagas e doces para vender na redação e, de madrugada, ainda lavo as cuecas sujas do meu marido! Eleita, posso fazer muito mais!

Professor Eugênio
Por um curso superior de jornalismo de boa qualidade. Pela inclusão da disciplina “Introdução a Técnicas de Sobrevivência” no currículo. Pela legalização da maconha e do jogo de truco nas universidades públicas. E, claro, pela volta do diploma!

Mulher-nêspera
Sou mulher-fruta, modelo, atriz e jornalista. Meu lema é menas inteligência e mais beleza nas redações. Abaixo a Marília Gabriela! Prometo lutar para que toda gostosa tenha seu próprio programa de previsão do tempo ou de esportes radicais.

Tonhão
Você está cansado de trabalhar por dias e dias sem descanso? Não suporta mais perder o churrasco do domingo por ser obrigado a estar na redação? Chega de exploração! Contra o patrão, ou melhor, contra o plantão, vote Tonhão!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Clark Kent e os superpoderes do jornalista



Ao chegar atrasado à redação do Planeta Diário no primeiro dia de trabalho, Clark Kent já foi logo tomando um esporro do chefe de reportagem.

- Tá pensando que isso aqui é vida na fazenda, Clark? Porra nenhuma! Isso aqui é cidade grande, meu amigo, metrópole. Não dá pra ser lerdão assim, não.

Foi quando Clark teve revelado o seu primeiro superpoder, o da paciência. Paciência para agüentar aquele chefe de reportagem escroto, paciência para agüentar entrevistado escroto.

Clark só descobriria seu segundo superpoder 15 dias depois, quando o mesmo chefe de reportagem lhe deu de presente uma pauta inesperada: exclusiva com o prefeito.

- Você só tem 15 minutos para chegar à prefeitura. E não pode atrasar, ouviu? Se vira, Clark. Vai voando.

Sem que o pessoal da redação percebesse, Clark pegou bloquinho e caneta, e abriu a janela do 15º andar.

O trabalho de jornalista ajudou Clark a concluir que ele só podia ser de outro planeta. Em menos de um ano, já havia descoberto vários outros superpoderes, como o da imortalidade (trabalhou dois meses sem folga e não morreu), o do sopro congelante (que estreou contra um assessor de imprensa chato) e o da invulnerabilidade (com exceção, claro, à kryptonita e ao filé mignon ao molho madeira que, sempre que devorado numa coletiva, lhe causava uma puta diarréia).

Lois Lane, sua namoradinha na redação, adorava o superpoder da velocidade de Clark. Transavam em 2 ou, no máximo, 3 segundos nas escadas entre o 15º e o 16º andar. Eram tantas pautas, tanta exploração, que não havia muito tempo para o amor naquele jornal. A rapidíssima, repetida três ou quatro vezes ao dia, ajudava Lois a suportar o estresse da profissão.

O único superpoder que Clark não conseguiu desenvolver foi o da resistência às suas crises de vaidade. Era só não emplacar a manchete do jornal que ele ficava todo nervosinho. Nesses dias, Clark descontava sua raiva em Lois, privada das alegres visitas às escadarias do prédio, e nos pobres assessores de imprensa que apareciam na redação. Demoravam horas para descongelar.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

10 dicas para um jornalista pedir emprego por e-mail sem queimar o filme


1. Jamais comece o e-mail com “venho por meio deste”. Porra, isso é mais clichê do que epitáfio iniciado com “aqui jaz fulano de tal”. A frase pronta mostra falta de criatividade ou que você se baseou numa antiga carta de apresentação do seu avô para redigir a mensagem.

2. Formalismo é um saco, mas gírias e linguagem de internet também não combinam com este tipo de e-mail. Nada de “vc”, “aki” ou “naum”. Nem “trampo”, pelo amor de Deus.

3. Erro de português rende eliminação imediata. Tome muito cuidado para não escrever certas aberrações, como “esperiência proficional”. É legal também seguir o novo acordo ortográfico, mesmo que você ainda seja apaixonado pelo acento em “ideia”.

4. Gerúndio: é bom estar evitando. A vaga não é para operador de telemarketing.

5. E-mail-padrão para enviar a um monte de gente individualmente sempre traz o risco de você escrever “prezado senhor Maria Clara”. Por mais que hoje a questão do gênero esteja muito diversificada, isso ainda será visto como erro de concordância. Ou desleixo.

6. Mandar um e-mail a um grupo de jornalistas, com todos os endereços eletrônicos abertos, é queimar ainda mais o filme. Pedido por atacado é bem desagradável. Você pode receber uma resposta ainda mais desagradável, com todo mundo copiado.

7. Seja sincero com seus sentimentos. Sempre. Se você não gosta de assessoria de imprensa, não escreva que “ama ser assessor de imprensa” só para conseguir a vaga. Esqueça compromissos de fachada. Ou terá um divórcio traumático em bem pouco tempo.

8. Seja conciso. Textos longos e cheios de detalhe são ótimos para cartas de suicídio, mas não para prospecção de trabalho. Foco no seu objetivo atual. Deixe para ser prolixo quando decidir cortar os pulsos. Provavelmente por não conseguir um emprego.

9. Anexo é uma espécie de doença venérea. As pessoas morrem de medo de contaminação. Mande o currículo sempre no corpo da mensagem. E, claro, mande um currículo breve. Não interessa ao editor saber que você foi líder dos escoteiros na infância.

10. Nunca se refira à empresa a qual você está pedindo emprego com elogios ou adjetivos exagerados, como “adoraria trabalhar neste prestigiado e renomado jornal”. Isso soa falso, mais falso do que a Claudia Leitte cantando em inglês.


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