segunda-feira, 13 de julho de 2009
A pequena imprensa
No jornal de uma pequena cidade do interior, o diploma de jornalista é, há muitos anos, algo dispensável, e isso bem antes mesmo de qualquer decisão do STF. A coluna social, por exemplo, que mostra as festas bregas do clube freqüentado por uma elite local ainda mais brega, é de responsabilidade da filha do dono do jornal, uma jovenzinha sem qualquer formação, caipira, mas extremamente hype para os padrões da cidade.
Outras colunas existem aos montes, como a do psicólogo amigo do dono do jornal. É ele quem escreve sobre a bipolaridade, esse mal da atualidade, ou sobre a importância de homens e mulheres não medirem esforços para manter um casamento feliz. A cunhada do dono do jornal, que sempre foi uma mulher excêntrica com aqueles seus cabelos loiros esverdeados (para não dizer “esquisita”), comanda a coluna esotérica.
A qualidade editorial é um conceito muito vago. O Português, pobrezinho, é desrespeitado página após página. É bastante comum encontrar uma vírgula se metendo, sem o menor escrúpulo, entre o sujeito e o predicado de um título ou no lead de uma matéria.
O jornal de uma pequena cidade do interior está comprometido com os anunciantes. Se o veterinário comprar um quarto de página da edição da semana ganhará uma matéria bastante elogiosa na edição seguinte, mesmo que ele seja o maior carniceiro da cidade. O dono do jornal é, ao mesmo tempo, o diretor comercial e o diretor de redação, um homem que jamais teve um diploma, mas um faro invejável para os negócios.
Um dia, a jovem que cuida da coluna social herdará o jornal de seu pai, que, por sua vez, já havia herdado do avô da moça. Com alguma sorte e o apoio do comércio local, e se as mídias digitais deixarem, esta história perdurará por mais algumas gerações.
PS: Rabo preso não é exclusividade da pequena imprensa. Que isso fique bem claro!
6 comentários:
- Derlita! disse...
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Aiaiai chega até a dar um desânimo.. Daria tudo pra escrever receitas de bolo do Estadão...
- 13 de julho de 2009 às 11:18
- Erickblog disse...
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"A qualidade editorial é um conceito muito vago. O Português, pobrezinho, é desrespeitado página após página. É bastante comum encontrar uma vírgula se metendo, sem o menor escrúpulo, entre o sujeito e o predicado de um título ou no lead de uma matéria".
Ótimo texto Duda. Quando crescer quero ser igual a você. - 13 de julho de 2009 às 12:47
- André HP disse...
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Cá entre nós, muitas cidades de dimensões médias repetem esse mesmo estigma.
Brilhante e sutil, como sempre.
Forte Abraço! - 13 de julho de 2009 às 15:41
- Flávia Romanelli disse...
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Tem até repórter que é demitida pelo prefeito!
- 13 de julho de 2009 às 23:07
- Unknown disse...
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Jornais de cidade pequena? É triste observar que 90% dos problemas citados no seu texto acontecem, também, em jornais grandes, como Folha de São Paulo, Estadão, Correio Braziliense etc. Foi-se o tempo que tais problemas eram restritos às comunidades jornalísticas interioranas. Uma pena, né...
- 14 de julho de 2009 às 12:11
- Duda Rangel disse...
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Amigos,
Como alguns comentaram, amadorismo, rabo-preso e otras cosas más também fazem parte da realidade de médias e grandes publicações. Infelizmente. Erick, quando crescer, tomara que você seja igual a um jogador de futebol de sucesso. Dinheiro, vida boa, mulheres...Beijos e abraços do Duda - 16 de julho de 2009 às 18:48