quinta-feira, 9 de abril de 2009

O lado B da vida


Tempinho atrás, ao folhear a revista Piauí, me deparei com uma matéria sobre o Meia Hora, diário carioca de conteúdo popularesco e manchetes bem-humoradas. A reportagem citava a cobertura da polêmica separação de Luana Piovani e Dado Dolabella. O título dizia: “Luana não tem mais Dado em casa”. Genial. No lugar de “Dado”, colocaram uma foto do pseudo-ator.

O Meia Hora me trouxe lembranças do finado Notícias Populares, ou simplesmente NP, que circulava em São Paulo. Era aquele que bastava torcer para sair sangue. Na seção policial, não faltavam imagens de cadáveres destroçados. Havia notícias pitorescas. As moçoilas seminuas que embelezavam suas páginas eram, na maioria, trabalhadoras da Rua Augusta. Como eu apreciava a apimentada cobertura do Carnaval! E não posso me esquecer de mencionar o curioso caso do bebê-diabo de São Bernardo. Sempre fui um admirador do lado B da vida!

Gostava também da coluna de Voltaire de Souza, com seus dramalhões humanos que quase sempre terminavam em desgraça. Talvez um cruel retrato do cotidiano de alguns leitores. O NP era célebre por seus textos cheios de gírias e manchetes impagáveis, ótimas sacadas de criativos jornalistas. Pérolas como “Bicha põe rosquinha no seguro” e “Broxa torra o pênis na tomada”. Havia ainda as promoções, do tipo “Compre um presentão para a mulher da sua vida. Mas não esqueça a lembrancinha de sua esposa”.

Certa vez, em sua capa, o NP estampou uma foto de Joana Prado, a então famosa Feiticeira, apenas de véu, brincos e salto alto. A genitália desnuda estava coberta por uma das mãos, onde se lia uma instigante chamada: “Veja a chana na página 5”. Curioso, voei para o destino indicado. Lá, encontrei uma entrevista com Chana, a goleira da seleção brasileira de handebol. Mijei de tanto rir, apesar da frustração. Se eu quisesse ver a Feiticeira por completo teria de ir a uma daquelas bancas vagabundas do centrão, verdadeiros sebos da libertinagem, que vendem Playboys antigas com páginas coladas.


17 comentários:

Júlia Ourique disse...

Hahahaha e não é que essas manchetes existiram mesmo? =O e eu achando que era tudo apenas uma brincadeira que foi crescendo e crescendo... Mas se você acha que o NP e o Meia Hora são do tipo de "sair sangue", é pq você não leu o "Hora H" jornal do subúrbio Carioca, que inclusive tem a audácia de dividir noticias (com fotos, claro) bizarras e violentas com o Diário Oficial da cidade hehehe é de dar um orgulho que cê nem sabe.

J. Junior disse...

Se não me engano, Voltaire de Souza escreve no Agora.

NP não é meu tipo de jornal, e acho de nenhum jornalista. Mas tinham umas sacadas boas, sim... :]


Um abraço,
Junior

Fernando Rocha disse...

Lembrei-me da minha adolescência ao ler este post, pois o NP fornecia á mim e aos meus amigos material suficiente para conversamos sobre sacanagem.
Recordo de uma reportagem sobre um bebê que nasceu com opênis do tamanho de um orgão de adulto.
Era diveritdo, mas pensando bem pelo número de leitores que tinham, eles privavam centenas de pessoas de obtereminformações mais relevantes.
Um amigo me emprestou um documentário sobre o NP, mas agora não me recordo do título
www.neuroticoautonomo.zip.net

The Ideas of a Vintage Doll disse...

Tem um livro chamado Espreme que Sai Sangue, do Danilo Angrimani, que é sobre o NP. Tá, o livro é chato pra cacete, praticamente um TCC em capa dura, mas conta os melhores "causos" do NP.
PS: O lado B da vida é uma delícia, querido.

Anônimo disse...

alguém sabe se o Duda é de verdade mesmo?


se for, este elemento é uma comédia!

10 por blog...

Mário Viana disse...

Em nome da verdade e da memória, ouçam o depoimento de um ex-jornalista, que começou sua carreira justamente no NP, em 1981. Recém-saído da Cásper Líbero, cheio de nobres ideais e nariz empinado, eu fazia matérias mais sociais, denúncias de descasos administrativos, etc. E, pasmem os que acham que o NP era perda de tempo: o jornal manteve durante anos a única coluna sobre vida sindical da imprensa "careta". Era uma coluna séria, engajada, não necessariamente de esquerda, mas longe das "ditabrandas" de hoje em dia. Eu me orgulho muito de ter trabalhado no NP, sob a batuta do Ebraim Ramadan e do Zé Proença.
abçs, Mário Viana

Luiz Vita disse...

O NP fez parte de nossa geração de jornalistas paulistanos. Prefiro o NP às revistas de celebridades. Pelo menos lá pulsava a vida real.... Tinha exageros, tinha bobagens, mas tinha grandes sacadas editoriais. Os editores que bolavam os títulos eram cobras.... Tenho saudades......

Leonardo Ferreira disse...

Gente, concordo com vocês. Realmente o NP era super e será sempre criticado, mas não dá para negar que os caras tinham sacadas e uma visão ampla de produção jornalística que apesar de não mais existir em São Paulo, tem seguidores em outros estados, a exemplo do Diarinho de Santa Catarina em alguns pontos e de tantos outros periódicos pelo Brasil afora.

Rosemeri Sirnes disse...

Olá meu amigo de labuta, e por que não dizer que esse tipo de jornalismo também merece nossas salvas de palmas, afinal é preciso certa imaginação e muita criatividade, não é mesmo? Mas, digamos a verdade, esse tipo de jornalismo sensacionalista se vale de belas fotos e manchetes bombásticas e bem boladas, quando abrimos o jornal pouco há de conteúdo. Atrai o interesse do leitor aguçando a sua curiosidade pelo bizarro.

Abraço forte.

Leonardo Ferreira disse...

Olá, companheira Rosemeri

Confesso em off que adoro e até gostaria praticar um dia tal estilo jornalístico, mas falar isso em público, principalmente no meio acadêmico, ou até fora vai dar uma imensa dor de cabeça. Gosto tanto que sempre que tenho tempo não perco a oportunidade de conferir. Realmente eles merecem aplausos pela criatividade e inteligência. Não é à toa que, mesmo com as inúmeras críticas, os similares pelo Brasil tão vendendo igual água.

Abraço.

Duda Rangel disse...

Caro anônimo,
Sou a fantasia mais real do mundo do jornalismo!
A todos que comentaram este post, meu muito obrigado!
Abraços

Ewerton Martins disse...

Já hoje, aqui em Belo Horizonte, temos o Aqui e o Super, dois "populares" que herdaram apenas a parte ruim do jornalismo popular. Notícias mal-apuradas e mal-escritas vê-se aos montes - mas quase nada mais daquela ironia e daquele tão válido descambamento que o NP se permitia.

Fábio F. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fábio F. disse...

Duda, hahaha, esse post foi matador!!
Também acho que o NP tinha umas ótimas sacadas, apesar do nível de boa parte das notícias descerem demais.


Muito bom!

Fiz há algum tempo uma postagem no meu blog também sobre o NP. Na verdade, tenho uma ligação afetiva com o Jornal.auhuhauha Lá também tem o link para uma entrevista com os profissionais que trabalharam no Jornal.

http://fabioefe.wordpress.com/2009/04/27/np-se-espremer-sai-sangue-e-minha-infancia-tambem/

Unknown disse...

cara eu adoro o NP e como trabalho em SBC sempre fico lembrando da historia do bebe diabo...

Alexandre de Souza disse...

Geniallll...

rachei de rir aqui...

Duda, você é 10. Sucesso.

Abraço.

Duda Rangel disse...

Legal, Alexandre, obrigado. Sucesso pra você também. Abraço!