sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Bonde da redação


O jornal todo
(versão de O baile todo – Bonde do Tigrão)

Só redatoras (hu-hu-hu-hu-hu)
As diplomadas (hu-hu-hu-hu-hu)
Reportezudas (hu-hu-hu-hu-hu)
As focas todas. (hu-hu-hu-hu-hu)

Todas na pressão
É o bonde da redação
Esquece a TPM
Tem trabalho de montão.


Uma pautinha não dói
(versão de Um tapinha não dói – Mc Naldinho)

Mais uma pauta não dói
Uma pautinha não dói
Uma pautinha não dói
A quarta do dia.

Mais uma pauta não dói
Uma pautinha não dói
Uma pautinha não dói
A quinta do dia.


Salário de dar dó
(versão de Egüinha Pocotó – Mc Serginho)

Vou pedindo um dinheirinho
Pra mãezinha e pra vovó
Meu salário de repórter
É pequeno de dar dó.

De dar dó, de dar dó, de dar dó
Meu salário é de dar dó
De dar dó, de dar dó, de dar dó
Meu salário é de dar dó.

Já pensei em vender coco
E até dar meu rabicó
Eu preciso inteirar
O meu salário de dar dó.

De dar dó, de dar dó, de dar dó
Meu salário é de dar dó
De dar dó, de dar dó, de dar dó
Meu salário é de dar dó.


Vaidosa
(versão de Glamurosa – Mc Marcinho)

Vaidosa
Rica e importante
Bem famosa
Com Esso na estante
Quer ser top, muito foda
Dona da redação
Mas é só a foca
Pobre e cheia de ilusão.


Vem, migalha ou Funk do Dissídio
(versão de Vai, Lacraia – Mc Serginho)

Vem, migalha
Vem, migalha
Vem, migalha
Vem, migalha.


Corte na redação
(versão de Cerol na mão – Bonde do Tigrão)

Quer ficar? Quer ficar?
O patrão não vai deixar
Quer ficar? Quer ficar?
O patrão não vai deixar
Passaralho é cruelzão
É, sim, é, sim
Vai cortar teu cabeção
Vai, sim, vai, sim
Vai mostrar quem é o patrão
Dar um pé no popozão
Então congela, congela
Congela o empregão
Limpa a gavetinha
Tem mais vaga, não
É o corte na redação.


Diploma é coisa do passado
(versão de Beijo na boca – Furacão 2000)

Nosso diploma é coisa do passado
A moda agora é
Registro liberado.


Estressadinha
(versão de Atoladinha – Tati Quebra-Barraco)

Piririn, piririn, piririn
Alguém ligou pra mim
Piririn, piririn, piririn
Alguém ligou pra mim
Quem é?
Sou eu, o assessor
E uma pauta vou te dar
Exclusiva e diferente
O release vou mandar
Vai me deixar em paz?
Não, não, vou perturbar
Vai me deixar em paz?
Não, não, vou perturbar
Tô ficando estressadinha
Tô ficando estressadinha
Tô ficando estressadinha
Calma, calma, pauteirinha.


Conquista
(versão de Conquista – Claudinho e Buchecha)

Sabe (thu-ru-ru-ru)
Estou louco pra escrever (oh, yes)
Sabe (thu-ru-ru-ru)
Jornalista eu quero ser (iê-iê-iê-iê)

Sabe (thu-ru-ru-ru)
Estou louco pra escrever (oh, yes)
Sabe (thu-ru-ru-ru)
Jornalista eu quero ser (iê-iê-iê-iê)

E a porra do tempo não passa
E eu quero ter
Um emprego, enfim
Nada se compara
Ao tal do fazer
Tô muito a fim
De gravar, apurar
E depois publicar
No jornal, meu amor
Facul tem que acabar!
Oh, yes, oh, yes!

Já faz mais de ano
Que eu tô estudando
Vidinha pau no cu
Quero adrenalina
Sentir alegria e dor
Na real tudo fica blue.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O dia em que a Morte visitou o Jornal Impresso


- A Morte me visitando?

- A Morte. Nunca ouviu falar?

- Porra, claro que sim. Mas por que hoje, agora?

- Porque é a sua vez, ora. Todo dia visito alguém.

- A senhora vai me desculpar, mas hoje eu não estou pra brincadeira.

- Posso ao menos entrar? Podemos conversar com civilidade?

(Minutos depois, ambos tomam um café na sala)

- Sabia, dona Morte, que a senhora já me visitou antes?

- Ah, é? E quando foi? (colocando o adoçante)

- Quando inventaram a televisão.

- Mas isso faz muito tempo. Devia ser outra Morte. Eu estou no ramo há 15 anos apenas.

- Que seja. Mas era a Morte. A televisão vai acabar com você, me ameaçou. Hora de ir, de descansar. E cá estou eu, vivinho da silva.

- Eu não vim aqui para discutir o passado. O que me importa é o hoje. E hoje eu tenho ordens para te levar. Entendo que ninguém quer ir, mas é o meu trabalho.

- Pior que até sei a justificativa desta vez.

- A razão está aqui, no mandado de busca.

- Então, leia. Só para confirmar minha suspeita.

- Causa: pre-fe-rên-cia do pú-bli-co pela no-tí-cia na in-ter-net.

- Putz, que falta de originalidade! A velha história de que uma nova tecnologia de comunicação vai decretar o meu fim.

- Já disse, só cumpro ordens.

- Lamento, mas a senhora se deu mal. Pode acabar o seu café, levantar e ir embora.

- De mãos vazias, eu não saio.

(Silêncio)

- Bom, dona Morte, podemos negociar então?

- Podemos, mas não me venha com a merda do jogo de xadrez que isso é a coisa mais clichê que existe.

- Claro, sem jogo de xadrez. Também sou contra o clichê, embora viva cheio deles.

- Quero que você me dê três bons motivos para não ser levado. Se forem convincentes, deixo você viver por mais um tempo.

- Três?

- Isso, só três.

- Mas assim, pá-pum, sem pensar?

- Pá-pum! Estou dando a você a chance de salvar essa sua pele cheia de tinta. E não vale falar do feirante que enrola peixe, ok? Isso não é argumento.

- Bom, senhora Morte, digo que aceito sua proposta, mas peço 24 horas para responder. É justo, não? Quero fazer a coisa bem-feita.

- Amanhã à tarde, estou aqui. Sem atraso.

(E a Morte foi embora. Mal fechou a porta, ele correu para o escritório, abriu seu notebook e tratou de jogar a frase “razões para o jornal impresso não morrer” no Google)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

As telenovelas e o jornalismo


Pauta Nostra

Insensato Pescoção

Redazione

Roque Pauteiro

Pecado Editorial

Estressadíssima

Rainha da Cascata

Sem Hora pro Destino

Estúpido Artigo

Workin’ Days

Que Repórter Sou Eu?

Os Editores Também Choram

Direito de Folgar

Éramos Seis Redatores (antes do passaralho)

A Traça Comeu (meu velho portfólio)

Sem Laços com a Família

A História de Ana Rádio e Zé Televisão

Um Frila Caiu do Céu

A Foca Isaura

Leia mais: Redação em chamas

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Como desabrocha um jornalista


Felipe, da 4ª série B, ganhou o concurso de redação e ouviu da tia Jane que tinha jeito para a coisa. Passou a escrever de tudo, de contos de aventura a cartinhas de amor, até chegar às grandes reportagens e aos torpedos à mulher (avisando que deixaria a redação bem tarde).

Luis Fernando criou, ainda garoto, um jornal com notícias da família. Tinha a irmã como parceira. Penduravam o periódico, O Patentino, numa parede do banheiro de casa.

Roberta tinha 13 anos quando o descaso da rede pública de saúde roubou a vida de sua mãe. Decidiu que lutaria por um mundo mais digno. Sem grana e apoio, estudou, virou jornalista. Sabe que não mudará o mundo, mas fica feliz com as pequenas transformações.

Daniela leu (com dificuldade) a embalagem do Toddynho que falava sobre a profissão, refletiu (também com dificuldade) e decidiu: seria jornalista. “Se nada der certo, eu viro hippie ou, sei lá, caso com um homem rico, tipo dono de emissora de TV.”

Luiza cresceu ouvindo o Jornal da Manhã com o pai, todos os dias, tomando café com leite. “Vambora pra escola, minha filha, olha a hora”, ele brincava. Num desses dias, ela profetizou: “O senhor ainda vai acordar com a minha voz”.

Bill, motorista de carro de reportagem, começou a levar uma máquina fotográfica amadora nas saídas para as pautas. Registrava o trabalho dos amigos jornalistas. Suas fotos ganharam a primeira página do jornal. Ele ganhou elogios, exposições, um novo horizonte.

Carlos Eduardo, todo mês de dezembro de sua infância, vestia o paletó gigante do pai e apresentava a retrospectiva do ano à família, numa bancada de telejornal improvisada na sala de casa. Os primos desdenhavam, a tia gorda roncava, mas nada desmotivou o menino.

João Paulo nasceu jornalista. E sob orientação divina. “Meu filho, terás uma missão importante neste mundo, lutarás por justiça, falarás apenas a verdade. Mas, atenção, não descansarás muito no sétimo dia, como Eu descansei, porque terás o maldito plantão”.


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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pressão alta


Jornalista sofre pressão na faculdade.

– Quero que leiam a Teoria da Ação Comunicativa de Habermas até amanhã. São só 250 páginas. Entenderam?

Jornalista sofre pressão do editor.

– Volta logo pra redação que você ainda tem outras duas pautas hoje.

Jornalista sofre pressão da tela em branco do computador.

– E esse lead que não sai, mané? Vai ficar aí parado com cara de bunda?

Jornalista sofre pressão do relógio.

– 15 minutos para o fechamento. 10 minutos para o fechamento. 5 minutos para o fechamento.

Jornalista sofre pressão da mulher.

– Você prometeu me dar um filho depois da Olimpíada de Pequim. Esqueceu?

Jornalista sofre pressão do filho.

– Plantão de novo, pai? Já sou quase faixa preta e nada de você me ver lutar.

Jornalista sofre pressão do exame de sangue.

– Teu triglicéride tá chegando nos 400. Fica esperto, vacilão.

Jornalista sofre pressão da consciência.

– Vai mesmo entrar nessa favela cheia de traficante? Você não ganha pra isso.

Jornalista sofre pressão do ego.

– Tá com medinho de traficante? Entra logo, porra. Não quer reconhecimento, prêmios?

E jornalista desconta toda a pressão nos assessores de imprensa.

– Tô te mandando 20 perguntas por e-mail. Mas, ó, quero as respostas pra ontem.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Você votaria nestes jornalistas?


O portal Comunique-se, pegando como gancho a possível candidatura de José Luiz Datena à prefeitura de São Paulo, quis saber de seus leitores o que eles achavam de jornalistas concorrerem a cargos públicos. A questão é polêmica. O blog aproveita a discussão para reproduzir uma breve lista de jornalistas-candidatos. Você votaria em algum deles?

Paulinho Foca
Você não me conhece! É que eu acabei de me formar e ainda estou desempregado. Minha principal bandeira é o trabalho decente para os jovens jornalistas. Chega de só ficar escrevendo notinha ou cuidando de tabelas e gráficos. Foca vota em foca!

Adílson do Sindicato
Em minha longa trajetória como dirigente sindical, não consegui bons dissídios para a categoria, nem tive sucesso em questões como direitos autorais aos jornalistas e defesa do diploma, mas preciso de seu voto para continuar lutando por você.

Rita de Cássia
Sou mulher, mãe, filha, cunhada, tia, jornalista, repórter, pauteira, fotógrafa, designer, faço frila nas horas vagas e doces para vender na redação e, de madrugada, ainda lavo as cuecas sujas do meu marido! Eleita, posso fazer muito mais!

Professor Eugênio
Por um curso superior de jornalismo de boa qualidade. Pela inclusão da disciplina “Introdução a Técnicas de Sobrevivência” no currículo. Pela legalização da maconha e do jogo de truco nas universidades públicas. E, claro, pela volta do diploma!

Mulher-nêspera
Sou mulher-fruta, modelo, atriz e jornalista. Meu lema é menas inteligência e mais beleza nas redações. Abaixo a Marília Gabriela! Prometo lutar para que toda gostosa tenha seu próprio programa de previsão do tempo ou de esportes radicais.

Tonhão
Você está cansado de trabalhar por dias e dias sem descanso? Não suporta mais perder o churrasco do domingo por ser obrigado a estar na redação? Chega de exploração! Contra o patrão, ou melhor, contra o plantão, vote Tonhão!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Clark Kent e os superpoderes do jornalista



Ao chegar atrasado à redação do Planeta Diário no primeiro dia de trabalho, Clark Kent já foi logo tomando um esporro do chefe de reportagem.

- Tá pensando que isso aqui é vida na fazenda, Clark? Porra nenhuma! Isso aqui é cidade grande, meu amigo, metrópole. Não dá pra ser lerdão assim, não.

Foi quando Clark teve revelado o seu primeiro superpoder, o da paciência. Paciência para agüentar aquele chefe de reportagem escroto, paciência para agüentar entrevistado escroto.

Clark só descobriria seu segundo superpoder 15 dias depois, quando o mesmo chefe de reportagem lhe deu de presente uma pauta inesperada: exclusiva com o prefeito.

- Você só tem 15 minutos para chegar à prefeitura. E não pode atrasar, ouviu? Se vira, Clark. Vai voando.

Sem que o pessoal da redação percebesse, Clark pegou bloquinho e caneta, e abriu a janela do 15º andar.

O trabalho de jornalista ajudou Clark a concluir que ele só podia ser de outro planeta. Em menos de um ano, já havia descoberto vários outros superpoderes, como o da imortalidade (trabalhou dois meses sem folga e não morreu), o do sopro congelante (que estreou contra um assessor de imprensa chato) e o da invulnerabilidade (com exceção, claro, à kryptonita e ao filé mignon ao molho madeira que, sempre que devorado numa coletiva, lhe causava uma puta diarréia).

Lois Lane, sua namoradinha na redação, adorava o superpoder da velocidade de Clark. Transavam em 2 ou, no máximo, 3 segundos nas escadas entre o 15º e o 16º andar. Eram tantas pautas, tanta exploração, que não havia muito tempo para o amor naquele jornal. A rapidíssima, repetida três ou quatro vezes ao dia, ajudava Lois a suportar o estresse da profissão.

O único superpoder que Clark não conseguiu desenvolver foi o da resistência às suas crises de vaidade. Era só não emplacar a manchete do jornal que ele ficava todo nervosinho. Nesses dias, Clark descontava sua raiva em Lois, privada das alegres visitas às escadarias do prédio, e nos pobres assessores de imprensa que apareciam na redação. Demoravam horas para descongelar.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

10 dicas para um jornalista pedir emprego por e-mail sem queimar o filme


1. Jamais comece o e-mail com “venho por meio deste”. Porra, isso é mais clichê do que epitáfio iniciado com “aqui jaz fulano de tal”. A frase pronta mostra falta de criatividade ou que você se baseou numa antiga carta de apresentação do seu avô para redigir a mensagem.

2. Formalismo é um saco, mas gírias e linguagem de internet também não combinam com este tipo de e-mail. Nada de “vc”, “aki” ou “naum”. Nem “trampo”, pelo amor de Deus.

3. Erro de português rende eliminação imediata. Tome muito cuidado para não escrever certas aberrações, como “esperiência proficional”. É legal também seguir o novo acordo ortográfico, mesmo que você ainda seja apaixonado pelo acento em “ideia”.

4. Gerúndio: é bom estar evitando. A vaga não é para operador de telemarketing.

5. E-mail-padrão para enviar a um monte de gente individualmente sempre traz o risco de você escrever “prezado senhor Maria Clara”. Por mais que hoje a questão do gênero esteja muito diversificada, isso ainda será visto como erro de concordância. Ou desleixo.

6. Mandar um e-mail a um grupo de jornalistas, com todos os endereços eletrônicos abertos, é queimar ainda mais o filme. Pedido por atacado é bem desagradável. Você pode receber uma resposta ainda mais desagradável, com todo mundo copiado.

7. Seja sincero com seus sentimentos. Sempre. Se você não gosta de assessoria de imprensa, não escreva que “ama ser assessor de imprensa” só para conseguir a vaga. Esqueça compromissos de fachada. Ou terá um divórcio traumático em bem pouco tempo.

8. Seja conciso. Textos longos e cheios de detalhe são ótimos para cartas de suicídio, mas não para prospecção de trabalho. Foco no seu objetivo atual. Deixe para ser prolixo quando decidir cortar os pulsos. Provavelmente por não conseguir um emprego.

9. Anexo é uma espécie de doença venérea. As pessoas morrem de medo de contaminação. Mande o currículo sempre no corpo da mensagem. E, claro, mande um currículo breve. Não interessa ao editor saber que você foi líder dos escoteiros na infância.

10. Nunca se refira à empresa a qual você está pedindo emprego com elogios ou adjetivos exagerados, como “adoraria trabalhar neste prestigiado e renomado jornal”. Isso soa falso, mais falso do que a Claudia Leitte cantando em inglês.


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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A pior pauta do mundo


O que é pior para um repórter? Cobrir um velório num domingão de sol? A coletiva de lançamento do CD da cantora Wanessa? Passar o carnaval entrevistando foliões mijões na dispersão do sambódromo? A nova enquete do blog, que já está no ar, quer saber: qual a pauta mais roubada para um jornalista cobrir?. Para votar, basta ir à coluna à direita do blog. Se a sua pauta roubada-mor não está entre as alternativas propostas, manifeste-se no canal de comentários.

A pesquisa anterior – Qual a principal razão que levou você a ser jornalista? – teve a vitória da opção “Sabe que até hoje me faço esta mesma pergunta?”, com 34% dos votos, bem à frente da segunda colocada, a opção “Sempre tive a simples pretensão de mudar o mundo”, com 17%. O resultado mostra que a pergunta atormenta a cabeça de muitos jornalistas. Falta de razão danada!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Poema contra o achismo


O achismo tudo sabe. Não tem dúvidas. É autoconfiante. Arrogante. Teimoso. Tira suas próprias conclusões. Não deve satisfações. Não dá ouvido a ninguém. Vive de aparências. O achismo é cego.

O achismo seduz, envolve. Engana. Cria suas próprias leis. Não tem fundamento, ética. Julga. Condena. Destrói. Se alimenta da preguiça. Da presunção. Da ignorância. Da ingenuidade. O achismo é parasita.

O achismo rima até com jornalismo. Tá sempre na TV. Nos jornais. Na rádio. Na web. Tá na boca dos repórteres. No texto dos repórteres. O achismo é altamente transmissível.

O achismo é inimigo do fato. Da boa apuração. Do checar informação. Adora fofoca. Boato. Diz-que-diz. Aceita meia gravidez. O talvez. O é e não é. O achismo detesta compromisso.

O achismo se acha.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sem vergonha


Repórter não pode ter vergonha de fuçar no dicionário quando tem dúvida. De admitir que é leigo num monte de assunto. De confessar ao entrevistado que não entendeu a resposta. De não ser um intelectual.

Não pode ter vergonha de ter medo. De errar. De pedir desculpas. De tomar furo.

Repórter não pode ter vergonha de fazer pergunta em coletiva. De soltar a voz na rádio. De meter as caras na TV. De entrar onde não foi chamado. De ligar 10 vezes pra fonte que não dá retorno.

Não pode ter vergonha de cobrir buraco na rua. De fazer notinha de rodapé.

Repórter não pode ter vergonha de chorar aumento de salário pro chefe. De implorar frilas pros amigos. De revelar pra namorada o saldo de sua conta bancária. De matar a fome na boca-livre.

Repórter não pode ter vergonha de se emocionar na cobertura de uma tragédia. De dizer pra que time torce. De soltar um “puta que pariu” no meio da redação se estiver estressado. De carregar bloquinho e caneta até quando sai com os amigos.

Repórter não pode ter vergonha de ser repórter.


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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Eduardo e Mônica (versão para jornalistas)


Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Quando se escolhe essa profissão?
E quem irá dizer
Que não existe razão?

Eduardo abriu o livro, mas não quis nem estudar
As teorias que os mestres deram
Enquanto a Mônica tomava um esporro do editor
No fechamento, como eles disseram.

Eduardo e Mônica um dia se trombaram sem querer
A fumaça tava forte, foi difícil de se ver
Um carinha da facul do Eduardo que disse
“Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir”
Gente estranha, festa de jornalista
“Eu não tô legal, já fumei mais que devia”
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o mundinho que ele prometeu mudar
E o Eduardo, com larica, só pensava em ir pra casa
“A geladeira eu quero atacar”.

Eduardo e Mônica trocaram seus e-mails
Depois se escreveram e decidiram tuitar
O Eduardo sugeriu um call no Skype
Mas a Mônica queria ir pro Messenger teclar
Se encontraram ainda lá no tal de Orkut
A Mônica sem foto e o Eduardo sem cabelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina escrevia com um zelo.

Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ele tinha ilusão, ela sabia economês
Ela falava de finanças, cedebês e inflação
E ele ainda maltratava o português
Ela gostava do Basile, do Furtado
Do Marx, do Stiglitz, do Yunus e Cournot
E o Eduardo era um puta Zé Ruela
E vivia dia e noite vendo site pornô.

Ela falava coisas sobre a função social
Também de lead e do pescoção
E o Eduardo ainda tava no esquema
Adorno, cerveja, truco e Enecom.

E mesmo com tudo diferente
Veio mesmo de repente
Uma vontade de se ver
Os dois sonhavam transar todo dia
Só que dela a rotina era bem de foder (er-er).

Eduardo e Mônica estudaram locução, assessoria
Web, fotografia, pro CV melhorar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre fontes, off e formas de apurar.

Ele aprendeu a escrever, pegou o gosto por ler
E decidiu estagiar (não!)
E ela até chorou na primeira vez
Que ouviu a voz dele ir pro ar
E os dois já trabalharam juntos
E cobriram pautas juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que a vida foi malucamente bela
Por ter juntado os dois.

Construíram os seus blogs uns seis meses atrás
Logo após que os passaralhos vieram
Batalharam frilas, mendigaram geral
Por muito pouco o fiofó não deram.

Eduardo e Mônica viraram assessores
Levantaram uma grana, já fizeram prestação...
Só que a vida dura não vai acabar
Porque na agência tem perrengue e a mesma ralação.

E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Quando se escolhe essa profissão?
E quem irá dizer
Que não existe razão?


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