quinta-feira, 28 de maio de 2009

A ditadura da centimetragem


Mensurar o resultado de um trabalho de assessoria de imprensa, a tal exposição na mídia, é algo tão polêmico como discutir futebol, política, religião e o Big Brother. E precisamos mensurar, para convencer quem tem a grana de que o nosso trabalho vale a pena.

Por muito tempo, o que imperou absoluto no mercado foi o modelo da centimetragem, que é medir na régua o que foi publicado nas colunas de texto de jornais e revistas. Eu, desde muito jovem, sempre fui contra essa coisa de contar os centímetros, principalmente quando eu tomava banho com os meus amigos no vestiário do clube após o futebol. Mas essa é uma outra história e não é o caso lembrá-la em detalhes neste post.

O importante para os assessores de imprensa, nesses anos todos, foi juntar o máximo de centímetros possíveis para colocar no relatório final a ser entregue ao cliente. O tamanho era documento, sim! A polêmica deste modelo começou quando alguém, um pouco mais perspicaz, resolveu fazer a seguinte perguntinha: vale mais uma notinha bem pequena numa coluna badalada de um jornal importante ou uma página inteira em um jornal sem tanto prestígio? A coisa mudou. Começaram a desconfiar daquela exuberância toda dos centímetros. E eu voltei a tomar banho em público, feliz e sem constrangimentos.

Um outro modelo de mensuração de resultados, mais recente, é o modelo do “positivo” e “negativo”. As matérias publicadas passam por um critério subjetivo de avaliação: essa aqui é ótima para a imagem da empresa (positiva), aquela outra queima o filme da empresa (negativa). E tem também a coluna do meio, a matéria “neutra”. E qual a polêmica suscitada por este modelo? O que é “bom” para a empresa pode ser “ruim” para os seus funcionários, para os clientes, para a comunidade.

Hoje, estudiosos da comunicação fazem todos os esforços para tentar descobrir o inovador modelo que revolucionará o trabalho das assessorias de imprensa. Comentam até que as pesquisas estão mais avançadas do que as relacionadas à cura da aids. Eu, que sou muito desconfiado, prefiro aguardar sentado. E, no mais, desde que perdi o emprego, a única coisa que tenho mensurado é a circunferência da minha barriga. Essa história de almoçar e jantar de verdade acrescentou alguns centímetros a ela. Será que isso é positivo ou negativo?

terça-feira, 26 de maio de 2009

Quem é morto sempre aparece


Seu Nonô tinha 92 anos, cinco filhos, 11 netos e um fígado maltratado pela bebida. Desde que perdeu a mulher, há quase duas décadas, ganhou dois vícios: a cachaça e a leitura do obituário do jornal. Lia todo dia, religiosamente. Gostava de estar por dentro das novidades. Quem empacotou dessa vez? Algum conhecido? Pela imprensa, soube da morte de amigos distantes, amores platônicos. Ficava triste, chorava, mas suspirava. “Antes eles do que eu”.

O velhinho levantava cedo para pegar o jornal. Nem via a manchete de capa. Seguia diretamente para a seção dos mortos. Conferia todos os nomes, um por um, de homens e mulheres, de todas as idades. “Coitado, esse foi cedo, tinha só 21 anos”, lamentou certa vez. Outros, privilegiados, viviam quase um século. Por que tamanha injustiça? Ele mesmo admitia que estava no lucro. Já passava dos 90, apesar de sua queda pelo álcool.

Nonô sempre imaginou como seria o seu obituário. Escreveu o texto e orientou a família sobre a maneira como queria ver o anúncio fúnebre no jornal. Tinha de ser em letras garrafais, em negrito, para que todos os vivos soubessem de sua partida. “Aposentado não enxerga essa letrinha de merda que publicam por aí”, dizia.

Numa manhã, Nonô pegou o jornal e não encontrou a tal seção dos mortos. Teve uma sensação estranha. Em quase 20 anos, isso nunca tinha acontecido. Pegou o telefone e ligou para a redação. A voz estava embargada. Ficou sabendo, então, que o velhinho que fazia o obituário tinha morrido na tarde anterior. Desligou o telefone e foi para o quarto dormir. Desejava acordar só na manhã seguinte. Naquele dia, nem bebeu sua cachaça.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O que eu ganho com isso?


A pauta começa cedo. Segue pela tarde. Muito trabalho. Pressão. Sem tempo para almoço. Apenas uma coxinha. Cheia de gordura. Correria. Uma entrevista aqui. Outra ali. Um puta calor. Entro no carro do jornal. Sem ar-condicionado. Trânsito caótico. Motorista xinga. Fotógrafo reclama. Fumaça. Buzinas. Motoboys. Olho para o relógio. Uma coletiva me espera. Será que chego? Vontade de ir ao banheiro. Número 1. Sem chances. Aperto. Lentidão. O tempo passa. Surgem os atalhos. Agora vai. Checo o endereço do hotel. Estamos perto. Fecha o farol. Caralho! Sempre nessas horas! Destampo a caneta. Tampo a caneta. Destampo de novo. A porra do farol não abre. Vendedores enchem o saco. Abre o farol. Arrumo minha roupa. Pego o bloquinho. Chegamos. Corro. Fila na porta. Credenciamento. Entro. Cansaço. Bafo de coxinha. Nem escovo os dentes. Coletiva atrasa. Passo no banheiro. Alívio. Tiro uma salsinha dos dentes. Com o dedo. Volto pro auditório. Repórteres armados. Fotógrafos brigam por espaço. Barulho. Pedidos de silêncio. Tudo pronto. Perguntas. Respostas. Réplicas. Tréplicas. Intromissões. Discussões. Todos querem falar. Que zona! Questiono. Anoto. Reflito. Fim de papo. Vôo pro carro. Pressa. Mais trânsito. Mais fumaça. Mais buzinas. Mais motoboys. O tempo é curto. Pego o bloquinho. Rascunho o lead. Letra horrível. Penso na matéria. Mordo os lábios. Vontade de ir ao banheiro. Número 2. Aperto. Que bosta! Logo agora! Boca seca. Pressa. O farol fecha. Mais vendedores. Limpadores de vidro. Espera. Olho para o relógio. O farol abre. O motorista corre. Falta pouco. Chego ao jornal. Corro. Fila no elevador. Caralho! Espero. Entro. Aperto. Solto um peido. Disfarço. Subo. Desço. Corro. A redação está cheia. Fechamento. O tempo é ainda mais curto. Terei muito espaço? Terei pouco espaço? Tensão. Corro de novo. Tropeço. Paro. Vejo meu editor.

– Duda, relaxa, tua pauta caiu.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O lance é um dia visitar o Sebrae


Vocação empreendedora ou necessidade de sobrevivência? Sou mais a segunda opção. A alternativa “Abriria o próprio negócio, no bom sentido, é claro” foi a grande vencedora da enquete Se você resolvesse abandonar a carreira de jornalista, que rumo daria à sua vida?, com 31% dos votos. Mas o triunfo foi apertado, praticamente outro empate técnico.

Na segunda colocação, ficou a alternativa “Torraria o FGTS numa viagem à Índia de descoberta do verdadeiro ‘eu’”, com 27% dos votos. Além da proposta espiritual, muitas jornalistas (e alguns do sexo masculino) aproveitariam a viagem para tentar descobrir também o endereço do Raj, o indiano gostosão da novela da Globo. Tenho uma amiga que confessou ter orgasmos múltiplos toda vez que o cara dá aquela balançadinha de cabeça. Hare baba!

E menção honrosa para a alternativa “Viveria de pequenos golpes em gente de bem”, que amealhou incríveis 22% dos votos, uma clara evidência de que por trás do ser humano sofrido que é o jornalista há também o nobre ideal de se dar bem nessa vida, independentemente dos meios.

A nova pesquisa, já no ar, quer saber qual o maior perrengue enfrentado por um assessor de imprensa, o que mais aflige a alma deste pobre profissional. Como nada é fácil para nós, a disputa promete ser grande outra vez. Façam suas apostas!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Viciado em nariz-de-cera


– Alô, Jornalistas Enchedores-de-Lingüiça Anônimos, bom dia. Em que posso ajudá-lo?

­– Sou um jovem e angustiado repórter de política. De jornal diário.

– Entendo, senhor.

– Não consigo escrever um lead conciso.

– Entendo, senhor.

­– Sempre achei essa coisa de "o que, quem, quando, onde, como e por quê" a maior cascata. Deixa nosso texto pobre, limita a criatividade.

– Mas os textos jornalísticos precisam ser claros e objetivos, senhor.

– Quando abro um arquivo novo no computador, o espaço vazio me desperta a volúpia de escrever sem parar.

– A simplicidade exige técnica, senhor.

– Já escrevi leads de mais de 20 linhas.

– O caso do senhor parece grave, mas confie em nós. Já curamos alguns figurões da imprensa.

– Figurões?

– Esse mal não é exclusivo dos focas. Alguns colegas experientes adoram divagar, romancear. Talvez sejam escritores frustrados.

– Na redação, sou alvo de chacotas. Meu apelido é Nariga. Dizem que sou o rei do nariz-de-cera.

– O senhor já procurou tratamento antes?

– Uma vez, participei de um grupo de ajuda chamado "Repórteres que escrevem demais". Aqueles encontros eram uma enrolação. Fiquei pior.

– Imagino, senhor.

– Estou desesperado. Vou desistir do Jornalismo para estudar Direito.

– Tente se controlar, senhor.

– Vou me inscrever hoje mesmo numa daquelas faculdades que dão diploma em dois anos.

– Fique tranqüilo, por favor. Está sozinho em casa?

– Como advogado, poderei escrever páginas e mais páginas de petições, processos...

– Procure manter o equilíbrio, senhor.

– Mandarei a concisão e a clareza para a casa do caralho.

– Calma, senhor. Não faça nenhuma besteira. Estou aqui para ajudá-lo.

– ...

– Senhor? Senhor?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sem generalizar, por favor


Não dá para ser jornalista e não gostar de ler. Ser mal-informado é crime! É como atriz pornô que não gosta de sexo. Quem não curte ler tem ainda mais dificuldade para escrever, principalmente escrever bem. Mas, infelizmente, em nossa profissão, há muita gente que odeia até uma leitura dinâmica.

Eu leio desde muito jovem. Com 11, 12 anos, já devorava a Playboy todinha e a seção “Fórum”, da revista Ele & Ela. Pouco depois, já me dedicava às revistas suecas, que exigiam um entendimento mais elaborado da vida, além de um segundo idioma. Hoje, leio de tudo, de análises macroeconômicas a bula de remédio.

O problema da falta de informação também afeta um outro tipo de jornalista: o generalista. Pelos dicionários, generalista é a pessoa que não tem uma especialização, mas que entende de vários assuntos. No caso do jornalista generalista, trata-se do cara que não entende porra nenhuma de vários assuntos. Fica pingando de pauta em pauta, totalmente desconexas, entrevista o analista financeiro e o jogador de futebol numa mesma tarde. Em TV, rolava muito disso.

Estava certa vez em um treino da Fórmula 1, em Interlagos. Encontro um amigo repórter de TV, ofegante, terno desarrumado, jeitão de quem está perdido. “Porra, Duda, me ajuda aí, cara. O que tá rolando aqui hoje? Me mandaram para cá, caí de pára-quedas. Tenho uma entrada ao vivo daqui a pouco.” Poucas horas antes, ele estava na inauguração de um hospital pelo governador. Pensei em sacaneá-lo, dizer que a notícia era o melhor tempo do Rubinho, mas acabei ajudando o coitado.

O jornalista generalista de TV tem sempre aquele olhar que clama por piedade e uma informação que lhe traga de volta ao planeta Terra. A malandragem também funciona. O cara se aproxima de um bolo de repórteres que entrevista um ilustre empresário, manda ligar a câmera, coloca o microfone na boca do sujeito e grava tudo, sem fazer uma pergunta sequer. Vai só na carona dos outros jornalistas. Por fim, ainda tem a cara-de-pau de virar para o lado e dizer: “Amigo, como chama esse empresário mesmo?”

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Tô rico, tô rico!


Hoje eu estou feliz. E estou feliz apesar de nem ter dormido direito por três noites seguidas, fato que normalmente me deixaria de mau humor. A última madrugada passei em frente ao computador, embriagado de tanto café e escrevendo um frila inesperado. E o melhor: por uma boa grana, coisa rara, mas que vez ou outra acontece. É como comer picanha na churrascaria barata que eu freqüento. O garçom raramente passa com uma no espeto pela minha mesa, mas vez ou outra acontece.

E por que será que esses frilas pintam aos 40 minutos do segundo tempo? São sempre para ontem. Deadline apertadíssimo, alerta o editor. Nos fazem parar tudo, sacrificar horas de sono, mas valem a pena. Tudo pela sobrevivência.

Quem também ficará feliz com essa grana extra é o Nestor. Ele vai ganhar até uma cama nova, ou melhor, vai ganhar a primeira cama dele aqui no meu apê, com direito a um cobertor zero bala e sem pulgas, para enfrentar as noites de inverno.

Seu Vitório, o velhinho que aluga o apê de 49 metros quadrados para mim, é outro que vai comemorar. Para minha desgraça, ele mora no mesmo prédio. “Já arrumou um trabalho, meu filho?”, me pergunta sempre, em nossos encontros casuais no elevador. Acho que ele andou remexendo o roteiro da minha vida e roubou essa fala do meu pai, dita tantas vezes em minha juventude.

O frila não valeu apenas pela grana boa. Era uma reportagem instigante para uma conceituada revista feminina, se é que isso existe. O tema? As mulheres que comandam o mercado de sexo nas ruas de São Paulo. A arte de proxenetar não é mais uma exclusividade daqueles cafetões truculentos e insensíveis. Conheci mulheres que começaram por baixo, literalmente, e hoje são verdadeiras executivas. Me deu até inveja dessa ascensão profissional toda.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Condenados à liberdade


Depois de ler A Idade da Razão, do Sartre, alguns anos atrás, passei a conviver com a certeza de que essa coisa de ser livre é muito complicada. É irônico dizer isso, mas a liberdade, se não se sabe dela gozar, pode ser também opressora e sufocante. Como é difícil ser dono da própria vida, das próprias decisões. O jornalista, esse ser meio esquisito de quem sempre falo, é um dos que penam para aprender a ser livre.

Já conheci jornalistas – e sou um deles – que passam a vida blasfemando contra a dureza das redações, o trabalho insalubre, o chefe chato. Até o dia em que, por vontade própria ou não, libertam-se. Vão traçar seus próprios caminhos, bem longe da empresa que os explorava. Mas muitos jamais saberão ser, simplesmente, livres, assim como os ex-escravos negros de Manderlay. Ficam loucos para voltar à redação, aos antigos senhores, como se fosse impossível viver sem eles. Agarram-se aos antigos hábitos da dominação.

Há um outro tipo de jornalista, mais jovem, que adoraria ter vivido a época da ditadura. Bons tempos, pensam esses ingênuos, eram aqueles do chumbo grosso. Deveria ser irado protestar, subverter, ser preso ou criar um grupo revolucionário com aqueles nomes cheios de siglas. Veio a democracia, suspendeu-se a censura e a graça acabou. Com a liberdade política, este jovem é um acomodado. E nem se dá conta de que neste mundo de hoje ainda há espaço para muitas lutas, contra racismos, morais religiosas e outros tantos males.

Até a liberdade pós-casamento é de uma estranheza só. Quando, tempos atrás, minha mulher me trocou por um garotão, sofri a dor dos seres desprezados. Meu tormento, contudo, durou pouco. Pensei: “Duda, você está livre de um casamento: não precisará mais assistir àqueles filmes chatérrimos da Meg Ryan! Poderá comer todas sem culpa”. Mas logo minha euforia também acabou. A solteirice, às vezes, não faz o menor sentido para mim. Eu, definitivamente, sou um ser meio esquisito.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A pastinha vagabunda


Um amigo prometeu me ajudar a fazer um portfólio com minhas reportagens. Algo decente, moderno, digital, para ser entregue a um futuro empregador num minúsculo pen drive. Embora o QI seja indispensável hoje em dia, uma boa apresentação de nosso trabalho sempre ajuda. “Duda, nem pense em usar mais aquela pastinha vagabunda, cheia de papel amarelado”, ameaçou. “Você vai continuar desempregado pro resto da vida.”

Enquanto ele falava, fiz uma viagem aos meus 20 e poucos anos. A pastinha, apesar de ordinária, reunia minhas grandes matérias. Estava esquecida num armário qualquer, ao lado de uma pilha de jornais que nunca tive coragem de arquivar. Coisa de gente preguiçosa. Resgatar aquela papelada seria um reencontro com o início de minha carreira. Lembranças de uma época de descobertas, entusiasmo com o jornalismo, erros inocentes que hoje me fariam rir. Bons tempos que, infelizmente, não voltam.

O cubano Pedro Juan Gutiérrez, no livro Trilogia suja de Havana, escreve: “É impossível me livrar das saudades porque é impossível se livrar da memória. Você não pode se livrar daquilo que amou”. Ele tem razão.

- E vê se escaneia essa porra direito, completou o meu amigo.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O "jornalismo" do Ratinho voltou


Semanas atrás, li no jornal que Ratinho, vulgo Carlos Massa, voltaria à TV depois de um longo período na geladeira do seu Silvio. A matéria destacava que o novo programa não teria nada do antigo circo dos horrores, mas, sim, um “cunho jornalístico”. Aquelas palavras me deram calafrio. Isso mesmo, amigos, Ratinho, que se auto-intitula o “defensor do povo brasileiro”, estava voltando, para fazer jornalismo. E no SBT.

A estréia de Ratinho foi na última segunda-feira. Liguei a televisão para conferir, afinal, como estou desempregado, me sobra tempo para o ócio e me falta dinheiro para assinar uma TV a cabo. O jornalismo de Carlos Massa me lembrou seu “190 Urgente”, que passava na CNT nos anos 90, mas sem o famoso cassetete. Nada de novo. Muita matéria policial, recheada de escracho. Numa reportagem sobre a apreensão de um caminhão carregado de maconha, o apresentador soltou essa: “Também o que tem de maconheiro por aí. Só aqui no SBT tem um monte”. É impossível não rir de suas pérolas.

Escrevi, há pouco tempo, um post sobre o finado Notícias Populares, um jornal que, apesar de alguns exageros, tinha sacadas criativas e bem-humoradas. Gosto do lado B, mas Ratinho passa dos limites muito mais do que o NP passava.

Com exceção de alguns poucos minutos de matérias mais digeríveis, o resto era só baixaria, apoiada por uma platéia ensandecida, uma bandinha típica de circo mambembe e as intervenções pitorescas do rato Xaropinho. O “cunho jornalístico” de Ratinho está mais para um programa de humor. De quinta categoria.

A estréia fechou com uma reportagem sobre o menino-cachorro da Guatemala, um jovem com aparente distúrbio mental que age como um bicho nas ruas, dando cabeçada em tudo o que vê pela frente e assustando a criançada do povoado. A reportagem ouviu religiosos, insinuando que o garoto estava possuído pelo capeta. Matéria grotesca, mas Ratinho fez questão de exaltar o caráter de seriedade da reportagem. “Aqui não tem baixaria, não. Baixaria é lá no programa do Datena”.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Ó, meu Deus, quantas escolhas!


A última pesquisa deste blog – Decidi ser jornalista porque... – foi encerrada com um empate técnico. As alternativas “Sempre odiei Matemática” e “Não saberia fazer outra coisa” tiveram, respectivamente, 35% e 33% dos votos. Em terceiro lugar, ficou a opção “Sabe que eu não sei?”, com 20%.

É realmente muito difícil chegar a uma conclusão confiável sobre o que leva uma pessoa a ser jornalista. Muitos escolhem tal caminho não por uma razão apenas, mas por várias razões ao mesmo tempo. Outros, como suspeitam psicanalistas renomados, são desprovidos de qualquer razão no momento da decisão. Enfim, trata-se de uma discussão polêmica e complexa. Nem Caetano, que sabe como ninguém ser objetivo e claro em um raciocínio, explicaria esta questão de uma forma simples.

* * *

Por várias vezes, de cabeça quente, pensei em abandonar o jornalismo e ser dono de uma franquia do McDonald’s. Como a lanchonete está sempre lotada, calculava ganhar uma puta grana. Depois, mais calmo e com o juízo recuperado, percebia que ainda tinha muito amor pela profissão, que valeria a pena tentar mais uma vez. E, além de tudo, nunca teria dinheiro para investir em uma franquia do McDonald’s.

Contei esta breve história só para lembrar que, de tempos em tempos, todos nós, jornalistas, mergulhamos em nossas crises profissionais. Será que estou no caminho certo? Será que ainda existe amor? Será melhor fazer terapia? Enfim, todos aqueles questionamentos que mais parecem os de um casamento em crise. O final da história pode ser feliz ou não.

A nova enquete trabalha com uma situação hipotética: que rumo você, meu caro amigo ou amiga, daria à sua vida caso decidisse abandonar o jornalismo de forma definitiva? As opções vão de uma jornada espiritual pela Índia a uma carreira artística na TV.